Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Vaias para os Tony Awards

O Oscar é um prêmio em que a politicagem de bastidores tem um peso fundamental, todos sabem. Mas, para o editor público do New York Times, Daniel Okrent, segundo escreve em sua coluna de 9/5/04, o maior exemplo de prêmio com pouca ou nenhuma isenção ou objetividade são os Tony Awards. Todos os anos eles contemplam as supostas melhores peças teatrais. Mas não pode ser qualquer peça: em geral, competem apenas os espetáculos que acontecem nos teatros controlados pelas três empresas que dominam a Broadway, situados numa mesma região de Manhattan. Por isso, os critérios seletivos dos Tony seriam quase ‘imobiliários’. Peças menores, como as off Broadway e off off Brodway, não estão no páreo. ‘Você poderia colocar Anton Chekhov com George Gershwin para colaborarem num musical dirigido por George Abbott, mas se a cortina se abrir num teatro da rua 37, azar’, escreve o ombudsman. Qual é a legitimidade de um prêmio cujos concorrentes são definidos por três empresas para as quais trabalham a maioria dos jurados?

Okrent prevê que, como faz todos os anos, o Times dará um espaço enorme para a premiação e seus concorrentes, em detrimento de outras peças, muito mais instigantes. Na última década, os espetáculos off off Broadway ganharam todos os prêmios Pulitzer de teatro – exceto um, concedido a uma peça da Flórida. O editor de cultura do diário, Steven Erlanger, explica que os Tony Awards ganham destaque porque o público se interessa. O jornal não pode fugir do que seus leitores querem saber, ainda que sua equipe tenha noção da pouca credibilidade que o prêmio tem. Ele acrescenta que o Times publicou textos críticos sobre os duvidosos prêmios Globo de Ouro, mas ainda assim os cobre.

Okrent destaca que os shows da Broadway são importantes anunciantes do diário, mas não acha que algum jornalista da equipe acredite que os Tony Awards devam ganhar destaque por causa desse interesse comercial. O Times está preparando uma reformulação de sua seção de cultura e lazer, e Okrent sugere que seja criada uma coluna dominical de crítica teatral que inclua mais peças inovadoras, de fora do circuito da Broadway. O ideal seria que fosse publicada uma matéria no dia seguinte à estréia de cada espetáculo e, eventualmente, uma crítica dominical, que permitiria ao leitor fazer uma comparação para avaliar se vale a pena assisti-lo. Segundo Getler, o Times é a voz mais importante para o teatro americano. Por isso, amplificar essa voz com a instituição de uma coluna crítica semanal só pode merecer aplausos. Já a cobertura quilométrica dos Tony Awards, que aparece todos os anos, ‘não merece nada, a não ser vaias’.