O Twitter, lançado em 2006 por Jack Dorsey, se consolidou em pouco tempo como mais uma das muitas novas ‘febres’ da chamada web 2.0. Com um crescimento estrondoso no número de usuários com contas ativas neste curto período de tempo (uma amostra deste crescimento pode ser exemplificado por uma pesquisa realizada pela consultoria americana comScore em 21 de maio de 2009: em fevereiro deste ano, eram contabilizados cerca de 10 milhões de usuários; em maio, o salto foi para 32 milhões de contas únicas), é possível que situemos esta ‘revolucionária’ forma de interação como mais um dos muitos hypes da web 2.0 localizados no campo das redes sociais, como já haviam sido o Orkut, Myspace e o Facebook.
Seu sistema de publicação de mensagens de 140 caracteres, também conhecido como tweets, pode ser efetuado via web, SMS e até mesmo por softwares específicos instalados em dispositivos portáteis. Segundo afirma Biz Stone, seu co-fundador, este serviço de microbloging é ‘o triunfo da humanidade, e não da tecnologia’, já que as pessoas é que estão mudando a forma de se comunicar. Biz ainda vai além ao dizer que, pela facilidade em se inscrever no Twitter, se criam novos cidadãos globais, pessoas mais informadas, comprometidas e mais solidárias. Mas será que este positivismo não é uma presunção exageradamente utópica?
Capacidades ‘inovadoras’ e ‘triunfais’
O sociólogo Zygmunt Bauman, professor da Universidade de Varsóvia e autor de vários livros que discutem com cautela este tal ‘triunfo da humanidade’, propõe que, nos dias atuais, ao invés dos cidadãos globais ‘preocupados’ e ‘solidários’ de Stone, o que se tem são pessoas incertas e difusas buscando cada vez mais ‘comunidades’ virtuais que substituam aquelas que foram fragmentadas e que realmente traziam conforto e solidariedade nas cidades e regiões agora transformadas em abrigos dos problemas da modernidade (como a violência, por exemplo).
Assim, os sujeitos ‘globais’ se fecham cada vez mais em seu ‘espaço de fluxos’, esquecendo-se das pessoas que estão ao seu lado, seus vizinhos, amigos, conterrâneos. Trancando-se em redes onde as relações são ausentes de contato humano face a face, o reconhecimento das diferenças se torna cada vez mais obsoleto porque o que se procura são sempre ‘iguais’, pessoas que compartilhem interesses, e não que divirjam, trazendo novas perspectivas, novos sabores, novos cheiros.
Não há como não aceitar que estas redes sociais vêm, sim, trazendo novas facetas das interações cotidianas, mas a qualidade do contato pessoal ainda não foi substituída por nenhuma dessas ‘revolucionárias’ (e, como não dizer, já comuns) novas formas de relação. Ainda que a visão de Bauman seja demasiado pessimista quanto às possibilidades criadas neste ambiente da web 2.0, traz para a discussão aquilo que deveria ser pensando antes da idolatria presunçosa das tecnologias: o modo como elas vêm sendo usadas e quais são suas reais capacidades ‘inovadoras’ e ‘triunfais’. Não ponderar sobre estes aspectos é correr o risco de abusar do mesmo positivismo utópico de Biz Stone.
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Estudante de Comunicação Social-Jornalismo, Mariana, MG