Tomando por base textos recentes, parece-me que a equipe editorial do Globo faltou às aulas primárias de economia. Outro dia, num editorial do jornal, rejeitavam o aumento do programa Bolsa Família com dois argumentos, o primeiro de contradição com o corte de gastos feitos em outras pastas e o segundo de que seria melhor investir em criação de empregos.
Obviamente, qualquer alfabetizado em economia entende que o fato de aumentar em meio bilhão um orçamento que sofreu cortes de 37 bilhões não representa mudança de diretriz. Ademais, dinheiro do Bolsa Família retorna imediatamente para o mercado. Quem, com renda de 140 reais por mês, consegue guardar dinheiro debaixo do colchão? O dinheiro do Bolsa Família acaba sendo dinheiro do governo (ou do contribuinte, como queiram) investido no comércio e na produção de alimentos. Só que, em vez de ir na forma de empréstimo, vai indiretamente na forma de consumo. E mais dinheiro na mão do comerciante deveria significar mais emprego; afinal de contas, esse comerciante usará esse dinheiro para expandir seu negócio ou para comprar um carro ou uma TV. Ou não? (Comerciantes podem guardar dinheiro embaixo do colchão!)
Se a intenção é de criticar com justiça, questionemos a eficiência a longo prazo de sistemas puramente assistencialistas – e isso o Globo faz constantemente. Muito embora, num país entupido de pessoas que ganham menos de 140 reais por mês, fazê-lo no ar condicionado do jornal, tomando um cafezinho quente com biscoito, pode soar um tanto quanto hipócrita.
Imposto
Em outra demonstração de analfabetismo econômico, o jornal de 3/2 traz na seção de economia um comentário sobre a diferença da fonte pagadora do Proer para o pacote americano de resgate aos bancos. Ilumina-nos, o jornal, com a informação de que, ao contrário do pacote americano, bancado com dinheiro do contribuinte, o Proer foi feito com dinheiro do próprio sistema financeiro – afinal de contas, os bancos’bons’ compraram os bancos podres abatendo do próprio imposto de renda as dívidas destes. Só na concepção distorcida do Globo imposto de renda de banco é dinheiro do sistema financeiro. Para pessoas normais, imposto de renda é dinheiro do governo (ou do contribuinte, como queiram) e, ao abrir mão deste, o governo vira automaticamente o financista da compra das dívidas dos bancos falidos.
A filosofia do Globo é notória, constante e o acompanha desde que o jornal nasceu. Mas seus editores precisam cuidar para que a defesa de suas ideias não ultrapasse o bom senso.
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Com relação ao artigo ‘As pretensões do Judiciário‘, do jornal O Estado de S. Paulo, gostaria de tecer alguns comentários. No texto, o Poder Judiciário é colocado como um todo, indivisível, independente, onipotente. Talvez, em certos aspectos, até o seja. Porém, há que se esclarecer alguns pontos que não foram citados, talvez por desinformação ou, quem sabe até, por opção do articulista.
Foi citado que os servidores da Justiça – e aí foram colocados na mesma condição servidores e magistrados, de todas as esferas, ou seja, federais, trabalhistas, estaduais – recebem certas’regalias’ que não se estendem aos demais servidores públicos, e que tais regalias’não condizem com a realidade do caixa do Executivo e as previsões de arrecadação’. Por fim, é citado que’as exageradas reivindicações financeiras e corporativas do Judiciário mostram o quanto juízes e servidores judiciais vivem desconectados do Brasil real’.
Se o artigo fosse voltado especificamente para o Poder Judiciário Federal, poderia até concordar com o escrito, embora não saiba exatamente qual sua realidade. Mas quando fala das’pretensões do Judiciário’, dá-se a impressão de que nos Tribunais dos Estados a situação é a mesma. Talvez em alguns casos seja parecida, mas não no dos servidores, ao menos nos do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo.
Injustiças
Para se ter uma idéia, nos últimos anos os reajustes anuais – que são determinados pela Constituição Federal, pois se trata de uma garantia de reposição das perdas inflacionárias – não têm sequer chegado perto do esperado, visto os índices de inflação. Desde a greve de 2004, tramita pela Assembléia Legislativa um projeto de lei que trata da reposição do período de 2001 a 2004 (Projeto de Lei nº 479/2004). Ressalto que não se trata de aumento, mas de reposição de perdas inflacionárias ocorridas há mais de oito anos.
O Plano de Cargos e Carreiras (Projeto de Lei nº 43/2005), embora bem aquém das expectativas dos servidores, também sofre com situação parecida, pois tramita na Assembléia desde 2005, sem qualquer previsão de aprovação. Aí, o citado’princípio constitucional da independência dos Poderes’ é deixado de lado. Estranho que, quando da aprovação do Projeto de Lei Complementar nº 10/2007, que fixou os subsídios dos magistrados, a tramitação foi extremamente rápida, e em menos de nove meses Judiciário, Legislativo e Executivo se mobilizaram conseguindo a aprovação do referido projeto, que aumentou os subsídios dos juízes e desembargadores em cerca de 80%. Estes assuntos nunca foram abordados pelos meios de comunicação.
Por isso, deixo meu apelo a este conceituado jornal para que prove que seus jornalistas e articulistas não’vivem desconectados do Brasil real’, demonstrando as injustiças cometidas com quem trabalha justamente com a justiça. Agradeço pela oportunidade de manifestação e convido-os a visitar o Blog dos Servidores do Tribunal de Justiça, onde encontrarão mais informações sobre os temas aqui relatados. (Gleison Luiz Zambon, escrevente técnico judiciário, Piracicaba, SP)
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O inocente não necessita asilo. Mesmo na controvérsia, asila-se o criminoso. É bíblico no Levítico, é jurisprudência no Estado-laico. O caso que nos angustia é muito complexo pela insegurança das informações e a sua complexidade.
E houve um articulista que recentemente o ironiza colocando mais lenha na fogueira. Pois, penso eu, o nosso Césare Battisti não poderia ser portador de um diagnóstico? Após ler fragmentos biográficos transcritos por Mino Carta, que suponho autênticos, há fatos anteriores às ações políticas do refugiado pelos quais pagou na justiça.
Há os que apresentam a militância política (ou o que for) matizada pela moléstia comportamental. Diz-se desses que’se entendem, mas não se determinam’. São casos imputáveis, mas com certas atenuantes, no caso visando apenas o refúgio.
Para se opinar sobre Cesare Battisti não basta uma paixão. É necessário conhecimento de causa.
Daí desconfiam alguns – talvez com razão – que o escândalo não se prende exclusivamente ao mesmo, mas à coincidência de julgamento pelo STF de uma reavaliação da anistia.
Cesare estaria menos para um Dreyfuss do que para um Malcolm X? Não é um caso simples. E um diagnóstico, se há, envolve um prognóstico. (Fernando Dias Campos Neto, médico, Rio de Janeiro, RJ)
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Acabo de ver no Fantástico, da Rede Globo, o concurso de modelos’Menina Fantástica’. Uma das candidatas, Luara, apresenta comportamento anoréxico, sendo inclusive alertada pelas colegas. Ironicamente, ela foi uma das selecionadas justamente pela’magreza’. Os jurados evidenciaram isso. E eu, inocentemente, imaginei que ela seria desclassificada pelo comportamento. Imaginem a influência que o Fantástico teve sobre as telespectadoras adolescentes, estimulando a anorexia ditada pelo mundo da moda. Segue o link com o vídeo da reportagem. (Emilio Conde, gestor de marketing e relações de consumo, Belo Horizonte, MG)
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Físico, Belo Horizonte, MG