‘Na Primeira Página da edição de quarta-feira está a fotografia de João Rafael da Silva descansando tranqüilamente em uma rede à beira da lagoa de Jijoca de Jericoacora. Uma leitora liga dizendo-se ‘indignada’, perguntando por que O POVO dava ‘mau exemplo’ pondo um ‘malandro’ fazendo pose na capa do jornal. O homem da foto também é conhecido como ‘Joca da Rocinha’ e é apontando pela Polícia Civil fluminense – que o prendera dias antes no aeroporto de Fortaleza – como chefe de tráfico de drogas e de uma das facções criminosas que dominam as favelas no Rio de Janeiro. A fotografia estava em um computador apreendido com o suspeito, junto com outras, mostrando-o em atividades de lazer, enquanto avaliava o ‘mercado’ de drogas no Ceará, segundo anotou a matéria, reproduzindo declarações de policiais.
Outra crítica partiu da professora Adísia Sá, ombudsman emérita do O POVO. ‘Sobre a foto do traficante Joca da Rocinha, deitado numa rede, de calção, e nu da cintura para cima […] o que eu tenho a dizer é que lamento’, escreve. A professora diz não se tratar de ‘puritanismo e/ou preconceito social’; para ela, a linha do O POVO em relação ao noticiário policial ‘tem (teve?)’ como norma o ‘não-sensacionalismo’, limite que teria sido ultrapassado. Adísia diz que uma foto ‘sensacionalista’ e ‘apelativa’ não deveria ter sido publicada na Primeira Página, pois esta representa a ‘essência do conteúdo do jornal’.
Sobre o assunto, o editor-chefe Erick Guimarães argumenta: ‘É preciso esclarecer que a elaboração da Primeira Página é um processo coletivo, envolvendo a chefia de Redação, editores, Arte e Fotografia. Um processo em busca do melhor material jornalístico e da síntese possível da realidade daquele dia, que acompanhe a linha do jornal. No caso da foto, nenhuma dessas áreas teve qualquer dúvida em publicá-la. Adotamos critérios que estão na essência do trabalho jornalístico: o valor informativo da imagem e a contextualização da notícia. E a imagem de que se fala tem uma carga informativa importante. A seqüência de fotos – publicada originalmente no jornal O Globo – revela claramente qual era o estilo de vida do traficante no Ceará. Não se trata de fazer apologia ao personagem, mas de mostrar que um dos traficantes mais procurados do País levava uma vida de turista, em locais públicos e badalados. A imagem tinha uma força que o texto jornalístico não seria capaz de relatar. Deixar de publicar a imagem é que seria questionável, porque omitiria informação’.
Este ombudsman também entende que a publicação da foto foi coerente com a notícia; não vejo como pode ser lida como ‘publicidade’ da vida marginal de Joca da Rocinha ou ‘sensacionalismo’, mesmo porque as fotos foram editadas dentro de um contexto em que se relata a prisão do traficante.
MUDANÇAS
Na coluna da semana passada informei sobre a mudança do dia de publicação de alguns suplementos, incluindo o Jornal do Leitor, que passou a circular aos sábados, em vez de aos domingos. Depois da explicação do editor-chefe, Erick Guimarães, dizendo que a mudança atendia à necessidade de melhorar a distribuição dos cadernos, ajuntei que não via nenhum prejuízo para o leitor, pois os assinantes de fim de semana continuariam a recebê-lo.
Na segunda-feira um leitor liga para criticar a conclusão do ombudsman, dizendo que eu me esquecera das pessoas que compram a edição de domingo nas bancas: estes ficariam sem o suplemento a que estavam habituados. Falei também com a Gerência de Circulação, tendo esta esclarecido que a assinatura do jornal tem caráter bastante flexível, podendo o leitor optar por vários modelos, incluindo receber o jornal domingo e segunda-feira ou somente aos domingos, entre outras possibilidades, desde que os dias sejam seguidos.
Portanto, precipitei-me ao afirmar que não haveria prejuízo aos leitores; para muitos deles haverá. Mudanças são sempre delicadas, pois mexem com o hábito e com a expectativa que o leitor tem de receber a mesma quantidade (e qualidade) de informação e os mesmos suplementos que havia ao iniciar a sua assinatura. As alterações seriam feitas independentemente da vontade do ombudsman, mas tenho de reconhecer, sem subterfúgios, que falhei, neste caso, ao não me pôr ao lado dos leitores.
JOGO DURO
Ainda no terreno dos esclarecimentos, há mais um a fazer. Na coluna de 7/10, com o mesmo título desta nota, comentei crítica feita pelo professor do curso de Comunicação da Universidade Federal do Ceará, Luís Celestino Júnior, ao acordo entre a TV O POVO e TV Assembléia para a transmissão do programa ‘Jogo Político’, apresentado pelo titular da coluna Política, do O POVO, Fábio Campos. Para o professor, a parceria poderia comprometer a cobertura que o jornal e a TV passariam a fazer da Assembléia Legislativa. Respondi-lhe que o conteúdo editorial era de responsabilidade da TV O POVO e não via como isso poderia influir na independência do noticiário. Anotei também que, durante a troca de correspondência, o professor escrevera um e-mail ‘encerrando’ o debate sem responder a uma oferta que eu e o diretor de Jornalismo da TV O POVO, Marcos Tardin, fizéramos de debater o assunto com ele e seus alunos.
Depois da coluna, troquei vários e-mails e falei algumas vezes por telefone com o professor Celestino. Fizemos esclarecimentos mútuos. Fui convidado e compareci à sala de aula dele para conversar com seus alunos – e o professor fez a gentileza de convidar estudantes de outras disciplinas para o encontro. Não concordamos em tudo, mas tivemos um ótimo e participativo debate. Dialogamos – e isso é o mais significativo: é importante a aproximação entre universidade e meios de comunicação, obviamente, sem a necessidade que um e outro abram mão de cumprir o papel que lhes é próprio. A proximidade será benéfica para todos: os jornalistas ficarão mais próximos de um ambiente crítico (e isso poderá estimulá-los a estudar mais) e estudantes e professores terão a oportunidade de conhecer mais de perto como se processa a labuta diária nas redações.’