CÚPULA
Correa e Uribe trocam acusações pela imprensa
‘Um bate-boca entre os presidentes Rafael Correa, do Equador, e Álvaro Uribe, da Colômbia, por meio da imprensa, deixou claro o clima de tensão que predominou na reunião de cúpula da União Sul-Americana de Nações (Unasul).
Enquanto transcorria conversa reservada entre os chefes de Estado presentes ao encontro, Correa valia-se da imprensa para acusar como ‘deploráveis’ constatações de Bogotá de que seu governo agiria em colaboração com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e para advertir que as relações diplomáticas bilaterais não seriam plenamente reatadas enquanto tais ‘calúnias’ fossem divulgadas.
‘Com o governo da Colômbia, pelos motivos que todos conhecem, há uma situação deplorável. Há um ponto morto, uma situação crítica. Todos desejamos que as relações bilaterais sejam reatadas o mais rápido possível. Mas com justiça’, afirmou Correa. ‘Enquanto continuarem os ataques do governo colombiano, as campanhas na mídia, as calúnias de que eu teria ordenado às Forças Armadas não perseguir as Farc, de que o Equador abriga terroristas, é muito difícil reatar as relações.’
Também à imprensa, Uribe reagiu, depois de encontrar-se reservadamente com o presidente Lula no Itamaraty. ‘A Colômbia expressou suas posições esta manhã. Para isso são importantes essas reuniões, para que se diga tudo o que precisa dizer, e não se deixe de falar nas reuniões para dizer à imprensa.’ A briga estampou o momento delicado em que a Unasul teve seu tratado constitutivo assinado. O encontro tangenciou o conflito, em março, quando a Colômbia bombardeou um acampamento das Farc no Equador.’
CHINA
Ching-Ching Ni, Los Angeles Times, Chengdu, China
Imprensa chinesa vive abertura
‘Desde o momento em que um jovem foi descoberto pelas equipes de socorro debaixo de uma montanha de concreto até o instante em que ele morreu, a repórter Zhang Qian não parou de transmitir imagens ao vivo.Zhang viu quando ele jurou que viveria para rever seus parentes. Viu quando ele gritou para os socorristas e, mais tarde, estava lá quando ele deu seu último suspiro.
Esse assédio da mídia pode ser comum em um país onde a imprensa é livre, mas na China comunista, onde o Estado controla com rigor o que as pessoas podem ver e ler, é algo inédito. ‘Nunca havíamos mostrado uma pessoa passar da vida à morte na TV chinesa’, disse Zhang Kaipei, vice-diretor do Canal 4.
Os analistas especializados em mídia afirmam que, nos últimos anos, a China vem abrandando o controle sobre a imprensa. Veículos de comunicação oficiais operam com certo grau de liberdade e estão acostumados a produzir reportagens de grande apelo.
No entanto, durante a cobertura do terremoto, muitas agências de notícias enfrentaram dificuldades para alcançar o epicentro do tremor. O governo chegou a sugerir que elas não enviassem repórteres e usassem material da TV oficial, mas depois recuou.
Especialistas dizem que não se sabe ao certo se as mudanças na liberdade de expressão durarão. ‘Se compararmos a maneira como esse desastre foi tratado com o que acontecia no passado, o que está se fazendo agora é notável’, disse David Bandurski, do China Media Project. ‘Mas isso não indica necessariamente uma mudança fundamental no controle da mídia. Espero que o governo veja os benefícios de uma imprensa livre.’
Para melhor ou para pior, os telespectadores deverão continuar recebendo os noticiários como jamais aconteceu. Muitos não esquecerão as imagens de Chen Jian, o motorista que foi resgatado, mas morreu no caminho para o hospital. ‘Seu idiota, faltava meia hora’, dizia o médico ao constatar o óbito. ‘Acorde! Acorde!’, gritava a repórter Zhang, sacudindo o corpo de Jiang já sem vida.’
INTERNET
Crescem as ameaças à liberdade na internet
‘As iniciativas de controle da internet por governos aumentam em todo o mundo. A OpenNet Initiative – uma parceria entre a Universidade de Toronto, Harvard, Cambridge e Oxford – identificou que pelo menos 24 países praticam hoje algum tipo de filtragem da rede mundial, bloqueando conteúdo considerado inadequado. Em 2002, eram somente dois.
‘A internet é uma força para a abertura da sociedade’, afirmou Karin Karlekar, editora da Freedom of the Press, pesquisa anual da Freedom House sobre liberdade de imprensa. ‘Por causa disso, vários governos estão expandindo seus métodos para controlar e monitorar a internet.’ Karin participou ontem do evento Computers, Freedom, and Privacy 2008.
O Brasil é considerado parcialmente livre, na pesquisa Freedom of the Press. Mesmo com as garantias constitucionais de liberdade de expressão e de imprensa, tem havido decisões judiciais que punem a divulgação de notícias contra políticos e pressões de grupos criminosos contra a imprensa. ‘Não há restrições à internet (no Brasil)’, diz o relatório.
‘Existem muito pouca, se houver alguma, restrição à liberdade da internet nas Américas’, disse Karlekar. ‘A exceção é Cuba.’ Apesar disso, a editora da Freedom of the Press apontou que está havendo uma pequena mudança, com alguns blogueiros cubanos que conseguiram furar o controle estatal. O acesso, no entanto, continua a ser um problema sério em Cuba. ‘Ainda é quase impossível conseguir um computador. A internet é muito restrita.’
A dificuldade de acesso pode ser uma ferramenta importante para a censura na rede. ‘A forma mais efetiva de controle de internet é impedir que as pessoas tenham acesso, como em Cuba e na Coréia do Norte’, afirmou Robert Faris, pesquisador da OpenNet Initiative. ‘O Vietnã justifica a filtragem como uma forma de proteger as crianças da pornografia. Na prática, eles bloqueiam conteúdo político e a maioria da pornografia ainda está disponível.’
A Ásia tem países onde a internet é extremamente livre, como Coréia do Sul, Japão e Taiwan, e países onde ela é extremamente controlada, como China, Coréia do Norte e Mianmar. No ano passado, Mianmar chegou a cortar toda a conexão com a internet, como uma forma de conter os protestos contra a ditadura militar.
A China tem uma política nacional de filtragem da internet, chamada Projeto Escudo Dourado. Internacionalmente, o sistema foi apelidado de Grande Firewall da China. Firewall é o nome da tecnologia que permite o bloqueio de conteúdo da internet. O alvo do sistema são conteúdos que questionem a autoridade governamental ou que incentivem o descontentamento social. ‘De 26 jornalistas presos na China, 18 estão atrás das grades por causa de atividades relacionadas à internet’, apontou Robert Dietz, coordenador do Programa para a Ásia do Comitê de Proteção aos Jornalistas.
Na maioria dos países, os provedores de acesso recebem uma lista do governo com os sites que precisam ser bloqueados. Essa estratégia não funciona muito bem, porque pode haver diferenças de acesso de um provedor para outro. ‘Existem exceções, como a Arábia Saudita e Marrocos, onde o controle é centralizado na operadora estatal de telecomunicações’, disse Faris.
O jornalista viajou a convite da Universidade de Yale’
O Estado de S. Paulo
Software permite navegação anônima
‘O Projeto Tor (www.torproject.org) criou um software que permite ao internauta navegar de maneira anônima. Dessa forma, protege o usuário do rastreamento de suas mensagens e dos sites que ele costuma visitar. Também permite que acesse conteúdo bloqueado, seja pela censura de países como a China e Cuba, ou até mesmo pelo servidor da empresa em que trabalha.
Ele está disponível em 13 idiomas, incluindo espanhol, alemão, russo e chinês simplificado. ‘Gostaríamos de ter voluntários que traduzissem o Tor para o português’, afirmou Andrew Lewman, diretor do projeto, que participou da conferência Computers, Freedom, and Privacy 2008, que terminou ontem.
O Tor é um software livre, que pode ser usado, modificado e copiado sem o pagamento de licenças. As traduções geralmente são feitas por voluntários e o projeto é financiado por doações feitas por pessoas e por instituições ligadas à defesa da liberdade de uso da internet.
O Tor surgiu como um projeto do Laboratório de Pesquisas da Marinha americana, em 2001. Cinco anos depois, se tornou uma organização sem fins lucrativos. O software precisa ser aprimorado constantemente, por causa do avanço nas técnicas de bloqueio e vigilância da internet. ‘É como uma corrida armamentista’, disse Nick Mathewson, arquiteto-chefe do Tor.
O software funciona da seguinte forma: cada mensagem passa por pelo menos três outros computadores antes de chegar ao destino. Para cada máquina, recebe uma camada de criptografia. Cada computador no caminho sabe de quem está recebendo e para quem deve mandar as informações, mas não consegue identificar os outros PCs da rota. O nome do projeto vem desse sistema de proteção da mensagem em várias camadas de criptografia. O nome Tor surgiu da sigla de The Onion Router. Em português, o roteador cebola.’
TELEVISÃO
Globo enxuga elenco
‘A Globo está enxugando o elenco de suas tramas. Depois de levar ao ar novelas com mais de cem personagens, a emissora está apostando em elencos menores, folhetins com um núcleo central mais forte, e menos núcleos auxiliares.
Uma prova disso é a troca que haverá no horário das 9. Sai a nababesca Duas Caras, com mais de 110 personagens, e entra a sequinha A Favorita, com elenco composto por cerca de 50 atores. Pouco para uma trama das 8, uma vez que antecessora de Duas Caras, Paraíso Tropical, teve em média 90 personagens.
Apesar de a emissora negar, é fato que o que motivou o ‘corte’ nos elencos foi a falta de atores. A demanda aumentou, a Globo está produzindo mais dramaturgia que antes, colocou no ar mais séries, sitcoms, e ainda enfrenta a reserva interna de estrelas para suas produções, além do assédio da Record.
As outras duas novelas da casa no ar, Ciranda de Pedra e Beleza Pura, seguem o mesmo padrão: elencos enxutos, com apenas 50 personagens. A medida também serve para descansar a imagem de algumas estrelas, que estavam emendando um trabalho no outro.’
Alline Dauroiz
Passos de break são de verdade
‘Depois de mostrar sua performance nas quadras de tênis, na novela Mulheres Apaixonadas, e truques de mágica, na minissérie Queridos Amigos, agora, o ator Dan Stulbach aparece na TV em um comercial de cartão de crédito fazendo passos avançados de street dance.
Ao Estado, Dan garantiu que as piruetas à Diego Hypólito foram mesmo dadas por ele, sem recurso de dublê. ‘Cheguei para gravar e uma equipe me preparou, fomos criando os passos juntos’, explica o ator, que confessa: ‘Mas as cenas têm, sim, alguns cortes.’’
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