BLOGOSFERA
Flávia Marreiro
Blogs são a nova fronteira da batalha ideológica em Cuba
‘São só cerca de 260 mil computadores conectados à internet para 11 milhões de cubanos -um dos mais baixos índices de conectividade do mundo-, mas a modesta vida virtual da ilha virou um movimentado ‘campo de batalha ideológico’, nas palavras do próprio governo, com ataques e estratégias para bloquear ou mimetizar blogs adversários.
A mais ilustre das páginas pessoais alimentadas em Cuba, o ‘Generación Y’, da filóloga Yoani Sánchez, com 9 milhões de hits em maio e incensada na imprensa mundial, ganhou um aguerrido opositor, o Blog do Yohandry, que defende o governo e ataca a ‘outra Y’.
Nas ruas de Havana, raros são os que sabem da guerra travada na elite tecnológica, que se espalha por comentários nos blogs animados por cubanos no país e no exílio e alcança outros sites. O portal desdecuba.com, que abriga o ‘Generación Y’, tem um antípoda ideológico, desde-cuba.com.
Ironia e rigor
O governo manifestou-se sobre o fenômeno. ‘Internet, sem dúvida, é um campo de batalha ideológico. Converteu-se também numa nova plataforma para agredir a revolução’, disse o vice-ministro de Comunicação, Boris Moreno, em maio, quando queixou-se de que os blogs ‘a favor da revolução não têm a mesma visibilidade internacional que tem essa menina’, em referência a Yoani Sánchez.
Com posts curtos e irônicos -e críticas ao cotidiano da ilha- Yoani provocou simpatia e dezenas de reportagens que explicam que da ‘geração Y’ fazem parte os batizados com nomes iniciados com a letra, moda nos anos 70 e 80, de influência soviética na ilha.
Em abril, a blogueira ganhou o prêmio de jornalismo Ortega y Gasset, do jornal espanhol ‘El País’, mas Havana não liberou o visto para que fosse a Madri. Mais comoção virtual.
O ‘Blog do Yohandry’, com estilo duro e reprodução de reportagens oficiais, reagiu. Destacou um comentário anônimo que acusa Yoani de ser financiada pelo escritor cubano dissidente Carlos Montaner.
‘As figuras políticas cubanas conhecem muito essas campanhas de difamação. Mas onde estão as provas? Não me interessa cair nesse ciclo de defender-me’ , disse Yoani à Folha, em um café de Havana.
Os apoiadores da filóloga dizem que a página adversária é uma montagem do governo, feita por várias pessoas, e desafiam seu dono a postar uma foto. À Folha, por e-mail (ele se recusou a falar por telefone), o blogueiro pela revolução disse: ‘Não sou um coletivo, sou uma pessoal real. Talvez tenha de buscar ajuda, porque o blog cresce, mas agora estou só’.
Até o mês passado, a página pró-governo estava hospedada no provedor de blogs do ‘El País’, mas foi retirada. O blogueiro diz que foi censurado e mudou de endereço. O ‘El País’ alega que não pode haver campanhas de difamação em seus domínios.
O ‘Generación Y’ não pode ser acessado de hotéis da ilha, cujos provedores são estatais, comprovou a Folha, mas segundo Yoani é possível fazê-lo em empresas estrangeiras e por conexões particulares.
Mercado negro e UCI
Em Cuba, só médicos e pesquisadores, além da burocracia estatal, têm direito a internet em casa. O governo diz que, dadas as limitações técnicas, como o bloqueio econômico que impede a ligação por fibra ótica com a Flórida, a prioridade é conectar centros de estudo.
Mas, como tudo mais na ilha, há um crescente mercado negro. Muitos dos privilegiados repassam o acesso à rede por pouco mais de US$ 40 ao mês.
Também clandestinamente, cresce em Havana a venda de filmes e séries baixados da internet (as americanas, como ‘House’, têm destaque no canal oficial), e especula-se que parte do material venha da meca dos computadores da ilha: a Universidade de Ciências Informáticas (UCI), que ficou famosa fora de Cuba quando um vídeo com questionamentos de dois dirigentes estudantis caiu na rede, em janeiro.
Com 10 mil estudantes e a missão de liderar o salto de Cuba no setor, a UCI é a menina dos olhos do regime -a Folha tentou conversar com seus estudantes, mas foi informada que uma visita tem de ser agendada com semanas de antecedência e diretamente com o secretário particular de Fidel Castro, Carlos Valenciaga.
É também sobre a universidade -parte da ‘Batalha das Idéias’, o programa lançado por Fidel para reconquistar corações e mentes para a revolução- que recaem as suspeitas sobre as dificuldades para acessar ‘Generación Y’. ‘Dizem que vêm daí os soldados informáticos’, diz a blogueira.
Ela promete usar parte dos 15 mil que ganhou no prêmio espanhol para ‘promover a blogosfera cubana’. A batalha está apenas começando.
Só médicos e pesquisadores têm internet em casa
O governo diz que, dadas as limitações técnicas, entre elas o bloqueio que impede a ligação por fibra ótica com a Flórida, a prioridade é conectar centros de estudo’
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Páginas contarão a verdade cubana, diz governista
‘Para o blogueiro cubano Yohandry Fontana, 37, o desenvolvimento das páginas pessoais em Cuba ajudará a romper o que ele julga ser um bloqueio midiático à ilha ao contar ‘a verdade’ sobre o país.
Seus críticos na blogosfera cubana o acusam de não ser uma pessoa de carne e osso, mas um coletivo. Respondendo em nome do blog, Yohandry não aceitou falar por telefone -só por e-mail- e também disse que não vê necessidade de postar uma foto sua na rede.
Disse preferir ‘um desenho de Gerardo Hernández Nordelo, um dos cinco cubanos que estão presos injustamente nos EUA por lutar contra o terrorismo’, como ilustração.
Defensor do governo, Fontana diz que tem colaboradores e que, juntos, estudam ‘um projeto muito maior’ relacionado ao tema. Ataca o blog ‘contrarevolucionário’ de Yoani Sánchez, ‘a outra Y’.
‘Yoani é uma construção midiática. Em Cuba, muitos tinham blogs antes, blogs críticos, mas não prêmios.’
Embora admita que não tenha provas, ele voltou a levantar a suspeita de que a blogueira seja financiada pelo escritor dissidente cubano Carlos Alberto Montaner.
‘É uma suposição minha, sou responsável por meus critérios. É preciso investigar. […] Depois de tudo que li, acredito que há um vínculo entre Montaner e Yoani. Não estou dizendo que é a CIA, mas algo existe por trás.’
Fontana, que disse ser médico, contou que a idéia da página surgiu, em parte, por causa da adversária. Afirmou que, antes, comentava em ‘Generación Y’, mas foi proibido. Sem espaço, então resolveu criar um site para explicar o famoso vídeo em que estudantes universitários questionaram aspectos da vida cubana, como a moeda dupla, em janeiro.’
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Entre governo e oposição, falta sociedade civil, diz Yoani
‘A premiada blogueira Yoani Sánchez, 32, disse querer usar as páginas pessoais para promover a sociedade civil em Cuba: ‘Há que fortalecer o indivíduo acima da massa’. Ela negocia com a editora espanhola Alfaguara o lançamento de um livro baseado em seu blog.
FOLHA – Você se considera uma dissidente?
YOANI SÁNCHEZ – Sou da sociedade civil. Nunca militei em organizações políticas, o que para o espectro classificativo do governo é muito difícil. Não me considero uma opositora. Não tenho programa, não me interessam o poder ou a política. Falo de problemas concretos. Aqui, temos um pilar muito grande que é o Estado, um pilar que é mais ou menos ilegal que é a oposição, mas falta um pilar: a sociedade civil. Como podemos convocar os cidadãos sem a intromissão do Estado? Como podemos nos comunicar para fazer um mercado de vendas de segunda mão? Queria poder ter uma associação de pais para discutir o ensino, que está em crise. Como? É preciso reforçar esse pilar.
FOLHA – E qual é o plano para reforçar a sociedade civil?
SÁNCHEZ – Idéias claras não temos, mas alguma intuição. É ir pouco a pouco. Pessoas anônimas, gente que queira empregar seu talento e seu tempo em Cuba. Que tenha uma visão de sociedade não como um quartel ou um partido político. Conheço muita gente como eu. Por isso os blogs cabem muito bem nessa iniciativa, porque o blog é a expressão de um indivíduo. E em Cuba é preciso fortalecer o indivíduo acima da massa. Em outras sociedades, o individualismo é um problema. Em Cuba, o grande problema é o bloco, a massa, o ‘nós’.
FOLHA – O que pretende fazer para promover a blogosfera cubana?
SÁNCHEZ- O que mais desejo é ajudar outras pessoas a fazerem seus blogs. Na semana passada, ajudei um grupo de maçons a fazer um blog. Ajudei um artista plástico a colocar sua obra num blog. Quero fazer um blog para um grupo de pessoas que falarão de sua experiência na União Soviética na perestroika. Pluralidade. É disso que precisa a sociedade cubana.
FOLHA – Falando em pluralidade, o que achou do primeiro evento oficial da ilha contra a homofobia?
SÁNCHEZ – Ainda que seja um movimento tardio, me alegro. O que sempre me pergunto, quando ouço esses chamados à tolerância é: como se pode chamar a uma tolerância parcial? Escrevi um post que se chama: sair do armário. Tenho um amigo que é gay e contestador. Ele está muito feliz porque, se quiser, pode sair um dia vestido de mulher. Mas ele sabe que para sair do armário de suas opiniões políticas vai ter que esperar muito mais.
FOLHA – Você disse que não é socialista. Que modelo você acha que Cuba deveria seguir?
SÁNCHEZ- Sou preocupada com a justiça social, mas por outro lado não gosto desse capitalismo de Estado. Confio na criatividade dos cubanos para fazer nosso próprio modelo. Tentar reformar esse dinossauro fora de moda é involuir.
FOLHA – Nas ruas, as pessoas reclamam, mas não falam de mudar o sistema político e temem perder a saúde e educação gratuitas…
SÁNCHEZ – Não são gratuitas. Porque nenhum sultão árabe nos deu dinheiro para o sistema de saúde. Pagamos. Como? Com um salário que não dá para viver. Então, temos de buscar um equilíbrio entre o verdadeiro custo desses dois sistemas para nós e o que estamos dispostos a pagar. Sobretudo evitar que esse seja o argumento para nos neutralizar politicamente. Isso não é uma situação de agradecimento eterno a um governo. Não temos que engolir as críticas por causa disso.
FOLHA – Você diz que a política dos EUA é uma muleta para Havana e elogiou Obama. Tem esperança que ele mude algo, caso eleito?
SÁNCHEZ – Obama goza de popularidade em Cuba. Pertence a uma geração de políticos que não arrasta o rancor do passado. Pertence a uma geração que aqui em Cuba não está nem perto de assumir o poder, além de ter a simpatia da comunidade negra -aqui os dirigentes ainda são brancos, na maioria. Um presidente negro aqui é algo que está a anos luz de acontecer. Se acontecer, isso romperá muito o esquema da ‘ameaça do inimigo’, os estereótipos na imprensa oficial. Do ponto de vista da imagem, é interessante, pode provocar uma redefinição na política cubana.’
INTERNET
Investidor pressiona Yahoo! a pedir US$ 49,5 bi à Microsoft
‘O megainvestidor Carl Icahn quer que o Yahoo! diga à Microsoft que aceita ser vendido por US$ 49,5 bilhões. Ele fez essa recomendação em uma carta enviada ontem ao presidente do Conselho de Administração do Yahoo!, Roy Bostock.
É a mais recente cartada em uma campanha empreendida por Icahn para substituir o conselho da empresa e o executivo-chefe, Jerry Yang. O Yahoo! afirma que declarar um valor pela empresa seria ‘imprudente’.
No mês passado, a Microsoft desistiu de uma oferta de US$ 47,5 bilhões, ou US$ 33 por ação, depois que o Yahoo! pediu US$ 37 por ação. Mas, depois, as negociações foram retomadas.’
TELEVISÃO
Final mostra beijo gay de Aniston e Cox
‘Para quem esperou a temporada inteira por isso (alguém o fez?), amanhã vai ao ar, no People & Arts, o beijo que Jennifer Aniston dá em Courteney Cox, no último episódio do primeiro ano de ‘Dirt’.
Não dura nada, não tem a menor graça, mas, pelo menos, na TV a cabo beijo gay é permitido -e já até virou coisa velha.
Assunto esclarecido, vamos à série. O ano começa bem, com a ex-’Friends’ Courteney Cox, idealizadora e protagonista de ‘Dirt’, cheia de vontade de marcar a mudança em relação à velha Monica: no lugar da chef boazinha, a atriz agora é uma jornalista má e solitária.
Como chefe de uma revista de fofocas de baixíssimo nível que parasita personalidades de Hollywood, Cox desperta curiosidade, mas a solidão que a distancia de ‘Friends’ atrapalha o desenvolvimento da série.
Com um só amigo, o repetitivo fotógrafo Don Konkey (Ian Hart), Lucy Spiller (Cox) é prejudicada ao concentrar em torno de si quase toda a atenção. Ela ganha quando permite que se desenvolvam personagens como a iniciante jornalista que não acerta uma, ou o irmão gay, com quem acaba brigando.
Mas um final apimentado por Aniston e por algum sangue garante o interesse por uma segunda temporada, que vem aí neste ano.
DIRT
Quando: amanhã, às 22h
Onde: no People & Arts’
Folha de S. Paulo
Berlinenses protagonizam ‘Big Brother’ 24 horas
‘Com 80 câmeras espalhadas pela cidade, o canal alemão Arte gravará um dia na vida de Berlim, como um ‘Big Brother’ ampliado. Embora todos possam aparecer, o programa vai acompanha a vida de 15 pessoas.’
Melchiades Filho
A favorita
‘BRASÍLIA – É curioso que uma novela menos explícita que ‘Duas Caras’ diga mais sobre a política.
Não se sabe até quando João Emanuel Carneiro conseguirá tocar ‘A Favorita’ sem exagerar na simplificação ou na caricatura. A primeira semana foi um tratado sutil sobre a mentira, tal e qual ela se manifesta na capital da República.
Há o truque barato do deputado que embroma descaradamente o eleitorado -que, espero, reserve alguma nuance para fazer justiça ao talento de Milton Gonçalves.
Mas o resto da trama foi pouco além da sugestão. Suspeita-se da vigarice por trás de tudo, com a certeza de que há vigarice em tudo. O executivo com pinta de traficante; o pai que delata a filha; a encarcerada que se esconde do filho; o repórter que se apaixona a cada capítulo para, no seguinte, avançar sobre um rabo de saia diferente…
E há, sobretudo, o par central: as mulheres interpretadas por Denise Abreu e Dilma Rousseff -quer dizer, Patrícia Pillar e Cláudia Raia.
As duas estão ligadas por um crime terrível. Uma pagou com a prisão e vive o desprezo da sociedade. A outra ostenta a fartura do poder, cercada de regalias e serviçais. Uma delas, diz a sinopse, falta com a verdade. Talvez as duas faltem. Provavelmente as duas, atiça o autor. ‘A Favorita’ é uma história de versões diferentes e conflitantes.
Todos dissimulam. Uma traição parece espreitar cada cena. Por isso foi inteligente a escolha, para música-tema, de um tango -ao mesmo tempo enfático e misterioso.
Nada a ver com a novelização escandalosa e o pagode de Aguinaldo Silva. Não cheguei ao epílogo, mas aposto que o neocoronel Juvenal Antena partiu sem nenhuma ambigüidade além das que foram didaticamente encenadas no início. Claro, havia um pedaço de Brasil na Portelinha. Mas, no olhar de cachorrinho triste, faminto e ao mesmo tempo perverso de Patrícia Pillar, cabe Brasília inteira.’
TV PAGA
Anatel suspende cobrança de ponto extra
‘A Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) decidiu ontem suspender a cobrança dos serviços relativos ao ponto extra das TVs por assinatura, o que inclui instalação, ativação e manutenção da rede, por um período de 60 dias.
A medida tem efeito retroativo ao último dia 2, quando começou a valer a resolução 488, que estabelece o Regulamento de Proteção e Defesa dos Direitos dos Assinantes dos Serviços de Televisão por Assinatura.
Sem concordância sobre a interpretação dos artigos 30, 31 e 32 da resolução entre Anatel, órgãos de defesa do consumidor e operadoras de TV paga, a agência reguladora afirmou em nota que vai colocar ‘em consulta pública propostas de redação dos dispositivos cuja eficácia foi suspensa, na expectativa de que os debates que se seguirão levem ao consenso’.
Os artigos permitiam que as operadoras efetuassem a cobrança pelo ponto extra desde que discriminada na fatura. No entanto, abria a brecha para o assinante contratar o serviço de instalação e manutenção de terceiros e, nesse caso, eximia as empresas de problemas e danos que viessem a ocorrer, como emissões indevidas de radiofreqüência e interferências em outros serviços.
O artigo 29 da mesma resolução, que prevê a utilização de ponto extra e ponto de extensão (também chamado de ponto escravo) sem ônus para o assinante, continua valendo.
‘Mesmo em caráter provisório, essa é uma vitória para o consumidor’, comentou Karina Grou, advogada do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor), órgão que pediu, no último dia 14, que a Anatel esclarecesse a interpretação que deveria ser dada à resolução. Para ela, a ativação e a instalação do ponto extra podem voltar a ser cobradas, mas o pagamento pela manutenção deverá ser apenas pontual.
Atualmente, as operadoras cobram um valor mensal pelo serviço, que varia de 20% a 25% do valor do ponto principal, em média. De acordo com Alexandre Annenberg, presidente da ABTA (Associação Brasileira de TV por Assinatura), metade das residências com TV paga possui ponto extra.
‘É lamentável uma agência reguladora aprovar uma resolução que cause todo esse problema’, reclama Selma do Amaral, do Procon-SP. Para ela, além de não solucionar as questões envolvendo a redação dos artigos 30, 31 e 32 da resolução, ainda criou outras. Uma delas é se as empresas terão que instalar de graça o ponto extra durante esses 60 dias.
Questionada pela reportagem, a assessoria de imprensa da Anatel disse que as operadoras não são obrigadas a oferecer o serviço durante esse período, mas, se ofertarem, não poderão cobrar por ele.’
TVs pagas aguardam decisão judicial
‘Para o presidente da ABTA (Associação Brasileira de TV por Assinatura), Alexandre Annenberg, a polêmica sobre o ponto extra vai ser resolvida judicialmente.
A entidade ajuizou, na segunda-feira passada, ação cautelar na Justiça Federal de Brasília contra a Anatel com o objetivo de manter a cobrança do ponto adicional.
A associação defende o modelo em vigor há mais de 20 anos, no qual os custos de manutenção da rede e o serviço de telecomunicações são cobrados dos assinantes que têm o ponto extra, e não distribuídos por toda a base, como ameaçam fazer as operadoras se forem impedidas de exigir o pagamento.
Annenberg explica que cada célula da rede tem cerca de 2.000 pontos, independentemente de serem principais ou extras, e essas células implicam custos com software, call center, equipes de manutenção e energia elétrica, entre outros.’
TV DIGITAL
Diógenes Muniz
Após seis meses, TV digital brasileira ‘dá traço’ no Ibope
‘Seis meses após sua estréia oficial, a única certeza que se tem sobre a TV digital brasileira é que ela ainda dá traço -ou seja, a recepção do sinal em televisores nem sequer atinge o equivalente a um ponto no Ibope, 55 mil domicílios na Grande SP. Números obtidos com a Suframa (Superintendência da Zona Franca de Manaus) revelam que, de 2007 até abril deste ano, 25.854 conversores (ou ‘set-top boxes’) foram fabricados na região. Os aparelhos são necessários para a recepção do novo sinal nos televisores.
‘Quase a totalidade dos receptores vem de Manaus, por conta dos benefícios [fiscais]’, diz Roberto Franco, presidente do Fórum da TV Digital. Hélio Rotenberg, presidente da Positivo Informática, líder em vendas nesse mercado, diz haver 20 mil famílias recebendo o sinal na Grande SP, no máximo. ‘Algo entre 10 mil e 20 mil.’
Além de São Paulo, as cidades de Rio de Janeiro e Belo Horizonte também têm TV digital, mas a implementação começou a menos tempo.
Órgãos responsáveis pela inserção do novo sistema, como Ministério das Comunicações, Abert (Associação Brasileira de Rádio e Televisão) e Eletros (Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos), afirmam não ter dados oficiais sobre adesão. Ainda não há também o volume de compra de TVs com receptores digitais embutidos, mas o produto é restrito a nichos de alto poder aquisitivo. Um dos aparelhos mais baratos desse tipo custa R$ 6.000. Já o conversor mais barato do mercado sai por R$ 499 -preço considerado alto, já que a demanda é baixa.
O conteúdo transmitido em alta definição pelas emissoras, um dos chamarizes para a procura por ‘set-top boxes’, é limitado. Em São Paulo, o único canal que transmite toda a programação em alta definição (fora os horários alugados) é a RedeTV!.
Além do conteúdo, as promessas não cumpridas também empurram para a baixa procura pelo sistema. O conversor popular de R$ 250, prometido desde antes do lançamento, ainda não chegou. Tampouco a interatividade.
‘A indústria não se preparou para vender o conversor, nem mesmo caro’, disse o ministro Hélio Costa (Comunicações).
‘A Eletros nunca afirmou que os preços seriam baixos nesta fase inicial, embora tenhamos apresentado ao governo as medidas necessárias para acelerar o processo de redução dos preços conversores’, responde a associação dos fabricantes, em nota.
Responsabilidade
Sobre a interatividade, Costa responsabiliza radiodifusores e até telespectadores:
‘A interatividade é uma coisa que depende muito mais do usuário, das emissoras de TV, das entidades que querem utilizar a interatividade, do comércio, das empresas, do que do governo. Não é uma responsabilidade do governo fazer a interatividade’.
Segundo Roberto Pinto Martins, secretário de Telecomunicações, a interatividade chega em 2009 -’talvez no início do ano’. O governo alega que um imbróglio envolvendo pagamento de royalties atrasou a formulação do sistema Ginga, responsável pela interatividade dentro do conversor.
‘As emissoras morrem de medo de conectar algum canal de retorno na TV e verem a chegada da convergência ao ambiente que elas lutam para manter ‘intocado’, diz Gustavo Gindré, membro da ONG Intervozes, que discute a ampliação do direito à comunicação.
O presidente da Abert (Associação Brasileira de Rádio e Televisão), Daniel Slaviero, diz que ‘as televisões estão cumprindo rigorosamente a sua parte’ na divulgação da TV digital e que lançarão neste mês uma nova campanha de publicidade para espalhar o sistema.
A questão do preço também tem um horizonte, diz Costa. ‘Vou ao Japão neste mês. Na minha ida, vão anunciar o conversor de US$ 50.’’
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Equipamento de aposentado só funciona um dia
‘O ferroviário aposentado José Carlos Lage, 58, da Barra Funda (zona oeste de São Paulo), não quis esperar a chegada do ‘set-top box’ popular. Comprou no fim de maio o DigiTV Positivo -R$ 499, em três parcelas. ‘Funcionou só um dia’, afirma.
‘Mesmo quando estava pegando, vários canais não apareciam direito’, diz Lage, que levou o aparelho para assistência técnica na segunda-feira, sem previsão de retorno. Casos semelhantes são relatados em fóruns da web por dezenas de internautas.
Segundo o presidente da Positivo, Hélio Rotenberg, houve ‘devoluções, mas nada significativo’. Alguns aparelhos precisam ter o sistema atualizado, mas funcionam, diz.
De acordo com o ministro Hélio Costa, ‘vendeu-se o conversor, mas não se vendeu a antena UHF. Isso fez um verdadeiro estrago na TV digital’.’
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Governo avalia adiar fim de transmissão analógica, diz ministro das Comunicações
‘Tão simbólico quanto a estréia da TV digital, acompanhada por quase ninguém, deverá ser o fim das transmissões analógicas, marcado para 2016.
Em tese, até lá todos os brasileiros estarão munidos de receptores ou TVs com conversores embutidos e todas emissoras estarão transmitindo programação digital.
O governo admite ter um plano B para adiar o chamado ‘switch off’ da TV analógica caso as adesões continuem baixas e as transmissões, limitadas.
‘O plano existe. Se amanhã chegarmos à conclusão de que a grande maioria da população brasileira ainda não recebe a TV digital, claro que a gente pode [adiar o desligamento do sinal analógico]. O presidente da República tem autoridade para fazer isso, ele pode estender o projeto’, afirma o ministro das Comunicações, Hélio Costa.
Se o Brasil seguir o exemplo de outros países, a chance de um prazo maior é grande. Segundo Juliano Castilho, diretor da área de TV digital do CPqD (Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações), ‘esse cronograma não foi cumprido em lugar nenhum do mundo’.
‘Olhando exemplos de outros países, acho que há chance de não ser cumprido o cronograma. Mas isso não é o que importa’, diz.
De acordo com Castilho, o cronograma funciona como um ‘direcionador’. ‘Se as pessoas não compraram uma grande quantidade de receptores, você não vai tirar o sinal. Não interessa a ninguém.’
‘Se sairmos de uma tendência atual, a partir desse preço de lançamento, conseguiríamos em dez anos atingir cerca de 80% da população, em número de residências. Daí vem a questão política: 80% é um bom número para fazer o desligamento?’, questiona o especialista.
Sem sinal
Além da compra de conversores, outra dor de cabeça para o governo deve ser a potência da transmissão das emissoras, a exemplo do que ocorre nos Estados Unidos.
Marcada para 17 de fevereiro de 2009, a interrupção na transmissão de televisão analógica nos Estados Unidos deve deixar cerca de 23 mil pessoas sem receber sinal de alguns canais. É o que mostra estudo realizado pelo Government Accountability Office, o braço investigativo do Congresso norte-americano. Isso porque alguns radiodifusores afirmam que seu sinal digital terá uma cobertura geográfica menor do que a analógica.
‘Aqui, a Globo entrou com potência de 15 kilowatts nas suas transmissões. Mas tem emissora aí que entrou com 1 kilowatt. Só para dizer ‘olha, eu sou digital’, mas não tem a potência suficiente’, diz o ministro Hélio Costa.
Para contornar essa situação, Castilho defende que o consumidor receba no momento da compra um mapa oficial com os problemas da TV digital, feito por radiodifusores, fabricantes e governo.
‘Isso já acontece no próprio Japão. Mesmo porque só vou comprar um negócio se souber que vou levar para casa e vai funcionar’, afirma.
A companhia Philips mantém em seu site (www. simplificandotvdigital. com.br) um mapa -restrito e contestado por técnicos- sobre a recepção da TV digital na capital paulista.’
TV MÓVEL
Simone Cunha
TV no celular chega em um mês
‘Em cerca de um mês, clientes de qualquer operadora celular do país que tem 93% dos lares equipados com TV não precisarão mais estar em casa para assistir à programação aberta.
A Samsung diz que é esse o tempo necessário para que o Tupi, seu celular que sintoniza TV aberta digital, esteja nas lojas de todas as operadoras.
O custo para assistir TV é o do aparelho, já que a televisão é aberta -com canais como Globo, SBT, Record, Rede TV!, Band, MTV, Gazeta, Cultura e MixTV-, mas em uma tela de cerca de cerca de cinco centímetros, ou 2,6 polegadas.
‘É um serviço totalmente independente dos prestados pela operadora. Não é preciso assinar pacote de transmissão de dados, ter conta’, diz o diretor da divisão de telecom da Samsung, Oswaldo Mello.
Hoje, a Vivo e a TIM têm o celular em lojas. Na Vivo ele está sendo vendido entre R$ 499 e R$ 1.399. A TIM não informa o preço final. A Brasil Telecom começa a vendê-lo em julho.
A Claro afirma que está ‘analisando a inclusão de aparelhos com receptor de TV digital em seu portfólio’, e a Oi, que ‘ainda não comercializa aparelhos com essa característica’.
Como a tecnologia acaba de ser lançada, deve haver opções mais baratas nas prateleiras em breve. Até o fim do mês, a Vivo terá um modelo da Semp Toshiba, sem conexão 3G e que deve custar entre R$ 299 e R$ 1.099, segundo a fabricante. Em outubro, a LG pretende lançar um aparelho que sintoniza TV, e a Samsung promete pelo menos mais um modelo até o fim do ano (podem ser dois) e com preço menor.
Por ora, a TV no celular está restrita às cidades de São Paulo, Belo Horizonte e Rio de Janeiro: é onde há canais de TV digital aberta. É a tecnologia OneSeg que permite a recepção de TV em aparelhos móveis, a exemplo do que ocorre no Japão -e um dos motivos da escolha do padrão japonês.
Lá, foram vendidos 26 milhões de aparelhos entre o lançamento, em abril de 2006, até fevereiro deste ano. E é graças à TV no celular, segundo o diretor de planejamento de marketing da Globo, Ricardo Esturaro, que os japoneses passam mais tempo por dia em frente à tela do que os brasileiros: 474 minutos contra 283 minutos.
No Brasil, a Semp Toshiba espera comercializar cerca de 200 mil celulares com TV até o fim do ano. ‘As pessoas têm mais restrições para mudar a TV em casa; no celular é uma inovação completa’, diz o diretor da divisão de mobilidade da Semp Toshiba, Jairo Siwek.
‘O brasileiro tem uma relação muito forte com a TV aberta. Então, colocar sinal de TV aberta com mobilidade era um prenúncio de sucesso’, diz Mello, da Samsung.
Receita
Apesar de não gerar receita imediata às operadoras, a televisão aberta no celular é vista como estímulo ao uso da tecnologia 3G, a banda larga móvel, e à TV paga no celular, a chamada ‘mobile TV’.
Para Renato Ciuchini, diretor de planejamento estratégico da TIM, as operadoras só vão conseguir ganhar dinheiro com a TV no celular se ela for aberta e com um conteúdo já conhecido pelo espectador. A expectativa, segundo ele, é que 5% da receita da empresa nos próximos três anos venha de serviços ligados à TV em geral.
‘O que seria interessante para elas [operadoras] é ter interatividade nessa TV [aberta], usando o 3G para enviar dados’, diz o analista da Frost & Sullivan, Francisco Mollnar.
Isso, segundo o gerente de interatividade da Band, Luis Olivalves, eles já fazem. ‘A gente incentiva [interatividade por meio de mensagens de texto] todo dia na programação.’
As fabricantes defendem que não é apenas a TV como novo recurso que deve ser alvo dos ganhos. ‘As operadoras não fazem receita só com a TV, o resto das características do celular gera muita receita’, diz Mello, referindo-se ao 3G, a vídeo chamada e o uso como modem.
A BrT, segundo Roberto Rittes, diretor de operação móvel e desenvolvimento de negócios da operadora, acredita que a TV paga no celular tem mais condições de prosperar por ter conteúdo adequado para o aparelho, com programas mais curtos. Segundo pesquisa da BrT, no celular o usuário assiste a cerca de dez minutos de TV. ‘Ninguém fica uma hora assistindo TV no celular; ela cobre só algumas lacunas do dia.’’
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Alguns canais têm imagem muito pequena
‘A reportagem testou o Tupi, da Samsung, por oito dias e o maior incômodo foi o tamanho da imagem de alguns canais, o que ocorre por falta de adequação das emissoras, segundo o presidente da Teleco, Eduardo Tude.
Alguns canais são transmitidos no formato da televisão antiga, quadrado (4×3), e outros, no de cinema (16×9) -isso deve mudar com o aperfeiçoamento das transmissões.
Também houve canais que preencheram quase toda a tela (2,6 polegadas): a imagem chegou a cinco centímetros de largura.
O celular sintonizou nove canais: Globo, SBT, Record, Band, RedeTV!, Cultura, Gazeta, MixTV e MTV. A maioria ainda não tem o menu da programação (um dos recursos de interatividade que já podem ser usados na TV digital) em pelo menos algum momento do dia ou tem informações erradas.
Houve também problemas na qualidade da imagem e do som em alguns locais fechados, como banheiros ou restaurantes, onde o sinal ficou fraco ou falhou e alguns canais pararam de ser transmitidos.
Na TV digital, não há imagem ruim: ou o sinal pega ou não há imagem.’
TELES
Exigência da Anatel traz risco a fusão na telefonia
‘A fusão entre Oi (Telemar) e BrT não acontecerá caso a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) decida exigir que companhias de telefonia fixa que oferecem acesso à banda larga tenham de abrir empresas independentes apenas para prestar esse tipo de serviço.
‘Se tivermos de separar as empresas, [isso] inviabiliza a operação [de fusão]’, disse Luiz Eduardo Falco, presidente da Oi, durante a Telebrasil, principal evento de telecomunicações do país, que ocorre na Costa do Sauípe, na Bahia.
A separação entre as operações de telefonia fixa e de prestação de serviço de banda larga de uma mesma companhia é um dos principais pontos de embate no conselho da Anatel durante as discussões pelas alterações do PGO (Plano Geral de Outorgas). Sem a aprovação dessas mudanças, a fusão entre Oi e BrT não sai do papel.
Antes de mais nada, o novo PGO terá de permitir que a operadora de uma região possa adquirir outra, que atua em área de concessão diferente. Entre conselheiros existe consenso em favor dessa mudança.
Nas últimas semanas, surgiu o conflito relacionado aos serviços de acesso à banda larga prestados por uma operadora de telefonia. Hoje elas podem vender pacotes e serviços de acesso sem precisar abrir uma empresa específica. Os conselheiros discutem a separação.
Mais transparência
Para o presidente da Anatel, Ronaldo Sardenberg, a ‘segregação’ (como os técnicos chamam essa separação), traria mais transparência.
Segundo Sardenberg, há dois grupos no conselho. Um defende a separação imediata. O outro pede que sejam avaliados os impactos da separação.
Para a Oi, se ela for aprovada, significa um cenário ruim. Segundo Falco, foram pagos R$ 315 milhões para que a ‘BrOi’ não nascesse com um passivo acionário (o valor pago pelas ações impede processos contra a fusão na Justiça).
Essa quantia foi definida com base em ativos previamente definidos. Caso a Anatel exija a criação de uma companhia independente para prestar serviços de banda larga, toda essa operação teria de ser revista porque os ativos seriam divididos. ‘Se tivermos que nascer com um piano de cauda, parece que não vai nascer’, disse Falco, ao mencionar o peso que seria para a nova empresa lidar com essa situação.
Segundo o superintendente de serviços privados da Anatel, Jarbas Valente, a decisão não deverá passar do final do ano. Pelo contrato firmado entre Oi e BrT, a Oi pagará R$ 490 milhões à BrT caso a fusão não se concretize em 240 dias. ‘Faltam 197 dias’, disse Falco.
O presidente da Oi afirma que terá de ganhar 25 milhões de clientes em cinco anos para obter escala fora do país. No Brasil, esse número seria de 100 milhões de assinantes.
O jornalista JULIO WIZIACK viajou a convite da Telebrasil (Associação Brasileira de Telecomunicações)’
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C&A tira do ar campanha considerada erótica
‘A campanha publicitária do Dia dos Namorados da rede de lojas C&A foi retirada ontem de circulação em todo o Brasil, por ter sido considerada abusiva e erótica por órgãos de defesa do consumidor e pelo Conar (Conselho Nacional de Auto-Regulamentação Publicitária).
A campanha ‘Papai-Mamãe Não!!!’, formada por três filmes de TV e encartes distribuídos nas cerca de 150 lojas do país, sugeria que o consumidor saísse da ‘mesmice’ e surpreendesse o namorado ou namorada, dando dicas de ‘situações excitantes e divertidas’.
A C&A informou que retirou a propaganda em virtude da ‘repercussão’. A agência de publicidade responsável pela campanha, a DM9DDB negou que o material fosse ofensivo.
Anteontem, a partir de denúncias de consumidores, o Conar abriu um processo sobre o anúncio veiculado à noite na TV, em rede nacional. Recomendou a suspensão dos vídeos por conterem ‘carga erótica abusiva’. As recomendações do Conar não têm poder impositivo, mas são sempre acatadas pelas empresas de publicidade, informou o órgão.
Um dos filmes, produzido pela agência de publicidade DM9DDB, traz a modelo Daniella Sarahyba, dizendo: ‘Urano na casa de Virgem vibrando vai trazer um Dia dos Namorados bem ‘papai-mamãe’. Agora, se ao invés de espalhar velas pela casa, usar uma lingerie bem sexy, não vai ter ‘papai-mamãe’ não. Safadinha’.
No Espírito Santo, a campanha foi alvo ontem de ação da Delegacia do Consumidor e do Procon. Todos os encartes e materiais da campanha, como banners e faixas, foram recolhidos nas três lojas da C&A no Estado -duas em Vitória e uma em Vila Velha.
Os três gerentes das lojas foram presos em flagrante por ultraje público ao pudor e propaganda enganosa e abusiva. Foram liberados após pagamento de fiança de R$ 1.000 cada um.
A operação começou após denúncia de dois pais, que disseram ter flagrado filhos de seis e de 11 anos com o encarte. ‘Os pais encontraram as crianças manipulando dados que vinham com os encartes e que incitavam práticas sexuais’, disse Denise Izaita Pinto, gerente do Procon do Espírito Santo.
Em páginas das 26 folhas do encarte aparecem bonecos que formam um casal. Em cima dos bonecos, que praticam ações como dar as mãos e passear com cães, há um sinal de proibido. Sob cenas de sexo há sinais de exclamação. ‘Isso foi caracterizado como uma publicidade que ofende a moral e os costumes’, disse o delegado Darcy Arruda, titular da Delegacia do Consumidor.
Ao final do encarte, há ‘games do amor’, com dadinhos recortáveis. Em um dos dados há verbos como beijar e massagear. No outro dado, há partes do corpo, como a boca e os seios. Há também um caça-palavras para localizar expressões como orgasmo múltiplo.
Ontem, por volta das 15h, trechos da campanha ainda estavam no site da C&A. Às 17h, já não estavam mais na página.
O Procon elaborou um auto de infração contra as lojas, que terão dez dias para se defender. Ao final do processo, a C&A pode receber multa de R$ 500 mil a R$ 5 milhões. O delegado Arruda diz que irá ouvir representantes nacionais da C&A.’
Cláudia Collucci
Para agência, há exagero de censura
‘O presidente da agência DM9DDB, Sergio Valente, não considera ofensivos nem o encarte publicitário e nem campanha de TV da C&A para o Dia dos Namorados, vetados por órgãos de defesa do consumidor.
‘Não fizemos uma campanha ofensiva e nem tivemos a intenção de ofender ninguém. Mas não questionamos as determinações, apenas obedecemos’, afirmou ontem.
Valente disse que a campanha de TV continuará no ar, com a retirada da expressão que foi considerada ofensiva (‘Papai-Mamãe não!’). ‘É uma doideira. Qualquer ‘Caras’, qualquer ‘Vale a Pena Ver de Novo’, qualquer revista, qualquer jornal, você vai ver fotos mais agressivas’, alega Valente.
Sobre a declaração do delegado do consumidor Darcy Arruda de que o material publicitário incitava práticas sexuais, Valente se disse perplexo. ‘Gente, não tem ninguém tirando a roupa, não. Mesmo porque é um comercial, é um catálogo que mostra a roupa. Pelo o que sei, sexo se pratica sem roupa’, brincou o publicitário.
Segundo o presidente da DM9DDB, a propaganda está passando uma fase de muita censura. ‘Qualquer coisa hoje é considerado agressivo, ofensivo. Sou contra qualquer exagero, de ser agressivo demais e de ser censor demais.’
Valente disse que não houve problemas com a campanha publicitária no resto do país. ‘É uma pena que aconteceu isso lá [em Vitória]. É uma pena que a propaganda esteja passado por esse exagero de censura.’
A C&A informou, em nota, que recolheu todo o material da campanha do Dia dos Namorados em suas 150 lojas no país e alterou os comerciais de televisão, que seriam veiculados já na noite de ontem. A campanha foi ao ar a partir de 29 de maio.
‘Reforçamos que, em nenhum momento, a C&A teve a intenção de provocar constrangimento. Nesses 32 anos no Brasil, a nossa propaganda sempre foi reconhecida por sua qualidade e inovação’, informou a nota.
Colaborou a Agência Folha’
LIVROS
‘Sempre vejo a esquisitice do dia-a-dia’
‘A vida é cheia de som e fúria. Mas, para pessoas como Miranda July, ela é também repleta de silêncios e momentos tranqüilos que irão se revelar surreais sob uma fina superfície.
Ao menos essa é a visão que a artista multimídia demonstra em seu primeiro livro, ‘É Claro que Você Sabe do que Estou Falando’, reunião de 16 contos lançada no exterior em 2007 e que chega agora ao Brasil.
O formato livro é apenas uma nova plataforma usada pela versátil Miranda. Norte-americana de 34 anos que cresceu em Berkeley, Califórnia, ela é mais conhecida pelo público por seu simpático longa-metragem ‘Eu, Você e Todos Nós’, que lhe rendeu uma série de prêmios, entre eles o cobiçado Caméra d’Or, no Festival de Cannes de 2005, concedido ao melhor filme de um diretor estreante.
O mesmo clima poético de ‘festa estranha com gente esquisita’ da produção está em suas performances, em seus trabalhos de videoarte, curtas e, claro, no livro.
Em todos os contos temos a narração em primeira pessoa de uma mulher (a exceção é ‘A Irmã’) que parte de uma situação banal, cotidiana, e logo se embrenha por uma estranha realidade povoada por seres solitários e carentes de amor.
Sexo, hetero ou gay, consumado ou frustrado, portanto, é tema recorrente. ‘Há muitos tipos de desejos e ânsias. Escrevi vários desses contos quando eu tinha 20 e poucos anos, e essa é uma fase de desejos, de esperas’, afirma Miranda em entrevista à Folha.
‘A sexualidade, nas minhas histórias, é geralmente fantástica, inconsciente, e não erótica. É como um sonho com sexo, uma metáfora para falar de outras coisas’, diz.
É assim no conto ‘Fazendo Amor em 2003’, em que a virginal narradora adolescente é atacada na cama por um borrão. Eles irão se tornar namorados. Quem também povoa o universo de Miranda são as crianças. ‘O Garoto de Lam Kien’ e ‘Como Contar Histórias para Crianças’ revelam um fascínio pelo universo infantil.
‘Adultos são complicados porque pensamos numa coisa quando queremos dizer outra. Me sinto livre quando escrevo sobre crianças. A interação entre elas e os adultos revela muitas coisas sobre nós.’
A artista, no entanto, vai além da mera esquisitice gratuita que domina a cultura independente norte-americana. ‘Eu sinto as coisas ao meu redor de uma maneira muito intensa. Tenho uma tristeza grande dentro de mim, mas o que me salva é o humor. Sempre vejo a esquisitice que há em cada coisa do dia-a-dia’, diz Miranda, que nega traços autobiográficos nas histórias.
Incertezas
É grande a tentação de relacionar a artista à personagem de ‘A Equipe de Natação’, por exemplo, que mais parece a descrição de uma performance. Nela, a narradora ensina três idosos a nadar… em um chão seco. E, em ‘O Quintal Compartilhado’ ou ‘Alguma Coisa que Não Precisa de Coisa Alguma’, as personagens se pegam imobilizadas, como numa epifania à moda Clarice Lispector.
‘Encaro a vida de uma forma diferente. Às vezes me sinto distante, imersa em pensamentos e, de repente, percebo que o que estou pensando está realmente acontecendo na minha frente’, conta a distraída moça.
Miranda recusa o estereótipo de doidinha ou de ‘loser’ (perdedora) americana. ‘Tenho um total desinteresse por pessoas que vivem sem dúvidas na vida. Não considero meus personagens ‘losers’. Acho que essa é a forma como as pessoas são: repletas de incertezas, mas fazendo coisas espetaculares.’
Entre as coisas espetaculares que ela faz está cinema. Atualmente, trabalha na seleção de atores para seu segundo longa, ‘Satisfaction’. À Folha Miranda não revelou absolutamente nada, mas o site da ‘Variety’ diz que se trata de uma comédia sobre um triângulo amoroso. Já dá para ter uma idéia do que Miranda está falando.’
Joca Reiners Terron
Contos expõem solidão do ‘homem sem pé nem cabeça’
‘Os contos de Miranda July são tragédias que matam de rir e também comédias que levam às lágrimas. ‘É Claro que Você Sabe do que Estou Falando’ é o título do livro. É claro que sabemos: nada do que é humano nos é alheio. O assunto desse estranho e lírico volume de estréia da cineasta norte-americana trata exatamente disso. E que bicho sem pé nem cabeça é o ser humano.
Existe certa tradição do conto cujas bases não se firmam sobre noções comuns ao gênero, como a trama enérgica e pontual feito bomba-relógio em que tudo se arma rumo ao desfecho surpreendente. Refiro-me ao relato que se aproxima do solilóquio e no qual a voz interna do narrador tece considerações e desconsiderações, culminando na forma singular de ver o mundo. Esse jeito único de ver (quase sempre débil) é a ‘raison d’être’ do conto.
Na literatura norte-americana, July parece ter caído desse galho genealógico no qual se encontram William Saroyan (1908-1981) -que confiou na chance de um estilo sincero no caso de o escritor ‘escrever como se acreditasse que, cedo ou tarde, você e tudo o que está vivo morrerão um dia’- e Richard Brautigan (1935-1984), ironista crédulo de tudo e de todos que desacreditou de si. O armênio Saroyan falou dos imigrantes do século 20; Brautigan, dos sonhos hippies pulverizados na sombra do cano duplo apontado para si mesmo.
E do que trata Miranda July, diretora de ‘Eu, Você e Todos Nós’ (2005), que é um título de filme, mas também poderia ser uma resposta?
Seus contos falam da solidão de maneira ao mesmo tempo sombria e cômica. Em ‘O Quintal Compartilhado’, a narradora é apaixonada pelo vizinho epilético. Ela aproveita quando a esposa está no trabalho para se aproximar. O homem tem uma crise, e ela, em vez de socorrê-lo, adormece ao lado e tem sonhos eróticos. Há uma graça inexplicável nisso.
Em outro conto, um viúvo promete apresentar sua irmã ao colega solteirão. Ele arma situações para que os dois se encontrem e até o apresenta aos pais, mas a irmã nunca aparece.
Aos poucos, depois de muita idealização, o amigo percebe que a tal irmã não existe. Afinal, os dois homens abandonam esse complexo jogo de sedução e se apaixonam. Há tristeza nisso, porém a graça persiste. Saroyan afirmou que os leitores não esperam a comédia de alguém que sente as coisas tragicamente. Pode ser. Miranda July parece nos dizer algo parecido, algo que sabemos, mas fazemos questão de esquecer.
JOCA REINERS TERRON é escritor, autor de ‘Sonho Interrompido por Guilhotina’ (Casa da Palavra)
É CLARO QUE VOCÊ SABE DO QUE ESTOU FALANDO
Autor: Miranda July
Tradução: Celina Portocarrero
Editora: Ediouro
Quanto: R$ 34, em média
Avaliação: ótimo’
Eduardo Simões
Coletânea reúne 14 diários de guerra
‘Em 1993, em meio à guerra dos Bálcãs (1991-1995), o horror dos conflitos, visto sob a perspectiva de uma menina entre seus 11 e 13 anos de idade, virou best-seller na França. Treze anos depois, a autora de ‘Os Diários de Zlata’, a bósnia Zlata Filipovic, saiu em busca de relatos de outras crianças e adolescentes vitimados pela guerra, ao longo do século 20 e início do 21. O resultado é o livro ‘Vozes Roubadas – Diários de Guerra’ (Companhia das Letras), que Zlata organizou em parceria com a escritora Melanie Challenger.
O volume traz 14 diários, oito deles inéditos. O restante já havia sido publicado, mas todas as edições esgotaram. Caso do próprio livro de Zlata, também publicado pela Companhia no Brasil, em 1994, quando chegou à lista de mais vendidos da Folha, na categoria de não-ficção.
O livro tem parentesco quase filial com o famoso relato ‘O Diário de Anne Frank’. Em entrevista à Folha, Zlata conta que em 2003 foi convidada pelo museu Anne Frank, da Holanda, para reunir trechos de alguns diários semelhantes, em folhetos que seriam distribuídos na estréia de um musical sobre Frank.
No entanto, a pesquisa, feita em arquivos de outros museus e ONGs que lidam com crianças e adolescentes vivendo em regiões conflagradas, acabou se estendendo por três anos e resultando em ‘Vozes Roubadas’. O livro começa com um relato da Primeira Guerra e vai até o início da Guerra do Iraque, em 2003.
‘Queríamos fazer uma compilação a mais global possível. Mas havia algumas coisas impossíveis de achar, como um diário africano, de uma criança-soldado, por exemplo’, diz Zlata. ‘Essas crianças e adolescentes, muitas vezes, vivem drogadas, o tempo todo com metralhadoras nas mãos. Perderam traços de humanidade e raramente escrevem sobre suas experiências. Então optamos pela forma específica do diário. O que não significa que não achamos relatos de experiências em outros formatos, como poemas, desenhos etc.’
Humanidade dos detalhes
Zlata tinha outros dois parâmetros em mente. Ela buscou diários que, como o seu, trouxessem detalhes simples, ‘mas bem humanos’, como o fato de ela ter um gato ou um passarinho, ou de gostar de Michael Jackson e Madonna. Também era importante que os textos tivessem qualidade literária.
‘Havia diários ricos em informação, mas não escritos de uma maneira que pudessem atrair o leitor. Eram relevantes em termos históricos, mas não tinham elementos que provocassem compaixão e empatia.’
Ainda segundo Zlata, assim como ‘O Diário de Anne Frank’, os relatos reunidos em ‘Vozes Roubadas’ trazem o sentimento de que a juventude daquelas pessoas estava sendo subtraída.
‘Ao mesmo tempo, eles são esperançosos, têm planos para o futuro, embora tudo pareça incerto. O que chama mais atenção é quão parecidas são uma garota afetada pela Primeira Guerra e outra, pelo conflito no Iraque. Em termos humanos, somos capazes de ser tão terríveis quanto maravilhosos uns com os outros’, diz.
VOZES ROUBADAS – DIÁRIOS DE GUERRA
Organização: Zlata Filipovic e Melanie Challenger
Tradução: Augusto Pacheco Calil
Editora: Companhia das Letras
Quanto: R$ 37 (368 págs.)’
O FUTURO DOS JORNAIS
Estudo analisa perspectivas para jornal impresso no Brasil
‘Boas e más notícias. Boa notícia: a circulação de jornais cresce no mundo (9,39% nos últimos cinco anos). Más notícias: cresce mais ainda se contarmos os jornais distribuídos gratuitamente (14,3% no mesmo período).
Cresce em países como China e Índia, e cai na Europa e nos Estados Unidos.
Boa notícia: jornais e revistas, juntos, ganham mais com anúncios do que a televisão. Má notícia: os anúncios pela internet cresceram 32,45% no mundo. Boa notícia: prevê-se que os ganhos com jornais on-line dobrem nos próximos cinco anos.
Estes dados saíram recentemente num site especializado, o www.pressgazette.co.uk.
No Brasil, as notícias recentes são em geral muito boas. De 2006 para 2007, a circulação cresceu 11,8%, e a participação dos jornais no bolo das receitas publicitárias em geral aumentou 6%, segundo a Associação Nacional de Jornais (www.anj.org.br).
Mesmo assim, parece difícil acreditar no futuro do jornal impresso a longo prazo, e sua substituição por edições on-line ainda esbarra com incógnitas quanto aos ganhos publicitários que podem ser obtidos pelo novo meio.
Lourival Sant’Anna é repórter especial de ‘O Estado de S. Paulo’. Sua dissertação de mestrado, defendida em 2007, é agora publicada pela editora Record, com o título ‘O Destino do Jornal’.
Traçar perspectivas sobre o futuro do jornalismo impresso -ou do jornalismo em geral- é uma tarefa arriscadíssima. Ainda mais no caso brasileiro, dadas as recentes variações da economia e o curto intervalo de tempo dos dados disponíveis para análise.
Paradoxos
‘Quando o projeto deste estudo foi esboçado, no fim de 2003, os jornais estavam imersos numa crise’, escreve Lourival Sant’Anna. ‘Dois anos depois, quando os diretores de redação do ‘Estado’, da ‘Folha’ e do ‘Globo’ concederam entrevistas para este livro, celebravam o aumento da circulação dos jornais e marcas inéditas de lucratividade.’
Natural, portanto, que o autor tenha sido prudente e matizado em suas conclusões. Nada é simples na indústria jornalística e este livro permite ao leitor interessado familiarizar-se com alguns dos diversos paradoxos e situações contra-intuitivas que envolvem esse ramo de atividades.
Bolsa e modelo familiar
A abertura de capitais na Bolsa, supostamente mais moderna do que o modelo mais tradicional da empresa familiar, pode trazer distorções no desempenho dos jornais. É que o crescimento dos lucros a curto prazo, evidentemente interessante para os acionistas, pode ser fatal num prazo de tempo maior. Consegue-se grande lucratividade cortando custos e piorando o produto, porque demora um tempo até o consumidor desistir do jornal que habitualmente lê.
Temas como estes são analisados com clareza em ‘O Destino do Jornal’, que também sofre, entretanto, algumas das desvantagens do meio gutemberguiano em que é veiculado.
Os números que analisa vão apenas até o ano de 2006. Num clima de tão rápidas transformações, a internet mais uma vez mostra sua superioridade relativa. Mas, quando se trata de formular perguntas, e de estabelecer os quadros analíticos a serem alimentados por novas informações, um livro como o de Lourival Sant’Anna é ainda (como o jornal, espero) indispensável.
De um ponto de vista administrativo e financeiro, com estudos de caso muito interessantes e raciocínios estatísticos um bocadinho mais complexos, o livro de Philip Meyer ‘Os Jornais Podem Desaparecer?’ (editora Contexto) será uma leitura valiosa para quem quiser se aprofundar no assunto.
O DESTINO DO JORNAL: A ‘FOLHA DE S.PAULO’, ‘O GLOBO’ E ‘O ESTADO DE S.PAULO’ NA SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO
Autor: Lourival Sant’Anna
Editora: Record
Quanto: R$ 40 (272 págs.)
Avaliação: bom’
Imprensa nos EUA é tema de Philip Meyer
‘O professor da Universidade da Carolina do Norte (EUA) Philip Meyer analisou o futuro dos jornais impressos americanos em ‘Os Jornais Podem Desaparecer?’ (trad. de Patricia De Cia), livro que foi lançado em 2007 no Brasil.
Segundo ele, o modelo de negócios que pode garantir a sobrevivência dos jornais diários é fazer com que a qualidade da informação que eles publicam seja reconhecida pela opinião pública. No livro, Meyer demonstra que há uma correlação historicamente comprovada entre qualidade e sucesso comercial.’
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