Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A crise que não é crise

Apesar de ainda dar maior destaque a alguns números negativos que brotam do desempenho da economia nas estatísticas de dezembro e janeiro, a imprensa brasileira começa a abandonar o tom de apocalipse que marcou a cobertura da crise financeira nas últimas semanas.


Alguns analistas conservadores admitem que estamos saindo do fundo do poço. Outros, como o professor Stephen Kanitz, colunista da revista Veja, entendem que o Brasil nem chegou a entrar em crise. Consultoria citada pela Folha de S.Paulo publica um estudo de perspectivas econômicas apostando que o Produto Interno Bruto do Brasil voltará a crescer ainda neste trimestre.


Para os especialistas, de modo geral, o Brasil não chegou a entrar em recessão. Para alguns deles, os números indicam que a economia brasileira sofreu dificuldades pontuais, que não devem persistir por um trimestre inteiro.


Para ser considerado tecnicamente como recessão, o recuo na atividade econômica precisa produzir a redução do PIB por dois trimestres consecutivos.


Outra edição


Os indicadores positivos que já aparecem, referentes a janeiro, como a recuperação da indústria automobilística e a volta de investimentos, apontam para a interrupção da espiral negativa. Além disso, conforme observa a Folha em sua coluna ‘Mercado Aberto’, cresce a confiança do consumidor, o crédito foi retomado e a indústria paulista registra a volta das encomendas.


O Estado de S.Paulo publica reportagem informando que, após três meses consecutivos de queda, a produção da indústria paulista deve registrar uma elevação de 5,7% em janeiro. Embora o número positivo – assim como os indicadores negativos de dezembro – não possa induzir a conclusões sobre o estado geral da economia, esse dado entra como uma cunha na tendência pessimista do noticiário.


Além disso, um estudo da Fundação Getúlio Vargas, feito a pedido da associação das indústrias de construção civil, prevê a criação de meio milhão de empregos e o crescimento da massa salarial em apenas um ano.


Observe o leitor que todas essas informações foram apanhadas nas edições de quinta-feira (12/2) dos jornais. Se fossem editadas dessa forma, na ordem e com o destaque que foram apresentadas aqui, qual seria sua conclusão?


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O xerife e o castelo


As editorias de Política dos jornais noticiam na quinta-feira (12) a escolha do deputado Antônio Carlos Magalhães Neto, do Partido Democratas, para o cargo de corregedor da Câmara. Em meio às festas de praxe, a Folha de S.Paulo registra a pouca disposição do novo ‘xerife’ do Legislativo para investigar o uso de notas fiscais ‘frias’ por parte do deputado Edmar Moreira, o senhor do castelo, que se valia de documentos de suas próprias empresas para justificar o uso de verbas públicas.


Em meio às costumeiras promessas de rigor no controle do dinheiro público, o primeiro-secretário da Câmara, o deputado mineiro Rafael Guerra (PSDB), já avisa que, se não for provocada, a Mesa diretora da Câmara não vai mexer nas prestações de contas anteriores.


O rigor, como sempre, fica prometido para o futuro. Muito provavelmente, como o leitor pode adivinhar, o assunto vai desaparecer lentamente das páginas dos jornais até se tornar mais um registro na vasta coleção de escândalos protagonizados no Congresso Nacional.


Cheiro de pizza


Em primeira e última instância, claro, a responsabilidade pelos atos dos parlamentares e outros políticos eleitos pelo voto direto é do próprio eleitor. Não há muito o que fazer em cima de uma base parlamentar de má qualidade. No entanto, a banda saudável do Congresso pode manter sob controle os seus maus elementos, quando os órgãos de controle funcionam. E eles só se mantêm vigilantes quando a imprensa cumpre seu papel de fiscalização.


E a imprensa, bom, a imprensa é livre para publicar o que quiser, ressalvados os direitos garantidos na Constituição.


No caso do deputado Edmar Moreira, já se espalha no ar o cheiro de pizza. Seu castelo de fancaria, construído por ele há mais de quinze anos na esperança da reabertura dos cassinos, permanece como um monumento ao gosto duvidoso. Sua permanência no Congresso Nacional representa… representa o que é o Congresso Nacional.