O Campeonato Nacional está fervilhando… Alguns times disputam ponto a ponto um título ainda indefinido… Outros lutam para fugir do rebaixamento, essa palavra que já traz em si uma considerável carga de pejoratividade.
Os jogos têm oferecido, além do espetáculo dos atletas, a beleza ímpar dos estádios cheios, das cantorias e das bandeiras desfraldadas. É impressionante a força do futebol para catalisar as massas, unindo as mais diferentes classes sociais num grito em uníssono pelos times favoritos…
É bem possível que essa força do esporte pudesse ser usada a favor da pacificação das torcidas e, por consequência, abrandasse a violência na própria sociedade. É claro que há notáveis iniciativas nesse sentido pelo Brasil afora, mas não parece despropositado imaginar que o ideal mesmo seria usar o esporte para a promoção de uma sociedade mais pacífica. Como?
É preciso, primeiro, educar as torcidas… E o papel da escola, nesse aspecto, é relevante, pois é também no ambiente escolar que se pode desenvolver o fair play nas disputas intelectuais e esportivas. É preciso, também, que a mídia se acautele para que não se produzam manchetes ou matérias que acabem por tripudiar sobre fracassos, o que pode fomentar a violência. Que a linguagem nunca é neutra é por demais sabido, mas não custa tentar uma certa objetividade, nesse campo inflamado de paixões!
Eloquentes apupos
Não é difícil reconhecer, mesmo para o menos sábio dos torcedores, que o jogador de futebol, apesar do salário altamente compensador, é também um trabalhador: um trabalhador da bola… Não merece, pois, ser vaiado, enquanto trabalha… Ali, muitas vezes, sob vaias, se esconde uma alma lutadora, normalmente vinda das classes mais humildes e que lutou muito para chegar a uma competição relevante. E vem o erro do passe, o gol perdido, a bola enfim – ferramenta de trabalho – a ofuscar-lhe o talento. E vêm-lhe as vaias de quem foi ali para aplaudi-lo!
Uma torcida que se preza e se conscientiza não vaia seu atleta no momento do trabalho. Acabada a partida ou mesmo no intervalo, aí sim, dependendo do que se viu, talvez caibam eloquentes apupos… Afinal de contas, faz parte do esporte certa dose de irreverência!
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Professor de Língua Portuguesa no Instituto Federal do Sudeste Mineiro; autor de Português; teoria e prática, pela Ática e de Problemas de morfologia portuguesa, pelo Clube de Autores