Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O que faz a imprensa

A mídia deve censurar e esconder as lamentáveis cenas que vem ocorrendo nos últimos dias no plenário do Senado? Ou, ao contrário, deve reproduzir fielmente e destacar todos os gestos, palavras e palavrões que tomam conta da mais alta câmara legislativa do país?


A falta de compostura está se tornando rotina, só tende a crescer, os analistas não descartam uma exacerbação da truculência e já contam com cenas de pugilato. O baixo nível não serve à democracia, isso sabemos – mas ocultar a verdade agride a democracia ainda mais e nos torna mais semelhantes à Venezuela. Então, o que fazer?


O certo seria a remoção cirúrgica do foco da infecção – a manutenção de José Sarney como presidente do Senado, reclamada até por senadores do PT. Como nem o governo nem os seus aliados estão dispostos a sacrificá-lo, estamos condenados a testemunhar o crescimento de um redemoinho capaz de espalhar-se perigosamente para outras esferas do Estado.


Fatos perniciosos


Comprova-se a cada momento que Sarney na presidência do Senado só prejudica a governabilidade desejada pelo Executivo, mas o seu afastamento nas atuais circunstâncias poderá tornar a situação mais caótica e incontrolável.


Na medida em que a imprensa oferece um panorama irrestrito dos acontecimentos como agora acontece, a crise só tende a agravar-se. E quando um desembargador de Brasília decide submeter o Estado de S.Paulo ao regime de censura prévia, impedindo-o de publicar as revelações da Polícia Federal sobre os negócios do clã Sarney, adiciona-se à crise política um material de altíssima combustão.


Se a censura contra o Estadão não for sustentada pelo STF, a situação poderá ficar incontrolável. Está comprovando, portanto, que a imprensa não é a geradora dos fatos perniciosos, ela é apenas os reproduz. Nestas circunstâncias só lhe cabe manter-se fiel aos seus compromissos institucionais.


Que os demais poderes façam o mesmo.