De forma previsível, e em consonância com o clima de oba-oba proporcionado pela semana em que se comemoram os 200 anos do nascimento do naturalista inglês Charles Darwin, revistas, jornais e periódicos se esmeram em exaltar a revolução deflagrada pelos escritos do aniversariante. Além de tal acontecido ressaltar a parcialidade da imprensa em geral (sem mencionar as publicações científicas, estas, sim, parciais e fundamentalistas, no sentido mais religioso do termo), verifica-se o grau de desinformação e preconceito de nossos jornalistas, que expõem um povo já sem tanto acesso à cultura à mesma desinformação e preconceito. Neste artigo, temos a intenção de avaliar duas matérias em especial, uma publicada na Veja e outra na National Geographic [Ambas as revistas apresentaram em suas respectivas edições mais de um artigo tratando do darwinismo; entretanto, nossa análise se restringe a duas matérias, sendo cada qual publicada em uma das revistas: de Gabriela Carelli, ‘A Darwin o que é de Darwin…’, Veja, ed. 2099, ano 42, nº 6, 11 de fevereiro de 2009, pp.72-83, de agora em diante ‘D/V’; e de Matt Ridley, ‘Darwins modernos’, National Geographic, ano 9, nº 107, fevereiro de 2009, pp. 59-71, de agora em diante ‘D/NG’].
O que se percebe, tanto em D/V quanto em D/NG, é a reprodução de erros pontuais perpetuados pela ciência naturalista sem qualquer filtro conceitual, como se o naturalismo fosse uma verdade epistemológica inquestionável, a ponto de os grupos que se recusam em dobrar as servis em face de seus conceitos serem taxados de fundamentalistas, ignorantes e fanáticos religiosos. Para facilitar nossa revisão das matérias, iremos separar por tópicos os principais dogmas que elas apresentam e que, ao leitor desavisado, podem soar como lógicos e conclusivos. Desta forma, esperamos contribuir esclarecendo aspectos marginais da disputa entre criacionismo e evolucionismo, debate que, a estas alturas, torna-se ínvio em conseqüência das distorções tendenciosas de setores da mídia.
‘A prova da evolução’
1. O desconhecimento dos limites da seleção natural e de sua aceitação parcial pelos criacionistas: A teoria de Darwin (segundo a qual todos os seres vivos existentes surgiram a partir de organismos inferiores, derivando-se através de mutações que visavam à adaptabilidade, sendo dirigidas pelo acaso [‘Concordar com Darwin significa aceitar que a existência de todos os seres vivos é regida pelo acaso e que não há nenhum propósito elevado no caminho do homem na Terra’, D/V, p. 77. Ver também p. 78 e 80]), recebe o status de verdade inconteste nas páginas das reportagens em revista. A revolucionária comprovação chega a ser assim expressa: ‘Os biólogos se viram desmentidos em sua certeza de que as espécies são imutáveis’ [idem, p. 74]. Em D/NG, lemos este parágrafo didático: ‘[…] A grande idéia de Darwin é que a seleção natural se deve em grande parte à diversidade de características que se nota entre espécies aparentadas. Agora, no bico do tentilhão e na pele do camundongo, podemos acompanhar a seleção natural em funcionamento, moldando e modificando o DNA dos genes e o modo como se expressam, a fim de adaptar o organismo a suas circunstâncias específicas’ [D/NG, p. 59]. Quanto à formulação da seleção natural como mecanismo responsável pela adaptação de espécies a um novo meio, isto é, de fato, inquestionável e a Darwin cabem os méritos merecidos pela compreensão do tema [ver Phillip E. Johnson, ‘What is Darwinism?’, publicado originalmente em Published in the collection Man and Creation: Perspectives on Science and Theology (Bauman ed. 1993), pelo Hillsdale College Press, Hillsdale, e disponível aqui: ‘[…] Quando a teoria é entendida neste senso limitado, a evolução darwiniana é incontestável, e não tem nenhuma importante implicação filosófica ou teológica’].
O problema surge quando os evolucionistas sugerem que este mecanismo tenha se responsabilizado pelo surgimento de vida no planeta. Uma coisa é a adaptabilidade genética dos organismos vivos ao seu habitat (microevolução) e outra, bem distinta, é a transformação de uma espécie em outra, completamente diferente (macroevolução). Nenhum cientista trouxe, até agora, provas inequívocas que endossem ter havido, em qualquer época, uma macroevolução nos moldes evolucionistas [em D/V, p. 82, o famoso caso dos tentilhões de Galápagos é tratado como a ‘a prova da evolução’. Cf.: ‘Os Darwins de hoje observam em detalhes a maneira como a competição e as mudanças ambientais podem criar novas espécies.’ D/NG, p.65].
Inspiração da eugenia
2. O endosso ao livro The descent of man [A descendência do homem], o mais polêmico trabalho de Darwin: devido às menções honrosas feitas ao livro citado acima pelas matérias [D/V,p. 80 e D/NG, p. 65], volume pouco conhecido do naturalista inglês, somente se pode chegar a uma das duas conclusões: ou os articulistas não leram todo o livro que elogiam efusivamente ou ignoram suas polêmicas conseqüências. Fico com dois exemplos de raciocínio desenvolvidos em Descent of Man, para tornar patente seus absurdos.
Sobre as habilidades observadas em grandes mamíferos, como elefantes e gorilas, ele se pergunta: ‘Agora, qual é a diferença entre ambas as ações, quando praticadas por um aborígene [uncultivated man] e por um dos animais superiores?’ Ou seja, perde-se a diferença entre homens e animais. Por que se utilizar de cobaias em pesquisas médicas, se a vida deles vale tanto quanto a nossa ou a de qualquer outro ser vivo [ver David Ekkens, ‘Animais e Seres Humanos: São Eles Iguais?’, (1994) ano 6, vol. 3, pp. 5-8, disponível aqui e Katrina A. Bramstedt, (2003) Diálogo, ano 15, vol. 2, p.24-25, disponível aqui]?
Em outro capítulo, comentando sobre infanticídio, tortura, escravidão, o preconceito racial (especialmente contra o índio, na civilização do Oeste americano, Darwin argumenta que a moral tem variado em cada sociedade, uma vez que tais práticas, hoje vistas como criminosas, já foram ou ainda são praticadas em alguns contextos culturais. Darwin, então, estabelece o relativismo cultural ao concluir que tão ‘logo uma tribo reconheça um líder, a desobediência torna-se um crime, e mesmo a submissão desprezível é vista como uma virtude sagrada.’ [Charles Darwin, The descent of man, a obra se encontra disponível aqui; consultei especialmente os capítulos 3 e 4, em que homens e animais são assemelhados em áreas como desenvolvimento social, linguagem, inteligência, instintos etc. nota-se igualmente a diferenciação entre homens de culturas primitivas e homens modernos. Não à toa, o darwinismo inspirou a eugenia, abrindo as portas para a discriminação racial européia em fins do século 19 e início do século 20, sentimento que, entre outros fatores históricos, filosóficos e econômicos, culminou com o nzismo. Basta ler Darwin para entender…]
Liberdade para a pesquisa
3. uso comprobatório da genética em prol da teoria evolucionista: Ao longo de ambos os textos, se fazem afirmações sobre as contribuições da Genética para o estabelecimento e melhor compreensão da proposta evolutiva de Darwin [‘O DNA não só comprova que a evolução existe de fato como também mostra que, em nível mais fundamental, de que maneira ela configurava os seres vivos.’, ‘[…] a evolução opera não só por meio de mudanças nos genes mas pela modificação do modo pelo qual os genes são ativados e desativados.’ D/NG, pp. 58 e 70; ‘Hoje, para entender a história da evolução, sua narrativa e mecanismo, os modernos darwinistas não precisam conjeturar sobre o funcionamento da hereditariedade. Eles simplesmente consultam as estruturas genéticas. As evidências que sustentam o darwinismo são agora de grande magnitude […]’,D/NG, p. 76]. Em verdade, sabe-se hoje que os genes contém informação especificada, e não haveria vida, mesmo do organismo de menor complexidade, se esta informação não estivesse prontamente disponibilizada, ao contrário do que sugere o Darwinismo, que concebe o desenvolvimento da informação genética num processo gradual e sem propósito. Uma conhecida autora observou que ‘[…] uma estrutura de Informação específica contenta-se em requerer um amplo número de instruções. Se você precisar de seu computador para copiar o poema ‘‘Twas the Night Before Christmas,’ você precisará especificar cada letra, uma por uma. Não há atalhos. Este é o tipo de ordem que nós encontramos no DNA. Seria impossível produzir um simples conjunto de instruções ordenando uma forma química para sintetizar o DNA até mesmo de uma simples bactéria. Você teria que especificar cada ‘letra’ química, uma a uma’ [Nancy R. Pearcey , ‘DNA: The Message in the Message’, disponível aqui]. A genética favorece muito mais o conceito do Design Inteligente do que o darwinismo!
Em D/NG, se constata o desconhecimento cabal de Darwin das leis da genética: ‘Embora a genética moderna comprove os acertos de Darwin nos mais variados aspectos, ela também trouxe à luz seu maior equívoco. As concepções de Darwin a respeito dos mecanismos de transmissão das características eram confusas – e erradas. Ele acreditava que em um organismo se mesclavam as características de seus pais, e também começou a achar que se transmitiam as peculiaridades adquiridas durante a vida do indivíduo (lamarquismo)’ [D/NG, p. 71].
Muito mais poderia ser dito a respeito a respeito das reportagens citadas, ou de outras divulgadas por aquelas ou por outras publicações. No entanto, pode-se dizer que, em se tratando de mídia brasileira, o favorecimento do evolucionismo em detrimento do sério jornalismo imparcial, que ouve os dois lados da história, chega a ser enfadonho, de tão repetitivo. Vale lembrar também que a luta pela promoção do ciacionismo não se trata de uma postura retrógrada, porém de legítima liberdade para a pesquisa, tendo como ponto de partida o que se crê – o que, neste aspecto, assemelha criacionismo e darwinismo, já que este último se vale de pressupostos metafísicos na construção de sua grade epistemológica, tanto quanto o primeiro. Para os cristãos legítimos, que aceitam a veracidade das Escrituras, Darwin não pode continuar usurpando o que a Deus pertence.
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Pastor adventista; autor do blog Questão de Confiança