Nada de celebridades ou champagne. Com uma audiência majoritariamente masculina bebendo café e suco, ocorreu na semana passada o primeiro festival de cinema da Arábia Saudita. ‘Já estive em diversos festivais desde 1976, mas não há nada tão bonito e sincero quanto ser homenageado em seu próprio ambiente e sociedade’, afirma Abdullah al-Mohaisen, diretor saudita premiado no evento, que durou quatro dias.
Realizado na cidade de Damman, o festival apresentou 48 filmes relativamente curtos – variando de três a 56 minutos – entre ficção, documentários e desenho animado. Participaram 19 produções da Arábia Saudita, 18 dos países do Golfo, nove do Japão e dois da Rússia. Um dos filmes sauditas, Sonhos Inocentes, contava a história da paixão de um menino pelo cinema.
Abertura
Há alguns anos, tal cerimônia seria impensável no país muçulmano. Sauditas que queriam ver filmes só poderiam fazê-lo em casa – por canal por satélite ou DVDs piratas, com cenas cortadas – ou em clubes privados. Os cinemas do país foram fechados no início dos anos 80, em meio a um crescente conservadorismo.
O festival é o mais recente sinal de uma tendência à abertura cultural do reino, que começou em 2005 quando o rei Abdullah assumiu o poder. Desde então, houve um aumento no número de filmes sauditas e diversos jornais passaram a publicar uma página semanal reconhecendo o valor cultural do cinema. Isto irritou alguns conservadores, que enchem jornais com declarações denunciando a indústria cinematográfica por encorajar a decadência, retratar o alcoolismo e homens e mulheres juntos. Durante o festival, as poucas mulheres presentes deveriam entrar por uma porta diferente e assistir aos filmes separadas dos homens por uma parede de vidro.
O ministro da Informação saudita, Eyad Madani, compareceu ao evento, dando um ‘selo de aprovação oficial’ ao festival. ‘Há um debate sobre cinema e filmes, que deve continuar. Os filmes são uma maneira de comunicação com o resto da humanidade e o que deve ser julgado é o conteúdo, não o meio’, afirmou. Informações de Donna Abu-Nasr [Associated Press, 21/5/08].