Um repórter e um editor de uma matéria publicada no Los Angeles Times na semana passada sobre um ataque brutal ao cantor de rap Tupac Shakur, em 1994, admitiram que a peça foi baseada em ‘documentos do FBI’ falsificados. O repórter Chuck Philips e seu supervisor, o chefe de redação assistente Marc Duvoisin, emitiram um pedido de desculpas esta semana após o diário ter recebido críticas pelo artigo, que apareceu no sítio no dia 17/3 e dois dias depois na edição impressa.
A matéria, que tinha como título ‘Um ataque a Tupac Shakur dá início a uma guerra no hip-hop’, descrevia uma briga em 2004, nos estúdios da Quad Recording, em Nova York, que terminou com o rapper baleado por três homens. Ninguém foi responsabilizado pelo crime, mas Shakur – que foi morto dois anos depois, em um novo tiroteio – chegou a dizer várias vezes que suspeitava que os atiradores eram aliados do cantor e empresário de rap Sean ‘Diddy’ Combs. O episódio de 2004 deu início a um conflito entre rappers da Costa Leste dos EUA, representada por Christopher Wallace, conhecido como Notorious B.I.G, e os da Costa Oeste. Notorious B.I.G. foi assassinado meses depois de Shakur.
Informações falsas
Segundo o LA Times, os documentos relatavam que um informante confidencial havia acusado dois homens de ajudarem no ataque a Shakur – James Rosemond, um conhecido empresário de rappers, e James Sabatino, identificado na matéria como promoter. Ambos teriam, por sua vez, acusado Combs de estar envolvido com o crime. Advogados de Combs e de Rosemond negaram as acusações, antes e depois da publicação da matéria. ‘O LA Times criou um clima potencialmente violento na comunidade hip-hop’, afirmou Rosemond.
O sítio The Smoking Gun acusou o jornal de ser vítima de um boato sem provas concretas. Howard Weitzman, advogado de Combs, enviou uma carta ao publisher do diário, David Hiller, classificando o artigo como impreciso e exigindo uma retratação.
Philips lamentou o ocorrido. ‘Ao confiar em documentos que eu agora acredito serem falsos, eu falhei. Peço desculpas’, desabafou. Seu editor também reconheceu o erro. ‘Não poderíamos ter-nos deixado enganar. Eu sinto profundamente ter decepcionado nossos leitores’. Russ Stanton, editor do diário, anunciou que será iniciada uma revisão interna dos documentos e da cobertura. ‘Publicamos a matéria com a crença sincera de que os documentos eram verdadeiros’, conta. ‘Pedimos desculpas aos nossos leitores e àqueles citados nos documentos’.
Para esquentar ainda mais o clima, o Smoking Gun foi além e acusou Sabatino de falsificar os documentos. Ele está atualmente em uma prisão federal por acusações de fraude. ‘O LA Times parece ter caído em um boato de um homem preso e acusado de forjar documentos, que criou fantasias de que gerenciava estrelas do hip-hop’, escreveu o sítio. Sabatino, segundo o sítio, teria forjado os documentos para ajudar sua defesa em outro caso criminal. Por estarem arquivados em uma corte jurídica, Philips, que já ganhou um prêmio Pulitzer, acreditou na veracidade dos papéis. O Smoking Gun diz que, ainda assim, havia erros que seriam facilmente percebidos com um olhar mais atento. O principal: os documentos não foram impressos, mas datilografados. Máquinas de escrever deixaram de ser usadas pelo FBI há 30 anos. Informações de James Rainey [Los Angeles Times, 27/3/08].