O inflamado debate dos pré-candidatos democratas Hillary Clinton e Barack Obama em Cleveland, no fim de fevereiro, contou com a presença de 650 jornalistas. Na manhã do dia seguinte, no entanto, a situação era bem diferente nos compromissos da campanha de ambos nos estados de Ohio e Texas, noticia Jacques Steinberg [New York Times, 26/3/08]. O baixo número de repórteres destinados a acompanhar os candidatos em suas viagens explica-se, em parte, pelos altos custos – é necessário mais de US$ 2 mil para que um jornalista acompanhe Obama em uma viagem de avião, por exemplo – em um período em que jornais estão reduzindo equipe e orçamento. Dentre os diários que optaram por não manter repórteres cobrindo regularmente as viagens dos dois pré-candidatos democratas estão o USA Today, o Boston Globe, o Dallas Morning News, o Houston Chronicle, o Atlanta Journal-Constitution, o Baltimore Sun, o Miami Herald e o Philadelphia Inquirer.
Nas semanas anteriores e posteriores à ‘Super Terça’, no dia 5/2, quando 22 primárias foram realizadas simultaneamente, poucos jornais além do Washington Post, Los Angeles Times, Chicago Tribune, Wall Street Journal e New York Times mostraram os candidatos com uma freqüência regular. A maior parte da mídia contou com informações de agências de notícias, como Associated Press, Bloomberg e Reuters, de sítios e de redes de TV a cabo. ‘Todos nós gostaríamos de estar lá’, afirma Lee Horwich, editor do USA Today que monitora a cobertura política. ‘Mas, dada a realidade dos custos e devido a prioridades de outras seções do jornal, isto nem sempre é possível’.
Cobertura mais consistente
Jornalistas que acompanham as viagens da campanha presidencial alegam que fazem mais do que passar adiante releases ou os discursos do dia. O trabalho deles inclui a análise da evolução e do crescimento dos pré-candidatos, a denúncia de qualquer inconsistência observada e a avaliação de quanto o candidato pode ser útil caso venha a ser eleito.
A falta de alguns jornais nestas viagens mostra que não apenas os leitores estão sendo expostos a poucas perspectivas da mídia in loco, como também que menos repórteres chegarão à Casa Branca em janeiro do ano que vem com a experiência necessária para que se escreva (bem) sobre o presidente no seu primeiro dia de trabalho.
‘Pack journalism‘
Este ano, o vácuo de informações in loco foi preenchido pelos blogueiros, que mesmo sem viajar conseguem abastecer a rede com informações e vídeos. Eles acompanham em tempo integral os discursos dos pré-candidatos no YouTube e coletam informações complementares através dos estrategistas de campanha.
Na opinião de S. Robert Lichter, diretor do Center for Media and Public Affairs, da Universidade George Mason, isto reflete, no entanto, na volta do jornalismo retratado no livro The Boys on the Bus, escrito por Timothy Crouse, em que é detalhado o dia-a-dia dos repórteres que cobriram a campanha presidencial de 1972. O livro foi um dos primeiros a criticar o ‘pack journalism‘, ou seja, o jornalismo homogêneo, com a mesma pauta encontrada em diversos veículos de comunicação, baseada geralmente em uma única fonte. ‘Agora, as notícias vêm de todos os lugares; qualquer um pode produzir uma notícia. Mas, qual a vantagem de ser o 50º cara do ônibus?’, diz ele, referindo-se aos jornalistas que seguiam de ônibus os pré-candidatos na campanha de 1972. No passado, a recompensa destes repórteres ao acompanhar de perto – e por tanto tempo – a campanha era a bagagem de conhecimento sobre o presidente eleito.
Matérias aprofundadas
Na contramão da maioria dos veículos de mídia impressa, algumas organizações de comunicação optaram por acompanhar os pré-candidatos em suas viagens. Na revista Newsweek, o editor Jon Meacham designou repórteres para acompanhar os aviões de Hillary e Obama – a um custo de mais de US$ 30 mil por mês, por pessoa. ‘Temos um compromisso de estar o mais firme possível na compreensão do candidato e de sua equipe. A única maneira de fazer isto é estando com eles’, resume. A CNN compartilha da mesma opinião. ‘Você é os olhos e os ouvidos de cada produtor ou repórter da rede’, conta o jornalista Peter Hamby, que costuma acompanhar Hillary com sua câmera digital.