Leia abaixo a seleção de segunda-feira para a seção Entre Aspas.
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O Estado de S. Paulo
Segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009
TELEVISÃO
TV dos EUA cobra mais por menos propaganda
‘Oito minutos após o início do episódio de ‘Fringe’, na terça-feira, pouco depois de um homem sufocar numa rua da cidade, o primeiro comercial do programa foi prefaciado por um lembrete de que a série retornaria em 60 segundos. De fato, após anúncios de Listerine e BlackBerry Curve, as investigações paranormais recomeçaram no canal Fox.
‘Fringe’, que estreou em setembro, foi o primeiro teste da estratégia de menos comerciais da Fox, que a rede chama de ‘Remote-Free TV’ (TV sem controle remoto, numa tradução livre). Cada episódio de ‘Fringe’, de uma hora, inclui cerca de 10 minutos de comerciais, quatro a seis minutos menos que o tradicional.
A Fox cobrou de estúdios de cinema, companhias de comunicação sem fio e varejistas um preço especial por comerciais no programa, para compensar parcialmente a perda de receita com a carga comercial mais leve. Na sexta-feira, o formato foi estendido a uma segunda série da Fox, ‘Dollhouse’.
Mas será que o formato comercial funcionou? A Fox diz que as interrupções comerciais mais curtas mantêm o espectador mais envolvido e melhoram o recall da marca para anunciantes. Os espectadores também ficam menos propensos a mudar de canal ou acionar o avanço rápido para pular os anúncios, mas não no grau que a Fox gostaria. É importante notar, porém, que a rede parece não estar recuperando todos os custos do experimento. Não está claro se a Remote-Free TV voltará na próxima temporada.
Durante décadas, os programadores mostraram apreço por menos interrupções comerciais, especialmente para programas especiais ou outros programas estilo evento. Muitos desses tiveram um único patrocinador. Os noticiários noturnos das redes já tiveram dias e semanas ocasionais com um único patrocinador, com um comercial longo na metade da meia hora de duração do programa.
O formato da Fox é diferente. Ele inclui vários anunciantes em cada hora, mas limita o número total de comerciais. Quando a Fox apresentou a estratégia a anunciantes, em maio, Peter Liguori, o presidente de entretenimento da empresa, disse que menos comerciais apresentariam menos razões para os espectadores ‘pegarem o controle remoto e mudarem de canal.’ Liguori disse que o formato poderia potencialmente ‘redefinir a experiência de ser espectador’. Alguns anunciantes elogiaram a Fox por dar o passo à frente na redução da publicidade. Outros, porém, expressaram ceticismo de que as companhias recebem benefícios suficientes em troca do preço maior que estão pagando.
A Fox cobrou extras de 40% a 50% pela publicidade vendida para ‘Fringe’, segundo executivos e compradores de mídia. A Advertising Age, em sua pesquisa anual de preços de publicidade em TV, revelou no fim do ano passado que um comercial médio de 30 segundos em ‘Fringe’ custava US$ 343 mil, fazendo dessa série a mais cara das terças-feiras nos Estados Unidos, superando até a série líder no outono, ‘House’.’
Julia Contier
Globo baixa no Timor
‘A partir deste mês, as produções da Globo Internacional serão vistas pelos telespectadores do Timor Leste. A distribuidora acaba de fechar acordo de 3 mil horas de programação diversificada com a RTTL – Radio e Televisão do Timor Leste, principal grupo do país. Até o final de 2014, os timorenses terão acesso a documentários, novelas, infantis e séries produzidos pela TV Globo no Brasil.
O pacote será inaugurado com a novela Sinhá Moça. Ainda este ano, serão exibidos os humorísticos A Diarista e A Grande Família, além de Malhação e Sítio do Pica-Pau Amarelo.
MERCADO ASIÁTICO
A Globo informa que no ano passado o seu faturamento no mercado asiático cresceu 200% em relação a 2007. A emissora já tem produções exibidas na Índia, Coreia do Sul, Macau, Cingapura, Malásia, China e Indonésia, além de manter contato com a NHK no Japão, onde já foram exibidos Cidade dos Homens e desfile de escolas de samba. Na Coreia do Sul, o grupo EPG acaba de lançar um canal com grade inteiramente abastecida pelas Organizações Globo. O contrato, com prazo de cinco anos, prevê a exibição de 10 mil horas de conteúdo.’
HISTÓRIA
Mulher que escondeu Anne Frank faz 100 anos
‘Miep Gies, que ajudou a família de Anne Frank a se esconder dos nazistas em um sótão, celebrou ontem 100 anos, em Amsterdã. Ao lado do filho e de três netos, ela voltou a rejeitar os elogios por seu passado: ‘Muitos correram riscos maiores.’ Foi Miep quem guardou os diários de Anne Frank, após a descoberta do refúgio, em 1944.’
LIVRO
Jornalista sai em defesa do liberalismo
‘O jornalista Carlos Alberto Sardenberg é conhecido como âncora do programa de rádio ‘CBN Brasil’, comentarista econômico dos programas noticiosos da CBN, do Jornal das Dez (GloboNews) e do Jornal da Globo, da TV Globo, além de colunista dos jornais O Globo e O Estado de S. Paulo. Agora, Sardenberg reforça sua atividade como escritor, com o lançamento de Neoliberal, não. Liberal, publicado pela Editora Globo.
A experiência analítica do jornalista, que tem 37 anos de profissão e já vivenciou várias crises e planos econômicos, se revela na variedade dos temas abordados no livro. E eles vão das privatizações à reforma previdenciária, da crise do sistema de bem-estar social europeu à barraca de passes de ônibus e suco de laranja de um camelô esperto. No atual cenário de crise mundial, esses assuntos ganham uma nova dimensão, já que os principais conceitos da economia internacional estão sendo revistos.
‘O título é uma provocação saudável no espírito de que, de uns tempos pra cá, o termo neoliberal virou uma acusação, uma denúncia gravíssima’, conta Sardenberg. ‘Tudo o que der errado e que representa injustiça ou desigualdade social virou coisa do neoliberalismo.’
O jornalista diz não entender por que, de repente, as pessoas começaram a falar em neoliberalismo. ‘Para mim é o liberalismo como outro qualquer, um regime baseado na liberdade, na ideia de que quanto mais liberdade se tiver, melhor funcionam as coisas.’ E o ponto principal que norteia o livro é recuperar a ideia clássica de liberalismo.
Sardenberg argumenta que todos os grandes momentos de prosperidade econômica foram períodos de prevalência do liberalismo. Mesmo nos últimos anos, um período de vigoroso crescimento econômico – até a chegada da crise que hoje abala o mundo. ‘As pessoas dizem que era uma bolha’, observa o jornalista. ‘Eu digo: não. Houve uma bolha dentro disso, mas antes da bolha e durante todo esse período tivemos automóveis, casas, fábricas e um monte de coisas que foram produzidos com base nesse forte crescimento do capitalismo.’’
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Folha de S. Paulo
Segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009
CORRUPÇÃO
Os fatos, por favor, Jarbas
‘BRASÍLIA – Até jornalistas com todas as dificuldades imagináveis às vezes conseguem demonstrar atos de corrupção na esfera pública. O que dizer da capacidade de um político duas vezes governador do Estado de Pernambuco, da elite do PMDB e hoje titular de cargo de senador da República?
Trata-se de Jarbas Vasconcelos, integrante da ala ética (sic) do mundo maravilhoso peemedebista. O político pernambucano vocaliza opiniões minoritárias na sigla. Seu azedume aumentou nos últimos tempos. ‘Boa parte do PMDB quer mesmo é corrupção’, disse ele a Otávio Cabral, em ‘Veja’.
Em Brasília e em política quase tudo se sabe. Quem dera os jornais pudessem sair por aí apontando dedos para quem se parece ou se comporta como corrupto. Faltaria papel e tinta. Para o bem ou para o mal, estamos obrigados a revelar fatos e provas quando alguma acusação é publicada. Sem esse tipo de escrúpulo, Jarbas não quis especificar qual é essa tal ‘boa parte do PMDB’ ligada à corrupção.
Inimputáveis, congressistas falam o que lhes vêm à telha. Jarbas é bem informado. Lembro-me dele há 20 anos, em 1989. Em conversas de bastidores me dizia por que Ulysses Guimarães era uma escolha difícil como candidato peemedebista a presidente. Ulysses perdeu feio, traído pelo partido. Jarbas poderia apresentar fatos.
Suponho que ele os tenha. Demonstraria como é e quem pratica corrupção dentro do PMDB. Faria bem à democracia se oferecesse ao público informações objetivas.
Sem dados concretos, sua valentia retórica vale pouco. Só serve para validar a percepção nefanda e equivocada de que ‘todos os políticos são ladrões’. Sem provar suas acusações, Jarbas também patrocina uma festa no céu para os corruptos. Dá a eles a chance de se mostrarem indignados em público enquanto festejam em privado.’
PUBLICIDADE
Restringir para proteger
‘O CONAR (Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária) está cada vez mais rigoroso com relação à fiscalização da propaganda infantil. Se em 2007 sete comerciais foram suspensos pelo órgão, em 2008 o número foi para 17.
Qual seria o regime mais adequado à proteção dos direitos das crianças? Seria razoável a imposição de limites à publicidade infantil? Isso significaria uma restrição arbitrária à liberdade de comércio? Como equilibrar os direitos das crianças com a liberdade empresarial?
O tema ganha especial destaque no Legislativo, a partir de projeto de lei que determina a proibição de qualquer comunicação mercadológica destinada a crianças, aprovado pela Comissão de Defesa do Consumidor da Câmara em 2008 e sob a apreciação da Comissão de Desenvolvimento Econômico, cujo parecer do relator defende ser a publicidade uma ‘atividade virtuosa, e não viciosa’.
De acordo com o projeto, entende-se por comunicação mercadológica: ‘Toda e qualquer atividade de comunicação comercial para a divulgação de produtos e serviços, independentemente do suporte, da mídia ou do meio utilizado’, o que abrange ‘a própria publicidade, anúncios impressos, comerciais televisivos, ‘spots’ de rádio, ‘banners’ e ‘sites’ na internet, embalagens, promoções, ‘merchandising’ e disposição dos produtos nos pontos-de-venda’.
A comunicação mercadológica dirigida às crianças é aquela que faz uso de cenários fantasiosos, cores, músicas, personagens infantis e crianças modelo protagonizando os filmes publicitários. Pesquisas comprovam o impacto da propaganda endereçada à criança: contribui para a obesidade infantil (e outros distúrbios alimentares e doenças associadas), a erotização precoce, o estresse familiar e a violência, entre outros.
Na maioria dos países desenvolvidos e com forte tradição democrática -como Suécia, Inglaterra, Alemanha-, a restrição à publicidade que se dirige às crianças não contou com a resistência das empresas. Nos EUA e na Europa, as empresas multinacionais têm concordado com essa política de ‘autolimitação’, comprometendo-se a restringir significativamente a publicidade destinada às crianças.
O mesmo não tem ocorrido no Brasil. No caso brasileiro, qualquer iniciativa de restrição e limitação suscita acirradas manifestações por parte do setor empresarial, sob o argumento de que tais propostas constituiriam atos de censura ou cerceamento da liberdade de expressão.
Não bastando a duplicidade de políticas empresariais adotadas em países desenvolvidos e em desenvolvimento, não há que confundir a publicidade e a liberdade de expressão.
A liberdade de expressão é direito consagrado no âmbito internacional e interno, enunciado em instrumentos de proteção de direitos humanos. Trata-se de um direito assegurado às pessoas físicas, abrangendo a livre manifestação do pensamento político, filosófico, religioso ou artístico. O alcance de tal direito não compreende a publicidade -atividade que utiliza meios artísticos visando essencialmente à venda de produtos.
Diferentemente de reportagens jornalísticas, veiculadas nos mais diversos meios de comunicação, a publicidade necessita adquirir um espaço na mídia para se alojar. A sua lógica é a mercantil, orientada pela equação de compra e venda de produtos.
Os parâmetros internacionais e constitucionais endossam a absoluta prevalência dos interesses da criança, seu interesse superior e a garantia de sua proteção integral, na qualidade de sujeito de direito em peculiar condição de desenvolvimento.
Nesse sentido, destacam-se a Convenção da ONU sobre os Direitos da Criança, a Constituição do Brasil de 1988 e o ECA. Ademais, organismos internacionais, como a Organização Mundial da Saúde e o Comitê Permanente de Nutrição, reconhecem que a publicidade tem um papel central no desencadeamento de problemas alimentares, como a obesidade infantil.
Como a criança encontra-se em processo de desenvolvimento biopsicológico, não tem o discernimento necessário para compreender o caráter da publicidade, o que torna seu direcionamento às crianças abusivo e, por conseguinte, ilegal.
O clamor é o mesmo: a proteção da infância merece prevalecer ante o ilimitado exercício da atividade comercial concernente à comunicação mercadológica destinada às crianças.
Na agenda brasileira, emergencial é disciplinar o exercício da atividade publicitária. Restringir a publicidade endereçada às crianças não é ato de censura e tampouco ofensa à liberdade de expressão. É imperativo ético na defesa e proteção à infância.
FLÁVIA PIOVESAN , doutora em direito constitucional e direitos humanos e professora da PUC-SP, PUC-PR e Universidade Pablo de Olavide (Sevilha, Espanha), é procuradora do Estado de São Paulo e membro do Conselho Nacional de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana. TAMARA AMOROSO GONÇALVES é advogada e mestranda em direitos humanos pela USP.’
TODA MÍDIA
A barriga
‘Fim de tarde na quarta, dia 11, e ‘em primeira mão’ o blog do Globo Online em Brasília postou que ‘Brasileira torturada na Suíça aborta gêmeos’, com fotos de ‘Álbum de família’ e as denúncias do pai da jovem, ‘Paulo Oliveira, secretário parlamentar do deputado Roberto Magalhães (DEM-PE)’. Início da noite e o ‘Jornal Nacional’ deu a manchete ‘Barbárie na Suíça: Brasileira é torturada por uma gangue e tem a gravidez de gêmeos interrompida’.
Sexta e a manchete do ‘JN’ já era ‘A polícia suíça afirma que a brasileira não estava grávida e os ferimentos podem ter sido provocados por ela mesma. As autoridades brasileiras trocam as declarações indignadas por um discurso cauteloso’.
Mas os suíços não esquecem e no fim de semana, na versão da BBC Brasil, o ‘Neue Zürcher Zeitung’ publicou que a mídia brasileira ‘passou dos limites’, ela que traz regularmente ‘notícias inventadas’. Para o ‘Tages-Anzeiger’, foi ‘lição de manipulação da mídia’, num ‘caso evidente de mulher que usa o corpo como chamariz para a mídia’.
Mídia que precisa de audiência. A cobertura do caso e de outros coincide, de acordo com a coluna ‘Outro Canal’, com a marca de 24,8 pontos do ‘JN’, ele ‘que já atingiu 52,8 pontos em 2006’.
Na quarta, Fátima Bernardes anuncia que ‘Skinheads dominaram e torturaram uma jovem brasileira na Suíça’ e ‘ela teve a gravidez de gêmeos interrompida’
‘ATRÁS DE IBOPE’
Inusitadamente, a blogosfera política foi contida no episódio da jovem.
Luis Nassif, no iG, evitou o tema e só foi postar na quinta um questionamento à cobertura ‘atrás de ibope’, com a sugestão de ‘cautela’ ao governo brasileiro.
Reinaldo Azevedo, na Veja.com, postou na quinta que ‘não basta a simples reação de repúdio’ e o governo ‘precisará fazer mais’, mas sublinhou, no enunciado, a necessidade de ‘cuidado’.
BRASILEIROS LÁ
Com ou sem o caso, ‘Brasileiros que vivem na Europa contam que preconceito é rotina’, dizia a manchete do Terra, ontem. ‘No caso mais grave encontrado, um brasileiro foi acusado por homicídio que não cometeu, durante estada na Suíça.’
Por sinal, no topo das buscas de Brasil no Google News, surgiu ontem o caso de um religioso brasileiro acusado de ‘estupro de criança’, noticiado por ‘Boston Globe’, ‘Boston Herald’ etc.
AMEAÇA EMERGENTE
A BBC destacou dias atrás que, segundo pesquisa Globe Scan, ‘a visão negativa do Brasil entre americanos, britânicos, franceses e alemães está crescendo’. Seria reação ‘ao crescimento de sua importância econômica global’. A imagem de China e outros emergentes nos ‘países ricos’ também piorou. ‘As pessoas ficam mais atentas a economias que têm impacto sobre elas.’
O VENENO AMERICANO
Na submanchete on-line de ‘Wall Street Journal’ e ‘Financial Times’, ontem, a ‘suavização’ pelo G7, o grupo dos ‘países ricos’, da crítica à política cambial da China. ‘A mudança reflete a ansiedade do Ocidente por ajuda de Pequim na resolução da crise.’
Mas a China segue no ataque e postou, via agência Xinhua, com eco por AP, Reuters e sites ocidentais, a análise ‘Protecionismo é um veneno para a solução da crise’. Foi um ataque direto à cláusula ‘Buy American’ (compre produtos americanos), que exclui os Brics das obras públicas do plano de estímulo dos EUA.
O OTIMISMO VIVE
Sob o título ‘Optimism is alive’, o colunista John Authers escreveu no ‘FT’ de anteontem que começam a aparecer ‘sinais de uma recuperação relativa’ na economia global e que ‘isso está afetando os mercados’.
Cita as vendas no comércio americano, que cresceram 1% em janeiro, sobre dezembro, e a alta nas ações chinesas, sob impacto do plano de estímulo por lá. Cita também as ações em alta no Brasil.
SEM DINHEIRO
Na manchete da Reuters Brasil, ontem à tarde, ‘Falta de financiamento para emergentes preocupa G7’. É que ‘pode aumentar o número de países à procura de dinheiro’, com o vencimento em 2009 de muitos débitos sem garantia de rolagem.
O presidente do Banco Central da França e diretor do BC Europeu afirma que ‘está faltando financiamento até para emergentes muito bem administrados’.
TRÁFICO OPOSTO
Ontem no ‘New York Times’, longo relato mostrou o consumo crescente de ecstasy por ‘adolescentes de alta classe’ em SP. A partir da operação da Polícia Federal que prendeu 55, destacou que o tráfico é ‘da Europa para o Brasil’. Já ecoou na rádio Holanda, ontem’
TELEVISÃO
TV brasileira se acomodou e piorou, diz Boni
‘Criador do chamado ‘padrão Globo de qualidade’, José Bonifácio de Oliveira, o Boni, diz que a TV aberta brasileira está perdendo audiência porque piorou nos últimos dez anos e segue um modelo de grade de programação que está ‘esgotado’. Admite, contudo, que é ‘difícil resolver’ o problema.
‘Aqui [no Brasil], os veículos se acomodaram, passaram a acreditar que é assim mesmo, que videogame e internet tiraram parte de suas audiências’, afirma. ‘Ninguém corre atrás de inovação, de qualidade, de pesquisa. Há apenas tentativas de se adivinhar o que o público quer. Falta ciência’, desabafa.
Para Boni, as pesquisas feitas pelas emissoras são convencionais e insuficientes. Precisam ser mais frequentes e melhor analisadas. ‘Pesquisa às vezes é para ser contrariada também’.
Boni diz que suas críticas são para todas as emissoras. ‘O problema é geral’, afirma.
O executivo, que deixou o comando da Globo em 1998, assiste hoje a uma televisão ‘engessada, enlatada’, que aposta nos mesmo formatos de sempre. ‘Além de ‘Big Brother Brasil’, nada de novo apareceu na televisão nos últimos anos’, alfineta. ‘A TV precisa de uma injeção de vida. Está faltando ar. Falta inconformismo’, afirma.
De acordo com Boni, as redes se acomodaram com suas posições no Ibope. ‘A Record já bateu a cabeça no teto. Chegou onde tinha que chegar e não procurou mais’, avalia.
SEGUNDO TEMPO 1
A Globo já bateu o martelo. ‘Big Brother Brasil 9’ acabará em 7 de abril, e não mais em 31 de março. Isso atrasará em uma semana o lançamento da nova programação da emissora.
SEGUNDO TEMPO 2
A área comercial da Globo festejou. Na semana passada, comunicou às agências que, com a mudança, ‘ampliam-se as possibilidades de presença comercial no programa’. Antes, todos os intervalos de ‘BBB’ estavam vendidos.
NOTÍCIA
A Band passará a ter um telejornal local das 7h30 às 8h a partir de março, com o lançamento de sua nova programação. O interminável ‘Primeiro Jornal’, nacional, hoje das 7h às 8h45, ficará restrito à faixa das 7h às 7h30.
EQUILÍBRIO
Fortaleza é hoje a capital brasileira em que as novelas da Record mais se aproximam das da Globo no Ibope. Na segunda quinzena de janeiro, apenas seis pontos separaram ‘Caminho das Índias’ de ‘Chamas da Vida’. A novela das 21h da Globo marcou média de 27 pontos. A das 22h da Record, 21.
GANGORRA
Mudança na direção de programação do SporTV, controlada pelo esporte da TV Globo. Sai Emanoel Castro e entra Raul Costa Júnior, ex-RBS.
SUCESSO
Lançada no final de janeiro em Las Vegas (EUA), ‘A Favorita’ já foi encomendada por TVs de 20 países da América Latina, segundo a Globo. Essas emissoras receberão os capítulos da novela a partir de julho.’
Nat Geo exibe a Las Vegas dos excessos
‘Os excessos de Las Vegas são tema de cinco programas do Nat Geo, a partir de hoje e até sexta, sempre às 20h. A cidade, construída no meio do deserto, tem cerca de 2 milhões de habitantes e é a segunda que mais cresce nos EUA, diz o canal, que capricha nos números e nas comparações. O primeiro programa aborda a construção e o funcionamento do monumental Venetian Casino and Resort, criado para ser o maior hotel do mundo em 2006. São mais de 4.000 suites, um cassino de 11 mil metros quadrados, 17 restaurantes etc. Há até passeios de gôndola. O fascínio dos reis da jogatina pela cidade italiana volta na sexta-feira, com um programa sobre a ‘Las Vegas asiática’, ou seja, Macao. Aqui, está o bilionário Sheldon Adelson, que resolve construir ‘o maior cassino do mundo’, claro.
Na terça, o foco do programa muda um pouco e se afunda em números para contar da onde vem, afinal, tanta energia. Uma boa parte é dedicada à represa Hoover, a 50 km de Las Vegas. Segundo o canal, a quantidade de água é tanta que seria capaz de inundar em 30 centímetros a Coreia do Norte. Na quinta, o canal exibe ‘Demolições Explosivas: Cassino’, sobre uma empresa que põe abaixo o lendário hotel New Frontier e seu cassino, numa performance acompanhada por fogos de artifício.
ESPECIAL SEMANA LAS VEGAS
Quando: hoje até sexta, às 20h
Onde: no Nat Geo
Classificação: não informada’
MÚSICA
Banda Blitz ganha sua história escrita
‘Em seu livro sobre a história do rock brasileiro (‘Dias de Luta’, 2002), o jornalista Ricardo Alexandre descreveu assim a canção que tornou a Blitz conhecida em todo o Brasil: ‘Você Não Soube Me Amar’ trazia a novidade do canto falado (…), a economia do punk (…), um riff de guitarra anos 60, uma base segura, uma letra que era puro discurso de rua. E um refrão poderosíssimo, como não se via desde, quem sabe, as maiores pepitas da jovem guarda’.
‘Estava descoberta a pólvora’, resumiu Arthur Dapieve em seu ‘BRock – O Rock Brasileiro dos Anos 80’ (1995). Como se vê, os historiadores do rock brasileiro nunca negaram que a Blitz escancarou a porta para o Barão Vermelho, Paralamas, Titãs, RPM e Legião Urbana. Mas, se esses cinco grupos já tiveram suas memórias publicadas, faltava ainda quem colocasse no papel as aventuras dos pioneiros.
Não mais. O jornalista Rodrigo Rodrigues acaba de preencher essa lacuna com ‘As Aventuras da Blitz’, uma obra de 300 páginas, 200 imagens e dezenas de entrevistas. É justo que a banda ganhe seu próprio livro: nunca levada muito a sério como grupo musical, virou mania antes do RPM -era adorada especialmente pelas crianças- e talvez tenha sido a banda que mais influenciou o comportamento naquela década, ganhando até álbum de figurinhas.
Basta lembrar as roupas extravagantes de Fernanda Abreu e Márcia Bulcão, o topete de Evandro Mesquita e as expressões ‘o.k., você venceu’ ou ‘desce dois, desce mais’, repetidas por jovens no país inteiro. Dono de um texto bem-humorado, que combina com a Blitz, Rodrigues se tornou próximo de Mesquita e companhia há alguns anos, ao filmar shows e viagens da banda, que até hoje está na ativa.
Mas essa proximidade não impediu que surpresas aparecessem. ‘Não sabia, por exemplo, que a Fernanda Abreu cantava antes da Blitz. Ela estava numa banda com o Léo Jaime chamada Nota Vermelha. Também fiquei muito surpreso que uma outra backing vocal tenha passado pela Blitz antes. É a Katia B., mulher de João Barone, o baterista dos Paralamas’, conta Rodrigues.
O fato de ser amigo de alguns integrantes não faz de ‘As Aventuras da Blitz’ uma biografia chapa-branca. ‘Fiz direitinho o dever de casa’, diz ele. ‘Por exemplo: o Lobão é o responsável pelo nome da banda. Mas o Evandro disse que a história não era bem assim. Coloquei as duas versões. Acho que o livro é isento’, afirma. ‘E o Evandro foi muito correto. Não ficou querendo ler nem ficou patrulhando os assuntos que eu abordava. As brigas importantes estão todas lá’, afirma.
Entrevistas recusadas
Na verdade, a amizade atrapalhou a apuração, já que três integrantes da formação oficial estão brigados com Evandro e se recusaram a dar entrevistas para Rodrigues. ‘O guitarrista Ricardo Barreto, sua mulher, Márcia Bulcão, e o baixista Antonio Pedro não quiseram falar. Usei declarações deles à imprensa da época.’ Para o visual do livro, Rodrigues chamou o designer Luiz Stein, o mesmo que, ao lado de Gringo Cardia, planejou e executou a programação visual da banda, a começar pelas capas dos discos. Já para a caça das imagens, Rodrigues não precisou ir muito longe. ‘Fernanda tinha seis pastas de arquivo com todo o material que reuniu na época: recortes de jornais, páginas de revistas, ingressos de shows, credenciais, crachás etc. Ela guardava tudo.’ Além de biógrafo da Blitz, Rodrigues é apresentador do programa ‘Vitrine’, da TV Cultura, e se apresenta com seu grupo The Soundtrackers uma vez por mês, no Na Mata Café. No repertório, apenas trilhas de filmes.
AS AVENTURAS DA BLITZ
Autor: Rodrigo Rodrigues
Editora: Ediouro
Quanto: R$ 54,90 (308 págs.)’
O FUTURO DO JORNAL
Será que o jornalismo tem futuro?
‘Esta semana vou falar para calouros de jornalismo. Na boa, não sei muito o que dizer.
Já dei várias palestras do tipo e -apesar da diferença de idade e de experiência- sentia que eu e os estudantes vivíamos no mesmo planeta.
Provavelmente eles seguiriam uma trajetória mais ou menos parecida com a minha e com a de tantos da minha geração. Formar-se, começar a trabalhar em algum veículo pequeno, passar para algo maior e, com o tempo, alcançar cargos e salários mais altos. Ou, então, criar seu próprio negócio: editora de revistas, livros, produtora de vídeo etc.
Mas… e agora? O que a garotada pode almejar?
Ainda estou impressionado com a reportagem de capa da revista ‘Time’ de duas semanas atrás. O texto, escrito pro Walter Isaacson, um dos principais executivos da história da revista, trata basicamente do fim dos veículos impressos.
Isaacson assume boa parte da culpa pela situação atual. Afirma que ele -junto com Louis Rossetto, o chefão da revista ‘Wired’- foi dos primeiros defensores de revistas e jornais migrarem para a internet, liberando todo o conteúdo. A ideia era ganhar dinheiro, nos sites, só com anúncios.
Mas os anúncios não vieram com tanta força. E agora é necessária outra fonte de receita: cobrar pelo conteúdo. Mas quem quer pagar? O próprio Isaacson diz que sua filha adolescente acha que cobrar por qualquer coisa na web é ‘do mal’.
O melhor jornal do mundo, o ‘The New York Times’, vive a seguinte situação. Seu site tem 20 milhões de visitantes únicos por dia. É, no mínimo, seis vezes mais leitores que a edição impressa jamais teve. Como o conteúdo está aberto na web, circulação e faturamento do jornal de papel despencaram. Só que o site não dá dinheiro.
Daqui a quatro anos, a mídia em que esses calouros querem trabalhar pode nem existir mais. Terão de criar seu próprio mundo.’
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