Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Ecossistema midiático

Gosto da força metafórica que a imagem de um ecossistema tem. Até mesmo porque, antes de qualquer coisa, é natural sua associação com movimentos, com mutações, ou mesmo com a própria vida. E é justamente esta imagem que torna possível a tradução hoje do cenário midiático: um ecossistema em constante mudança e movimento. Habitado por múltiplos “agentes” vivos.

Certa vez, o Professor Dr. Rosental Calmon Alves, na abertura de um importante congresso de Ciências da Comunicação, ponderou: “Passamos dos Ecossistemas onde predominavam os meios de massa a outro onde predomina uma massa de meios”. Fato! A pulverização midiática a e multiplicidade de suportes e plataformas, muito mais do que dispersar e fragmentar a audiência, instituíram novas formas relacionais com os meios.

Nesse sentido, mesmo fragmentadas, em termos de consumo de meios, as audiências não estão mais isoladas, nem meramente agrupadas nas outrora audiências “cativas-massivas”. Contudo, é importante que consideremos que o que está em jogo não é uma mera atomização no consumo – afinal há infinitas possibilidades de acessos a incontáveis suportes midiáticos -, mas as implicações geradas pelas novas relações entre meios e consumidores: e isso vai bem além da oferta de interatividade e conteúdo “on demand”.

Com efeito, há novas relações e ninguém nega o fato! O problema é que a complexidade do cenário contemporâneo evidencia uma peculiar construção midiática, na qual a circulação e os sentidos das mensagens se estabelecem a partir da conexão generalizada de tudo e de todos: inclusive dos meios e das pessoas. Nesse sentido, o novo ecossistema midiático nos evidencia que é impossível distinguir o real do virtual, uma vez que as duas dimensões, hoje, se misturam. Isso se dá porque estamos “todos ou quase todos” conectados de forma generalizada. Dispositivos móveis, redes Wi-Fi, 3G, 4G… enfim, a “vida real” nunca esteve tão online e midiática. Como bem ressaltou Henry Jenkins, no seu já “clássico” Cultura da Convergência, há convergência não só dentro dos aparatos tecnológicos, mas no interior das mentes dos consumidores e de suas interações sociais, sejam estas midiáticas ou não.

Por isso a metáfora do ecossistema responde tão bem a lógica de proliferação e adaptação contemporânea dos meios. Primeiro porque vemos um intenso fluxo de conteúdos através de diversos suportes de comunicação; segundo porque é concreta a cooperação entre esses meios e, por último, a migração do público por entre as plataformas, em busca de experiências e informação é o reflexo desse organismo em constante movimento e transformação.

Em paralelo, os “agentes interagentes” (meios, suportes, plataformas e consumidores) fazem aflorar distintas linguagens que convivem e transmutam as formas de consumir e partilhar, fazendo com que os consumidores possam assumir o patamar de produtores. Nunca se produziu tanta informação e “transformação” como hoje. Ou ainda, como concluiu o Professor Dr. Rosental, saímos de um ecossistema “midiacêntrico” para um “eucêntrico”, no qual cada indivíduo pode também ser mídia e distribuir conteúdo em abundância.

Assim, a constatação que nos salta aos olhos é que a vida que pulsa e se movimenta, neste ecossistema midiático, atua diretamente para que os meios, exclusivamente massivos, percam poder e controle sobre a informação. Agora, além de todo o aparato tecnológico, são necessários os diálogos e a convocação do público para a participação.

Sim! Definitivamente: gosto da força metafórica que o ecossistema tem e que traduz, com maestria, o nosso cenário midiático.

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Diego Oliveira é colunista do Meio & Mensagem