A empresa de telecomunicações alemã Deutsche Telekom foi acusada de ter espionado ligações telefônicas de jornalistas, membros do conselho e acionistas, e pode vir a ser investigada criminalmente, noticiam Beat Balzli, Jürgen Dahlkamp, Frank Dohmen e Klaus-Peter Kerbusk [Der Spiegel, 26/5/08]. A atual administração da empresa descobriu a suspeita de espionagem por um fax enviado à sede, em Bonn, há cerca de um mês, endereçado ao chefe do departamento jurídico.
O documento de três páginas continha um tom ameaçador. Nele, o presidente de uma empresa de consultoria com sede em Berlim pedia urgência para entrar em contato com o advogado da Telekom a fim de acertar ‘o término da relação comercial, de modo a evitar indiscrições’. A mensagem trazia detalhes sobre uma suposta atividade de espionagem de jornalistas de economia da Alemanha, membros do conselho e executivos da Telekom, nos anos de 2005 e 2006. Na ocasião, a companhia – a maior do setor na Europa – avisou que demitiria 8.500 funcionários, mas o sindicato divulgou que este número chegaria a 45 mil. Os investigadores teriam sido contratados para descobrir um possível vazamento desta informação.
Escândalo sem precedentes
Segundo o fax, o monitoramento de telefonemas teria sido ordenado ‘diretamente pela administração (em cooperação com o então presidente do conselho supervisor) e pago diretamente pelo presidente do conselho’. Aparentemente, nem todas as taxas pelo serviço foram pagas e foi então que surgiu um desentendimento. A escuta teria ocorrido quando a empresa era presidida por Kai Uwe Ricke. O então presidente do conselho do grupo, Klaus Zumwinkel, deixou o cargo recentemente após se envolver em um caso de sonegação de impostos.
Não se sabe ao certo quanto da operação de espionagem é verdadeiro. De acordo com a Telekom, o problema foi encaminhado à procuradoria pública de Bonn. ‘Estamos levando esta situação muito a sério. Vamos fazer tudo dentro das nossas possibilidades para ajudar o procurador na investigação’, afirmou o atual CEO da Telekom, René Obermann.
Lothar Schröder, vice-presidente do conselho supervisor e sindicalista, afirmou acreditar que a atual administração estaria realmente interessada na rapidez da investigação. ‘Se as acusações forem confirmadas, será uma quebra sem precedentes de confiança e um escândalo inacreditável. Os responsáveis devem ser levados à justiça o mais rápido possível’, completou. Schröder pode ter sido um dos espionados.
Assim que soube da acusação, Obermann reorganizou o departamento de segurança. Além de comunicar o incidente à chancelaria e ao Ministério das Finanças em Berlim (que possui, em nome do Estado, uma participação de 32% na empresa), ele enviou o caso à promotoria pública.