Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Comunique-se

RADIALISMO
Comunique-se

Fenaj e Mansur debatem na Câmara projeto que regulamenta profissão de radialista, 7/4

‘O encontro entre representantes da Federação Nacional de Jornalistas (Fenaj) e o deputado federal Beto Mansur (PP-SP) para debater o substitutivo ao Projeto de Lei nº 1337 apresentado no fim de dezembro, de autoria do ex-deputado Wladimir Costa (PMDB-PA), não aconteceu e agora jornalistas, radialistas e parlamentares tentarão encontrar uma solução na próxima quinta-feira (10/04) na Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática da Câmara Federal. O PL dá a radialistas funções que são hoje exercidas por jornalistas.

A audiência, sugerida por Luíza Erundina (PSB-SP), vai reunir os presidentes da Federação Nacional das Empresas de Rádio e Televisão (Fenaert) e da Fenaj, Ary Cauduro dos Santos e Sérgio Murillo, respectivamente, além do coordenador da Federação Interestadual dos Trabalhadores em Radiodifusão e Televisão (Fitert), Antonio Carlos de Jesus Santos, o coordenador do Laboratório de Políticas de Comunicação da Universidade de Brasília (UnB), Murilo César Ramos, e o jornalista José Maria Trindade, da Rádio Jovem Pan, em Brasília.

Tanto a Fenaj como a Fitert se queixaram por não terem sido procuradas por Mansur quando o deputado apresentou na Câmara o substitutivo. As relações ficaram abaladas depois que o site da Fenaj publicou matéria dizendo que Mansur havia declarado que aceitou a proposta a pedido da Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e TV (Abert).

‘Não é verdade que disse a ele (Sérgio Murillo) que apresentei a proposta de regularização da profissão de radialista a pedido da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e TV.’ Mansur afirmou que apenas teria ouvido os anseios de diversas associações de radialistas para realizar o substitutivo.

Mansur e representantes da Fenaj marcaram diversos encontros, que não aconteceram.

‘Publicamente, vamos tentar um acordo com ele [Mansur], já que não houve oportunidade de encontrá-lo. Reunir todos os interessados, jornalistas, radialistas e parlamentares, para tentar juntos buscar uma solução para a agressão que a proposta dele nos faz’, disse Murillo ao Comunique-se.

O substitutivo

O documento regulamenta a profissão do radialista e determina que funções como a de redação e apresentação de notícias, repórter de rádio e TV, entre outros, passam a ser desempenhadas por radialistas.’

DITADURA
Carla Soares Martin

‘Indenização a Jaguar e Ziraldo é justa’, diz presidente da ABI, 7/4

‘O presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Maurício Azêdo, disse nesta segunda-feira (7/04) que a indenização de R$ 1 milhão de reais a ser recebida por Jaguar e Ziraldo, em anistia pelo cerceamento de liberdade de imprensa durante a ditadura militar é justa. ‘É justa a indenização de Ziraldo e Jaguar’, disse o presidente da ABI.

Segundo Azêdo, as indenizações chegaram a este valor devido ao efeito retroativo da falta de liberdade durante a ditadura. ‘Se o Estado nacional tivesse pedido perdão anteriormente, há décadas, as indenizações não chegariam a este ponto’, afirmou. E acrescentou: ‘Quarenta anos de sofrimento não tem preço.’

O presidente da ABI explica que muitos jornalistas perderam o emprego desde a ditadura e precisam, materialmente, da indenização.

Quanto às críticas de que agora negros e a população indígena deveriam receber indenização, Azedo acredita que a situação é diferente. ‘Negros e indígenas sofreram uma exploração que tem seu processo social esgotado’, disse.

No centenário da ABI, a associação se empenha em apressar os processos de anistia que correm no Ministério da Justiça a favor de jornalistas exilados, torturados e cujos veículos foram censurados entre 1964 e 1988.’

OUVIDOR
Miriam Abreu

Mário Magalhães deixa cargo de ombudsman da Folha, 5/4

‘O mandato de Mário Magalhães como ombudsman da Folha de S. Paulo se encerrou na sexta-feira (04/04) e o próprio optou por não renová-lo. Motivo: o convite para continuar no cargo estava condicionado a sua aceitação para deixar de escrever a crítica diária na internet. Magalhães não concordou e volta a ser repórter especial na sucursal Rio.

‘Considero isso (acabar com a crítica diária na web) um retrocesso na transparência do jornal e do trabalho do ombudsman. Não concordei com a condição, houve um impasse, então deixei o cargo’, contou ele neste sábado (05/04) ao Comunique-se.

Até sexta-feira (11/04), Magalhães continua atendendo os leitores. E neste domingo (06/04), ele se despede dos leitores na coluna publicada no impresso.

Mário Magalhães deu início ao trabalho como ombudsman no dia 05/04/07. Ele substituiu Marcelo Beraba, que desempenhou a função por três mandatos.

Na Folha desde 1991, Magalhães atuava como repórter especial do jornal, mas já foi repórter e editor-assistente de Esportes e editor-assistente do ‘Folha Teen’ . Foi o segundo ombudsman da Folha de S. Paulo baseado no Rio de Janeiro.

Não há informações sobre quem será o próximo ombudsman do diário.’

TV POR ASSINATURA
Comunique-se

Substitutivo que cria cotas para TV fechada chega à Câmara esta semana, 7/4

‘O deputado federal Jorge Bittar (PT-RJ) divulgará hoje em Brasília o novo texto do seu substitutivo ao Projeto de Lei 29/07 (PL 29 – leia a íntegra em PDF), que, entre outras medidas, cria cotas de conteúdo nacional para canais por assinatura. Bittar já tinha apresentado uma primeira versão em dezembro, que passou agora por revisão jurídica e ortográfica, além de redefinição de alguns pontos.

Cotas e porcentagens

Bittar propõe que os canais qualificados – que tenham conteúdo majoritariamente de entretenimento, como séries e filmes – ocupem 10% da programação com produções brasileiras, metade delas oriundas de produções independentes. O novo texto traz essa porcentagem em número de horas, ou seja, 3h30min diários de conteúdo nacional, sendo 1h15min independente. A proposta revisada sugere um prazo de validade de 10 anos desta cota, como ‘fomento a produção nacional’.

Outra cota é a dos chamados canais BR: 25% dos canais oferecidos nos pacotes de assinatura terão que ser nacionais. São considerados canais BR aqueles com 40% do conteúdo produzido no Brasil. Esta cota também está sujeita ao prazo de 10 anos.

Programadoras

O substitutivo também versa sobre as programadoras de canais, tentando vetar monopólio no setor. Uma mesma programadora só poderá deter o controle sobre até 2/3 dos canais BR. O novo texto inclui ainda uma definição de produtora independente: empresa que não tem mais de 20% do capital associada à programadora ou distribuidora de conteúdo.

Também são impedidos pelo substitutivo contratos exclusivos entre uma mesma produtora e programadora.

Oposição

O substitutivo de Bittar encontra forte oposição por parte das programadoras e distribuidoras. A Associação Brasileira de Televisão por Assinatura (ABTA) criou uma campanha contra a proposta, que inclui spots nos canais e o site www.liberdadenatv.com.br.

Tramitação

Após a divulgação de hoje, o substitutivo pode ser incluído na pauta da Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática (CCTCI) na quarta-feira (09/04). Caso aprovado, o projeto será encaminhado ao plenário.’

DIA DO JORNALISTA
Comunique-se

Fenaj e sindicatos lembram Dia do Jornalista e pedem nova Lei de Imprensa, 7/4

‘A semana começa em festa para a imprensa. Dia 07/04, especialmente esta segunda-feira, lembra os 100 anos da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), que vem realizando uma série de eventos para lembrar a data tão especial, e também é Dia do Jornalista. A Federação Nacional de Jornalista (Fenaj) e sindicatos espalhados por todo o País emitiram, juntos, um comunicado para falar da liberdade de imprensa e da democracia na comunicação.

As entidades pedem a elaboração de uma nova Lei de Imprensa, o fim da violência praticada contra jornalistas, a valorização da profissão e a criação de uma Conferência Nacional de Comunicação.

Leia o comunicado na íntegra:

‘Hoje nós somos a pauta, em defesa da liberdade de imprensa e da democracia na comunicação

Conscientes da sua função social, na qual se destaca a responsabilidade de defender o direito do cidadão à informação de qualidade, ética, plural e democrática, os jornalistas brasileiros comemoram o 7 de abril reafirmando as grandes lutas que, ultimamente, têm marcado a nossa pauta: a exigência de uma nova Lei de Imprensa e do fim da violência e ataques contra as liberdades de expressão, do jornalismo e dos jornalistas; a construção de uma Conferência Nacional de Comunicação com participação da sociedade; a garantia das conquistas da categoria e o avanço na valorização da profissão.

Ratificamos a necessidade imperiosa de uma nova Lei de Imprensa em substituição a um dos entulhos da ditadura, a Lei 5.250 que já existe há 40 anos e além de ultrapassada, não atende aos interesses do jornalismo, da categoria e da sociedade. A FENAJ e seus 31 Sindicatos filiados defendem a imediata aprovação do PL 3.232/92, o chamado substitutivo Vilmar Rocha, que dorme na Câmara dos Deputados há mais de 10 anos, pronto para a votação em plenário desde agosto de 1997.

Conclamamos outras entidades representativas da sociedade e a categoria dos jornalistas como um todo para aderirem à campanha que a Federação e os Sindicatos dos Jornalistas já desenvolvem, com o objetivo de sensibilizar o Congresso Nacional e os parlamentares federais em cada estado para a urgência de revogar a lei atual e substituí-la por uma nova e democrática Lei de Imprensa.

Acreditamos que a aprovação desta nova Lei faz parte das nossas lutas-maiores pela liberdade de imprensa e democracia na comunicação no Brasil, que vêm sofrendo ataques através das mais diversas formas de violência contra o jornalismo e os jornalistas: censuras e cerceamentos econômicos, políticos, sociais e morais externos ou pelos patrões, intimidações, perseguições, assédios judiciais, agressões verbais e físicas por agentes públicos e privados descontentes com a cobertura jornalística sobre seus atos e interesses.

Reafirmamos que igualmente é nossa tarefa cotidiana – e na qual também colocamos imenso empenho – construir a realização de uma Conferência Nacional de Comunicação ampla, democrática, com efetiva interferência da população brasileira. Uma Conferência que envolva representação da sociedade civil, do governo e do empresariado, com três eixos temáticos: meios de comunicação, cadeia produtiva e sistemas de comunicação.

Neste 2008, quando celebramos 200 anos de imprensa no Brasil, 70 anos da nossa primeira regulamentação profissional, 100 anos de fundação da ABI e 90 anos do primeiro congresso nacional da categoria, também assinalamos como agenda diária dos jornalistas a denúncia do arrocho salarial, do desemprego e da precarização das relações trabalhistas e a reivindicação de melhores condições de trabalho. Com o mesmo peso, pautamos a defesa da obrigatoriedade da formação universitária especifica, um dos pilares da nossa regulamentação, e da constituição de um Conselho Federal dos Jornalistas que, como os demais conselhos profissionais existentes no país, garanta à nossa categoria a auto-regulação da profissão.

A FENAJ e seus Sindicatos, neste 7 de abril de 2008, nosso Dia, parabenizam os jornalistas do Brasil – profissionais e professores -, além dos estudantes de jornalismo. Celebramos com vocês e com a sociedade, cujo direito à informação é a razão maior das nossas grandes e pequenas lutas, as vitórias já alcançadas ao longo destes 200 anos de imprensa no país. Ao mesmo tempo, fazemos uma convocação: pelo papel social desempenhado pelo jornalismo e jornalistas, continuemos firmes nas batalhas pelo fortalecimento e valorização da profissão, pela liberdade de imprensa e democracia na comunicação.

Brasília, 7 de abril de 2008.

FENAJ Federação Nacional dos Jornalistas

Sindicato dos Jornalistas do Acre

Sindicato dos Jornalistas de Alagoas

Sindicato dos Jornalistas do Amapá

Sindicato dos Jornalistas do Amazonas

Sindicato dos Jornalistas da Bahia

Sindicato dos Jornalistas do Ceará

Sindicato dos Jornalistas do Distrito Federal

Sindicato dos Jornalistas de Dourados

Sindicato dos Jornalistas do Espírito Santo

Sindicato dos Jornalistas do Estado do Rio de Janeiro

Sindicato dos Jornalistas de Goiás

Sindicato dos Jornalistas de Juiz de Fora

Sindicato dos Jornalistas de Londrina

Sindicato dos Jornalistas do Maranhão

Sindicato dos Jornalistas do Mato Grosso

Sindicato dos Jornalistas do Mato Grosso do Sul

Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais

Sindicato dos Jornalistas do Município do Rio de Janeiro

Sindicato dos Jornalistas do Pará

Sindicato dos Jornalistas da Paraíba

Sindicato dos Jornalistas do Paraná

Sindicato dos Jornalistas de Pernambuco

Sindicato dos Jornalistas do Piauí

Sindicato dos Jornalistas do Rio Grande do Norte

Sindicato dos Jornalistas do Rio Grande do Sul

Sindicato dos Jornalistas de Rondônia

Sindicato dos Jornalistas de Roraima

Sindicato dos Jornalistas de Santa Catarina

Sindicato dos Jornalistas de São Paulo

Sindicato dos Jornalistas de Sergipe

Sindicato dos Jornalistas de Tocantins’’

CENTENÁRIO
Eduardo Ribeiro

Centenário da ABI é importante momento para reflexão

‘Festejada como uma das mais respeitadas instituições do País, a Associação Brasileira de Imprensa, a nossa ABI, celebra na próxima segunda-feira, 7 de abril de 2008, os seus cem anos de vida, marca a que também chegou o homem cujo nome se confundiu com o da própria instituição, Barbosa Lima Sobrinho, falecido já faz alguns anos.

Não é pouco.

Mas junto com as festas e celebrações que merecidamente já começaram a ser feitas e prosseguirão ao longo dos próximos meses em homenagem à ABI e aos homens que a construíram, creio ser este também um momento raro para uma reflexão sobre os caminhos e descaminhos que esse apaixonante ofício tem percorrido desde que Hipólito José da Costa, com o seu Correio Braziliense, e Dom João VI, com a Impressão Régia, fundaram a imprensa brasileira em 1808.

Ao longo de meus 30 anos de carreira, posso dizer com uma certa tranqüilidade que sou testemunha da espetacular evolução técnica e profissional experimentada pelo jornalismo brasileiro, uma atividade que deu aos seus militantes contemporâneos, a partir dos anos 1960 e 1970, a dignidade que a grande maioria dos precursores não tiveram, mas de outro lado sofro, como muitos de nós, com a involução intelectual e filosófica de nossos principais veículos, que decididamente, em sua quase totalidade, optaram por investir e apostar muito mais na indústria do que no intelecto, e na operação do que pensar e no fazer jornalístico.

Temos hoje um jornalismo autômato, desfigurado, sem opiniões e reflexões serenas que ajudem a sociedade a entender a complexidade do mundo em que vive e, pior, sem dar a ela elementos confiáveis para julgar os atos noticiados, já que ouvir os dois lados mostrou-se a mais fácil desculpa profissional para o que eu chamo de preguiça jornalística. Aquela que passa os dois lados e lava as mãos, deixando aos milhares, milhões de leitores, telespectadores, ouvintes, internautas, o ônus da conclusão, sem que tenha elementos precisos para isso.

Posso estar exagerando, mas ouso dizer que temos hoje muitos braços e poucos cérebros e o jornalismo que temos oferecido à sociedade brasileira deixa a desejar. Tem sido absolutamente incapaz de surpreender, de empolgar, de emocionar, de instigar, com as raras e honrosas exceções que só justificam a regra.

Falamos todos nós, mais antigos, do mito Realidade. E por que o fazemos? Porque ela conseguiu tudo isso nos primeiros anos de sua existência na década de 1960. Mas não foi um caso único. Tivemos o Jornal do Brasil, que revolucionou a forma e conteúdo, com Amílcar de Castro, Alberto Dines e companhia. Tivemos, quase no mesmo período de Realidade, o Jornal da Tarde, que encantou quantos o conheceram, pelas mãos de Mino Carta e um seleto e preparado grupo de jornalistas mineiros, que foram fazer a vida em São Paulo e nunca mais de lá saíram. Tivemos publicações alternativas, várias, como Pasquim, Bondinho, Ex, Versus, Opinião, Movimento, os quais, independentemente do mérito maior de combater à ditadura militar, tinham alma, pegada, liberdade, textos refinados e, sobretudo, jornalismo autoral, em que cada profissional se colocava por inteiro em cada letra, em cada sílaba, em cada frase ou parágrafo construído.

A própria Veja, quando nasceu, adotou uma fórmula diferente de tudo o que havia, ousando, inovando, fazendo uma aposta que demorou anos para ser aceita pelo público, mas que acabou vitoriosa, embora hoje esteja a léguas de distância daquela publicação que Mino Carta lançou, sob inspiração de Roberto Civita, com o aval do pai, Victor Civita.

O próprio Mino, inquieto, fez também o Jornal da República, seu único fracasso editorial, mas que também buscava o novo, o avanço.

Nossos últimos êxitos editoriais, falando em termos de jornalismo impresso, foram, salvo engano, o jornal Valor Econômico e a revista Época, ambos, no entanto, criados a partir de fórmulas conhecidas e consagradas, com pouca ou nenhuma ousadia em termos jornalísticos. São sucessos comerciais e obviamente merecem ser festejados sobretudo pelo trabalho sério que fazem e pelos empregos que geram. Mas onde está o algo mais jornalístico que poderia fazer a diferença, as novas luzes, as novas referências…

Poucos arriscam avançar o sinal, com medo da multa, essa é a verdade. Alguns, como as revistas Caros Amigos, que acaba de perder seu idealizador Sérgio de Souza, e a Piauí são um pouco mais transgressoras em relação a esse modelão que passou a ditar as regras do jornalismo. Na área de telejornalismo, as maiores inovações vieram lá atrás com o SBT, tanto com o jornal do Boris quanto com o Aqui Agora, que o Sílvio Santos tenta novamente reeditar. Que mais? Ah, os canais e as rádios de notícias, mas fora a longevidade no ar, em que contribuíram efetivamente em termos de um novo jornalismo? Nada. São cópias longas do jornalismo tradicional praticado pelas emissoras comerciais.

Os jornais e a revistas não se diferenciam a não ser pelo tom da agressividade e do sensacionalismo, mas não pela inteligência, pelo jornalismo de qualidade, equilibrado, sereno, firme, arrojado em que a alma de um texto possa bater nos corações e mentes do público.

Estamos, sem dúvida, mais ricos, se avaliarmos o jornalismo pela dignidade que ele hoje oferece a quem dele vive, pela qualidade técnica, pelo alcance que hoje tem, graças ao aparato tecnológico, pela capacidade de cobertura e por uma série de outras características. Mas para quem, como eu, abraçou esse ofício sonhando em mudar o mundo, isso é muito pouco.

Delírios de um sonho de verão? Pode ser.

Talvez eu é que esteja delirando. Perdão.

Salve a ABI, salve os cem anos da nossa Associação Brasileira Livre e Independente de Imprensa. Salve o jornalismo e os jornalistas brasileiros.

Viva o Brasil e viva a nossa imprensa.

(*) É jornalista profissional formado pela Fundação Armando Álvares Penteado e co-autor de inúmeros projetos editoriais focados no jornalismo e na comunicação corporativa, entre eles o livro-guia ‘Fontes de Informação’ e o livro ‘Jornalistas Brasileiros – Quem é quem no Jornalismo de Economia’. Integra o Conselho Fiscal da Abracom – Associação Brasileira das Agências de Comunicação e é também colunista do jornal Unidade, do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo, além de dirigir e editar o informativo Jornalistas&Cia, da M&A Editora. É também diretor da Mega Brasil Comunicação, empresa responsável pela organização do Congresso Brasileiro de Jornalismo Empresarial, Assessoria de Imprensa e Relações Públicas.’

OPRAH WINFREY
Bruno Rodrigues

Quando Oprah engoliu a mídia, 2/4

‘Que a mídia alimenta-se de personalidades, não é segredo. Algumas delas, no entanto, dominam com tanta destreza os meios de comunicação que chegam a virar o jogo: elas é que dão as cartas.

Oprah Winfrey é mestre nesta estratégia. Começou pela televisão, até hoje sua principal base, mas era pouco; logo o mundo se rendeu àquela que é, até hoje, modelo de transparência, carisma e agressividade – no melhor sentido. Sua história, misto de pobreza, abuso sexual e vitória apesar das circunstâncias (entre elas até a obesidade, acredite) talvez seja a receita de seu sucesso, mas há um algo a mais, uma espécie de ‘fórmula da Coca-Cola’ que a faz única.

Em meados dos anos 80, tentou o cinema, estreou pelas mãos de Spielberg em ‘A Cor Púrpura’ e – xeque-mate – foi indicada ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante. Não levou a estatueta, mas sedimentou ali o mito da ‘mulher possível’. Dali para ‘fortune and glory’, como gostam os americanos, foi um pulo.

Vinte anos depois, Oprah Winfrey é Oprah, a que superou o status de mortal, ao menos na mídia. Seu ‘Oprah Book Club’, que catapulta livros ao topo da lista dos mais vendidos, já é parte indissociável da cultura ianque. A revista ‘O’ é um fenômeno, lida por milhares de americanas todo mês. Seu programa, ‘The Oprah Winfrey Show’ é quase produto de exportação – qual país não quer vê-la na tevê todo dia?

Se isso não bastasse, ela anunciou, em janeiro deste ano, que está criando em conjunto com o conglomerado de mídia Discovery – uma espécie de Oprah sem carisma – a Oprah Winfrey Network (OWN). A Discovery está de joelhos, tanto que – atenção! – o novo canal irá varrer o conhecido Discovery Health do mapa, inicialmente nos EUA.

O céu é o limite?

Não se sabe detalhes dos acordos de Oprah com o divino, mas a web, por exemplo, não é páreo para a expansão do reino da apresentadora. Seu site – www.oprah.com – é uma obra-prima desta segunda fase da web, em que o produtor de conteúdo (Oprah) e quem o consome (Você) relacionam-se todo o tempo, o que altera o ‘espírito’ do site a cada instante e transforma – seja de que maneira for – a opinião de quem o visita.

Para mim, o site de Oprah é para a web, nos dias que correm, o que a abertura da londrina Harrod’s, a centenária (e primeira) loja de departamentos do mundo, foi para nós, consumidores, na criação de uma nova e definitiva ‘experiência de fazer compras’, base para se compreender um pouco do século XX. O ‘Oprah.com’ agrega tudo de melhor que se fez na web nestes primeiros quinze anos, eleva a experiência do visitante – por que não consumidor? – à décima potência e nos envolve no enorme carisma de Oprah.

Ao longo dos próximos meses, por exemplo, um webcast semanal, na verdade um curso a distância, colocará Oprah ainda mais próxima de seus súditos do mundo inteiro. O tema? A conscientização global, tomando-se como base o livro ‘A New Earth’, do autor Eckhart Tolle, o escolhido da vez do ‘Oprah Book Club’. A questão, planetária, agora vai além da retórica, via web.

Por que não somos assim, nós, brasileiros, que temos Jô Soares, Hebe Camargo, Ana Maria Braga, Marília Gabriela? Yes, nós temos banana e carisma de sobra, mas por que ainda patinamos na web quando nossos grandes formadores de opinião decidem dar as caras da Rede?

Que não queiramos ser Oprah, sem problema, mas por que nossos ‘engolidores de mídia’ não assumem as rédeas da Rede? Até quando teremos que viver experiências tão pobres em seus sites, quando eles próprios têm um poder de fogo – e de comunicação – tão mais amplo?

Seria coisa apenas para americano ver?

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Em tempo: vale checar na versão online da revista ‘The New Yorker’ uma matéria fantástica, ‘The Oprah’s World’ (24/03), capaz de colocar meus elogios no chinelo. Para eles, Chicago – base da apresentadora – ainda não foi renomeada Oprah porque ainda não há distanciamento histórico.

Será?

(*) É autor do primeiro livro em português e terceiro no mundo sobre conteúdo online, ‘Webwriting – Pensando o texto para mídia digital’, e de sua continuação, ‘Webwriting – Redação e Informação para a web’. Ministra treinamentos em Webwriting e Arquitetura da Informação no Brasil e no exterior. Em sete anos, seus cursos formaram 1.300 alunos. É Consultor de Informação para a Mídia Digital do website Petrobras, um dos maiores da internet brasileira, e é citado no verbete ‘Webwriting’ do ‘Dicionário de Comunicação’, há três décadas uma das principais referências na área de Comunicação Social no Brasil.’

JORNAL DA IMPRENÇA
Moacir Japiassu

Homeopatia contra dengue, 3/4

‘A serpente alada

da angústia do desejo

mordeu meu tornozelo

(Talis Andrade in Os Herdeiros da Rosa)

Homeopatia contra dengue

O considerado José-Itamar de Freitas, grande diretor-geral do Fantástico no tempo em que o programa era líder de audiência, envia de seu retiro espiritual em Ipanema, onde sopesa as dores do mundo, uma receita homeopática capaz de nos aliviar da dengue que assola o Rio de Janeiro.

A receita está assinada pela Dra. Ana Teresa Doria Dreux, ex-presidente do Instituto Hahnemanniano.

Outro médico carioca, Dr. Cláudio Araújo, informa que a homeopatia pode, sim, tratar todos os casos de dengue com sucesso e, se não existe propriamente uma ‘vacina homeopática’, os remédios são capazes de prevenir ou abrandar os danos.

O médico oferece remédios diferentes daqueles prescritos pela Dra. Ana Tereza e esclarece que qualquer pessoa pode tomar a fórmula homeopática; esta não interage com nenhum medicamento de uso contínuo ou que porventura esteja sendo utilizado.

Cardiopatas, diabéticos, gestantes, crianças e idosos podem utilizar os remédios, pois não há contra-indicação nem efeitos colaterais.

O Blogstraquis-Utilidade Pública dá os telefones dos médicos e transcreve os endereços das farmácias onde é possível aviar as receitas.

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100% de popularidade

Na João Pessoa dos tempos em que o colunista era menino, aí pelo final dos anos 40, início dos 50, perambulava pelas ruas uma pobre e retardada criatura apelidada de Pão de Bico; sujeito gordo, calças de pescar siri, bunda eternamente suada, chapéu arruinado a lhe enfeitar a cabeça de espantalho.

Conhecido e ridicularizado por todos, numa época em que ‘politicamente correto’ era somente o doutor José Américo de Almeida, Pão de Bico atingia 100% de popularidade. E nem por isso foi eleito ou nomeado para conduzir nem mesmo uma autarquia.

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Ex-blog numa boa

A considerada Miriam Abreu, editora deste Portal, ilustrava-se em viagem de cruzeiro pela internet quando deparou com o ex-blog do Cesar Maia, o qual anunciava, em título de presença gráfica condizente com a importância do assunto:

MUSSULMANOS 19,6%! CATÓLICOS 17,4%!

(Reuters) — O Islã ultrapassou o Catolicismo Romano como a maior denominação religiosa do mundo, disse o Vaticano no domingo.

Miriam tem certeza de que muçulmano com dois esses já é um certo exagero e Janistraquis aproveita para meter a colher:

‘Considerado, muçulmano com dois esses é que nem graçar em vez de grassar, caçação no lugar de cassação e por aí vai…’

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Erro no Globo Ciência

A considerada Myrthes Pereira Brandt, pedagoga em São Paulo, escreve para reclamar do programa Globo Ciência:

Fiquei triste ao ver o apresentador se referir a fôrnos, em vez de fórnos, pois esta é a pronúncia correta do plural de forno. O programa se referia a metalurgia e siderurgia. O Globo Ciência é dirigido aos jovens, não deve disseminar erros porque esse é o maior desserviço que uma emissora pode prestar aos telespectadores, principalmente se estes são estudantes.

Dona Myrthes tem razão; erro, não!

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Peça desafinada

O considerado Roldão Simas Filho, diretor de nossa sucursal no Planalto, de cujo banheiro, em subindo-se nas bordas do vaso sanitário, pode-se apreciar a ministra Dilma a decorar o tal dossiê e a fazer planos eleitorais, pois Roldão lia o Correio Braziliense quando encontrou esta desafinada peça sob o título Morricone, o evento do ano:

‘Morricone não esclarece, mas provavelmente essa (a regência de suas obras) venha a ser sua atividade principal daqui para frente. ‘Ele tem escopo (sic) para fazer isso’, diz o pesquisador de trilhas sonoras Márcio Alvarenga, um dos primeiros a comprar a entrada para o espetáculo.’

Roldão, que é um verdadeiro spalla do idioma, escreveu à direção do jornal:

Não entendi. Escopo é objetivo, finalidade. Não faz sentido nessa frase. O que o sr. Márcio Alvarenga quis dizer?

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Talis Andrade

O mestre assesta os olhos do desejo na direção das musas e os versos contam sempre as histórias de sua paixão. Confira no Blogstraquis mais um desses momentos do vate pernambucano.

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Gol do amputado

O considerado Camilo Viana, diretor de nossa sucursal em Belo Horizonte, de cujo janelão aberto para a esperteza mineira é possível ver o governador Aécio Neves a namorar o PT no escurinho do cinema do Palácio da Liberdade, pois Camilo lia o Estado de Minas para avaliar o jogo do seu Cruzeiro contra o Democrata de Governador Valadares quando tropeçou nesta outra avaliação:

Atuações — DEMOCRATA-GV

Os melhores foram o goleiro VILAR (Nota 7), com boas defesas; o volante GLAYDSON (Nota 6), excelente marcação e incansável na luta por um bom resultado; e o atacante ELY TADEU (Nota 7), que marcou o gol e deu trabalho à zaga celeste. Só no fim, sem pernas, não incomodou tanto.

Camilo ficou tão perplexo quanto o doutor Tancredo Neves, que se revira no túmulo com as notícias do sobrinho:

Estou mesmo embasbacado com a violência no futebol e também surpreendido com a capacidade de resistência do jogador do Democrata, Ely Tadeu, que continuou em campo depois da amputação!!!

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Violência da pomba!

O considerado Fábio José de Mello, homem de temperamento forte e que não leva desaforo pra casa, despacha de seu refúgio ecológico em Descalvado, no interior de São Paulo:

‘Atrocidade termina em violência’ foi o título de memorável capa da revista Casseta & Planeta. Lembrei dela ao ler a manchete do jornal Folha do Espírito Santo, de 25 de março, que me deixou intrigado por nos trazer o seguinte: Fuga, tráfico, morte e violência no feriado. Não tive coragem de ler a reportagem, porque se além de ‘fuga’, ‘tráfico’ e ‘morte’, ainda teve ‘violência’, pode ter acontecido uma catástrofe de proporções dantescas! Sou sensível.

Confira com seus próprios olhos em http://www.folhaes.com.br/.

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Clássicos em cordel

O poeta alagoano João Gomes de Sá, que também é professor de português, trouxe Quasímodo para o sertão nordestino, mudou seu nome para Quasimudo e O Corcunda de Notre Dame entrou para a literatura de cordel:

O Romance do Corcunda

De Notre Dame, leitor,

Escrito por Victor Hugo,

Aquele grande escritor.

Em versos vou recontá-lo.

Sua atenção, por favor.

(…)

O trabalho do Corcunda

Era fazer a limpeza

Da Catedral, do mosteiro,

Todo dia, com certeza;

E também lustrar os sinos

Pra ficar chuchu beleza.

Outro ‘poeta popular’, o cearense Klévisson Viana, fez o mesmo com Os Miseráveis:

Na obra de Victor Hugo,

O grande escritor francês,

Fui buscar inspiração

Pra recontar pra vocês

Um dos dramas mais bonitos

Que a mente humana já fez.

Ilustrados por Murilo e Cintia, dois mestres nessa arte, esses verdadeiros espetáculos de brasileiríssima criatividade foram lançados pela editora Nova Alexandria, na coleção Clássicos em Cordel.

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Inibidor sexual

Sob o título Faculdade aprova pesquisa de uso de inibidor sexual em pedófilos, lia-se na Folha Online:

O Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Medicina do ABC, em Santo André (Grande São Paulo), aprovou um projeto de pesquisa sobre o uso de medicamentos em pedófilos, a chamada ‘castração química’, termo popular para o tratamento com hormônios femininos que tentam reduzir o desejo sexual em pessoas com histórico de pedofilia. O efeito é temporário.

Janistraquis, que conhece um tarado pelo jeito de andar, lamentou a última frase:

‘Considerado, tanta onda para um simples ‘efeito temporário’. O tal de pedófilo deveria ser capado como a gente capava bode no sertão de antigamente; acomodávamos o bicho em cima do lajeado e, com uma pedra, malhávamos o saco até o animal desmaiar…’

É método cruel, admite-se, porém menos infame do que um estupro — e definitivo, como deve ser.

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Nota dez

Sob o título Fosfato neles!, escreveu o considerado Sérgio Augusto, este que é, longe, longe, o melhor jornalista cultural do Brasil:

Miriam Leitão abriu sua coluna de sexta-feira com a seguinte observação: ‘O Brasil, a cada cinco anos, esquece o que se passou nos últimos cinco’. Verdade. E dessa propensão à amnésia nem a respeitada colunista de economia de O Globo escapou. Difícil acreditar que uma jornalista tão bem informada como ela ignorasse a frase original (‘A cada 15 anos, os brasileiros esquecem o que aconteceu nos últimos 15 anos’) e seu autor, Ivan Lessa. De todo modo, a julgar pela correção temporal que a colunista lhe aplicou, a falta de memória dos brasileiros piorou à beça nos últimos tempos.

Leia no Blogstraquis a íntegra do sensacional artigo, originalmente publicado no caderno Aliás, do Estadão.

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Errei, sim!

‘A-NAL-FA-BE-TO — Confesso que tive ímpetos de promover uma retrospectiva de 1989 mas fui derrotado pela falta de sensibilidade de Janistraquis. ‘Considerado, esse negócio de retrospectiva é coisa para a Rede Globo e a revista Veja’, afirmou. E perguntou, irônico: ‘O que nós vamos fazer com nosso rescaldo?’.

Segundo meu secretário, o tal rescaldo é tão precioso que começa com esta jóia da Folha de S. Paulo: Oxford procura cientistas que saibam ler e escrever. Ao recortar a apavorante notícia, Janistraquis comentou: ‘Considerado, eu desconfiava que cientista fosse um cabra meio doido; analfabeto, jamais’. Fui verificar o absurdo e pude tranqüilizar meu indignado auxiliar; tratava-se somente de um exagero do jornal.

Na verdade, a Editora da Universidade de Oxford havia publicado um anúncio procurando um cientista ‘culto e 1etrado’ capaz de descobrir novas palavras para um dicionário. Janistraquis então desabafou: ‘Aaaahhh, mas há uma enorme diferença entre ser ‘culto e letrado’, como pede a Universidade, e ‘saber ler e escrever’, como diz o título da matéria da Folha!’

É mesmo, há boa diferença, sim.’ (janeiro de 1990)

Colaborem com a coluna, que é atualizada às quintas-feiras: Caixa Postal 067 – CEP 12530-970, Cunha (SP), ou japi.coluna@gmail.com.

(*) Paraibano, 65 anos de idade e 46 de profissão, é jornalista, escritor e torcedor do Vasco. Trabalhou, entre outros, no Correio de Minas, Última Hora, Jornal do Brasil, Pais&Filhos, Jornal da Tarde, Istoé, Veja, Placar, Elle. E foi editor-chefe do Fantástico. Criou os prêmios Líbero Badaró e Claudio Abramo. Também escreveu nove livros (dos quais três romances) e o mais recente é a seleção de crônicas intitulada ‘Carta a Uma Paixão Definitiva’.’

O XIS DA QUESTÃO
Carlos Chaparro

‘Off’ com força de bumerangue, 1/4

‘O XIS DA QUESTÃO – A brigada palaciana das emergências já saiu por aí proclamando ao mundo que o presidente Lula nada sabia da existência do dossiê de 13 páginas com informações sigilosas de gastos com cartão corporativo, no governo FHC. Se isso é verdade, podemos dizer que a segurança política do presidente está muito mais ameaçada pelos seus ‘aloprados’ de confiança do que pela eventual revelação de dados sigilosos de usos e abusos dos cartões corporativos. Mas há controvérsias…

1. Presidente desinformado…

Tal como aconteceu com o mensalão, o presidente Lula também não sabia do dossiê gestado na sua Casa Civil, contendo revelações de gastos pagos com cartões corporativos, no governo FHC. É o que dizem os porta-vozes do governo, mobilizados para a tarefa de dar o dito pelo não dito. Vamos admitir que assim seja, que o presidente mais uma vez de nada sabia, pelo menos no que se refere ao ‘desastrado’ vazamento dos dados – e ponho aspas no termo desastrado porque, em certas leituras políticas dos fatos, o vazamento pode ser visto como ação para lá de espertíssima.

Mas o vazamento só se deu porque o dossiê existia. E como não há mais dúvidas de que mandar fazê-lo foi uma ação do governo, pouco importa se o presidente Lula sabia ou não sabia da existência da peça. Como a criancinha veio ao mundo por obra e graça da poderosa Casa Civil da Presidência da República, fica mal dizer ou pensar que o Chefe nada sabia. Até porque, perante a Nação, ele é o principal responsável pelas ações do seu governo.

Mas vamos admitir que, sim senhor, mais uma vez o presidente de nada soubesse. E teremos montado um dilema entre duas alternativas igualmente péssimas: ou o presidente não está nem aí para as suas responsabilidades de governante, ou, então, é vítima de armadilhas montadas pelos seus auxiliares mais chegados.

Para que não pairem dúvidas quanto à lógica dessa análise, vale a pena transcrever o que o próprio chefe de gabinete do presidente, o fidelíssimo sr. Gilberto Carvalho, disse nesta segunda-feira, em entrevista ao Estadão:

‘É evidente que (a montagem do banco de dados) não foi uma decisão do presidente. Ele nem estava sabendo, porque nem precisava ficar cuidando disso. Eu posso dizer que foi uma decisão do governo. E decisões de governo nem sempre são tomadas no mais alto nível. Esta foi tomada na instância que era própria: a Casa Civil.’

Se isso é verdade, e dada a gravidade tanto das causas motivadoras quanto dos efeitos produzidos, bem podemos dizer que a segurança política do presidente está muito mais ameaçada pelos seus ‘aloprados’ de confiança do que pela eventual revelação dos dados sigilosos de usos e abusos de cartões corporativos.

2. Estopim aceso no canhão errado

Quanto ao ‘off’, ou vazamento, que pôs no miolo da discussão política o escândalo do dossiê, cuidado com as leituras ingênuas. Ao contrário do que podem sugerir as freqüentes críticas palacianas à imprensa e aos jornalistas, este é um governo que – como todos os outros, incluindo os da ditadura militar – usa intensamente a informação em ‘off’ como tática de comunicação, em função de conveniências políticas ou administrativas.

É certo que nos faltam informações suficientes para descartar a hipótese da existência do tal traidor ou traidora que a ministra Dilma promete descobrir e punir. Mas também não dá para eliminar a hipótese alternativa – a de que o ‘off’ do vazamento tenha sido apenas um ato falho, um erro de cálculo, um estopim aceso no canhão errado.

Eu tendo a optar pela segunda hipótese. Na minha avaliação, o vazamento do dossiê foi uma ação tática equivocada, decidida e realizada sem a sabedoria da prudência e sem avaliações estratégicas dos efeitos possíveis.

Deu no que deu…

(*) Manuel Carlos Chaparro é doutor em Ciências da Comunicação e professor livre-docente (aposentado) do Departamento de Jornalismo e Editoração, na Escola de Comunicações e Artes, da Universidade de São Paulo, onde continua a orientar teses. É também jornalista, desde 1957. Com trabalhos individuais de reportagem, foi quatro vezes distinguido no Prêmio Esso de Jornalismo. No percurso acadêmico, dedicou-se ao estudo do discurso jornalístico, em projetos de pesquisa sobre gêneros jornalísticos, teoria do acontecimento e ação das fontes. Tem quatro livros publicados, sobre jornalismo. E um livro-reportagem, lançado em 2006 pela Hucitec. Foi presidente da Intercom, entre 1989-1991. É conselheiro da ABI em São Paulo e membro do Conselho de Ética da Abracom.’

TELEVISÃO
Antonio Brasil

CQC: telejornal ou programa de humor?, 31/3

‘É cada vez mais difícil definir jornalismo ou humor. Ainda mais na TV brasileira. Em um mundo que não faz sentido, pensar se torna quase impossível. Ainda mais nos nossos telejornais. Só nos resta rir de notícias sobre a dengue no Rio de Janeiro, denúncias contra políticos corruptos e medidas provisórias em Brasília. Neste cenário de insanidades, a Band lançou no último dia 17, o ‘Custe o que Custar’, a última aventura televisiva do sempre imprevisível e ainda mais indefinível, Marcelo Tas.

A proposta do programa é excelente e muito simples: um resumo semanal de notícias realizado no formato de um programa de humor. Além de Tas, integram a equipe do CQC jornalistas e humoristas revelados pela internet e shows de stand-ups como Rafinha Bastos, Marco Luque, Danilo Gentili, Oscar Filho, Felipe Andreoli e Rafael Cortez.

Segundo a divulgação do programa, ‘De microfone em punho e munidos de uma cara de pau acima da média, os cinco têm uma prioridade: perguntar o que ninguém teve coragem.’ Marcelo Tas confirma a proposta do programa: ‘Acredito que o telespectador brasileiro esteja aberto e com vontade de mais irreverência e humor para ajudar a digerir as notícias absurdas dos nossos dias’. Tudo a ver.

Esta pode ser uma boa alternativa para a sobrevivência do jornalismo na TV em tempos de decadência do meio e de lançamento ‘melancólico’ de mais uma rede de TV com jornalismo chapa-branca.

Ernesto Varela

Todos os leitores desta coluna sabem que sou fã de carteirinha do Marcelo Tas. Dentre suas inúmeras criações geniais está o lendário repórter Ernesto Varela. O único não-jornalista brasileiro que teve a coragem de perguntar a Paulo Maluf, candidato à presidência da República ainda nos primeiros momentos da abertura política, se ele era mesmo… ladrão!

O mesmo ‘não-repórter’ que colocou o ex-deputado federal e todo-poderoso presidente da CBF Nabid Abi Chedid em uma tremenda ‘saia justa’ ao ser perguntado qual seria a sua próxima… jogada! Corte para cenas de intenso constrangimento e mal estar geral no Congresso brasileiro. Eu sei. Estava lá. Tive o privilégio de testemunhar momentos históricos. Inesquecível.

O ator Marcelo Tas e seu alter ego jornalista, o Ernesto Varela, faziam as perguntas que nós jornalistas não tínhamos a coragem de fazer. Mas ele podia. Ernesto Varela não existia. Era um ator se passando por jornalista. Através do humor, Ernesto Varela era a voz da nossa consciência.

E a série de reportagens, os Filhos do Amaral? Era uma crítica mordaz e muito bem humorada aos documentários do jornalista e deputado Amaral Neto sobre as maravilhas do Brasil da ditadura militar. Os Filhos do Amaral também era a voz da nossa consciência em épocas de escuridão.

Além de outras coisas, o humor comprova que o bom jornalismo não deve jamais se misturar ou ser patrocinado pelo governo, qualquer governo.

Pânico argentino?

A principal marca do ‘Custe o Que Custar’ é a irreverência. Ninguém escapa às situações constrangedoras e perguntas embaraçosas dos ‘homens de preto’.

O programa da Band segue a linha de outros programas humor na TV que adoram ridicularizar o jornalismo TV como o nosso Casseta & Planeta ou o Saturday Night Live e os documentários do Michael Moore nos EUA. É bem verdade que nos últimos anos, temos sido um ‘prato cheio’ para os humoristas de plantão.

É difícil definir o CQC. Certamente não é mais uma cópia das grosserias sem graça do Pânico na TV. Menos mal. O programa segue a fórmula de uma produção Argentina (Sempre a Argentina, lembram do Aqui Agora?) de grande sucesso em vários países, o Caiga que Caiga. Melhor conferir o seu Portunhol antes de arriscar uma tradução grosseira e errada para o original argentino.

Pensar enlouquece!

Gostei muito dos primeiros programas e torço pelo sucesso de mais essa aventura do sempre ousado e criativo Marcelo Tas. A equipe está afinada, o programa é apresentado ao vivo com a participação do público e a produção é muito bem caprichada para os padrões da Band. Vale a pena conferir.

Mas, por outro lado, se você ainda tem alguma dúvida sobre qualidade da nossa TV, das expectativas de seu público, é só checar os primeiros índices de audiência do ‘Custe o que custar’. Coisa de louco!

Segundo a Folha de S. Paulo, ‘Na estréia, CQC – Custe o que Custar marcou apenas 2 pontos de audiência no Ibope. Mas na segunda edição o Ibope para 3,3 pontos’. Parece pouco e é muito pouco mesmo. Mas pode ser o suficiente para garantir a sobrevivência do projeto. Pelo menos, por enquanto. Tudo é possível na Band! Lá também tem Boris Casoy em jornal noturno. Tudo de mais antigo, velho e ultrapassado em jornalismo de TV. Mas isso é uma outra história.

Em seu blog, o sempre otimista e bem humorado Marcelo Tas comenta os índices de audiência e as expectativas do programa: ‘Nossa meta era atingir 3 com um mês do programa no ar. Afinal, é um formato novo num horário incomum para o público da Band’. Tudo a ver.

Marcelo Tas e sua versão do CQC comprovam que ainda é possível fazer uma TV inteligente e ousada. Uma TV meio insana, mas bem humorada, sem baixarias ou grosserias. Se é um telejornal ou programa de humor, na verdade, tanto faz. Mas CQC talvez indique que está cada vez mais difícil fazer jornalismo ‘sério’ na TV. Mas, afinal, o que seria mesmo um jornalismo considerado ‘sério’?

É bom relembrar que nas origens mitológicas da nossa profissão, os primeiros jornalistas podem ter sido os ‘bobos da corte’. Mera questão de sobrevivência. Por trás do humor e da falsa insanidade, os primeiros comediantes ou jornalistas diziam o que ninguém queria ouvir: a verdade.

O CQC é certamente mais do que um mero programa de humor. Em um mundo pós-moderno onde tudo se mistura, tudo se confunde e nada faz sentido, talvez estejamos vendo o futuro possível dos nossos telejornais.

E o próprio Marcelo reafirma sua ‘aposta na proposta’ do programa: ‘E como dizia o saudoso Vicente Matheus, quem entra na chuva é para se queimar. Sejam bem-vindas as críticas- mesmo as destrutivas- e comentários. Alea Jacta Est, em latim, a jaca está lançada’.

O programa é muito bom, Mas ‘Custe o que Custar’ do grande Tas talvez também comprove que pensar, pelo menos em TV, realmente enlouquece!

(*) É jornalista, professor de jornalismo da UERJ e professor visitante da Rutgers, The State University of New Jersey. Fez mestrado em Antropologia pela London School of Economics, doutorado em Ciência da Informação pela UFRJ e pós-doutorado em Novas Tecnologias na Rutgers University. Atualmente, faz nova pesquisa de pós-doutorado em Antropologia no PPGAS do Museu Nacional da UFRJ sobre a ‘Construção da Imagem do Brasil no Exterior pelas agências e correspondentes internacionais’. Trabalhou na Rede Globo no Rio de Janeiro e no escritório da TV Globo em Londres. Foi correspondente na América Latina para as agências internacionais de notícias para TV, UPITN e WTN. É responsável pela implantação da TV UERJ online, a primeira TV universitária brasileira com programação regular e ao vivo na Internet. Este projeto recebeu a Prêmio Luiz Beltrão da INTERCOM em 2002 e menção honrosa no Prêmio Top Com Awards de 2007. Autor de diversos livros, a destacar ‘Telejornalismo, Internet e Guerrilha Tecnológica’, ‘O Poder das Imagens’ da Editora Livraria Ciência Moderna e o recém-lançado ‘Antimanual de Jornalismo e Comunicação’ pela Editora SENAC, São Paulo. É torcedor do Flamengo e ainda adora televisão.’

 

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