VENEZUELA
Encontro debate terrorismo midiático na América Latina, 28/3
‘O ministro da Informação da Venezuela, Andrés Izarra, disse nesta sexta-feira (28) que meios de comunicação nacionais e internacionais inventam informações sobre Venezuela e Cuba, praticando ´terrorismo midiático` contra os governos destes países. A afirmação foi feita durante o Encontro Latino-americano contra o Terrorismo Midiático, que iniciou quinta em Caracas.
Izarra referiu-se especificamente ao caso do jornal de Miami, El Nuevo Herald, e ao jornal colombiano El Tiempo. Além destes, acrescentou, cadeias como a CNN e a Fox News estão dedicadas, sistematicamente, a estimular a guerra e o conflito. Citou como exemplo a propaganda realizada por esses veículos em torno da guerra do Iraque, feita para repetir o discurso do governo Bush sobre o conflito. Izarra também criticou veículos venezuelanos, em particular a tv Globovisión, classificando-a como ´porta-voz dos interesses imperiais´.
Na avaliação do ministro, o problema central da mídia na Venezuela é que a linha editorial dos grandes veículos está completamente controlada a partir destes centros hegemônicos, que fabricam informações falsas para tentar construir versões e opiniões junto a amplos setores da população. Referindo-se à reunião da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), em Caracas, Izarra disse: ´Assim como eles têm sua SIP, nós podemos ter nossa Sociedade Interamericana contra o Terrorismo Midiático´.
O Encontro Latino-Americano contra o Terrorismo Midiático, que termina no domingo, reúne jornalistas de 14 países, em Caracas. Segundo o diretor da Agência Bolivariana de Notícias (ABN), Freddy Fernández, o encontro pretende debater alternativas e formas de resistência a medidas políticas adotadas por entidades jornalísticas na América Latina.
A atividade é uma resposta a ações da Sociedade Interamericana de Imprensa nos últimos 10 anos, período no qual a entidade tem mantido estreito alinhamento com os interesses dos Estados Unidos no continente. O presidente Hugo Chávez convidou a população a participar do encontro que, segundo ele, transformará Caracas na capital mundial da luta contra o terrorismo midiático. A mídia hegemônica, criticou Chávez, vem sendo utilizada pelo terrorismo de Estado para gerar guerra, violência, temor e angústia entre os povos.’
CAROS AMIGOS
Sérgio de Souza, o semeador, 25/3
‘Serjão se foi aos 73 anos, e deixou muita gente sem chão. Para a nova geração de jornalistas, ele era o venerado timoneiro da revista ´Caros Amigos´, criada em 1997 e capitaneada por ele desde então.
Hoje, pouco antes das 5 horas da manhã, o jornalista Sérgio de Souza faleceu no hospital Oswaldo Cruz, onde estava internado há duas semanas. Teve uma perfuração do duodeno, que debilitou sua resistência física, levando-o a um infarto e posterior infecção generalizada.
Serjão se foi aos 73 anos, e deixou muita gente sem chão. Para a nova geração de jornalistas, ele era o venerado timoneiro da revista Caros Amigos, criada em 1997 e capitaneada por ele desde então. Os caros amigos, no caso, eram em sua maioria antigos companheiros de trajetória, ícones do jornalismo que levaram muitos de nós a correr mensalmente para as bancas em busca de algo que, simplificando, poderia ser definido como ´substância´.
Para os caros amigos e velhos companheiros, Serjão foi muito mais do que o diretor da Caros Amigos. Idealizador da primeira revista de esquerda de fôlego e alcance do pós-anos-de-chumbo, ele passou por uma série de pequenos e grandes veículos, ´alternativos` e ´grande mídia´, sem arranhar a qualidade de seu trabalho. Da Folha de S. Paulo ao Bondinho, do Fantástico à Ex, passando pelo Notícias Populares, Revista Manchete, Quatro Rodas, revista Globo Rural etc., fez história.
Aliás, história mesmo fez com o grupo de amigos que criaram na revista Realidade uma das mais importantes experiências jornalísticas do país. Serjão tinha um dom de ser ´chefe´, coordenador; gentil, mas incisivo…
A geração de jornalista da qual Sérgio de Souza foi um dos grandes nomes levou muitos de nós, os mais novos, a atuar na profissão com entusiasmo e respeito profundo à missão de contar o mundo. Contar dores e felicidades, desesperanças e lutas, injustiças e vitórias, enfim, as coisas da qual a vida é feita; contar tudo isso de forma a revelar e desvelar.
Para nós que tivemos o enorme privilégio de estar com Serjão em algum momento de sua vida, alguma farpa da sua força e incrível energia criadora ficou presa num recanto do nosso ser. Sérgio de Souza semeou ventanias. Precisamos, nós, fazer com que continuem ventando ventos de rodamoinhos e transformação.’
DOSSIÊ
Dilma, Simon e um conhecido blog, 28/3
‘Ricardo Noblat cobrou de Pedro Simon que fizesse um discurso no Senado denunciando o suposto ´dossiê` dos cartões corporativos. O senador gaúcho estava falando de outro assunto. Pediu desculpas ao jornalista e cobrou explicações da ministra Dilma Roussef. Simon sabe qual é o seu exato lugar.
Denunciar irregularidades na efera pública, com o amparo de sólido trabalho investigativo, é tarefa irrenunciável do jornalismo. Deixar de fazê-lo, sob qualquer pretexto, é recusar os princípios que fundamentam a liberdade de imprensa, assegurada em qualquer regime democrático. Sobre isso não cabe qualquer discussão. É ponto pacífico para os que desejam a solidez das instituições políticas.
Mas, como já frisamos inúmeras vezes, quando a informação deixa de se submeter a outro imperativo que não seja o do aprofundamento democrático, a liberdade desejada se apresenta como sua própria contrafação. É servida, como subproduto de uma vulgata do utilitarismo, para satisfazer os interesses de seus leitores e sócios maiores.
Um jornalismo que se presta à instrumentalização partidária, distorcendo a realidade, infamando quem considera adversário político, usurpa uma franquia do Estado de Direito para funcionar como panfleto de ocasião. Deixa de ser instância fiscalizadora dos Poderes para tentar substituí-los como única instância legitimadora, subtraindo-lhe direitos e deveres. Quando a imprensa vira partido, seja de oposição ou de apoio a qualquer governo, renuncia ao seu caráter republicano, passando a ser ferramenta de interesses escusos. Há dúvidas se merece ainda ser mesmo chamada de imprensa.
É o que parece estar ocorrendo agora com o vazamento de um suposto dossiê contendo gastos feitos com cartão corporativo na época do governo Fernando Henrique. Antes de verificar se foi montado pela revista Veja, useira e vezeira em construir castelos de cartas, parcela expressiva da grande mídia não hesita em atribuí-lo ao Palácio do Planalto.
Há quase três anos, Luciano Martins escreveu um artigo para o Observatório da Imprensa ( ´Quando faltam a razão e o direito´) que se tornou definitivo pela dinâmica do jornalismo brasileiro. Analisando o que se delineava como tendência no surgimento do ` blog do Noblat´, o articulista foi preciso:
´A estréia do jornalista Ricardo Noblat, com seu blog político, no Estado de S. Paulo, traz uma lição inestimável para a compreensão do momento que vive nossa imprensa. Traz também uma mensagem claríssima aos jovens profissionais que sonham um dia escrever no outrora vetusto diário paulista.
A constatação é clara: engajada na luta partidária, a tradicional imprensa brasileira, bem representada pelo Estadão, perdeu os últimos pruridos e não se acanha em abrigar um panfleto em suas páginas, desde que venha a reforçar seus propósitos com relação ao atual governo. A mensagem aos jovens também não poderia ser mais explícita: se quiserem ser bem-sucedidos num grande jornal, aprendam a nadar de acordo com a corrente. Se possível, sejam radicalmente a favor de tudo que pensa o patrão. Substituam a ética pela moral do dia, e boa carreira´.
Mudou o veículo (hoje o blog se encontra na sombra da família Marinho) mas a toada permaneceu a mesma. O jornalismo (?) praticado ali comporta não só pleno endosso ao discurso da oposição como, em circunstâncias especiais, busca orientá-la visando à maior eficácia política. Não faltam, é claro, advertências públicas aos que não se comportam de acordo com a orientação da grande imprensa. Afinal, quem, senão ela, pode ser a única instância de intermediação possível? Quem, de fato, é a atora relevante do jogo político? Quem melhor conhece os atalhos que levam à desestabilização de governos eleitos através de coberturas tendenciosas?
Nesse sentido, nada mais pedagógico que duas postagens de Noblat, na sexta-feira, 28 de março. Em ambas, o jornalismo-torcida evidencia quem é quem na esfera pública midiática. Demonstra como se produz o esvaziamento de instituições clássicas de representação para que a imprensa reitere sua centralidade política.
Irritado com um discurso do senador Pedro Simon que, inadvertidamente, sobe à tribuna sem a pauta atualizada, o blogueiro não mede a intensidade da carraspana naquele que tem se notabilizado por um posicionamento incondicional às demandas tucanas. O texto foi ao ar às 9h53m:
´O que faz Pedro Simon (PMDB-RS) que discursa na tribuna do Senado sobre a harmonia das relações entre os três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário) e não diz uma palavra, uma palavrinha só sobre o escândalo do dossiê produzido pela secretária-executiva da Casa Civil da presidência da República contra o casal Fernando Henrique Cardoso e o governo anterior? Será que Simon não leu a reportagem publicada hoje pela Folha de São Paulo? Será que nenhum assessor dele o alertou a respeito? Ou será que ele considera a história mais uma invenção da mídia dita golpista? Ô Simon, atentai bem: não dá para bancar o senador combativo e na hora agá afinar a voz. Não dá para enganar os trouxas o tempo todo´.
A irritação obedece à lógica midiática. De onde o senador gaúcho imagina que há espaços para autonomia relativa? Às 11h20m, menos de duas horas após a advertência, Simon passa recibo e expõe o servilismo solicitado. Noblat registra com satisfação:
´Há pouco, Pedro Simon (PMDB-RS) voltou a discursar no Senado. Referiu-se à nota deste blog que cobrou sua omissão diante do fato denunciado hoje pela Folha de S. Paulo – o de que a Secretária-Executiva da Casa Civil encomendou o dossiê (ou ´levantamento de dados´) contra o governo FHC no caso do uso de cartão corporativo. Simon alegou que o discurso que fizera pouco antes estava preparado há muito tempo. E que ele não lera a reportagem da Folha. Pediu desculpas ao blog. Tudo bem, Simon. Não há de ser nada. Foi erro de sua assessoria, que não o alertou há tempo. É muito raro um político pedir desculpas. Não caberia pedir desculpas ao blog, mas aos brasileiros que assistiam à sessão do Senado transmitida pela televisão. A adesão à humilde ordem dos franciscanos fez bem a Simon.´
O que temos aqui não é apenas a tutela da política pela imprensa. Mais que isso, fica evidente como se estrutura a hierarquia no campo conservador. Quem fugir da organização discursiva das oficinas de consenso deve ser advertido e, dependendo da relutância, silenciado.
O velho senador deve fazer sua contrição sem constrangimento. Ou será que ele não se deu conta de que o alvo do denuncismo vai além de Dilma Roussef? O que está em foco é a possibilidade de esvaziar a representação parlamentar do PT a partir de 2010. Para tanto, é preciso minar uma candidatura viável, seja ela qual for, desde já. Veleidades pessoais nessa hora soam absurdas. O jogo é sujo demais para melindres. Simon sabe qual é seu exato lugar.’
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