O arquivamento das denúncias contra o presidente do Senado, José Sarney, por iniciativa do presidente do Conselho de Ética, deixou a imprensa brasileira momentaneamente desorientada.
Sem um fato concreto para dar sequência ao processo de desmanche público de Sarney, jornais e revistas do fim de semana preferiram fazer um balanço geral, evitando especular sobre os próximos movimentos das forças em antagonismo no Congresso.
O Globo apostou num debate entre especialistas sobre a existência do Senado Federal. A Folha de S.Paulo simplesmente abandonou o assunto. O Estado de S.Paulo desviou-se um pouco do caso Sarney para avaliar como esses escândalos paralisam os trabalhos legislativos, e apresentou um levantamento da sucessão de denúncias que envolvem o Senado desde 2001, quando o então presidente da Casa, Jader Barbalho, foi obrigado a renunciar.
Direito legítimo
Nas edições de segunda-feira (10/8), os jornais voltam a acreditar que o Senado vai mudar a decisão do presidente do Conselho de Ética e levar Sarney a julgamento. Mas a Folha cria um fato novo, ao noticiar que também o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra, andou cometendo irregularidade, ao mandar para as contas públicas as despesas de viagem da filha a Nova York.
Com isso, a tropa de choque de Sarney ganha munição para seguir mantendo sua tática de intimidação.
O Estadão coloca todo o noticiário sobre o Senado na série ‘Estado sob censura’, procurando amplificar a repercussão da decisão do juiz Dacio Vieira, do Distrito Federal, que proíbe o jornal de publicar informações sobre as investigações que atingem o empresário Fernando Sarney, filho do senador José Sarney.
Talvez fosse o caso de refletir se a atitude do jornal, de se apresentar como vítima de censura, seja a melhor para seus leitores e para a sociedade. Imagine-se o que aconteceria se o mais do que centenário Estadão, veterano de outras porfias e tentativas de intimidação muito mais severas, decidisse enfrentar a censura e publicasse uma ampla reportagem sobre os negócios de Fernando Sarney?
Que tal se o jornal, em vez de ficar se lamentando, exercesse o legítimo direito da desobediência civil contra essa medida que considera abusiva, pagando a multa imposta pelo juiz Dacio Vieira com apoio de seus anunciantes e leitores?