‘Quando o teto da Igreja caiu, morreram 25 pessoas e 467 ficaram feridas.’ Não estou a falar da tragédia da Igreja Renascer, ocorrida semana passada, mas do desabamento do teto da Igreja Universal na cidade de Osasco (SP), onze anos atrás. A notícia, de 1998, tem sido requentada nos últimos dias para demonstrar o total descaso das seitas e do Estado em relação à integridade física dos fiéis (ver aqui).
O maroto ‘dedo de Deus’ pressionou o telhado de outra igreja e muitos morreram e muitos mais ficaram feridos e abalados. A imprensa resolveu não parar de chutar o cachorro morto – a Renascer, o município, o Judiciário (ver aqui). Um professor de Direito Internacional sempre dizia que quem tem hálito ruim não sente o próprio cheiro. Isto também se aplica aos jornalistas?
Santa ingenuidade
Após a tragédia de Osasco, a imprensa tupinambá não foi ao fundo da questão da segurança dos templos. Nunca investigou o uso do dinheiro dos fiéis ou o desequilíbrio entre as promessas milagrosas e as arrecadações fartas e negócios duvidosos. Em geral, os mercadores da fé, que gastam mais em carros de luxo e jatinhos do que na manutenção dos prédios onde realizam seus negócios lucrativos, têm sido mantidos em paz.
Santa ingenuidade – diria o inseparável companheiro do Batman televisivo.
Os bispossuidores de igrejas caindo aos pedaços e mansões invejáveis já aprenderam o caminho das pedras. Eles se tornaram donos de jornais, de rádios e de TVs. E é óbvio que não vão investigar os próprios defeitos. Nossa mídia é livre e laica, desde que…
Crime de estelionato
Penso que está na hora de a sociedade brasileira começar a discutir três coisas:
a) A imunidade tributária concedida indiscriminadamente às igrejas. Mal empregado, este princípio prejudica os contribuintes em benefício dos malandros travestidos de pastores;
b) A propriedade de meios de comunicação por pastores e igrejas. O Estado é laico e a comunicação também deve ser laica, porque de outra forma a própria ação do Estado pode ser tolhida em razão de campanhas publicitárias feitas pelos pastores criminosos para ficarem impunes;
c) O abuso da credulidade da população em benefício próprio é imoral. E mais do que imoral precisa começar a ser considerado crime, crime de estelionato religioso.
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Advogado, Osasco, SP