Thursday, 28 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Novela brasileira ganha Emmy Internacional


Leia abaixo a seleção de quarta-feira para a seção Entre Aspas.


 


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Folha de S. Paulo


Quarta-feira, 25 de novembro de 2009


 


TELEVISÃO


‘Caminho das Índias’ dá ao Brasil 1º Emmy International de novela


‘O Brasil levou, anteontem, seu primeiro Emmy International de novela, com ‘Caminho das Índias’.


Finalizada em setembro, a trama de Glória Perez concorria com duas telenovelas filipinas (‘Magdusa Ka’ e ‘A Time for Us’) e uma francesa (‘Second Chance’) na cerimônia, ocorrida em Nova York, que premia produções de fora dos EUA feitas para a televisão.


‘Depois de um ano como este, com tudo o que eu tive de superar na minha vida pessoal, é emocionante ter tido essa vitória para o Brasil’, afirmou à Folha a dramaturga, que fez quimioterapia enquanto escrevia a novela após ter retirado um tumor na tireoide.


Foi a quarta vez que a Rede Globo levou uma estatueta. A primeira foi em 1981, com o musical ‘Vinicius para Criança – A Arca de Noé’, baseado em canções de Vinicius de Moraes. No ano seguinte, ‘Morte e Vida Severina’, da série ‘Caso Especial’, foi premiado. E, em 1983, Roberto Marinho ganhou um Emmy de direção.


Marcos Schechtman, diretor da novela, disse que o prêmio ‘é o reconhecimento internacional para uma reflexão que o Brasil fez sobre uma outra realidade do mundo’.


O Reino Unido foi o maior vencedor, com cinco prêmios, entre eles o de ator (Ben Whishaw), o de atriz (Julie Walters) e o de documentário. A Globo e a HBO estão entre os patrocinadores da premiação. A lista completa dos ganhadores está no site www.iemmys.tv.’


 


 


Sílvia Corrêa


SBT negocia novela para celular no Japão


‘Os decasséguis estão na mira da indústria da televisão. O SBT negocia a venda de cinco programas da emissora para uma empresa japonesa que fornece conteúdo para celulares. O alvo são os cerca de 280 mil brasileiros que vivem no país.


As operadoras japonesas prometem lançar no começo do ano os primeiros serviços de telefonia celular em quarta geração (4G). O pacote brasileiro estaria entre eles e incluiria ‘Domingo Legal’, ‘Show da Gente’ e ‘Eliana’, além das duas novelas de Íris Abravanel -’Revelação’ (2008) e ‘Vende-se um Véu de Noiva’ (2009). As produções foram escolhidas porque estarão digitalizadas, em alta definição.


As novelas terão de ser reduzidas de cerca de 160 capítulos para, no máximo, cem. Pelo contrato, o SBT receberá um sinal e terá participação sobre as assinaturas -calculadas em cerca de US$ 10 mensais.


No mesmo formato, a emissora negocia programas para a internet no Japão e nos EUA -no segundo caso, também dublados, para a comunidade hispânica. A terceira frente de negócios é a venda de cinco novelas para quatro países africanos de língua portuguesa.


Se os contratos forem assinados -o que a emissora prevê para o fim de janeiro-, o SBT terá feito sua maior incursão internacional. Até hoje só ‘Sangue do Meu Sangue’ (1995), ‘Ossos do Barão’ (1997) e ‘O Direito de Nascer’ (2001) saíram do país -vendidas para Portugal e para países latinos.


UNS BRAÇOS


Celso Frateschi é o protagonista de ‘Uns Braços’, o conto de Machado de Assis que a Contém Conteúdo está adaptando para a Record. As cenas estão sendo rodadas em uma casa de Santana do Parnaíba.


QUEDA DE BRAÇO


Causou chiadeira na Record os números da audiência do domingo, pós-apagão do Ibope. A partir das 16h45, todos os programas da emissora tiveram índices menores na audiência consolidada do que na prévia.


TIPO EXPORTAÇÃO


O diretor-geral de jornalismo e esportes da Globo, Carlos Henrique Schroder, está em Coimbra, falando das coberturas feitas pela emissora. É um projeto do ‘Globo Universidade’. Levou Pedro Bassan, Marcelo Canellas e César Tralli.


SUB JUDICE


A Globo diz que não tem nenhuma cláusula contratual que libere outras emissoras para exibir entrevistas com Roberto Carlos -nem mesmo de até três minutos, como fez a RedeTV!. O diretor de negociações especiais, André Dias, vai assistir à entrevista feita pelo ‘Programa Amaury Jr.’ para decidir se tomará alguma providência. A história diz que não. Amaury já fez isso inúmeras vezes com artistas da Globo.


FIM DO ALUGUEL


A RedeTV! -que vende 40% de sua grade para programas religiosos e de televendas- diz que vai aumentar o espaço destinado a conteúdo editorial. Os próximos horários a serem ocupados, segundo o presidente da emissora, são as manhãs de sábado e de domingo. Mas isso ainda não tem prazo.’


 


 


FILIPINAS


Associated Press


Vítimas em massacre filipino chegam a 46


‘Subiu ontem a 46 o número de mortos em um massacre no sul das Filipinas, região envolta em duelos políticos. Entre os mortos -que foram decapitados e, em alguns casos, estuprados- há jornalistas, advogados e mulheres.


Elas eram parentes ou apoiadoras do político local Ismael Mangudadatu, que mandara o grupo -supondo que, majoritariamente feminino, seria poupado de ataques- para oficializar sua candidatura a governador nas eleições de maio de 2010. As suspeitas do crime recaem sobre o clã Ampatuan, rival de Mangudadatu que também disputará o pleito.


Disputas políticas, além de uma duradoura insurgência islâmica, são comuns no sul filipino. Mas a barbárie dos assassinatos de anteontem chocou o país e levou o governo federal a decretar estado de emergência na região.’


 


 


INTERNET


Twitter pretende cobrar por conta especial para empresas


‘Biz Stone, um dos fundadores do Twitter, disse que a companhia pretende cobrar por contas, oferecendo em troca análises e estatísticas sobre os seguidores, em uma tentativa de aumentar seu faturamento.


Segundo ele, os usuários poderão continuar a utilizar o serviço gratuitamente, mas sem acesso aos dados. A ideia é lançar o pacote de ferramentas para usuários corporativos até o fim do ano.


O Twitter, que não tem suas ações negociadas em Bolsa de Valores, é avaliado em aproximadamente US$ 1 bilhão, mas ainda não gerou faturamento expressivo.


O executivo disse, no entanto, que a expectativa da empresa é ‘começar a fazer dinheiro’ a partir do ano que vem e que ela estuda fazer novas aquisições.


‘Nós fizemos uma aquisição no ano passado que se provou uma decisão excepcionalmente positiva.’ O Twitter comprou em 2008 a Summize, de mecanismo de buscas. De acordo com Stone, porém, não há nenhum negócio em andamento.


‘Nós não temos prazo para chegar ao ponto de equilíbrio [entre receita e despesa]. Temos bastante dinheiro no banco.’ Em setembro, o Twitter recebeu uma injeção de capital de US$ 100 milhões de investidores.’


 


 


TODA MÍDIA


Nelson de Sá


Instabilidade


‘No topo das buscas pelo Yahoo News, com Bloomberg, ‘Brasil desapontado e frustrado com EUA’. O assessor Marco Aurélio Garcia falou em ‘decepção’ e relatou carta de Obama a Lula, justificando o apoio à eleição sob governo golpista, em Honduras.


Manchete no Terra, o embaixador brasileiro à OEA acrescentou que os EUA ‘se deram conta do isolamento e pediram ideias’, daí a sugestão de adiamento, recusada. E agora ‘não dá para fazer nada’.


De Madri, o ‘Valor’ ouviu o diplomata espanhol destacado para a América Latina, que previu ‘instabilidade’ pós-eleição e prometeu ‘reação conjunta’ da Espanha com Brasil, Argentina e os demais.


‘OLD-FASHIONED COUP’


Sob o título ‘Um golpe à moda antiga’, a ‘New Yorker’ dá oito páginas a Honduras. William Finnegan relata que no ‘golpe clássico’ não faltou nem carta de renúncia forjada. Destaca como o país é ligado militar e comercialmente aos EUA, que reagiu e depois ‘mudou de posição’. Agora, acrescenta o jornalista no site:


‘A maioria dos países segue firme no princípio de que golpes simplesmente não são aceitáveis, nem eleições sem condições livres e justas. Mas com os EUA parece que os golpistas vão conseguir o que queriam.’


ELEIÇÃO NÃO VAI LIMPAR


A ‘Time’ também traz longa reportagem de Honduras, ‘Na América Central, golpes ainda vencem a mudança’. Diz que ‘é improvável que qualquer nação -exceto talvez os EUA- reconheça o vitorioso do dia 29’. Destaca declaração de Christopher Sabatini, da Americas Society, de Nova York, de que ‘não se pode usar eleição para limpar a sujeira após um golpe, isso só ameaça retroceder a democracia da América Central em décadas’.


A ‘Economist’, em nota, posta que a eleição ‘não deve resolver a crise iniciada por um golpe militar’.


‘Ou foram terrivelmente incompetentes ou foram terrivelmente cínicos. Em ambos os casos, sua credibilidade está muito deteriorada.’


Do analista KEVIN CASAS-ZAMORA , do Instituto Brookings, tido como próximo a Obama, sobre a atuação do Departamento de Estado dos EUA em Honduras, na Reuters.


BRINCANDO COM FOGO


Em artigo no ‘El Colombiano’ ecoado em sites dos EUA, o professor de Georgetown e diretor da instituição Inter-American Dialogue, Michael Shifter, alertou para as ‘tensões e desconfianças’ crescentes entre Colômbia e Venezuela, sob o título ‘Jugando con fuego’.


Avalia que, com EUA e OEA queimados, ‘o Brasil será jogador chave para acalmar as águas’. Saudou como o adiamento da aceitação da Venezuela no Mercosul, pelo Senado, conteve a retórica de Hugo Chávez.


ENQUANTO ISSO


O ‘China Daily’ cobre a turnê do ‘principal conselheiro político da China’, Jia Qinglin, pela América do Sul. Inclui Peru, Equador e, por fim, Brasil.


Outros chineses estarão a partir de hoje no terceiro encontro empresarial China-América Latina (acima). Abrindo cobertura, o ‘Latin Business Chronicle’ deu a manchete ‘Novo recorde no comércio China-América Latina’, com foto de Lula e Hu Jintao -e o destaque de que o Brasil virou o maior parceiro, mas Bolívia e Peru tiveram crescimento ainda maior nas trocas com Pequim.


OBAMA VAI À GUERRA


Na manchete on-line do ‘New York Times’, ‘Obama diz que pretende ‘acabar o serviço’ no Afeganistão’. O jornal cita ‘vários assessores’ para afirmar que ele já decidiu enviar mais soldados. O ‘Financial Times’, também em manchete, cravou ‘mais de 30 mil soldados’.


Por outro lado, o Drudge Report destacou uma análise da revista alemã ‘Der Spiegel’, alertando que, com Obama sendo estigmatizado por republicanos como uma versão do ex-presidente Jimmy Carter, ‘está a caminho a mudança para um estilo rude como Bush’.’


 


 


 


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O Estado de S. Paulo


Quarta-feira, 25 de novembro de 2009


 


LIBERDADE DE IMPRENSA


Moacir Assunção


Mordaça é ‘lastimável’, diz diretor da Abert


‘Rodolfo Machado Moura trabalha em uma área sensível a temas relacionados à liberdade de expressão – advogado, ele é diretor jurídico da Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e Televisão (Abert) e costuma lidar com o assunto. Mesmo assim, Moura ficou surpreso com a censura imposta ao Estado pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJ-DF), desde 31 de julho. ‘Essa atitude é lastimável, ainda mais vinda do Poder Judiciário’, lamentou.


Ele lembrou que não cabe ao Estado, por meio dos seus órgãos, tutelar os cidadãos no seu direito à livre informação. ‘Defendo que a população tenha todo o acesso à informação e decida o que vai lhe interessar. Este é um direito fundamental.’


O especialista reconhece que o Brasil avançou em vários aspectos recentemente, mas ainda há problemas quanto ao cerceamento à expressão.


‘A cada dois bimestres, em média, com frequência além da desejável, temos notícias de restrições à livre circulação da informação. Não é um fato corriqueiro, mas causa muita preocupação’, afirmou. Segundo informou, é mais comum a mordaça em jornais, mas também há casos envolvendo emissoras de rádio e TV.


Moura disse considerar importante que não haja confusão entre os direitos da cidadania e os das empresas jornalísticas. ‘É preciso deixar claro à sociedade que a liberdade de expressão não existe para proteger os veículos de comunicação, mas a sociedade. A Constituição estabelece a liberdade dos meios de informação, mas determina limites muito claros à sua atuação, baseados na responsabilidade total pelo que for publicado’, comentou.


Em sua visão, a própria população deve se preocupar com restrições ao trabalho da imprensa, uma vez que é o seu direito que está sendo atacado. ‘Precisamos proteger os direitos fundamentais em nosso próprio interesse’, frisou.


No caso específico que levou à censura ao Estado, pedida por Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), Moura lembrou que o episódio envolve pessoas públicas e recursos públicos, portanto, passíveis de fiscalização por parte da população e da imprensa.


‘É público e notório que houve crimes e uma investigação da Polícia Federal, que foi noticiada pelo jornal. Além disso, quem se torna pessoa pública já sabe que sua privacidade se tornará mais restrita por causa dessa condição’, disse.


Investigado e indiciado pela Polícia Federal na Operação Boi Barrica, Fernando é suspeito de vários crimes.’


 


 


INTERNET


Gerusa Marques e Tânia Monteiro


Lula defende estatal na banda larga


‘O presidente Luiz Inácio Lula da Silva quer que a estatal da banda larga, cuja criação está sendo estudada no governo, também chegue ao cliente final, oferecendo, no varejo, conexão à internet em alta velocidade. Segundo assessores do presidente, Lula acha que o governo tem de estar preparado para prover o serviço ao cidadão brasileiro no caso de empresas privadas não terem interesse.


Os estudos do grupo técnico encarregado de formular uma proposta de massificação da banda larga no País caminhavam para a adoção de um modelo híbrido, em que a estatal atuasse no atacado, fazendo a transmissão de dados. O atendimento ao cliente final ficaria com o setor privado, seja pelas grandes teles ou por pequenos provedores.


Em reunião, ontem, com oito ministros, esse cenário mudou. Lula pediu novos estudos para a criação de uma estatal mais poderosa, que poderá vir a competir com as empresas privadas em todos os segmentos. Alguns técnicos do governo admitem, porém, a possibilidade de a manifestação do presidente ser uma forma de pressionar as teles a aderirem de maneira mais efetiva ao projeto de massificação da banda larga.


O presidente deu mais três semanas para que os técnicos levantem os custos do projeto, incluindo o atendimento ao cliente final, chamado de última milha. Para isso, seriam necessários investimentos na construção de ligações entre a estrutura principal que o governo já possui – usando as redes da Petrobrás, Eletrobrás e Eletronet – ao consumidor final. Na reunião, Lula também mostrou-se irritado com a demora da Justiça em liberar as redes de fibra óptica da Eletronet (empresa falida que tem a Eletrobrás como sócia) para o projeto (ver abaixo).


O ministro das Comunicações, Hélio Costa, que ontem também apresentou a Lula uma proposta para expandir a internet rápida em parceria com as teles, já disse que o governo não tem recursos para bancar o projeto sozinho.


Pelo projeto de Costa, seriam necessários R$ 75,5 bilhões para chegar a 2014 com 90 milhões de acessos à internet em alta velocidade, bem acima do número atual de conexões, que está em cerca de 20 milhões. O projeto do ministro, intitulado ‘O Brasil em Alta Velocidade’, prevê que, em cinco anos, metade dos domicílios brasileiros estarão conectados com banda larga. Mas não contempla a criação de uma estatal para atuar no segmento.


Do total de investimentos, R$ 49 bilhões seriam aplicados pelas empresas, com recursos próprios e de linhas de financiamento do BNDES. Os outros R$ 26,5 bilhões viriam do setor público, incluindo o governo federal e os governos estaduais.


PREÇO BAIXO


O objetivo do plano de Costa é criar uma banda larga mais barata, que custe no máximo R$ 30 por mês. A ideia é permitir que os serviços possam chegar às classes mais carentes da população e ao interior do País. Outro objetivo do projeto é aumentar em dez vezes a velocidade mínima de conexão, saindo hoje de 200 quilobits por segundo (kbps) para 2 megabits por segundo (Mbps), em 2014.


A maior parte do investimento privado seria bancada pelas operadoras de telefonia celular, que ficariam responsáveis pelo aporte de R$ 31 bilhões, correspondentes a 53 milhões de novos acessos à banda larga pela rede móvel. As empresas de telefonia fixa investiriam R$ 18 bilhões, para criar 18 milhões de novas conexões até 2014.


Os governos contribuiriam para o projeto com isenção tributária para novos acessos e a liberação de fundos setoriais. A maior parte do dinheiro público – R$ 12,6 bilhões – viria da isenção da cobrança de ICMS sobre os novos acessos à banda larga, o que depende da concordância dos Estados. Também haveria isenção da cobrança de PIS e Cofins, no total de R$ 1,63 bilhão, para novos acessos e modems de conexão à Internet.


O governo federal liberaria R$ 4 bilhões do Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (Fust) e R$ 1,6 bilhão do Fundo de Desenvolvimento Tecnológico das Telecomunicações (Funttel), além de abrir mão da arrecadação de R$ 3,45 bilhões do Fundo de Fiscalização das Telecomunicações (Fistel), que deixaria de ser cobrada sobre os novos acessos, até 2014.


Pela proposta, nos próximos cinco anos, seriam aplicados ainda R$ 2,22 bilhões para a criação de 100 mil telecentros para acesso público à internet e R$ 1 bilhão em satélites de comunicação. Da meta total de 90 milhões de acesso, 30 milhões seriam pelas redes fixas e 60 milhões pelas redes da telefonia celular. Pela proposta, nos próximos cinco anos, seriam atendidos também 100% dos órgãos da administração federal, dos estados e municípios.’


 


 


MESQUITA


José Maria Mayrink


A trajetória de um jornalista liberal


‘A figura de Julio de Mesquita Filho é o tema de Irredutivelmente Liberal: Política e Cultura na Trajetória de Julio de Mesquita Filho (Albatroz Editora, R$ 59, 480 págs., à venda a partir de hoje, somente na Livraria Cultura). Trata-se da edição em livro da tese de mestrado em diplomacia defendida no Instituto Rio Branco pelo diplomata Roberto Aldo Salone, de 32 anos. Nos últimos dois anos, o autor pesquisou livros, jornais e revistas e ouviu, simultaneamente, pessoas que conviveram com Julio de Mesquita Filho, para traçar o seu perfil e mostrar a luta de seu jornal, O Estado de S. Paulo, contra as arbitrariedades de governos ditatoriais.


Com prefácio do professor Celso Lafer, ex-ministro das Relações Exteriores, e uma introdução de Ruy Mesquita Filho, neto de Julio de Mesquita Filho e editor do livro, Irredutivelmente Liberal faz uma análise crítica da atuação do diretor do Estado à frente do jornal, de 1927 a 1969. Durante esse período, ele lutou contra a ditadura de Getúlio Vargas e, mais tarde, contra o regime militar de 1964. Tanto Celso Lafer como Ruy Mesquita Filho exaltam as convicções liberais de Julio de Mesquita Filho, que, fiel à sua visão de Brasil, dedicou suas forças à construção de um ideal, ao custo de grandes dificuldades para sua empresa e sua família.


Exilado duas vezes, a primeira depois de lutar na Revolução Constitucionalista de 1932 e a segunda após o golpe do Estado Novo, de 1937, Julio de Mesquita Filho foi, entre os dois exílios, o coordenador da fundação da Universidade de São Paulo. Rompeu com a Revolução de 1964, que havia apoiado, ao perceber que os generais não iam restaurar a democracia. Amargurado com a publicação do Ato Institucional nº 5, parou de escrever editoriais, em 13 de dezembro de 1968, sete meses antes de morrer. A seguir, Salone fala sobre o jornalista.


Por que, sendo diplomata, escolheu a figura de Julio de Mesquita Filho como tema de sua uma tese de mestrado no Instituto Rio Branco?


Escolhi esse tema por se coadunar com o mundo da cultura e com o jornalismo. Sempre tive grande interesse pela história de O Estado de S.Paulo. Não saberia dizer quando isso nasceu, mas com certeza se consolidou a partir da entrevista que fiz com Ruy Mesquita em 1998. Foi uma entrevista muito esclarecedora. Após a publicação do texto na revista do Centro Acadêmico XI de Agosto (da Faculdade de Direito da USP), constatei que estudantes de minha geração não tinham conhecimento de quem foi esse jornalista, Julio de Mesquita Filho.


Seu estudo trata do jornalista e do jornal. Foi sua intenção mostrar as duas histórias intercaladas?


Julio de Mesquita Filho entrou na Redação em 1915, para dirigir o Estadinho (versão vespertina do Estado). Foi para ele um período de aprendizado até 1921, quando o Estadinho deixou de circular. A partir daí, como secretário de Redação, foi o terceiro na hierarquia do Estado – eram Julio Mesquita, pai dele, Nestor Pestana e ele. Tinha posição de certo comando. Tornou-se praticamente o Estado. Ficou mais de 40 anos na direção do jornal, de 1927 a 1969, incluindo dois períodos de exílio. Para Julio de Mesquita Filho, o jornal foi um instrumento de política. Não via o jornal como negócio. Sempre teve em vista que o jornal era uma unidade de combate. Jamais usou-o para qualquer fim que não fosse o aperfeiçoamento das instituições políticas brasileiras. Isso fica claro na tentativa de venda do jornal.


Isso ocorreu após a ocupação do Estado pela ditadura, em 1940?


Foi uma tentativa forçada. Julio de Mesquita Filho chega a brigar com a família para impedir a venda do jornal. Os irmãos são obrigados a vender o jornal. Francisco Mesquita vende as ações sob protesto. Por causa disso, na devolução do Estado, com o fim da ditadura em 1945, Julio Filho permite que Francisco volte com ele. A história do jornal é a história dele. O tipo de jornalismo que imprimiu mantém uma coerência constante ao longo das décadas em que esteve à frente de tudo. É uma coerência que herdou do pai, Julio Mesquita. Ele admirava a figura do pai, uma pessoa que defendeu a República e os ideais republicanos. Daí a decepção com os rumos que tomou a República, principalmente após a política dos governadores.


Citando Julio Mesquita, Julio Filho dizia não entender como o pai, sendo homem tão inteligente, foi defender a República.


É uma frase que expressa a decepção com os destinos da República. Julio de Mesquita Filho tinha grande apreço pela monarquia e especialmente pelo Segundo Reinado. Ele demonstra isso várias vezes. No grande livro dele, Ensaios Sul-Americanos, delimita um Brasil monárquico, com regime estável, instituições que funcionavam relativamente bem, embora num país escravocrata.


Julio de Mesquita Filho foi também político, embora não se tenha filiado a partido algum. Como o senhor avalia a militância que ele teve?


O início da militância na política se dá com a Campanha Civilista de Rui Barbosa, em 1919. Nessa campanha, ele vê o perigo de estarmos submetidos a um partido único, como eram o Partido Republicano Paulista (PRP) e seus homólogos estaduais. Ele se bate pela reforma das instituições, tanto na Campanha Civilista como na Liga Nacionalista, que pugnava pelo voto secreto, já desde 1910. Após a Liga Nacionalista, ele teria grande atuação no Partido Democrático, que apoiou, em 1930, a Aliança Liberal, de Getúlio Vargas. Só por ignorância se pode achar que Julio de Mesquita Filho era um reacionário que estava do lado dos conservadores do PRP. Na realidade, ele sempre esteve na oposição. Achava que Getúlio Vargas pudesse ser esperança de renovação na política.


Como o senhor analisa o papel dos Mesquita e do jornal na Revolução Constitucionalista?


Julio de Mesquita Filho foi o articulador de 32, unindo adversários históricos. A Revolução de 32 teve o apoio dos liberais gaúchos, mas na última hora a aliança foi abortada. São Paulo ficou sozinho. Tem-se de afastar a ideia de que 32 foi um retorno dos perrepistas que queriam a República Velha. Depois, que foi uma revolução de caráter separatista. Julio de Mesquita Filho voltou do exílio em 1933. Quando Armando de Salles Oliveira foi nomeado interventor, ele se dedicou ao projeto de fundação da USP. Era um projeto que vinha acalentando desde os anos 20, quando pediu a Fernando de Azevedo para fazer o Inquérito sobre a Instrução Pública.


Julio de Mesquita Filho foi contraditório em algumas questões, como se afirma em seu livro?


Ele foi muito coerente em suas posições, mas possuía resquícios de um patriarcalismo e era um grande conhecedor do evolucionismo social de Spencer. Essa teoria dizia que havia uma evolução de certos segmentos da humanidade, o que podia gerar algum preconceito, por exemplo, contra negros. Mas não era pessoal. Ele defendia posições que hoje poderiam soar como racismo. Era contraditório, pois sabia muito bem que havia descendentes de negros no seu jornal, no entanto manteve uma visão antropologicamente anacrônica. Havia o preconceito contra imigrantes. Mas deu um cargo para o (italiano) Giannino Carta, que foi o responsável pela seção internacional. E fez o mesmo com Claudio Abramo, que, além de ascendência italiana, tinha ascendência judaica.


O livro Ensaios Sul-americanos, em sua opinião o escrito mais importante de Julio de Mesquita Filho, reflete a experiência dele no exílio?


Em Buenos Aires, Julio de Mesquita Filho conviveu com a família Paz e com a família Mitre, donas respectivamente dos jornais La Prensa e La Nación. Sabia o que era uma tradição liberal. Ele pegou o final da República liberal argentina e logo depois viu como essa tradição foi subvertida pelo peronismo, que reputava tão deletério para as instituições como foi o getulismo no Brasil. Nesse livro, Julio de Mesquita Filho defende a ideia de que o Império do Brasil foi pacifista e refuta as afirmações segundo as quais o País teria investido numa ação expansionista no continente sul-americano.


Como foi a luta que empreendeu contra Getúlio Vargas?


Getúlio foi o grande adversário de Julio de Mesquita Filho. Ele combatia Getúlio porque considerava o getulismo muito mais deletério que o comunismo. E não só o Getúlio, mas todo o grupo que ele pôs no poder e toda a configuração política que teve tempo de formar depois de 1945. Para Julio Filho, o varguismo institucionalizou a corrupção. Daí o combate não só à figura de Getúlio Vargas, mas também a seus seguidores, entre os quais João Goulart.


Contra João Goulart, em 1964, foi mais uma vez conspirador.


Julio de Mesquita Filho acreditava que as Forças Armadas tinham um papel moderador. Estava longe de ser um militarista, pois ele e o pai nunca foram a favor de quarteladas, como se vê no episódio de 1924. Admitia um período de exceção de, no máximo, dois ou três anos, para em seguida se retomar a normalidade. Não queria uma ditadura.


Mas discordou de Carlos Lacerda, quando este advertiu que, se assumissem o poder, os militares não o deixariam tão cedo.


Foi um erro. Ele não sabia que os militares haviam-se convencido, desde o movimento tenentista da década de 1920, de que os civis eram absolutamente ineptos e corruptos para o exercício da coisa pública. Segundo essa concepção, que dominava a caserna havia muito tempo, caberia aos militares a salvação da República. Julio de Mesquita Filho viu, com grande arrependimento, a modificação do movimento do qual participou em 1964. Já estava amargurado logo depois de 1964. Com essa decepção, começa a mais desabrida oposição do Estado à ditadura, a um regime autoritário cujo desfecho foi o AI-5. O jornal foi censurado antes mesmo da decretação do AI-5.’


 


 


Marco Antonio Villa


Uma trincheira em defesa dos valores democráticos


‘Irredutivelmente Liberal – Política e Cultura na Trajetória de Julio de Mesquita Filho, de Roberto Salone, preenche uma lacuna historiográfica. É muito mais do que uma biografia de Julio de Mesquita Filho. É também uma história do jornal O Estado de S. Paulo e de uma fração do liberalismo paulista e brasileiro. O autor realizou uma pesquisa exaustiva sobre meio século da história política brasileira. Mas não satisfeito com a abundância do material recolhido, efetuou diversas entrevistas com personalidades que tiveram relação direta com o jornal e com o personagem principal do livro.


A tarefa de Salone foi árdua. Julio de Mesquita Filho é um personagem fascinante. Jornalista atuante, participou não só nos principais acontecimentos políticos brasileiros entre os anos 20 e 60, como também teve importante papel no campo da educação e cultura. Foi um dos principais inspiradores da Universidade de São Paulo, com papel bastante destacado no momento da sua criação. E o jornal serviu durante décadas como espaço para a participação de professores da USP nos debates políticos e culturais.


Julio de Mesquita Filho é um típico liberal da primeira metade do século 20 brasileiro. É um crítico severo das oligarquias e das fraudes eleitorais. Apoia a revolução de 1930, mas logo se decepciona. Participa ativamente da Revolução Constitucionalista e, após a derrota, parte para o exílio. Regressa ao Brasil e continua participando da vida política. Ataca os varguistas, os integralistas e os comunistas. Denuncia a possibilidade de um golpe de Estado, em 1937. Com o Estado Novo é novamente exilado. E mais: o seu jornal é tomado pelo governo durante cinco anos, até a queda da ditadura, em 1945. Retoma o jornal e continua a sua luta liberal. Salone relembra que o jornal sempre teve uma postura antifascista e que abrigou perseguidos pelas ditaduras salazarista e franquista, além de ter entre seus colaboradores intelectuais socialistas e comunistas.


O jornal, para Julio Filho, é uma trincheira em defesa dos valores democráticos. Não é instrumento para obter vantagens materiais ou para construir um império na área da comunicação. Pelo contrário, nunca foi considerado um empresário de sucesso. Não era um negociante. Acreditava que o jornal poderia ter um papel reformador da sociedade. E sempre colocou o jornal em grandes campanhas, como pela criação da USP ou em defesa do ensino público e gratuito, nos anos 50. No campo da grande política, acabou sempre derrotado. Desiludiu-se com 1930 e com 1964. Acabou perseguido, de formas distintas, pelos dois movimentos. Mas reagiu aprofundando a defesa dos valores liberais nos quais sempre acreditou. Como escreveu em 1934: ‘Caminhamos fora do nosso tempo? É que, como Renan, somos de opinião que em matéria de doutrina política precisamos ter a coragem de parecermos fora de moda, se quisermos que o futuro nos dê razão.’


Marco Antonio Villa é professor de história da Universidade Federal de São Carlos e autor de 1932: Imagens de uma Revolução’


 


 


EDIÇÃO


Camila Molina


Um guia sobre a arte de editar revistas


‘Ao longo de sua carreira de três décadas na criação, direção e edição de revistas, Fatima Ali sempre fazia anotações sobre ideias, observações e orientações a fim de produzir o melhor para atrair leitores, de publicações tão diversas. ‘Meus colegas gostavam e até me pediam cópias, então pensei em um dia usar isso’, diz Fatima, que lança hoje, na Livraria Cultura, o livro A Arte de Editar Revistas (Ibep – Companhia Editora Nacional). Voltada a desde estudantes até diretores de redação, como diz a autora, a obra é um guia feito por uma profissional a partir de sua própria experiência, seja na Editora Abril, seja na televisão, quando fundou a MTV no Brasil.


Fatima Ali afirma na introdução do livro que não fez jornalismo, nunca foi repórter, nem redatora. ‘Só fiz curso ginasial, mas sempre fui muito curiosa’, diz. Aproveitou as oportunidades, passando por vários ofícios, de secretária até, aos 24 anos, em 1968, entrar na redação como diretora da revista Manequim. Para ela, é na prática que se aprende. ‘Acho que não é necessário passar por quatro anos de faculdade de jornalismo para adquirir o que se precisa para trabalhar na área’, afirma. Seu livro trata de temas como ‘Capas Que Vendem’; ‘A Boa Reportagem’; e ‘O Orçamento’, por exemplo.


A Arte de Editar Revistas é baseado em exemplos de projetos nacionais e internacionais que vão do início do século passado até as publicações ‘que mais crescem no novo milênio’, terminando com a indicação da Love, edição inglesa. Todas as informações e material iconográfico foram reunidos por Fatima por 10 anos com o propósito de se fazer o livro.


Fazendo uma observação direta, a autora define que muitas das bases para se fazer/editar revistas ‘foram estabelecidas há 100 anos’. ‘Deve-se pensar que as linguagens e o público são diferentes, mas os princípios de clareza, formas de chamar a atenção de leitores e a ética são os mesmos’. Porém, o desafio é lidar com um leitor cada vez mais ‘impaciente’.


Serviço


A Arte de Editar Revistas. De Fatima Ali. Ibep. 400 págs. R$ 72. Livraria Cultura. Av. Paulista, 2.073, tel. 23170-4033. Hoje, às 18h30′


 


 


TELEVISÃO


Keila Jimenez


Longe do ibope ideal


‘A Globo não atingiu sua meta, o SBT não recuperou o segundo lugar e A Fazenda não salvou a pátria na Record. Se o ano terminasse hoje, as médias de audiência até agora estariam longe do mundo sonhado pelas emissoras.


Segundo medição na Grande São Paulo, de janeiro até a segunda semana de novembro, a Globo registrou média de 17,5 pontos, a mesma marca de 2008 no período. Na medição nacional de audiência, o PNT, a Globo pulou de 19,3 pontos em 2008, para 20 pontos, crescimento ainda distante da média de 22 pontos que o diretor- geral da rede, Octávio Florisbal, planeja retomar.


Apesar de estar com o segundo lugar em audiência consolidado, a Record deve sofrer queda em sua média anual. No PNT, a rede, de janeiro até novembro, registrou média de 7,3 pontos, ante 8,5 pontos em 2008 no mesmo período. Em São Paulo, a média da rede vem se mantendo na casa dos 7 pontos. Nesta medição, o SBT também caiu de 6,4 pontos, em 2008, para 5,6 pontos este ano.


Segundo previsões do meio, os números não devem sofrer grandes alterações até o final do ano.’


 


 


 


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