A, digamos assim, crítica que o novo livro de Jô Soares recebeu no Jornal do Brasil (1/5), assinada por Álvaro Costa e Silva , foi, no mínimo, complacente. Marcelo Pen , crítico da Folha de S.Paulo, também não critica o livro do autor, nem o autor do livro. Entrevista-o apenas. Na IstoÉ, Luiz Chagas não toca na ferida, apenas alisa o fardão que, por mais que negue querer vestir, com vesti-lo Jô Soares sonha.
Poderíamos descartar toda e qualquer crítica, de fato, alegando tratar-se de romance para entreter. Nada de sério, mais ainda por ser o autor humorista consagrado. Uma brincadeira com os imortais, cuja posição social dá trela à piada, como também é irresistível não brincar com o peso do próprio Jô.
A mortalidade dos imortais é prato cheio para uma boa (e fácil) boutade cultural. O falecido jornalista e escritor Austregésilo de Athayde (presidente da ABL ao longo de 36 anos), só podia ter um apelido: Austregésilo de Ataúde. O próprio Jô menciona a frase jocosa de Olavo Bilac: ‘Sou imortal porque não tenho onde cair morto…’ E por aí vamos.
De segunda
O poema criado no livro, paródia da Canção do exílio, diz o que muitos literatos pensam: ‘Não permita Deus que eu morra / Sem brilhar na Academia’. Este sonho, dentro e fora do livro, e dentro do livro homônimo pertencente à trama do livro, é o sonho que move o assassino, e o que leva Jô Soares a ter escolhido a ABL para lançar este seu novo título, a exemplo do que Paulo Coelho fez em 2000, lançando lá O Demônio e a Srta. Prym, dois anos antes de candidatar-se a uma vaga.
O problema fatal, a meu ver, em Os assassinatos na Academia Brasileira de Letras, é sentir em suas linhas o fruto de um trabalho minucioso, premeditado passo a passo, escrito calculadamente, realizado com a precisão de quem quis cometer um crime perfeito.
O crime está, por exemplo, em ostentar, como quem não quer nada, e no fundo tudo quer, um conhecimento detalhado, enciclopédico, do ambiente em que a história se passa. Referências, nomes, dados, datas… Tudo transpira pesquisa. Mais do que inspiração…
Pelo menos conta-se uma história! Mas uma história policial meio forçada, sem a originalidade, sequer, de autores considerados de segunda, como Agatha Christie ou Simenon.
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Doutor em Educação pela USP e escritor; (www.perisse.com.br)