Taslima Nasreen, escritora muçulmana de Bangladesh, tornou-se vítima de um jogo político na Índia, onde vive em exílio, sendo forçada a se mudar de cidade em cidade pela acusação de blasfêmia ao Islã. Taslima critica o uso da religião como uma força opressora, o que levou grupos muçulmanos a realizar protestos exigindo sua expulsão da Índia, na cidade de Bengala Ocidental, onde vivia.
Depois dos protestos, a polícia levou a escritora para um hotel em Rajastão, de onde ela foi imediatamente mandada para perto de Nova Déli no final de semana passado, sob proteção policial. ‘Podemos ser democratas, mas com certeza não somos liberais’, escreveu Karan Thapar, no Hindustan Times, criticando a Índia por não conseguir garantir a liberdade de expressão no país. Em editorial, o Economic Times acusou o governo de ter ‘medo de ofender os islâmicos’. Cada movimento das autoridades pode fazer com que os políticos percam o apoio de muçulmanos e ninguém se arrisca a defender a escritora. O silêncio do primeiro-ministro Manmohan Singh foi criticado pelo partido de oposição, o hindu Bharatiya Janata. Os muçulmanos são a maior minoria na Índia, constituindo 12% da população. Em Bengala do Oeste, eles representam quase 1/3 dos votos.
Apoio
Grupos de defesa dos direitos das mulheres pediram ao governo que conceda cidadania a Taslima, cujo visto expira em fevereiro. Ela saiu de Bangladesh pela primeira vez em 1994, quando foi condenada na justiça por ferir ‘deliberadamente e maliciosamente’ os sentimentos religiosos dos muçulmanos com seu romance Lajja (Vergonha, tradução livre), sobre os conflitos entre muçulmanos e hindus. Na ocasião, Talisma chegou a ser ameaçada de morte. Muitos de seus livros foram proibidos na Índia e em Bangladesh porque desagradam os muçulmanos radicais. Em 1994, a escritora recebeu o Prêmio Sakharov pela liberdade de pensamento, concedido pelo Parlamento Europeu.
Embora seja considerada persona non grata em diversas localidades indianas, Taslima acabou encontrando no líder hindu Narender Modi um aliado no país. Modi, acusado de conivência com o assassinato de muçulmanos durante protestos religiosos em 2002, convidou a escritora a ficar no estado de Gujarat depois de ela ter deixado Bengala Ocidental. ‘Ela é bem-vinda em Gujarat. Aqui ela pode continuar a escrever’, prometeu. ‘Mesmo me criticando em seus livros’. O controverso líder planeja uma reeleição para o governo de seu estado. Informações de Alistair Scrutton [Reuters, 26/11/07] e da AFP [27/11/07].