Os jornais de terça-feira (3/2) voltam sua atenção para o setor bancário, com ampla repercussão do balanço do Bradesco, que apresenta um lucro de 7,6 bilhões de reais, quase 5% menor do que o do ano de 2007.
Um dos detalhes da informação, bastante comentada durante a segunda-feira (2) na mídia online, é a concentração de perdas no quarto trimestre do ano passado, período de muitas notícias negativas sobre a crise financeira global.
O noticiário sobre o Bradesco trouxe à tona o debate em torno do alto custo dos serviços financeiros no Brasil e da persistência, por aqui, dos juros mais elevados do mundo. O executivo Márcio Cypriano, que deixa a presidência do banco em março, fez comentários sobre a acusação de que as instituições brasileiras de crédito cobram uma taxa exagerada de spread – a diferença entre os custos de captação e os de concessão de crédito.
Oficialmente, tanto a queda no lucro do banco quanto o alto custo dos serviços financeiros são debitados ao aumento dos riscos de inadimplência. Os banqueiros privados dizem que não é fácil reduzir os custos, por causa da necessidade de aumentar as garantias contra os efeitos da crise, e assim se forma o círculo vicioso que reduz a oferta de crédito e aumenta o potencial da crise.
Quatro pontos
As edições de terça-feira dos jornais lançam um pouco mais de luz sobre o problema, mas ainda fica difícil para o leitor delimitar, em meio ao noticiário, o que corresponde ao Brasil e o que afeta a economia global de modo geral.
Algumas reportagens que tentam esclarecer a situação acabam por atrapalhar o entendimento. É o caso da matéria publicada na revista Veja desta semana (edição 2098, de 4/2/2009), sobre os planos de investimento cancelados por grandes empresas no Brasil.
Primeiro, o texto não informa quanto por cento da média anual de investimentos foi afetado, o prazo de cada projeto e sua relevância para o setor. Segundo, em alguns casos citados não foi a falta de crédito que determinou a desistência dos investidores. Em pelo menos um deles, o investimento foi suspenso porque o projeto tinha graves restrições ambientais. Terceiro, pelo menos duas das empresas citadas tiveram grandes prejuízos com operações financeiras arriscadas e suas dificuldades têm mais a ver com a ambição desenfreada de seus executivos do que com a crise mundial.
Quarto e último ponto: um pouco de honestidade intelectual ajudaria muito a melhorar o desempenho da imprensa.
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De olho na vizinhança
A queda no volume das exportações brasileiras, registrando em janeiro o primeiro déficit comercial em sete anos, chama a atenção da imprensa para a questão das relações exteriores. Com exceção da Ásia, que continuou comprando produtos brasileiros, os exportadores nacionais sentem agora mais fortemente a concorrência internacional, acirrada em um mundo em retração.
Não está afirmado explicitamente em nenhum dos jornais, mas pode-se constatar que a estratégia brasileira de diversificar suas relações comerciais tem funcionado como uma defesa contra a crise.
Não custa lembrar que, até um par de anos atrás, a imprensa em peso criticava a opção do Brasil de reduzir a dependência dos Estados Unidos e reforçar os laços com seus vizinhos latino-americanos e melhorar o comércio com outros países em desenvolvimento.
Outro detalhe do noticiário revela como a imprensa pode cometer erros estratégicos: lembra-se o leitor que os jornais brasileiros demoraram mais de ano para dar atenção aos projetos de produção de combustíveis alternativos. Apenas a visita do ex-presidente George Bush, em março de 2007, foi capaz de impulsionar o noticiário sobre o potencial dos combustíveis de origem vegetal.
Pois bem: em 2008, o biodiesel contribuiu para reduzir em 1 bilhão de reais o custo da balança comercial do petróleo.