Durante a Worldwide Developer Conference 2015, conferência organizada pela Apple para anunciar suas novidades, a gigante tecnológica chefiada por Tim Cook comunicou o lançamento do News, um aplicativo que vai hospedar reportagens criadas especificamente para o novo serviço; para isso, foram firmadas parcerias com diversas editoras, como a Condé Nast (que publica Vogue e Vanity Fair) e a Hearst (responsável por revistas como Cosmopolitan e Elle), além de veículos jornalísticos como os jornais The Guardian, New York Times e Daily Mail, a emissora esportiva ESPN e o site Buzzfeed.
O News colocará a Apple em concorrência direta não apenas com outros aplicativos de notícias, mas também com plataformas de mídias sociais populares nos próprios aparelhos da Apple. Não é coincidência que a novidade tenha sido divulgada logo depois de o Facebook reformular seu serviço de notícias e anunciar que faria parcerias com editoras para exibir reportagens em sua própria página. Resta saber se a Apple conseguirá concorrer com os 1,4 bilhão de usuários ativos da rede social de Mark Zuckerberg.
Poder de distribuição pode garantir sucesso
De acordo com Susan Prescott, vice-presidente de marketing de produtos da Apple, o News terá um layout exclusivo, será capaz de rastrear mais de um milhão de tópicos e permitirá que os leitores acompanhem suas fontes de notícias favoritas, bem como utilizem a pesquisa para descobrir novas fontes.
Craig Federighi, vice-presidente sênior de engenharia de software da Apple, prometeu uma boa quantidade de conteúdo; inicialmente, o New York Times vai fornecer cerca de 30 artigos diários, todos feitos sob medida para o serviço.
Embora o News seja muito similar a outros aplicativos do gênero, como o Flipboard, espera-se que o poder de distribuição e a própria marca Apple o coloquem em outro patamar. A expectativa é que o aplicativo já atinja centenas de milhões de dispositivos apenas nas primeiras 24 horas de lançamento. Além disso, ele se adequará automaticamente a todos os dispositivos da Apple, sincronizando a personalização feita pelo usuário.
Ao passo que o conteúdo será apresentado e entregue na plataforma da Apple, as editoras continuarão sendo donas do material que produzem e também serão responsáveis por controlar o formato dos textos.
Os veículos poderão vender anúncios através do aplicativo e, assim, manter a receita (o lucro será 100% deles). A Apple disse ainda que ajudará a vender as cotas de anúncios não negociados (nesse caso, a empresa reterá 30% dos dividendos – curiosamente, a mesma porcentagem que o Facebook negocia com seus parceiros).
Fim do NewsStand?
O novo serviço – que inicialmente será lançando apenas nos Estados Unidos, Reino Unido e Austrália – parece ter vindo para substituir o NewsStand, atual aplicativo de notícias da Apple (que não fornece conteúdo exclusivo, e sim disponibiliza o download de edições de jornais e revistas, mantendo o layout dos artigos originais).
O NewsStand foi lançado em 2011 e, à época, foi anunciado como o salvador dos jornais e revistas na era da internet. Em seu primeiro ano de atividade, o aplicativo chegou a quadruplicar a receita de diversas publicações digitais. No entanto, com o passar do tempo, os editores começaram a se queixar de que o NewsStand estava ocultando seu conteúdo em vez de destacá-lo. Com isso, muitos veículos acabaram recuando para aplicativos independentes, como o app do Guardian, que oferece boa visibilidade tanto na tela inicial do Ipad quanto nas lojas de venda de aplicativos.
Receptividade na imprensa
Joshua Benton, diretor do Nieman Journalism Lab, de Harvard, encarou o lançamento do News com otimismo e considerou o anúncio da Apple um dos mais animadores e importantes para editores em anos. “Sendo claro, a Apple tem feito muitos anúncios importantes para a própria Apple. Mas este foi o anúncio da Apple mais importante para as empresas de notícias”, afirmou.
Já Philip Bump, do Washington Post, segue uma vertente totalmente oposta e diz que o objetivo da Apple é simplesmente manter o usuário dentro do universo Apple. No entanto, ele não enxerga grandes desvantagens para os editores que aderirem ao News, pois crê que poucos leitores ligam para a fonte das notícias que leem – eles apenas querem consumir a notícia, não importa de onde ela venha. “E se o algoritmo for bom, o News pode, sim, abocanhar uma boa fatia do mercado”, opinou.