Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

‘New York Times’ bloqueia acesso da redação a seu site

celular tecladoA equipe do New York Times não poderá acessar a homepage do jornal a partir dos computadores da redação por uma semana. O objetivo da experiência é destacar a importância dos aparelhos móveis para o jornalismo.

O bloqueio teve início na segunda-feira (15/6). Três dias antes, os funcionários receberam uma mensagem explicando a ação, prevista para durar até 19/6. Quem tentar acessar o endereço nytimes.com dos computadores de dentro do prédio do New York Times em Manhattan receberá uma mensagem pedindo para acessá-lo através do celular ou tablet. Quem precisar entrar no site via desktop por algum motivo de trabalho poderá solicitar um passe de um dia.

“Nós fizemos progressos significativos na área móvel no último ano, mas acreditamos veementemente que ainda temos muito a conquistar”, dizia o texto, assinado pelo publisher Arthur Sulzberger Jr, pelo diretor-executivo Mark Thompson, pelo editor da página de Opinião, Andrew Rosenthal, e pelo editor-executivo do diário, Dean Baquet. A mensagem lembra que, hoje, mais de metade do tráfego do site do Times vem de aparelhos móveis. “Esperamos que essa mudança temporária nos estimule a tornar [o conteúdo] móvel parte ainda mais central do que fazemos”.

Adaptação

A experiência curtinha para enfatizar o aumento da importância dos aparelhos móveis para o jornalismo reflete um esforço longo do Times para investir cada vez mais nas plataformas digitais. Em outubro, o jornalão anunciou cem cortes na redação e ampliou o foco em seu conteúdo pago e no aplicativo gratuito NYT Now, que apresenta as notícias mais importantes do dia no celular.

No ano passado, um relatório interno sobre as mudanças digitais no Times vazou na internet, expondo a preocupação do diário com a nova concorrência digital, como o Huffington Post, o Business Insider e o BuzzFeed. O texto alertava: “Eles estão à nossa frente, construindo sistemas de apoio impressionantes para jornalistas digitais, e essa lacuna vai crescer, a menos que melhoremos nossas capacidades rapidamente”. O relatório – redigido por uma comissão liderada pelo jornalista Arthur Gregg Sulzberger, filho do publisher do Times, Arthur Sulzberger Jr – também criticava as deficiências técnicas da estrutura digital, como a ausência de um sistema organizado de tags para organizar os metadados das matérias, e a obsessão com a primeira página do impresso.

No início de 2015, o Times anunciou que reformularia sua tradicional reunião de pauta diária para decidir o conteúdo da primeira página – conhecida como “Page One Meeting”. Ela passaria a ser voltada às pautas que ganhariam destaque nas plataformas digitais. “Essas mudanças têm como objetivo assegurar que as nossas plataformas digitais fiquem menos atreladas aos prazos do impresso”, declarou, na ocasião, Dean Baquet. “O novo sistema nos dará mais flexibilidade para alcançar os nossos leitores nos aparelhos móveis e também em plataformas como o Facebook”.

Recentemente, o Times fechou parcerias com o programa Instant Articles, do Facebook, em que o conteúdo é hospedado na própria rede social, e com o novo aplicativo de notícias da Apple, o News. A ombudsman do Times, Margaret Sullivan, ressaltou os riscos corridos pelo jornal ao se aventurar nestas novas parcerias. “O Times está entrando em um território arriscado – fornecer seu jornalismo (de produção cara) para milhões de pessoas sem cobrar por isso”, escreveu. Margaret lembra que mais de 70% da receita total do Times ainda vêm da publicidade e das assinaturas do impresso. “Mas o impresso está, é claro, em um declínio duradouro e irreversível”, reconhece. “Mais e mais receita deve vir de fontes digitais para compensar a diferença”.