Cerca de 40 jornalistas foram detidos, na quinta-feira (29/11), quando cobriam uma rebelião de soldados, que fizeram uma barricada em um hotel de Manila, nas Filipinas. O governo afirmou querer garantir que os soldados rebelados, que haviam abandonado uma audiência no tribunal diante da acusação de participar de uma tentativa de golpe em 2003, não escapassem do hotel em meio aos profissionais de imprensa.
Organizações de mídia protestaram contra a estratégia policial, alegando que a liberdade de expressão é garantida pela constituição. ‘Nós estávamos apenas fazendo nosso trabalho. Temos esse direito’, afirmou Charie Villa, chefe de apuração da emissora local ABS-CBN, que forneceu cobertura ao vivo da tomada do hotel ao longo do dia. A equipe técnica do canal e pelo menos um repórter estavam entre os presos, junto com um cinegrafista da Associated Press Television News.
Centenas de jornalistas lotaram o Manila Peninsula Hotel, em Makati, distrito financeiro da capital, logo depois da informação de que os soldados haviam seguido para o local. A cobertura televisiva durou sete horas, com entrevistas ao vivo com os rebelados e imagens das tropas do governo se posicionando do lado de fora do prédio.
Segurança
Quando as autoridades pediram que os jornalistas deixassem o local antes que as forças de segurança invadissem o hotel, a maioria se recusou a fazê-lo. ‘Nós pedimos aos nossos amigos da imprensa, por quase duas horas, que saíssem dali’, afirmou o ministro do Interior, Ronaldo Puno. ‘Em primeiro lugar, [nosso intuito] era a segurança dos correspondentes. Graças a Deus não houve um tiroteio, mas, em casos assim, balas não escolhem suas vítimas’.
O ministro declarou ainda que os jornalistas não entendem que, em certas ocasiões, atrapalham o trabalho dos policiais. Segundo ele, os profissionais de imprensa detidos foram levados a uma base policial para que suas identidades fossem verificadas. A explicação não agradou. ‘Nós consideramos perigosa a interpretação do governo de que a cobertura da rebelião ameaça a segurança nacional’, afirmou Amado Macaset, presidente do Instituto de Imprensa Filipino.
Questão delicada
A liberdade de imprensa é um assunto delicado nas Filipinas, país que teve sua democracia restaurada em 1968 depois de 20 anos de ditadura sob o comando do presidente Ferdinand Marcos, quando jornais eram fechados ou censurados.
Hoje, a imprensa bate de frente, por vezes, com a presidente Gloria Macapagal Arroyo, que assumiu o governo em 2001. No ano passado, quando ela declarou uma semana de estado de emergência para controlar um suposto plano de golpe, policiais invadiram a redação de um jornal crítico ao governo e soldados cercaram as duas maiores emissoras de televisão do país.
Gloria prometeu na quinta-feira (29/11) que os jornalistas detidos no hotel seriam libertados assim que não houvesse mais razão para mantê-los sob custódia. Após a intervenção do Exército e da polícia, os soldados rebelados se renderam. Informações de Hrvoje Hranjski [Associated Press, 30/11/07].