Falar sobre educação sem tocar no assunto da formação docente e das fontes de informação torna incompleto o discurso. A investigação sobre a formação conduz ao diálogo de onde, como e quando houve a formação. Quando nos posicionamos sobre o quando da formação docente, paramos na condição de uma formação que atenda o agora da necessidade da sociedade e, com isso, a do discente. Considerar que a formação do docente consiste no término de um curso superior é intrinsecamente considerar que a cultura e a sociedade não sofrem qualquer alteração, ou seja, que há inexistência da dialética sócio-cultural, fator que pode ser bem representado pela mídia crítica quando ela apresenta os diálogos ativos de determinadas situações de relevância social.
Neste sentido, deve-se ter como objeto de reflexão as alterações sociais e a dinâmica da sociedade que se iniciam em determinados pontos e chegam a outros por meio dos veículos de informação. A prática docente, diante de toda essa condição a que estão envolvidos os temas, deve ser um ‘mundo’ maleável e pronto à receptividade do novo e do ‘moderno’, ou seja, pronto para a uma constante reavaliação, a fim de responder aos pretenderes sociais em todos os seus momentos e seguimentos. Vemos neste aspecto que a mídia pode funcionar como um termômetro para detecção dos diálogos em que a sociedade se encontra. O papel da mídia crítica tem representantes possuidores de considerável grau de confiabilidade. A permanência na formação é necessidade para o investidor do campo educacional com justificativas que se confirmam a partir dos discursos diários do mercado de trabalho.
O ‘ser incompleto’
As áreas de formação ‘enxertam’ nos que se propõe estudá-las saberes relativos aos seus anseios, isto se tratando da proposta da formação de cada campo de formação. Assim, todos os saberes relacionados ao campo de pesquisa lhe são compartilhados, todos que, até aquele instante da formação, ficaram expostos e acessíveis à investigação dos pesquisadores. Porém, há certos fatores que não devem ser desprezados como: o que se propôs a aprender é ou não um elemento sujeito à dialética? Convencendo-se de que a dialética alcança todo o plano físico que meandreia o ser humano, porque esta influência externa ao ser humano, que chamamos de elementos da cultura objetiva (MELLO, 2001), é dinâmica e abarca a sociedade num todo como num fatalismo. Em sistemática a essa condição, a mídia crítica coloca-se como elemento de fundamental contribuição. É dela que podem partir as iniciativas da difusão, fomentação e apelo ao diálogo sobre. Contando que o saber da formação da opinião social em que ela se investe é objeto de vivência social e é fruto de constantes mudanças.
Alterando o objeto da análise do saber, por menor que seja a alteração, este saber deve acompanhar paralelamente as ocorrências, bem por meio de investigação continuada deste objeto.
Acompanhar mudanças é fator essencial para aqueles que se entregam ao mundo da docência, não às superficialidades com que alguns seguimentos da mídia apresentam, mas, da mídia crítica, que se entrega ao aprofundamento da discussão sobre, trazendo ao diálogo as bases fundamentais envolvidas nos processos ou aqueles que o acompanham, possibilitando dessa forma sustentação da extensão do objeto do discurso.
É importante ressaltar que os envolvidos no processo não podem ser comparados à figura iconográfica da estética visual artística de consideração popular, como se vê consolidado em alguns programas de televisão que convidam um ‘artista’ de novela ou cantor popular para discutir temas dos quais sabe absolutamente nada e estará ali apenas para expressarem sua opinião particular; essa mídia não é considerada mídia crítica.
Devem, tanto à crítica como ao docente, também aceitarem a condição de que o ser humano é misterioso na sua essência e está na condição de ‘ser incompleto’, buscando resolver-se diante de si mesmo (FREIRE, 1996), fazendo dessa consciência instrumento para a retomada, a todo instante, das condições em que se encontraram e se encontrarão os elementos do diálogo.
Saberes específicos
O humano é o referencial presente em todas as ocasiões. Ele está como elemento dela e como seu observador, num mesmo ato. Se é o ser humano o intermediário da sua própria condição, sendo ele ser inacabado, então tudo que envolve sua existência dependerá da forma com que ele assistirá e julgará todas as coisas em momentos contínuos de sua existência, perfazendo a durabilidade desse julgamento por meio da educação com uma sustentação dos elementos de difusão, acompanhado pelo apelo da mídia crítica.
Atualizar-se é manter-se em consonância com os fatos correntes, ser atual, imediato e efetivo na época e no interesse proposto pelo momento histórico em que se vive. Este modelo de relação com o momento implica em receber e propor linguagem e atitudes coerentes com o momento, ou seja, falar a língua significativa para o momento.
A pretensão com o conceito de ‘atualizar’ intenta-se à compreensão de certa existência de relação entre o conceito de ‘contínuo’. Esses dois conceitos concordam quando tratam da ininterrupção da formação, ou seja, há uma sinonímia no trato etimológico com os dois termos.
Observando esses dois meandros apresentados nos aproximamos do que pode conceituar a formação contínua.
Ampliando um pouco mais a visão sobre o tema nota-se a profundidade que envolve o processo da formação continuada. É importante mencionar que há outros saberes que envolvem um saber específico. Um exemplo que pode dar propriedade a essa proposta é dizer que se torna impossível falar sobre internet sem abarcar a existência do computador. Sendo assim uma missão quase impossível esclarecer alguns conceitos sem relacioná-los com outros.
Um instrumento viável
A formação continuada vem funcionar como veículo transformador, que se abastece também com o discurso da crítica, sem desprezar os fundamentos nem se prender a eles. Pensar no diferente sem ignorar o padrão, não pensar com isso que se deve, a todo instante, manter-se comparando um ao outro para pô-los em detrimento, mas, respeitar as condições que os tornam como são. Se o ser humano é um ser inacabado então não há o padrão a se imposto. Com essa visão nos reportamos a Paulo Freire (1996) quando apresenta alguns saberes necessários à prática docente. Ele apresenta a necessidade da consciência da inconclusão do ser humano. Embora parecer conceito filosófico, é uma proposta que faz captar a relação de continuidade com ‘ser inacabado’. Assim, simultaneamente avança em direção às relações humanas que se manifestam em grau significativo no espaço educacional, área de atuação do docente. Considerando que o espaço educacional não mais pertence apenas ao quadro-negro ou branco, quatro paredes das salas de aula, escola pública ou privada, bibliotecas ou livrarias; mas também aos veículos midiáticos, que avançam em direção à globalização e ao estreitamento do fator tempo-informação e do alargamento da sequência informação-tempo.
O educador que se propõe em atuar no campo docente e despreza questões relativas à dinâmica social, e ao discurso da mídia crítica, tende ao fracasso. O que hoje se entende por ‘educação’ transcende a quatro paredes e ao simples conceito de transmissão de conhecimentos. Acredita-se hoje mais na proposta de relacionar conhecimento com situações-problema, no sentido da prática da solução conjunta formando-formador, do que a conhecimentos sem ressonância social (LIBANEO, 2002). Um saber que não ressoa socialmente não tem significado em seu objeto intencional, tornando-se saber inválido, impraticável e meramente imaginário; não que a imaginação não tenha valor, mas que a imaginação seja utilizada no processo de aplicação-resolução das situações-problema. A mídia crítica pode contribuir, desde que acompanhada e considerada como avaliadora e apresentadora das realidades em conflito, com considerável teor de variantes de um mesmo objeto e com o suporte dos legitimamente envolvidos no contexto do objeto do discurso. A mídia crítica, então, é instrumento, não o único, mas viável como os demais, quando segue as regras respeitadoras da dinâmica que envolve o ser humano, seu mundo e sua condição existencial.
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Cientista da Religião, especialista em Psicopedagogia e docência para o Ensino Superior, Cariacica, ES