No site do Yahoo Brasil, uma chamada no sábado (24/1) apontava para os assuntos mais acessados na semana: ‘Obama, Madonna e teto da Renascer foram alguns dos campeões de audiência’.
O mundo da comunicação, desde que o homem se descobriu envolto na tal Aldeia Global de que tanto falou Marshall McLuhan, tem essa peculiaridade de aguçar a curiosidade que une os fatos distantes aos próximos física e emocionalmente, em escalas personalistas, localizadas nos interesses humanos diversos, incluindo sua sede de ser informado, sua necessidade de se entreter e sua perplexidade diante da tragédia.
A semana foi realmente marcada por noticiário intenso a respeito da posse de Barack Obama, que ganha ainda mais espaço através das medidas impactantes tomadas em seus primeiros dias de governo, emblematicamente delimitando espaço para marcar sua nova era, a tão esperada e propagada Era Obama. Como um guru dos anos 1970, o presidente mestiço parece ter a missão de pregar o óbvio: é possível reorganizar tudo, desde a economia até a convivência entre os povos. E traz consigo uma aura de esperança nunca dantes sentida pelas últimas gerações planetárias, que habitam uma Terra ferida, doída, atingida em seu âmago pelas bombas, pelas injustiças, pelas insanidades e radicalismos extremistas.
Obama veio para ficar nas manchetes e na cultura de massas e dele e sua equipe espera-se o revolver da terra abatida, para que dela renasçam frutos e flores, verdejando esperanças de paz e prosperidade. À parte esse sonho dantesco que invadiu as cabeças e os corações da humanidade, a figura também carismática da cantora-dançarina-intérprete Madonna, que passou há pouco pelo Brasil, continua sua marcha midiática como artista que atrai multidões e alcança a fama entranhando-se nos corações de um imenso público que, além de fã, se comporta como adeptos de uma seita à la diva Madonna, endeusando-a como pode e como é comum acontecer com um Olimpiano, imagem concebida pelo teórico Edgard Morin, para explicar os conceitos ligados aos novos deuses da Cultura de Massas.
O fio condutor
Obama e Madonna, em instâncias paralelas, o são, sem sombra de dúvida, partilham da característica proba de stars olimpianas. O imaginário e o real se confundem no inconsciente do público receptor da informação, cuja necessidade básica, permeada de sonhos e idealizações, precisa, e precisa muito, de projeção e identificação para seguir consumindo idéias, comportamentos, entretenimento, conclusões, iniciativas de vida, posturas diante da sobrevivência física e emocional.
Os meios de comunicação apenas cumprem o seu papel nessa industrializada cultura, reproduzindo em série, exaustivamente, os temas pelos quais as pessoas se encontram sedentas em consumir, em receber, em decodificar, em introjetar, em deleitar-se.
A medição da audiência, um fio condutor que nos acostumou aos índices para que nos aproximássemos cada vez mais dos números como aliados do bom viver, ou traiçoeiros que ditam as ordens da maioria, é ela uma imperatriz que comanda os rumos da indústria da comunicação. Enquanto Obama e Madonna dominam o noticiário, há que especular mais sobre eles, seus passos devem ser seguidos, suas palavras repetidas, suas canções reproduzidas, seus discursos republicados, suas ações alardeadas, suas danças reapresentadas, seus shows regravados, suas atividades invasivamente acompanhadas para que se alimentem a tal audiência conquistada.
O escorregão da divindade
Quanto ao teto da Renascer, nada é mais profundo e simbólico do que ver ruir um templo onde criaturas buscam a elevação espiritual, acreditam na vida além da morte e ali vão para reconsiderar suas dores e afirmar sua fé. Como toda tragédia anunciada, seja nas guerras noticiadas através das agências internacionais, seja nos atentados bárbaros capazes de tomar de imensa perplexidade todo ser crente do bem ainda que preparado para o jogo do mal, um acidente na nave de uma igreja caindo sobre a cabeça dos seus fiéis é como um mundo que cai sobre os ombros dos que esperam que a paz possa renascer, que o amor possa triunfar, é um banho de tristeza sobre a confiança e a alegria do encontro com o sonho realizado.
Talvez o inconsciente do público seja mais lúcido ainda, pois buscou a figura representativa de Obama, sob o ponto de vista da lógica social-democrata e econômico-realista, sem deixar de observar o lado lúdico da vida que a artista pós-moderna Madonna é mestra em provocar e oferecer e, por terceiro lugar, deixou-se atrair pelo escorregão da divindade, ao ver cair o teto de um templo curiosamente intitulado Renascer – e que tem sido alvo de noticiários tendo em vista o envolvimento dos seus líderes, que até foram presos nos Estados Unidos por acusações de desvio de dólares, o que aproxima em muito, a necessidade humana da fé, da necessidade sobre humana do poder e da organização do próximo show.
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Jornalista, Rio de Janeiro, RJ