Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O noticiário, o senso comum e a incitação à violência

É necessária uma voz destoante em meio ao uníssono barulhento e ignorante. No caso da sistemática argumentação da imprensa de final de tarde de que a polícia precisa de armas de grosso calibre é urgente uma contraposição com o que ocorre no mundo nas ideias dos especialistas de mentes mais arejadas, principalmente os nacionais.

As polícias de países mais desenvolvidos trocam tiros com bandidos ou marginais fortemente armados com balas de chumbo (mesmo usando fuzis) que de fato não são perfurantes. Os especialistas em segurança pública tem opinião de que mesmo fuzis e carabinas não servem para o policiamento de rua por seu alcance muito longo.

O que ocorre com os bandidos e traficantes não é que procurem eficiência nas suas armas, mas duas coisas: como não possuem valor as vidas das pessoas das comunidades visam sempre intimidá-las usando- as como o valor psicológico de intimidação geral, inclusive para a classe média e formadores de opinião. Dessa forma, é mito eles portarem armamento mais eficaz que o da polícia.

Assim, para o discurso violento e falastrão de Datenas e Marcelos Rezendes há que se contrapor um pouco de lógica e de conhecimento que, aliás, eles não fazem questão de procurar ter. Eles utilizam sempre o argumento mais fácil e rasteiro que acreditam ser de gosto popular e assim vão moldando a sua vontade este gosto.

O imaginário da direita e do ódio

Agora existe uma “bancada da arma” disposta a levar esse tipo de retórica violenta ao Congresso Nacional e tornar mais beligerante ainda a política parlamentar. O pior é que para cada policial que tem uma arma ponto 40 ou maior, como no caso da Rota em São Paulo, existe um pobre desvalido assassinado nas noites das grandes cidades e isso tem que parar.

Outro mito criado e espalhado pela imprensa policial é o discurso contra as entidades de Direitos Humanos. A desculpa neste caso é que estas entidades se omitem nas atrocidades contra a população e se “preocupam em proteger os bandidos”. Não ocorre dessa maneira: as entidades não procuram individualizar vítimas ou algozes, mas trabalhar como assistentes sociais junto à causa da criminalidade e seus agentes.

Isso não aparece nos noticiários nem tem o glamour das manchetes sanguinolentas. Se os “profissionais” desse tipo de “jornalismo” tivessem preocupação com as consequências de sua retórica fascistizante, deveriam contrapor sempre a esse “argumento”, já de senso comum, a verdade minimizando o ódio e violência que geram diariamente.

Outro traço mitológico do noticiário policialesco de final de tarde é alimentado por um corte de classe em que se valorizam os crimes contra a classe média alta em detrimento dos pobres e desvalidos, justificando a pena de morte para estes, que já estão sujeitos há tempos por parte de policiais violentos jogando irresponsavelmente uma classe contra a outra.

Enfim, é neste tipo de programa que se encontra o maior número de afirmações de senso-comum e raciocínios fáceis que alimentam o imaginário da direita e do ódio em nosso país. Dele vive um sem número de cidadãos de má-fé que explora o cotidiano da população, independente de sua classe social.

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Fausto José de Macedo é jornalista e radialista