Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Plataforma quer ser ponte entre redação e jornalista cidadão

câmera fotográfica fotógrafoÉ cada vez mais corriqueiro, por veículos jornalísticos, o uso do jornalismo cidadão, onde o conteúdo utilizado para reportar uma história é produzido pelo próprio público. São desde vídeos de um incêndio ou acidente de trânsito até imagens da guerra na Síria e dos confrontos na Ucrânia. Nos últimos cinco anos, o material gerado por usuários passou a fazer parte do cotidiano de uma redação do século 21.

Foi pensando na popularização desse tipo de conteúdo que o fotojornalista John D McHugh criou a Verifeye Media, uma plataforma que pretende fazer o papel de “agência de notícias”, sendo a ponte entre os usuários produtores de conteúdo e as redações de jornais. A plataforma criada por McHugh irá realizar a triagem, verificar a veracidade do conteúdo, distribuí-lo, licenciá-lo e obter retorno financeiro para o usuário por sua utilização.

A Verifeye Media funciona através de um aplicativo, que inicialmente foi testado por usuários selecionados por McHugh. A princípio, o material produzido por esses “colaboradores” será enviado para uma plataforma central, que irá licenciá-lo para organizações de notícias por uma participação de 50% no lucro obtido com a transação.

Apenas usuários cadastrados terão a possibilidade de enviar material para a plataforma, inserindo tags e palavras-chave para ajudar os editores a encontrar o que procuram. O usuário só poderá enviar para a plataforma as imagens que foram capturadas utilizando o aplicativo da Verifeye Media. Os arquivos das imagens terão informações como a data, hora e local em que foram criados, assim como uma bússola e um leitor de altitude para, de acordo com McHugh, “podermos saber onde e quando você estava, em qual direção você estava olhando e se você estava no chão ou no décimo andar de um prédio”.

“Se tiver como provar a veracidade do conteúdo, então ele tem valor. E não importa se foi um jornalista profissional ou uma mãe que fez aquele registro. Realmente não importa”, resume o criador da plataforma.

Se a função de autoenvio do aplicativo estiver habilitada, o conteúdo será enviado automaticamente para a plataforma e os editores da Verifeye Media poderão visualizar a informação num mapa em apenas alguns segundos, reduzindo consideravelmente o tempo entre o envio e a publicação. “Tudo o que [os editores em redações] terão que fazer é entrar no site e dizer ‘Eu preciso de algo do ataque a bomba que aconteceu em Cabul hoje de manhã’, e verão 20 arquivos. Eles podem selecionar o que quiserem, finalizar o pagamento e utilizar o conteúdo”, explica McHugh.

Preocupação com os freelancers

O site Mashable tornou-se o primeiro cliente da Verifeye Media a utilizar o serviço. Durante a votação que legalizou o casamento gay na Irlanda, em maio, os editores do site selecionaram um vídeo de uma namorada propondo a outra em casamento minutos após os resultados finais terem sido divulgados. “Eu apenas entrei e olhei o que estava disponível e o vídeo da garota pedindo a namorada em casamento me chamou a atenção. E foi muito fácil pegar e colocar na matéria, nós tivemos um tremendo sucesso com isso”, conta Louise Roug, editora global de notícias do Mashable.

Louise também fez questão de ressaltar que, ao utilizar a plataforma, ficou claro que ela tinha sido desenvolvida por alguém que tinha os interesses dos freelancers como preocupação. Falta de apoio, problemas para receber o pagamento de um trabalho e, principalmente, a segurança são algumas das questões que McHugh levou em conta ao criar a ideia da Verifeye Media.

Veterano do fotojornalismo, McHugh já se colocou em risco ao cobrir guerras como a do Afeganistão. Ao desenvolver a Verifeye Media, ele também pretende facilitar o trabalho desses jornalistas profissionais para enviar conteúdo e receber pagamento pelo material produzido.

Segurança

Ele não quer, no entanto, incentivar as pessoas a se colocarem em uma situação de risco para conseguir uma foto ou vídeo. A Verifeye Media tem um sistema chamado “amber lights”, que é colocado na conta do usuário que esteja produzindo material em zonas de risco ou que o coloque em risco. Ao receber três “amber lights” seguidas, esse usuário é colocado automaticamente num “período de descanso”, onde o seu conteúdo não será licenciado. “Se nós tivermos alguém que esteja recebendo ‘amber lights’ regularmente, então nós iremos fechar a conta dele e dizer ‘você está maluco. Nós não queremos que alguém seja morto’”, explica.

Além disso, para proteger a segurança dos usuários de possíveis repercussões que o material enviado para a Verifeye Media possa trazer, McHugh decidiu que todos os perfis serão anônimos para as organizações de notícias.

Apesar de tanto o sistema da plataforma como o aplicativo ainda estarem funcionando em versão beta, McHugh espera que o crescimento das redes de colaboradores e clientes prove que o conceito da iniciativa está correto e que a Verifeye Media pode ser bem sucedida.