Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Folha de S. Paulo

IMPRENSA
Carlos Heitor Cony

Fome de sangue

‘RIO DE JANEIRO – Palestra numa faculdade de comunicação aqui no Rio. Lembrei que a imprensa no Brasil teve dois momentos fundamentais na história do país, duas causas pelas quais valia a pena lutar: a Abolição e a República. Bem mais tarde, tivemos outra causa em que a imprensa, dentro dos limites de uma censura atroz, combateu o regime totalitário de 64.

Houve causas menores, mas igualmente importantes, como a do impeachment de Collor e a campanha pelas eleições diretas. Temos hoje a cruzada pelo meio ambiente -que inclui a região amazônica- e a questão da segurança, sobretudo nas grandes cidades. São causas importantes -repito-, mas pontuais. Fazem vítimas, mas não farão história.

Como de praxe, após as preliminares, os alunos começaram a se manifestar por meio de perguntas, a grande maioria delas culpando a imprensa pela corrupção entranhada não apenas no poder mas na vida pública em geral. Foram citados não apenas os escândalos mais recentes envolvendo autoridades mas casos específicos, como o da menina que foi atirada pela janela, supostamente pelo pai e pela madrasta, que, aliás, estão presos.

Os alunos, quase sem exceção, culpavam a mídia pela má cobertura dos fatos, atribuindo aos jornais a demora na conclusão do caso. Queriam ver sangue, a mídia clamando pela vingança, assumindo poderes de polícia e de Justiça.

Ficaram decepcionados quando considerei redundante a cobertura não apenas deste mas de outros fatos. Citei dois deles que atualmente ocupam a mídia: a cassação do deputado Paulinho, da Força Sindical, e a prisão relaxada de um ex-diretor da Polícia Civil fluminense. São páginas compactas de noticiário, espetacularizando a miséria humana, mas sem o poder de punir em nome do clamor público.’

COLUNA
Folha de S. Paulo

Marina Silva começa como colunista da Folha amanhã

‘Menos de um mês após deixar o cargo de ministra do Meio Ambiente do governo Lula, a senadora Marina Silva (PT-AC) estréia amanhã como colunista da Folha.

Reconhecida como a principal voz da Amazônia, ela quer escrever sobre temas ligados ao desenvolvimento sustentável. ‘A coluna não será monotemática’, afirma.

Maria Osmarina Marina Silva de Souza Vaz de Lima, 50, nasceu na Amazônia. Alfabetizada aos 16 anos, formou-se em história, cursou especialização em teoria psicanalítica, freqüentou aulas de direito e relações internacionais e termina agora curso de psicopedagogia.

Marina deixou a região de Breu Velho (AC) em 1975 e fez curso de alfabetização de adultos e supletivo. Ajudou a fundar a CUT (Central Única dos Trabalhadores) no Acre.

A atividade parlamentar começaria em 1988, como vereadora em Rio Branco. Em 1995, chegou ao Senado. Em 2002, foi reeleita para o atual mandato de senadora, mas saiu para assumir o ministério. Deixou o posto ao se ver sem apoio de Lula para enfrentar pressões do agronegócio contra o combate ao desmatamento.’

 

COMPARAÇÕES
Janio de Freitas

Muito acima das leis

‘DENISE ABREU , a ex-diretora da Anac que acusa a ministra Dilma Rousseff de ingerência descabida na venda da Varig, não é pessoa indicada para fazer acusações e denúncias. Seu repentino aparecimento, depois de meses inalcançável até pela Justiça, sugere que adota agora mais um subterfúgio de defesa do que disposição de revelações, retardatárias embora. Apesar disso, ao menos dois motivos tornam necessária e, sobretudo, oportuna a retomada do assunto Varig para investigações.

Desde que caracterizado o problema Varig até agora, esse percurso esteve e continua envolto em nebulosidades encobridoras de interesses, lutas e manobras ampliadas no governo Fernando Henrique e agravadas no de Lula. Procedentes, inclusive, de pretensões do regionalismo paulista. A parte visível da venda da empresa foi devida ao juiz Luiz Roberto Ayoub, que desatou complicados nós para dar viabilidade judicial à transferência de controle, fosse qual fosse. Já a nebulosidade, tão maior, conviria esgarçá-la para dar idéia de como cresce, e age, a promiscuidade entre administração pública e negócios privados.

O outro motivo, o da oportunidade para investigações, é a identificação do caso Varig com outro exemplo da promiscuidade, muito mais grave e, no entanto, em transcurso sem incômodo nestes dias. É a armação de compra da Brasil Telecom pela Oi/ Telemar, por intermédio de violências administrativas do governo Lula contra lei em vigor -para não falar da imensa imoralidade implícita na junção de ilegalidade e favorecimento. É improvável que se encontre, na histórica improbidade administrativa brasileira, articulação mais cínica entre governo como instrumento e negócios privados.

Os dois casos expõem a prepotência com que o governo a tudo atropela, sob a indiferença generalizada dos que poderiam reagir em defesa da sociedade. Já é mesmo um modo de ser, tanto do governo como dos demais. A Denise Abreu agora com pose de acusadora levou seus métodos atrabiliários, na Agência Nacional de Aviação Civil, até à interferência no Judiciário, com documento dado como fraudulento, para impor sua vontade temerária depois do acidente em Congonhas. Na CPI que se seguiu, Denise Abreu provocou reações enérgicas, com as tantas horas consumidas para ludibriar as indagações sobre seus atos, inclusive de brutalidades contra parentes de vítimas do desastre. Sem conseqüência.

Será surpreendente saber que Dilma Rousseff, capaz de reconhecidas atitudes autoritárias quase como norma, cometeu também alguma imposição ilegal ou antiética sob a nebulosidade do caso Varig. Mas o não esperado é insuficiente para dispensar as investigações de que Dilma Rousseff deve ser, no máximo, um pretexto ou uma parte. À volta há muito mais.

Antes de Dilma ministra, já o dispositivo da Presidência estava comprometido com circunstâncias, muitas vezes por omissão intencional, favoráveis a pretendidos finais do tormento da Varig. Daquele para o caso atual, o das telefônicas, o que houve foi uma evolução natural, proporcionada pela indiferença circundante: não é mais necessária a nebulosidade protetora, tudo pode ser às claras.

Apesar da proibição legal de compra de uma das telefônicas por outra, a Oi/Telemar decide comprar a Brasil Telecom, para ficar, na prática, com o monopólio da telefonia fixa e outros balangandãs de alto lucro. E a lei proibitiva? Fácil: a própria Presidência da República entra na jogada com o favorecimento da mudança da lei por ordem ou ato de Lula. O ministro das Comunicações era contra o negócio, deixa de sê-lo. Dinheiro? Lula quer o BNDES, por meio do Banespar, dando o suporte para a compra. Feita por cerca de R$ 5,5 bilhões. Mas como um dos sócios compradores é sócio também de um Lula-filho, o envolvimento direto do Lula-pai pode dar em bode público. O presidente da Anatel, a agência agora desreguladora da telefonia, Ronaldo Sardenberg, se incumbe de entrar na transa com uma cobertura para Lula-pai: um pedido de mudança da lei.

Lula tem uma explicação para o novo produto da promiscuidade: ‘O Brasil precisa de uma grande empresa para entrar na telefonia em outros países do mundo’. Essa não é para o Brasil, nem remotamente, uma necessidade ou uma vantagem. E, se verdadeira, bastaria uma providência simples, comum, legal e decente: as duas, ou mais empresas, associarem-se para operações no exterior.’

VENEZUELA
Folha de S. Paulo

Chávez recua e anula Lei de Inteligência

‘O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, anunciou ontem a anulação provisória da controversa Lei da Inteligência e Contra Inteligência, promulgada em maio, afirmando que há nela erros que serão corrigidos. ‘Não vou defender o indefensável’, disse.

A nova norma havia sido criada por decreto com base nos poderes especiais conferidos pelo Congresso a Chávez em 2007. O presidente admitiu que, como está, a lei torna obrigatória a delação porque considera venezuelanos e comunidades organizadas ‘órgãos de apoio’ obrigatório dos serviços de inteligência e contrainteligência.’

 

VIDEOGAME
Seth Schiesel, New York Times

Inventor do Wii se considera um artesão

‘É correto comparar Shigeru Miyamoto a Walt Disney. Apesar de ter se tornado o mais famoso criador de videogames no mundo -’pai’ de Donkey Kong, Mario, Zelda e, mais recentemente, do Wii-, Miyamoto ainda aborda seu trabalho com a atitude de um humilde artesão, não como a celebridade que é para jogadores de games em todo o mundo.

Miyamoto, que tem 55 anos, irradiava o contentamento de alguém que sempre quis criar diversão. E o fez. Como mestre criativo da Nintendo por quase três décadas, ele lançou entretenimento de massas dotado de amplitude global, durabilidade cultural e sucesso financeiro não vistos desde a fabulosa carreira de Disney. ‘Se as pessoas vêem a marca Nintendo como estando no mesmo nível que a Disney, isso é muito elogioso e me deixa feliz’, afirmou.

O bigodudo encanador italiano Mario, que ele criou há quase 30 anos, talvez já seja o personagem mais reconhecido do planeta, rivalizando apenas com o ratinho Mickey. Como criador das séries Donkey Kong, Mario e Zelda (que já somam mais de 350 milhões de cópias vendidas), Miyamoto é a pessoa que dá a palavra final sobre todos os jogos da Nintendo.

Ele pode ser pessoalmente responsável pelo consumo de mais bilhões de horas de tempo humano que qualquer outra pessoa. Na recente pesquisa on-line Time 100, Miyamoto foi apontado como a pessoa mais influente do mundo.

Mas não são apenas os ‘gamers’ tradicionais que vêm aderindo à criação mais recente de Miyamoto, o Wii. Há 18 meses, num momento em que os videogames corriam o risco de desaparecer no mundo de nicho dos fanáticos, Miyamoto e o executivo-chefe da Nintendo, Satoru Iwata, praticamente reinventaram a indústria.

A idéia deles era revolucionária em sua simplicidade: em vez de criar uma nova geração de games que agradasse aos jogadores inveterados, eles desenvolveram o Wii como diversão barata e fácil de usar às famílias. Já foram vendidas mais de 25 milhões de unidades do Wii, deixando no chinelo a concorrência da Sony e da Microsoft.

Na semana passada, a Nintendo lançou na América do Norte seu novo sistema ‘Wii Fit’, um artefato que visa tornar a prática da ioga diante de uma tela de TV quase tão divertida quanto dirigir, saltar ou atirar num game tradicional.

Embora ainda não houvesse cifras exatas das vendas, lojas em todo os Estados Unidos já tinham esgotado seus estoques de ‘Wii Fit’.

Numa cultura midiática global dominada por rostos, gostos e marcas americanos, os videogames são o mais bem-sucedido produto cultural de exportação do Japão. E, com base no Wii e no sistema de games DS, que se seguram na mão, a Nintendo tornou-se uma das maiores empresas do Japão. Com valor líquido de cerca de US$ 8 bilhões, o ex-chairman da Nintendo, Hiroshi Yamauchi, é hoje o homem mais rico do Japão, segundo a revista ‘Forbes’.

‘Sem Miyamoto, a Nintendo ainda estaria produzindo baralhos’, disse Andy McNamara, editor-chefe da ‘Game Informer’, a revista número um sobre videogames, fazendo referência ao produto original da empresa, em 1889.

‘É ele quem provavelmente inspira 99% dos criadores de games que existem aí fora hoje. Pode-se dizer que não haveria videogames hoje se não fosse por Miyamoto e a Nintendo.

Ele é o vovô de todos os criadores de games, mas o engraçado é que, apesar de todos os personagens ícones que já desenhou e criou, apesar de todo o seu legado, ele ainda está inovando com coisas como ‘Wii Fit’.’

Trajetória

Miyamoto formou-se na Faculdade de Artes Kanazawa em 1975 e entrou para a Nintendo dois anos mais tarde, como desenhista. O ‘Donkey Kong’ original foi um dos grandes motores da popularidade dos videogames, ao lado de clássicos dos fliperamas como ‘Space Invaders’, ‘Asteroids’ e ‘Pac-Man’.

Miyamoto ascendeu rapidamente na empresa, e seu nome é sinônimo da Nintendo desde os anos 1980, quando os games originais ‘Mario Bros.’ ajudaram a salvar a indústria após a queda da Atari, fabricante do primeiro console residencial de ampla popularidade. Quando a Atari faliu, em meio a uma série de games que não ganharam adesão popular, a Nintendo reacendeu a fé do público nos sistemas de ‘home gaming’.

Lançado no Ocidente em 1985, o Nintendo Entertainment System tornou-se o console mais vendido de sua época.

Desde então, Miyamoto está diretamente envolvido na produção de pelo menos 70 jogos, incluindo sucessos recentes como ‘Mario Kart Wii’, ‘Super Smash Bros. Brawl’, ‘Super Mario Galaxy’ e ‘The Legend of Zelda: Twilight Princess’.

Miyamoto supervisiona o trabalho de cerca de 400 pessoas, quase todas no Japão. Os populares lançamentos novos em franquias clássicas garantem a conservação de sua credibilidade entre os ‘gamers’ inveterados, e, ao mesmo tempo, ele vem alcançando públicos novos com produtos para o mercado de massas, como o Wii.

Tradução de CLARA ALLAIN’

 

Julio Wiziack

Setor de games já movimenta cerca de US$ 350 mi no país

‘Videogame não é negócio de criança. A brincadeira, que pode acontecer tanto na televisão quanto na tela de um computador ou celular, já faz girar uma indústria que movimenta no país anualmente US$ 250 milhões, sem contar os US$ 100 milhões estimados em vendas pelo mercado paralelo, aquele que traz ao Brasil produtos importados sem pagar impostos.

Os números incluem as receitas da venda de consoles e de seus jogos, games para computador, celulares e internet. Eles foram calculados pela Abragames, associação que representa o setor, e por seis empresas que publicam jogos em rede (massivos) na internet e que se juntaram para formar a primeira associação do gênero.

‘Game é o negócio de entretenimento on-line mais rentável que existe’, afirma Maurílio Shintaki, diretor-executivo da Kaizen Games, que publica os jogos Priston Tale e Audition, e faz parte da nova associação.

Embora o Brasil tenha uma base instalada de consoles (como XBox, Wii, Playstation, entre outros) estimada em 11 milhões de aparelhos, é o mercado de computadores que turbina os games no país. No ano passado, foram vendidos quase 10 milhões de unidades. Como elas já saem das lojas configuradas para acessar a internet, criou-se um cenário propício aos jogadores on-line.

Além disso, a pirataria de jogos para consoles e computadores fragiliza os fabricantes, que, também por isso, recusam-se a lançar sucessos de venda no exterior no Brasil. ‘A rentabilidade desse negócio está no jogo, não no console ou no PC’, diz Milton Becki, diretor de jogos e entretenimento eletrônico da Microsoft.

Não por acaso, o faturamento das empresas de jogos pela internet triplicou nos últimos anos, passando de US$ 50 milhões para US$ 150 milhões, em 2007, o que representa mais da metade da receita do setor.

Esse montante não inclui o mercado paralelo mantido pelos jogadores que, no mundo real, vendem itens e moedas virtuais -peças-chave na economia interna dos jogos massivos, responsáveis pela maior parte do faturamento das empresas de games pela internet.

Na Level Up!, os 4 milhões de jogadores cadastrados pagam, em média, R$ 17 por mês. A empresa tem 13 jogos disponíveis e deverá lançar mais três até o final do ano.

A OnGame, uma das pioneiras no ramo, mantém um cadastro com 3,5 milhões de jogadores cujos gastos mensais médios são de R$ 20. ‘Os que passam mais de oito horas por dia jogando gastam muito mais com o comércio de itens’, diz Byong Hwan Kang, diretor de marketing. ‘Muitos passam dos R$ 1.000 mensais.’

A venda de itens do jogo, como armas, veículos e atributos para o personagem, revelou-se um negócio tão lucrativo que as empresas estão abrindo mão da cobrança da mensalidade para sobreviver apenas desse comércio. É o caso da GameMaxx, que publica o jogo Cabal. ‘Outra fonte de receita serão os espaços publicitários que vamos abrir nos jogos’, diz Gilberto Akisino, diretor-geral da GameMaxx, uma das integrantes da nova associação.

Os games pela internet também estão impactando a venda de computadores com mais capacidade de processamento de imagens e de recursos gráficos. ‘Antes só uma empresa me consultava por ano’, afirma José Pedro Rannalli, diretor da NVidia, uma das líderes na fabricação de processadores de imagem, principal componente desses ‘computadores para gamers’. ‘Agora há pelo menos seis interessadas.’

Com seu Game PC, a Positivo já disputa mercado com Preview, Evoluti, Megaware, Semp Toshiba e Dell. Elas concorrem em um mercado que já conta com 10 milhões de jogadores on-line, número que dobrou nos últimos dois anos e que deverá crescer 30% ao ano, segundo as companhias. O índice dependerá da expansão da internet e da banda larga no país.’

 

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Craque em jogo fatura R$ 30 mil em dois anos com venda da pontuação

‘Fallen tem 19 anos, faz Ciência da Computação em uma faculdade do interior paulista e, desde que começou a estudar, há cerca de três anos, paga as mensalidades com o dinheiro da venda de pontuação, armas e outras ferramentas que movimentam os jogos disputados em rede pela internet.

Seu ‘sócio’, como ele chama o amigo Pantcho, 18, acabou de comprar um carro zero. O dinheiro, cerca de R$ 30 mil, foi acumulado nos últimos dois anos com a venda de parte de sua pontuação no Ragnarök, jogo publicado pela Level Up!

Fallen e Pantcho são codinomes usados por dois adolescentes no jogo e as ‘proezas’ realizadas no mundo real a partir do virtual talvez expliquem aos seus pais por que eles não desgrudam do computador.

Embora não morem na mesma cidade, os dois jovens se revezam nas longas jornadas de ‘trabalho’ diante do computador. Em média, cada um gasta dez horas diárias, lutando contra gangues ou cumprindo metas para acumular pontos. Cada ponto se converte em moeda virtual, que, no Ragnarök, se chama Zeny e permite fazer compras, adquirindo, por exemplo, uma arma poderosa.

Para negociar, os jogadores vão a locais de comércio no jogo e trocam mensagens. Essa é a forma oficial. A forma ilegal é justamente o comércio de armas, veículos e até a venda do próprio personagem, no mundo real. Um exemplo: um cinto mevingard (que confere poderes adicionais ao personagem) chega a valer R$ 12 mil.

Apesar de exibir bom desempenho, o comércio paralelo já foi melhor. Quanto mais jogadores on-line, mais cai a cotação da moeda virtual. Em 2004, um milhão de Zenys valiam R$ 20. Esse valor caiu para R$ 12 no ano seguinte, e, no ano passado, já era R$ 4. Em 2008, vale R$ 2. Nesse mesmo período, o jogo saiu do zero para 4 milhões de cadastrados.’

TELEVISÃO
Daniel Castro

Luciana Gimenez elogia ação do Exército ao prender gay

‘A apresentadora Luciana Gimenez se viu na última terça envolvida num dos principais acontecimentos da semana: a prisão, pelo Exército, do sargento Laci de Araújo.

Araújo e seu companheiro, o também militar Fernando Figueiredo, assumiram em entrevista à revista ‘Época’ que mantêm uma relação amorosa desde 1997. Eles estavam no ‘Superpop’, ao vivo, contando suas histórias, quando o Exército cercou a Rede TV!, em Barueri (Grande SP), para prender Araújo por deserção.

Luciana falou à Folha sobre o que viu e pensou da ação do Exército.

FOLHA – Como foi estar no centro de um acontecimento importante?

LUCIANA GIMENEZ – Quando o Exército chegou à Rede TV!, eu fiquei um pouco tensa. Senti que o rapaz [Araújo] estava bastante nervoso, ele falou que ia se matar. Sabia que não podia acobertá-lo, mas também não podia permitir que ele fosse preso com violência.

FOLHA – O que você pensou quando te falaram que o Exército cercara a emissora?

LUCIANA – Pensei que o diretor do programa estava brincando. Eu achei que ele [Araújo] tinha conhecimento do motivo e lhe falei que o Exército estava lá. Ele começou a chorar, disse que não ia se render.

FOLHA – Foi o programa mais tenso da história do ‘Superpop’?

LUCIANA – Foi um dos mais tensos. Mas o legal é que o Exército e a Rede TV! agiram com calma. A sensação era a de que todos queriam o melhor.

FOLHA – Você teve medo de que o Exército invadisse seu palco?

LUCIANA – Por alguns momentos, sim. Mas eles [do Exército] se mostraram muito calmos, cautelosos. Gostei de ver. Foi um trabalho bem profissional.

FOLHA – Você não achou a prisão injusta? Foi por homofobia?

LUCIANA – Eu não diria que foi uma prisão por homofobia. Ele [Araújo] estava infringindo uma regra, não pode sair do Exército assim, e sabia disso. Regras têm de ser cumpridas. Não vi nenhum maltrato. Não acho que seja esse [homofobia] o motivo [da prisão]. Preconceito é muito feio, mas precisa ser combatido com educação.

FOLHA – O programa foi encurtado por causa da ação do Exército?

LUCIANA – Não, mas deixou de ser esticado, o que é bonito. A gente não quis fazer sensacionalismo em cima dos rapazes. A gente começou a subir no Ibope e, claro, poderia ter continuado no ar, mas fomos tomados por um sentimento humano: vamos ajudar esse rapaz e o Exército também.

PERGUNTA INDISCRETA

FOLHA – Você conhece SP?

JOÃO EMANUEL CARNEIRO (autor de ‘A Favorita’, que confunde lugares da cidade) – Sim, já morei aí. ‘A Favorita’ é uma fábula, o que me permite fazer personagens transitarem entre Triunfo e SP em instantes e da zona norte ao Morumbi em menos tempo ainda.

O ENIGMA DE CAPITU

Maria Fernanda Cândido, 34, e Letícia Persiles, 25, viverão Capitu em ‘Capitu’, microssérie baseada em ‘Dom Casmurro’, de Machado de Assis, que a Globo começa a gravar amanhã para exibir no segundo semestre. Luiz Fernando Carvalho, o exigente diretor do programa, conta que a estreante Letícia, a Capitu jovem, foi escolhida durante um show de sua banda de rock. ‘Capitu, tão repleta de mistérios e enigmas, soava-me desde sempre como uma anunciação’, diz ele. Maria Fernanda, a Capitu adulta, foi escalada por trazer ‘o espírito de uma esfinge’ e pelos ‘olhos de ressaca, assim como os de Letícia’. ‘Capitu’ é uma história contada através dos olhos.’

GRAXA É PODER

Craque do marketing (principalmente do próprio), o vice-presidente comercial da Record, Walter Zagari, acaba de incorporar mais um lance ao seu repertório. Uma caixa de engraxate ornamenta sua sala, em um edifício próximo à avenida Paulista. ‘Quando recebo uma visita que não está com os sapatos brilhando, eu engraxo para ele. Já engraxei os sapatos de três clientes’, conta rindo. Zagari foi engraxate dos 10 aos 12 anos.’

Audrey Furlaneto

‘A alma do programa não é o apresentador’

‘Lillian Witte Fibe não assiste à televisão aberta há alguns anos. Acostumou-se à TV fechada e pode listar, sem tomar fôlego, seus canais favoritos: ‘Deutsche Welle [Alemanha], canal 30 [França], CNN [EUA], BBC [Inglaterra]…’.

Por isso, quando aceitou o convite de Paulo Markun, diretor-presidente da Fundação Padre Anchieta, para apresentar o ‘Roda Viva’, da TV Cultura, teve de correr atrás de DVDs do programa para se preparar para a estréia, amanhã, às 22h40, quando entrevistará o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc.

A missão de assumir aquela bancada, diz, não é das mais complicadas: ‘A alma do programa é o entrevistado, não o apresentador’. Mesmo assim, é quase impossível não vincular a ‘alma’ do ‘Roda Viva’ a seu apresentador mais conhecido, Markun, que esteve à frente das entrevistas de 1998 até o início deste ano, quando deixou o cargo para se dedicar à presidência da fundação e passou a função a Carlos Eduardo Lins da Silva, hoje ombudsman da Folha.

Aos 54, Lillian estava fora da TV desde 2005, ano em que trabalhou na Rede 21 (atual Play TV). Depois, ancorou o UOL News, até 2006. Na Globo, que deixou há oito anos, foi a primeira mulher a assumir diariamente a bancada do ‘Jornal Nacional’ -antes dela, Valéria Monteiro havia apresentado alguns programas aos sábados. Na Cultura, será a segunda a passar pelo ‘Roda Viva’, que teve Roseli Tardelli como apresentadora por quatro meses. Fará também sua estréia numa emissora pública.

Jornalista especializada em economia, Witte Fibe diz que não se voltará apenas para sua área na escolha dos entrevistados. ‘Quanto mais quente for o assunto, mais nos interessa, embora o programa tenha a tradição de fazer muita entrevista na área de cultura.’ E completa: ‘Mas eu quero saber como o governo do PT está tratando a TV Cultura [financiada pelo governo de SP, do PSDB].

Acredito que não teremos problemas, afinal, o programa é exibido em todo o país, é muito influente em Brasília’.

O ‘Roda Viva’ negocia entrevista com Dilma Rousseff (Casa Civil) e fechou com Henrique Meirelles, presidente do Banco Central, para o dia 16.

RODA VIVA

Quando: amanhã, às 22h40

Onde: na TV Cultura’

 

Sérgio Rizzo

Tédio, sexo e discussões sustentam série

‘Cenas de sexo mais apimentadas do que as habitualmente exibidas em canais para a família, um tédio pequeno-burguês associado à imagem que o cinema e a TV propagam dos subúrbios de classe média dos EUA e doses generosas de ‘DR’ (discussão da relação) sustentam ‘Diz que me Ama’, que estréia hoje à noite na HBO.

No episódio-piloto, são apresentados os dramas de três casais em diferentes estágios de relacionamento, nenhum deles em velocidade de cruzeiro. Katie (Ally Walter) e Dave (Tim DeKay), os mais velhos, têm dois filhos e uma rotina que parece estável e satisfatória, exceto pelo fato de que não acontece na cama há algum tempo.

Katie e Dave dizem que se amam, mas há algo de estranho nesse paraíso. Para complicar, a filha menstrua aos 10 anos. Essa espécie de problema, envolvendo os desafios da paternidade, é justamente o que busca, quase desesperadamente, o segundo casal, Carolyn (Sonya Walger) e Palek (Adam Scott).

Eles não têm filhos, apesar de um ano de tentativas para que ela engravide. Os dois dizem também que se amam, mas o pragmatismo e a urgência com que buscam ser pais detonam outros sentimentos. Katie (sem Dave), Carolyn e Palek vão bater à porta de uma terapeuta de casais, May (Jane Alexander, de ‘Todos os Homens do Presidente’ e ‘Kramer vs. Kramer’).

É provável que, no desenvolvimento da série, May e seu espaço institucional para ‘DRs’ recebam também o terceiro par, formado pelos jovens noivos Jamie (Michelle Borth) e Hugo (Luke Kirby). Aqui, o casamento ameaça ruir antes mesmo de começar, por causa de um comentário tolo feito por ele em uma roda de amigos.

Jamie e Hugo também dizem que se amam, como os outros, e transam por prazer, diferentemente dos outros, mas ‘não é esse o ponto’, segundo Jamie em uma das diversas ‘DRs’ da série criada por Cynthia Mort (que foi produtora de ‘Will & Grace’ e co-escreveu o roteiro do constrangedor ‘Valente’).

Ao menos no episódio de estréia, dirigido pela cineasta canadense Patricia Rozema (‘Quando a Noite Cai’), o tal ‘ponto’ se deixa identificar a partir do que expressa o título: as mulheres da série entendem que certas palavras são importantes, e seus homens até estão dispostos a dizê-las.

Isso não adianta muito, porém, porque elas querem que o verbo traduza sentimentos sinceros e compromissos duradouros, e aí a coisa complica na mente masculina. Para que esse ponto de partida engrene, será preciso que os diálogos escapem dos chavões novelescos sobre relacionamentos e que os atores encontrem algum carisma para os personagens.

DIZ QUE ME AMA

Quando: estréia hoje, às 22h

Onde: na HBO

Avaliação: regular’

 

Bia Abramo

Amor materno deve sustentar ‘A Favorita’

‘ENTRA NOVELA , sai novela, o noticiário não muda: a audiência das novelas da Globo não é mais a mesma. Não importa o horário, não importa o autor, não importam a trama ou o elenco. Simplesmente, não há mais tanta gente interessada em novela, em geral, e no tipo de novela que a Globo vem fazendo há anos, em particular. Pelo menos, não desde o começo.

Não será diferente em ‘A Favorita’. Os índices, em torno dos 35 pontos nos primeiros três capítulos, são a meta, o sonho de qualquer emissora, menos da Globo, que ainda almeja uma audiência ‘universal’. Assim, as novelas já estréiam em ‘crise’.

‘A Favorita’ pode -e deve- subir para a casa do 40 pontos. Certamente, terá alguns picos para além disso se usar os esteróides de sempre -já circulam notas nos sites de TV sobre uma possível nudez da atriz Juliana Paes -, mas a novela, qualquer uma, perdeu a capacidade de exercer aquela força centrípeta em relação à atenção da maioria do público telespectador. Há muitos públicos hoje em dia, e alguns rejeitam a novela.

‘A Favorita’ deve ir bem do ponto de vista dramatúrgico, pelo menos no núcleo central da trama, que trata da rivalidade entre duas mulheres que disputam uma filha. O tema, o amor materno, tem raízes profundas no imaginário, sobretudo no das mulheres, e é facilmente capaz de suscitar aquela adesão apaixonada de que tanto necessitam as novelas para atravessar meses no ar.

A heroína o é, de fato: a personagem de Patrícia Pillar passou uma tremenda provação -18 anos na cadeia injustamente, a perda da filha- e é do motor da injustiça que vai tirar forças para combater o mal. É um esquema clássico, mas que provavelmente vai funcionar ajudado pela seriedade e pela contenção do sofrimento demonstrado pela atriz nos primeiros capítulos. A antagonista tem culpa no cartório, mas foi uma boa mãe -coisa que pode, ao menos em parte, redimi-la, aliada à simpatia natural de Claudia Raia.

Uma trama semelhante movimentou a novela ‘Dancin’ Days’, há 30 anos. Ainda não dá para saber se, como na novela de Gilberto Braga, a heroína vai armar uma volta por cima e se vingar de todos.

O que já dá para perceber é que, entre 2008 e 1978, a Globo perdeu a mão na tentativa de representar o país. Se a trajetória hedonista de Júlia Mattos galvanizava as aspirações de liberdades do Brasil pré-abertura, em ‘A Favorita’ as questões políticas estão engessadas na caricatura -o sindicalista parece saído dos anos 50, as falas da moça rica e de ‘esquerda’, de uma cartilha do CPC etc. -que, por ora, não saem de um didatismo empobrecedor e chato.’

CULTURA
Lucas Neves

Seminário em SP debate investimento em cultura

‘As perspectivas para o investimento em música, artes plásticas e cênicas são o foco de um seminário que acontece de amanhã a sexta-feira, na Estação Pinacoteca, em São Paulo. O levantamento do Datafolha sobre o mercado cultural paulistano (tema das reportagens da capa e da página 4 desta Ilustrada) será esmiuçado durante os debates.

‘Infelizmente, circula pouca informação nesta área. Não há séries históricas de dados que permitam fazer uma avaliação do que acontece no mercado -a não ser no cinema’, diz o consultor João Leiva, que organiza o evento e participa de dois painéis (veja programação completa no quadro ao lado).

Segundo ele, estarão representados ‘projetos pequenos, médios e grandes, gente que investe com recurso próprio e via lei de incentivo, gente a favor e contra a Lei Rouanet’. A lista de convidados inclui atores, produtores, curadores, secretários de Cultura e nomes de estatais e da iniciativa privada.

Apesar de reconhecer as particularidades de cada setor cultural, Leiva defende que ‘é comum a todas as áreas o desafio de determinar o melhor equilíbrio entre participação pública e privada, a combinação ideal de investimento’.

Para ele, ‘em todos os mecanismos de incentivo à cultura e investimentos feitos pelo Estado, é fundamental que haja transparência, que os dados sejam tornados públicos. A partir daí, conseguiremos avaliar se as distorções são pontuais’.

Ele se refere a casos como o da permissão do Ministério da Cultura para que os responsáveis pela primeira turnê brasileira do Cirque du Soleil captassem R$ 9,4 milhões em patrocínio, via Lei Rouanet, em 2006.

Leiva acredita que, ‘porque as outras áreas não são tão articuladas, o debate atual em torno da Rouanet acabou sendo monopolizado pelo teatro’:

‘Você pode fazer a conta que quiser: ninguém vai conseguir provar que piorou a situação no teatro [por conta de distorções no uso da lei]. Precisamos tornar as análises mais sofisticadas. Tem problema no teatro? Tem. Sou totalmente contra o incentivo astronômico seguido de ingresso caro. Mas isso é a regra ou a exceção?’

A entrada no seminário custa entre R$ 50 (um dia) e R$ 125 (cinco dias). É preciso fazer inscrição no site www.pinacoteca.org.br. A Estação Pinacoteca fica no largo General Osório, nº 66, no bairro da Luz.’

 

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Folha de S. Paulo – 1

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O Estado de S. Paulo – 1

O Estado de S. Paulo – 2

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