Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Estadão vai ao Supremo contra censura


Leia abaixo a seleção de quarta-feira para a seção Entre Aspas.


 


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Folha de S. Paulo


Quarta-feira,18 de novembro de 2009


 


CASO SARNEY


Jornal vai ao Supremo contra censura imposta por tribunal


‘Os advogados do jornal ‘O Estado de S. Paulo’ ajuizaram ontem no STF (Supremo Tribunal Federal) uma reclamação para tentar suspender a censura imposta ao jornal por decisão do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios.


A reclamação, de 17 páginas, foi distribuída ao ministro Cezar Peluso, vice-presidente do STF, que não havia decidido sobre o pedido até o fechamento desta edição.


A censura vigora desde 31 de julho, quando o desembargador Dácio Vieira acolheu uma ação inibitória movida pelo empresário Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP).


O empresário conseguiu impedir, desde então, que o jornal publique qualquer notícia que vincule ‘direta ou indiretamente’ o seu nome à Operação Boi Barrica (rebatizada de Faktor), iniciada em 2006 pela Polícia Federal do Maranhão para investigar suspeitas de ilegalidades em movimentações financeiras feitas por empresas da família Sarney durante a campanha eleitoral daquele ano.


Em 15 de julho, Fernando Sarney foi indiciado pela PF por suposta falsificação de documentos para favorecer empresas privadas em contratos com empresas estatais, entre outras acusações.


O indiciamento significa que o delegado da PF responsável pelo caso identificou a existência de indícios fortes o suficiente para apontar a culpa do empresário, a ser decidida pelo Judiciário.


Desde a decisão do Tribunal de Justiça do DF, os advogados do jornal, que completou ontem 110 dias sob censura, recorreram pelo menos duas vezes ao próprio tribunal para que modificasse sua decisão, sem sucesso.


A censura gerou protestos de várias entidades representativas, como a Associação Mundial de Jornais e o Fórum Mundial de Editores.


De acordo com texto divulgado ontem pelo STF em seu site na internet, os advogados do jornal qualificaram acórdão do tribunal do DF de ‘exorbitante e antagônico’.’


 


 


INFORMAÇÃO PÚBLICA


Fernando Rodrigues


A lei de acesso avança


‘BRASÍLIA – Hoje à tarde, na Câmara, será divulgado o relatório sobre o projeto de lei de acesso a informações públicas. Mais de 60 países no mundo têm esse tipo de legislação. O Brasil não faz parte desse grupo, composto não só por EUA e Suécia mas também por México, Chile e Colômbia.


Há indicações de que o texto do deputado Mendes Ribeiro (PMDB-RS) aperfeiçoará a proposta enviada ao Congresso por Lula e Dilma Rousseff no início deste ano. Da forma como nasceu no Planalto, a lei trazia avanços, embora fosse ambígua a respeito de sua abrangência.


Se prevalecer o entendimento do relator, a legislação será válida em todas as instâncias de governo (municipal, estadual e federal) e nos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário.


Há também um aspecto mais arrojado. Autarquias, fundações e empresas públicas ou de economia mista também passam a se submeter à lei de acesso. O mesmo se aplicará a ONGs que recebem financiamento de governos diversos. Grandes caixas-pretas, da Petrobras ao MST, podem chegar ao fim com a aprovação da lei de acesso.


Dois temas polêmicos devem dominar a tramitação desse projeto. Um deles é a instância para recursos quando o acesso a uma informação for negado. O outro é o período máximo de sigilo.


O Planalto deseja usar a Controladoria-Geral da União como órgão recursal. Não funciona. O ministro da CGU jamais terá poder para obrigar um colega na Esplanada a liberar algum dado.


Sobre o tempo máximo antes de liberar um documento, o Planalto propôs 25 anos -mas permitindo renovações indefinidas. Na prática, cria a execrável figura do sigilo eterno. Uma anomalia.


Nos debates sobre a lei de acesso, os deputados terão de decidir se chancelam o desejo do Executivo ou se colocam um limite máximo para as renovações dos sigilos.’


 


 


TODA MÍDIA


Nelson de Sá


Hu vs. Obama


‘Na manchete de papel do ‘China Daily’, ontem, ‘Tem lugar para nós dois, diz Obama’.


Já na manchete on-line do jornal chinês, ‘Pedido a Obama: controle os separatistas nos EUA’ -sobre a cobrança do presidente Hu Jintao para que ele ‘pare de deixar secessionistas usarem seu território para separar Tibet e Xinjiang da China’.


Em suma, manchete on-line do ‘New York Times’, ‘Viagem de Obama mostra as diferenças, conforme cresce o papel da China’. Entre outras diferenças, no enunciado do ‘Financial Times’, ‘EUA estimulam China a valorizar o yuan’. De sua parte, antes a China já havia ‘estimulado’ o mesmo para o dólar.


E o ‘Wall Street Journal’ fez longo editorial em apoio à posição de Pequim, dizendo que o dólar fraco ajuda na recuperação dos EUA, mas é ‘jogo perigoso’, que já levou Brasil e Taiwan a restringirem aplicações estrangeiras nos dois mercados.


A FOX NEWS VENCEU


Um mês atrás, a diretora de comunicação da Casa Branca abriu guerra à Fox News. Semana passada, anunciou a sua saída do governo, no dia em que o Drudge Report postou que Obama concederia entrevista ao canal. A Casa Branca negou então, mas ontem a Fox News confirmou


ESPERANÇA?


EUA e China, que haviam inviabilizado Copenhague, soltaram comunicado prometendo ‘metas de emissão’. Foi manchete on-line no otimista ‘Guardian’, ‘Obama e Hu restauram esperança sobre clima’.


‘ZERO HUNGER’


No encontro da FAO sem ‘países ricos’, como sublinhou o ‘NYT’, Lula foi para a boca de cena, com o papa. No alto das buscas de Brasil, despacho ressaltou que o Brasil ‘fatura com êxito do Fome Zero’, que teria reduzido em 73% a desnutrição


‘CRESCIMENTO CHINÊS’


UOL e Terra destacaram ontem a coluna ‘O Presidente Responde’, em que Lula adiantou que ‘o PIB do terceiro trimestre deve registrar crescimento a um ritmo chinês, de cerca de 9%’. Ecoou, sobretudo pela América Latina, em despachos de France Presse e outras. No ‘Clarín’, ‘Lula promete crescer com taxas chinesas’.


A PETROBRAS SALTA


O dia abriu com o ‘Valor’ garantindo que o novo diretor do Banco Central não era indicação do ministro Guido Mantega. O post ‘+ lido’ do Valor Online, depois, avisou que o ‘mercado avalia’ a mudança.


Fim de manhã, no mesmo Valor Online e manchete na Agência Brasil, ‘Henrique Meirelles diz que chance maior é continuar no BC’ _e que não devem sair mais diretores. Em portais como iG e Exame, registrou-se então que o ‘mercado não se altera’, ‘não se assusta’.


Ainda assim, só no fim do dia as ações foram disparar, mas porque a Petrobras anunciou descoberta em Angola. Manchete final do Valor Online, ‘Petrobras salta e ajuda Bolsa a fechar na máxima do ano’.


AINDA MAIS


O ministro da Fazenda não teria poder para indicar o novo diretor do BC, mas foi manchete por toda parte, ontem. Para começar, com nova aposta de PIB.


Em suma, no enunciado da Reuters Brasil, ‘Mantega prevê ciclo ainda mais forte’. Foi parar no site do ‘WSJ’, ‘Mantega, do Brasil, diz que crescimento pode atingir 6,5% em 2010-2016’.


BONDADES


Também falou de imposto, ou melhor, de desoneração. Manchete no UOL, ‘Medida anticrise custa R$ 25 bilhões, diz Mantega’. Logo abaixo, em contraste, ‘SP ganha R$ 650 milhões com IPTU’ e o aumento de até 60%.


E tem mais, manchete de iG e sites econômicos, ‘Mantega promete agir por exportação competitiva’ ou ‘proteção para a exportação’.


FALA, MALAN


Em Londres, o ex-ministro Pedro Malan, ‘presidente do comitê internacional de assessoria do Itaú Unibanco Holdings’, falou à Bloomberg que a moeda brasileira deve se desvalorizar de forma ‘inteiramente ordenada’, desta vez. ‘Haverá forças naturais na direção da depreciação’, opinou, citando a ‘alta taxa de crescimento’.’


 


 


INTERNET


Para ANJ e Abert, conteúdo na web deve ter controle nacional


‘A ANJ (Associação Nacional de Jornais) e a Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão) divulgaram nota na qual defendem a isonomia no tratamento às empresas que produzem conteúdos jornalísticos em qualquer mídia, o que também inclui a internet.


A questão está sendo debatida na Câmara dos Deputados. As duas entidades entendem que sites noticiosos também devem obedecer ao artigo 222 da Constituição Federal, que estabelece que empresas de comunicação devem ser chefiadas por brasileiros natos ou naturalizados há mais de 10 anos. Essas empresas podem ter, no máximo, 30% de capital estrangeiro.


Segundo a ANJ e a Abert, tal ‘regra foi criada para preservar nossos direitos à informação livre e soberana, e à manutenção da cultura nacional. Ou seja, para que não sejamos filiais de eventuais interesses estrangeiros’.


As entidades ressaltam que ‘o acesso à internet deve ser livre, assim como a prestação de muitos serviços via internet’, mas que uma empresa que produz conteúdo jornalístico tem de seguir as normas da Constituição.


‘Na euforia que se instaurou com a efervescência da internet, várias empresas estrangeiras simplesmente passaram a produzir conteúdo brasileiro, ignorando flagrantemente a nossa Constituição’, afirma a nota.


‘Há dois princípios dos quais a sociedade brasileira não pode, em qualquer hipótese, abrir mão: primeiro, a liberdade de expressão, pela qual tanto lutamos e vamos continuar a lutar, por ser, acima de tudo, um direito da sociedade, antes de ser dos meios de comunicação. Segundo, a preservação da produção do conteúdo nacional sob a orientação de brasileiros’, afirmam as entidades.’


 


 


FILME


Ana Paula Sousa e Simone Iglesias


Desorganização marca pré-estreia de ‘Lula’


‘Não foi necessária a presença da oposição para que a pré-estreia do longa-metragem ‘Lula, o Filho do Brasil’, ontem, tivesse sua porção saia justa.


Atrasos, vaias ao produtor Luiz Carlos Barreto e um protesto em favor de Cesare Battisti marcaram a primeira exibição do filme ‘Lula, o Filho do Brasil’, ontem à noite na abertura da 42ª edição do Festival de Cinema de Brasília, no Teatro Nacional.


O filme atraiu muito mais gente do que o espaço projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer comporta. Era tamanha a concorrência à porta do cinema que produtores e elenco quase ficaram do lado de fora.


O presidente do festival, Fernando Adolfo, teve de sair da sala para resgatar o produtor Luiz Carlos Barreto, que suava de calor e irritação.


Ao subir ao palco para apresentar o filme, Barreto sugeriu que os espectadores sentados nos corredores e escadas se retirassem sala. ‘Não há bombeiros aqui. Se estourar uma lâmpada, as pessoas estarão todas correndo risco de vida’, disse. Ninguém se retirou. O diretor Fábio Barreto tentou, ainda assim, fazer um outro apelo: ‘Nós, equipe e atores, estamos sem lugar para sentar’. De novo, ninguém se levantou.


Sem a presença de Lula, a noite foi de os convidados tietarem a primeira-dama, Marisa Letícia, que posou com atores para fotos e não quis dar entrevistas, mas acabou conversando com a turma do ‘CQC’.


Ministros, deputados, senadores e assessores da Presidência estavam entre o público, muitos deles acomodados no chão do teatro. Na plateia estavam o ministro do STF José Antonio Dias Toffolli, os ministros Paulo Bernardo (Planejamento), Orlando Silva (Esportes), José Pimentel (Previdência Social), Fernando Haddad (Educação), Márcio Fortes (Cidades) e Luiz Barretto (Turismo) e os principais assessores de Lula, como Clara Ant, Gilberto Carvalho e Swardemberg Barbosa.


Paulo Bernardo rebateu as críticas da oposição que acusam o uso político da imagem do presidente com a divulgação da obra às vésperas de ano eleitoral. O ministro desafiou a oposição a lançar um filme contando a vida de algum líder oposicionista. ‘Não tem nada ilegal ou irregular nisso. Eles também que façam um filme. Se procurar, acham alguma história interessante’, afirmou.


O filme


A exibição confirmou relatos de que o filme tem forte apelo emocional. A música intensa e as lágrimas que correm pela tela desde as primeiras cenas não deixam dúvidas a respeito do tom da história.


Os cactos e a miséria em Caetés -onde Lula nasceu-, o pau-de-arara , o pai alcoólatra e violento (‘Filho meu não estuda, filho meu não brinca’) e o ofício de torneiro mecânico aprendido ainda na adolescência são retratados de forma a dar sentido ao líder que será moldado nas greves do ABC, durante a ditadura.


Ao final da exibição, o público aplaudiu. A primeira-dama saiu assim que acabou o filme.’


 


 


TELEVISÃO


Silvia Corrêa


Copa na Band terá 10h de futebol por dia


‘Uma overdose de futebol. É o que a Bandeirantes planeja oferecer ao telespectador durante a cobertura da Copa, no ano que vem. A emissora quer colocar no ar até dez horas diárias de programação feita ao vivo, direto da África do Sul. O Mundial marcará a volta da Band à transmissão dos jogos, o que a emissora fez pela última vez em 1998, na Copa da França.


Nos primeiros 12 dias de disputa, haverá três partidas diárias -às 8h30, às 11h e às 15h30 (horários de Brasília). A Band promete transmitir todas elas, o que já somará seis horas de futebol. O período entre os jogos -30 minutos e duas horas e meia, respectivamente- também será ocupado pelos jornalistas que estiverem na África.


‘A transmissão será feita por quatro linhas de fibras óticas -duas que cruzam o Atlântico e duas, provavelmente, pelo Pacífico. Precisamos garantir a segurança da operação. Mesmo que uma delas tenha problemas, temos de ter certeza de que continuaremos no ar’, explica Marcelo Meira, vice-presidente da emissora.


A Band já definiu que mandará à África do Sul equipes do ‘CQC’, além de Patrícia Maldonado e José Luiz Datena. O ‘Brasil Urgente’ ficará no ar, com outro apresentador.


O principal investimento, no entanto, deverá ser num grande estúdio numa das cidades que recebem os jogos. Dele serão apresentados o ‘Jornal da Band’ -com pelo menos dois âncoras na África- e o ‘Jogo Aberto’, de Renata Fan.


SEM EFEITO


‘Aqui se faz novela com ator, sem efeitos mirabolantes’, disparou o diretor Del Rangel na apresentação do elenco de ‘Uma Rosa com Amor’, remake que o SBT começa a gravar no dia 1º. Estava ao lado do autor Tiago Santiago, o pai da saga dos mutantes na Record, cheia de efeitos mirabolantes.


PASSO A PASSO


Del Rangel diz que, enquanto ele dirigir a dramaturgia do SBT, a emissora só partirá para a produção de duas novelas simultaneamente quando a que estiver no ar chegar a dez pontos de audiência. Hoje, dá 5.


RAÇA NEGRA


Joyce Ribeiro (SBT) levou o troféu Raça Negra na categoria jornalismo televisivo. Teve 32,9% dos votos, contra 24,1% de Abel Neto, da Globo.


PAÍS DO APRENDIZ


Já são mais de 120 mil inscritos no ‘Aprendiz Universitário’, a 7ª versão do reality da Record. É um recorde. Na versão passada foram 100 mil candidatos. Será a estreia de João Dória Jr. na atração. As inscrições terminam na sexta.


TREM DA ALEGRIA


Já passam de 35 os globais que embarcam hoje para Nova York para assistir à entrega do Emmy. A emissora concorre em cinco das dez categorias. Juliana Paes, Lázaro Ramos e Patrícia Poeta vão na caravana.


SHOW DA VIRADA


A Globo grava hoje, no Credicard Hall, o ‘Show da Virada’, que vai ao ar depois dos fogos de Ano Novo. São 38 atrações musicais de todos os tipos. Cada artista canta uma música. Claudia Leitte canta duas.’


 


 


Lúcia Valentim Rodrigues


‘Bored to Death’ alcança o riso com Dom Quixote moderno


‘O fora de uma namorada faz Jonathan ter um surto de Dom Quixote. Imitando o personagem de Miguel de Cervantes, quando ela o abandona, ele se transforma numa paródia de um detetive dos romances noir de Raymond Chandler.


A batalha contra os moinhos de vento vira, aqui, uma busca desesperada que mostre que Jonathan (Jason Schwartzman) possa ser alguém, um herói de preferência, em vez do bêbado maconheiro que sua amada enxerga. Ele não se encaixa no estereótipo do investigador durão, mas se arma do casaco de chuva e do semblante de interrogatório para tentar ser convincente.


Escrita por Jonathan Ames, que deu seu próprio nome ao protagonista, a série ‘Bored to Death’ (entediado até a morte) estreia no próximo domingo, na HBO. É uma safra boa para o canal, que tem entre seus seriados ‘Hung’, ‘Mad Men’ e ‘Filhos do Carnaval’.


Jonathan se mete nas encrencas mais esquisitas, mas tudo dá certo porque parece que todo mundo, numa espécie de terapia coletiva, sente falta de mais conversa e da inocência desse desorientado.


Seu parceiro é o editor de uma revista feminina, em crise também, mas pela perda das leitoras. Ele é um misógino, que tem interesse em tudo o que é novo, mas porque sua vida é de um vazio desolador. Este é um interessante papel para Ted Danson, que já foi o dono do bar de ‘Cheers’, o vilão interesseiro de ‘Damages’ e agora entra nessa interpretação estereotipada, mas que ele carrega com uma hipocrisia elegante.


Esta série curta, de oito episódios, já tem uma nova temporada para 2010. É uma mistura dos personagens neuróticos de Woody Allen com a inadequação de Judd Apatow que sacode o tédio para longe. É mais do que Jonathan poderia querer.’


 


 


 


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O Estado de S. Paulo


Quarta-feira,18 de novembro de 2009


 


LIBERDADE DE IMPRENSA


Fausto Macedo


Recurso contra censura ao ‘Estado’ chega ao Supremo


‘A batalha do Estado para se desvencilhar da mordaça que o cala há 110 dias chegou ao Supremo Tribunal Federal (STF). Por meio de um recurso denominado reclamação – com pedido de liminar -, protocolado ontem de manhã na mais alta instância do Judiciário, a defesa do jornal ataca ponto a ponto, em 17 páginas, o decreto de censura baixado pelo desembargador Dácio Vieira, da 5ª Turma Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJ-DF).


A reclamação foi distribuída para o ministro Cezar Peluso. Subscrito pelo advogado Manuel Alceu Affonso Ferreira, o documento requer a ‘pronta suspensão’ do curso da ação movida contra o jornal pelo empresário Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). Essa ação foi iniciada na 12ª Vara Cível de Brasília, que rejeitara a censura, provocando recurso de agravo de instrumento por parte de Sarney. No TJ-DF o recurso caiu nas mãos de Dácio Vieira.


O desembargador ordenou ao jornal que parasse de publicar reportagens sobre a Operação Boi Barrica, que envolve Fernando Sarney. E estipulou multa de R$ 150 mil ‘por ato de violação’ de seu ‘comando judicial’.


O Estado pede ao STF: ‘A suspensão dos recursos dela (ação civil) tirados, especialmente o agravo ao qual a 5ª Turma Cível do TJ, sob presidência e relatoria do desembargador Lecir Manoel da Luz, conheceu para, dando-se por incompetente, declinar dessa competência para o Juízo Cível Federal do Maranhão e, invocando o ‘poder geral de cautela’, continuar tolhendo ao Estado.’


A defesa pleiteia que o STF libere o Estado para ‘a regular divulgação das informações que obteve sobre Fernando Sarney e são objeto da impetração judicial inibitória’. Manuel Alceu ressalta que o jornal foi impedido de ‘divulgar as informações e os elementos que recebeu e que, no exercício do direito-dever jornalístico de comunicar, pretendia e continua querendo repassar a seus leitores’.


Para ele, o TJ-DF ‘desacatou’ o histórico julgamento do STF que culminou com a revogação da Lei de Imprensa, do regime autoritário. O advogado assinalou que a censura judicial foi ‘operada sob as vestes da proteção aos direitos da personalidade como se a eles pudesse ser forasteiro, apartado, quiçá incompativelmente distante, o fundamental direito à manifestação do pensamento’.


A reclamação faz citação a manifestações de ministros do Supremo. Uma delas, do decano Celso de Mello. ‘A censura governamental, emanada de qualquer um dos três Poderes, é expressão odiosa da face autoritária do poder público.’


Manuel Alceu sustenta que o TJ-DF, ‘canonicamente agindo sob a roupagem de verdadeira Congregação para a Doutrina da Fé, aviltou a liberdade informativa, sujeitando-a à inibição judicial prévia (…) e privilegiou, ou pensou estar privilegiando, direitos personalísticos subjacentes à privacidade e à honra, sobrepondo-os ao direito prevalecente da atividade informativa’.


A reclamação destaca que outros veículos de imprensa ‘propalaram à larga’ o conteúdo das gravações da PF. ‘Os assuntos tratados pelos interlocutores-familiares (os Sarney), e por terceiros, não diziam mínimo respeito às possíveis intimidades do núcleo familiar’, argumenta o advogado. ‘Tudo o que naquelas gravações está contido consubstancia temário de interesse público, a abranger o preenchimento, nepotista ou não, de cargos estatais, favorecimentos governamentais, intromissões em licitações e contratos da administração direta e das entidades paraestatais.’’


 


 


Câmara aprova moção de repúdio à mordaça


‘Uma moção de repúdio à censura ao Estado foi aprovada ontem, por unanimidade, na Câmara de São Paulo. Apresentada pelo vereador Carlos Apolinário (DEM), com apoio de líderes de todos os partidos, a moção relembra a luta do jornal contra as ditaduras do Estado Novo e dos militares. Serão enviadas cópias aos presidentes da República, Luiz Inácio Lula da Silva, do Senado, José Sarney (PMDB-AP), do STF, Gilmar Mendes, e da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP).’


 


 


Moacir Assunção


‘Aos políticos se exige um ‘plus’ de ética’, afirma dirigente da OAB


‘O presidente da Comissão de Direito Constitucional da OAB-SP, Antonio Carlos Rodrigues do Amaral, enxerga, na decisão do Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJ-DF), que instituiu a censura ao Estado, um dilema que nem deveria existir.


‘Aos políticos se exige um plus de ética’, afirmou ele, para lembrar a necessidade de ocupantes de cargos públicos se lembrarem do ditado segundo o qual ‘à mulher de César não basta ser honesta, também tem de parecer honesta’.


A liberdade de imprensa, lembra o especialista, não é um valor fundamental que se esgota por si só, mas tem a ver com o papel exercido pela instituição imprensa na sociedade.


O direito à intimidade do cidadão, destacou Amaral, é garantido desde que suas atividades não sejam públicas ou não digam respeito a temas públicos.


‘Assim, as matérias jornalísticas feitas pelo Estado, um jornal sério e ético, que não tem o interesse de causar sensacionalismo, tratam de temas públicos, já que envolvem personagens que discutem cargos em órgãos do Estado’, disse o presidente da comissão da OAB, ao questionar a mordaça, instituída a partir de ação movida pelo empresário Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP).


Não vale neste caso, de acordo com Amaral, alegar que o responsável pela censura não é o parlamentar, mas seu filho, como subterfúgio para diminuir a sua responsabilidade.


‘Quem é parente de político tem de tomar mais cuidado ainda com as tentações do poder. Está implícito que a sua vida será submetida ao escrutínio público e não poderá usar o escudo da privacidade, como se fosse um cidadão comum’, afirmou. Fernando foi indiciado pela Polícia Federal por vários crimes na Operação Boi Barrica.


Neste caso, lembrou o especialista, o tema tratado pelo Estado é da mais alta relevância para a sociedade. ‘Trata-se de dinheiro público. Dificilmente haveria outro tema mais importante’, destacou.’


 


 


JORNAL NA REDE


‘NYT’ pode combinar acesso grátis e pago


‘O bilionário mexicano e empresário do setor de telecomunicações Carlos Slim Helu afirmou que a New York Times Co. deveria implementar uma combinação de acesso livre e acesso pago em seu conteúdo online. Slim acrescentou acreditar que as pessoas se disporiam a pagar pelo serviço. Em janeiro, Slim emprestou à dona do jornal The New York Times US$ 250 milhões, em troca de uma fatia de 7%, e tornou-se o terceiro maior acionista da companhia, que tem lutado contra o aumento dos custos e a baixa circulação.’


 


 


TELEVISÃO


Keila Jimenez


Clandestinos vira série


‘Artistas que vivem na periferia do show business e sonham entrar nele, e um homem, na crise dos 40, cercado por mulheres e suas loucuras: essas são duas das novas séries da Globo em 2010. Já aprovados, ambos os projetos, de João Falcão, têm chance de entrar no ar ainda no primeiro semestre.


Baseada na peça de teatro Clandestinos, a série, que deve levar o mesmo nome, terá seis episódios e pode ocupar a difícil vaga das sextas-feiras à noite. A trama conta história de jovens artistas que buscam uma chance no show biz, e, enquanto ela não vem, vivem à margem desse mundo, fazem figuração, teste para comercial… A série marca o reencontro de Falcão com Guel Arraes e Jorge Furtado, que não trabalham juntos desde Lisbela e o Prisioneiro (2003).


‘Vamos usar o mesmo elenco da peça, que são atores que vivem esses dilemas’, conta João Falcão.


A outra série, batizada de Loucos Por Elas, conta a história de um homem cercado por mulheres (filhas, netas, esposas) e que está enfrentando a crise dos 40. O protagonista, que será vivido por Du Moscovis, perde a memória e volta a se comportar como um garotão de 20 anos.’


 


 


 


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