Foi no mínimo displicente a matéria do Jornal da Globo (28/1) sobre os Fóruns Econômico e Social, que começaram semana passada. No primeiro, sediado em Davos, a reportagem ressaltou a ‘sobriedade’ dos líderes mundiais. Já no segundo, com sede em Belém, um possível clima de ‘fanfarra’ foi destacado.
Não é bem isso. Na Suíça, o que foi tratado como ‘sobriedade’, na verdade, era o silêncio inevitável daqueles que viram suas teses caírem por terra, com a crise econômica. Em contrapartida, no FSM, a ‘fanfarra’ pode ser vista como a euforia de quem, nesse ‘Fla-Flu ideológico’, sabe que está por cima.
Mas mesmo que falasse sobre isso, a reportagem estaria incompleta. Ambos os fóruns são eventos políticos, onde a analise comportamental, sem mais detalhes do conteúdo do que está sendo discutido, não faz sentido.
Falar sobre o cardápio, as opções de hospedagem e o humor dos integrantes de cada evento é muito pouco. Faltou o principal, ou seja, o debate.
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Indignação é o que sinto quando estou assistindo a telejornais e os repórteres ficam de frente um para o outro conversando sobre fatos, dando notícias um para o outro, e eu em minha sala me sentindo como um intruso. No Jornal Nacional, o correspondente fala exclusivamente para a Fátima Bernardes ou para o Willian Bonner, como se a conversa fosse entre eles. Porém, eu e você, o público, é que somos o destinatário final e o mais importante no contexto. No Bom Dia Brasil, da Rede Globo, até parece que [os âncoras] estão na sala da casa deles conversando; um pergunta para o outro, que responde evocando o nome do seu interlocutor; é uma falta de consideração para com o público.
Nas faculdades de jornalismo, deveriam ensinar uma postura mais profissional, onde nós, o público, somos a razão da existência de qualquer publicação e programa de informação. Espero que os responsáveis, observadores e profissionais que conduzem os meios de comunicação se ajustem a esse quesito básico. Afinal, é desconfortante sentir-se como intruso num programa que está dentro da minha sala. (Valdir Almeida, publicitário, Brasília, DF)
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Tenho visto frequentemente na imprensa (Estadão, UOL, etc) enquetes perguntando ao internauta: ‘o que você acha da decisão?…Opine’. O internauta tem acesso imediato às parciais da enquete. Isto me parece mais uma intenção de seus jornalistas de corroborarem seus julgamentos a respeito de assuntos que a própria imprensa desconhece em profundidade; eles tentam, nessas enquetes, justificar suas posições, na maioria das vezes unilaterais e conservadoras. Fiquei estarrecido ao ver que, no caso do Cesare Battisti, o Estadão perguntou: ‘Você concorda com o refúgio ao italiano?’. Ou seja, é para expressar a opinião sem ter conhecimento do caso? Opinar por opinar? A que isso leva? Que cidadão comum pode opinar sobre um assunto desses? Que resultado uma enquete dessas pode apontar ? Eu gostaria de ver essa posição da imprensa comentada pelo Observatório, que considero um oásis de lisura e isenção dentro desta Torre de Babel que é a imprensa brasileira. (Jose Albino, engenheiro, São Paulo, SP)
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Obrigado a todos os diretores, redatores, jornalistas e todo staff necessário para deixar o OI funcionando e dando uma segunda, e muito melhor, ótica ao leitor. Sou da época de receber o boletim impresso, quando ainda existia o patrocínio da Xerox; quando este se foi, foi também meu contato mais próximo com o OI. Estou de volta no site e agradeço principalmente aos desenvolvedores que utilizaram uma linguagem de programação compatível com um dos mais populares smartphones (o iPhone), que não roda em flash. Os links em MP3 dos textos são uma ótima iniciativa e ajudam bastante o acesso ao conteúdo do OI, pois na ausência de acesso posso ouvir os últimos artigos no meu iPhone. Obrigado e novamente meus parabéns. (Felipe Junqueira Penteado, engenheiro, Niterói, RJ)
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Venho expor minha indignação contra alguns programas jornalísticos que, na briga por audiência, expõem pessoas presas a situações vexatórias, bem como submetem os telespectadores a cenas de assassinato e abuso sexual no horário das 12 às 14 horas. Tais situações são expostas diariamente, na Bahia, nos programas Na Mira (TV Aratu/SBT) e Se Liga Bocão (TV Itapuã/Rede Record). Gostaria de saber quais providências podem ser tomadas por cidadãos comuns que discordam de comentários estigmatizadores e profundamente preconceituosos. (Rosângela Prado, assistente social, Salvador, BA)
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Sem nenhum critério de qualidade, o programa Violão com Fabio Zanon, da Rádio Cultura FM, foi cortado pela direção da estação, que alegou que ele ‘chegou ao fim’. A importância desse programa para a música, e não só para os amantes e profissionais do violão, é incalculável. O jornalista Luis Nassif, assim como outros, já postaram em seus blogs palavras de repúdio. Mais interessante ainda é a discussão que se realiza num fórum de internet onde os participantes parecem se mobilizar, talvez não mais pela volta do programa, mas pela falta de sinceridade com que parecem responder os membros responsáveis pela Rádio Cultura FM de São Paulo. Discussões sobre o status da rádio enquanto ‘fundação’, dinheiro público e outras questões parecem tomar a vida de pessoas que, organizadamente, debatem soluções num exemplo de como o cidadão pode ser político. Agora parece consenso entre os participantes que se faça chegar à imprensa o devido apelo para que se perceba como a direção de uma rádio como a Cultura FM trata seu ouvinte: com absoluta indiferença e respostas padrão mala-direta. (Vinicius Guadaquini, músico, Florianópolis, SC)
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Gostaria que fosse observado o abuso da TV Record do Rio de Janeiro, que, de maneira sensacionalista e sem o mínimo de pesquisa jurídica, difamou e causou um alarde gratuito ao divulgar uma apreensão feita de maneira inconstitucional e equivocada pela Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro. Produtos vendidos de maneira legal foram tachados de réplicas de armamentos, quando na verdade são armas de pressão por ação de mola, ou seja, produtos que têm seu comércio legalizado e autorizado pela legislação e pelo Exército Brasileiro. Esta matéria não foi apenas uma afronta ao Exército Brasileiro e aos amantes do esporte, mas uma afronta ao cidadão sem conhecimento técnico, que pode discriminar o comerciante honesto e que trabalha sob a lei. Segue o link da reportagem. (Fabio Nogueira de Carvalho, empresário, Campinas, SP)
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Foi veiculada na Rede Record uma matéria tratando da apreensão de armas de brinquedo numa loja do RJ. Só esqueceram de comentar pequenos detalhes antes de começar a usar de sensacionalismo barato para distorcer a verdade:
Tais armas (de chumbinho) são permitidas por lei, vendidas sob a autorização do Exército para maiores de 18 anos. Inclusive, na reportagem aparecem carabinas fabricadas e vendidas no Brasil pela Companhia Brasileira de Cartuchos, a CBC.
Não se tratam de réplicas, e, mesmo se fossem, a lei agora permite réplicas com registro na loja.
O dono da loja apresentou esses fatos no momento da apreensão, além de ter mostrado as respectivas notas fiscais – o que foi ignorado pelos policiais e posteriormente pelo delegado, que expôs as armas como se fossem fuzis (cena ridícula).
A repórter trata as carabinas como réplicas de fuzis e de metralhadoras anti-aéreas. Após o completo vexame da repórter, chega a hora do delegado mostrar toda a sua ignorância e desconhecimento da lei. Uma reportagem lastimável que registra a completa falta de preparo da polícia e dos jornalistas, que não se dão ao trabalho de checar nenhuma informação. Agora sabemos porque o RJ está nessa situação. (Tomás Tobias, estudante, Recife, PE)
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No dia 25/1, em sua edição de domingo, a Folha de S. Paulo trouxe um bela montagem publicitária. Abre seu caderno Cotidiano com esta manchete: ‘Aos 75, USP tem mais alunos e menos produção científica’. Curiosamente, o caderno tinha apenas uma folha útil, a capa (páginas C1,C2, C7, C8), sendo o miolo um encarte publicitário que apregoava uma inusitada junção: Uninove e Unesp, ‘extremamente interligadas’ na Barra Funda. Ao iniciar a leitura, pensei cá comigo, ‘a Unesp poderá processar a Uninove por uso indevido do nome de uma universidade pública de prestígio em uma publicidade de uma instituição privada’.
Bem, logo vi que a coisa contava com o respaldo do vice-governador, Alberto Goldman, que figura ali, com foto e tudo, como garoto-propaganda dessa empresa de educação: ‘O fato de a Uninove e da Unesp estarem extremamente interligadas ao crescimento qualitativo da região contribui para que as duas sejam instituições cada vez mais respeitadas em São Paulo…’.
No final do encarte (página C6), está uma foto enorme do ex-secretário da educação Gabriel Chalita, em ‘entrevista’ na qual o edil da auto-ajuda louva esta universidade (Uninove) ‘que fomenta tanto conhecimento’. Acho que o assunto mereceria um artigo. Será que um vice-governador pode fazer uma coisa dessas? (Claudemir Belintane, professor, São Paulo, SP)
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No último dia 26 de janeiro, a Folha de S.Paulo publicou uma coluna assinada por José Pereira Coutinho que considerei preconceituosa. O autor pretendia criticar as recentes campanhas publicitárias ateístas em ônibus na Europa e sua tese é de que a suposta inexistência do Criador não seria motivo para comemorar, pois, segundo ele, as pessoas que não crêem em Deus não têm limites éticos.
Escrevi para a Folha e para o ombudsman, mobilizei diversos ateus e agnósticos como eu a fazerem o mesmo e esperava que ao menos a Folha publicasse alguma carta. Não o fizeram. Esperei até o domingo (1/2) para ver se o ombudsman faria uma menção, e novamente me decepcionei. Foi então que me sugeriram entrar em contato com o Observatório da Imprensa. Peço que vocês leiam a coluna de Coutinho e minha resposta a ela. Para minha infelicidade, constatei que na segunda-feira (2/2) os ateus e agnósticos foram acusados de falta de valores éticos outra vez, agora em coluna do ex-governador de São Paulo, Cláudio Lembo, no Terra. Gostaria que o OI analisasse esses casos e, se julgar justo, comentá-los. (Gabriel Fonseca, estudante, São Carlos, SP)
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Jornalista, Rio de Janeiro