PRÊMIO DA PAZ
A notícia que não estava lá
‘A conhecida promiscuidade da grande imprensa com o antigo bloco de poder determina os enquadramentos noticiosos. Foi esse o critério editorial que decidiu que o Prêmio da Paz, concedido pela Unesco ao presidente Lula, deveria ser a ‘notícia que não estava lá’.
Disponível em boas locadoras, O homem que não estava lá é uma lição de cinema. O excelente filme dos irmãos Coen, rodado em preto e branco, é programa obrigatório para cinéfilos exigentes. Mescla melancolia, absurdo e tragicidade em estilo refinado e contundente. Vale a pena conferir.
Sem qualquer pretensão ficcional, os grandes jornais do eixo Rio- São Paulo não deram, sequer nas dobras inferiores da capa, chamada para uma notícia que, pela relevância, deveria ser objeto de destaque, com direito à análise de colunistas e menção em editoriais: a concessão, pela Unesco, do Prêmio de Fomento da Paz Félix Houphouët-Boigny 2008, ao presidente Lula. Novamente a constatação se impõe: quando a informação deixa de se submeter a outro imperativo que não seja o do aprofundamento democrático, a liberdade desejada se apresenta como sua própria contrafação.
O noticiário sobre o fato se resumiu a pequenas colunas nas páginas internas, praticamente reproduzindo o comunicado do organismo da ONU. A TV Globo ignorou totalmente o fato, evidenciando, mais uma vez, a clara partidarização que define os critérios de noticiabilidade da emissora, e seu caráter de prestadora de serviços a uma oposição que tem no denuncismo vazio sua única forma de ação.
Ora, se levarmos em conta que a narrativa midiática, desde 2003, segue o mesmo diapasão, apresentando o governo como algo pontuado por descompassos entre discursos e práticas, entre retórica e realidade, sem projetos nas áreas de educação, saúde e infra-estrutura, a premiação do presidente deve mesmo ocultada de todas as formas possíveis. Afinal, mais que uma distinção honorífica a um chefe de Estado, que é definido nas páginas como alguém que ‘se limita a requentar e rebatizar programas da administração anterior’, os motivos apresentados pelo júri expressam a deslegitimação de um jornalismo que já não convence mais ninguém quanto a sua alegada seriedade e isenção.
Quando o ex-presidente de Portugal, Mário Soares, diz que Lula foi escolhido ‘por seu trabalho em prol da paz, do diálogo, da democracia, da justiça social e da igualdade de direitos, assim como por sua inestimável contribuição para a erradicação da pobreza e a proteção dos direitos da minoria’, os nossos escribas sentem que sua produção diária, mais uma vez, foi estilhaçada.
Sempre que lhes tiram o chão, rasgando os pés de quem anda na contramão da história, os profissionais da imprensa de pequenos favores sabem que não lhes restam saídas: ou baixam o teor de predisposição ideológica com que tratam a figura do presidente ou continuam enquadrando a cobertura com o viés partidarizado, classista, que tem transformado redações nos maiores celeiro de ghost-writes da história republicana.
Produzir textos para terceiros- políticos conservadores, empresários e velhos oligarcas- pode ser rentável, mas traz contratempos. O Prêmio de Fomento da Paz Félix Houphouët-Boigny revela o que acontece quando o baronato midiático joga suas fichas em um projeto que ‘vai muito além do papel de um jornal’.
A conhecida promiscuidade da grande imprensa com o antigo bloco de poder determina os enquadramentos noticiosos. Foi esse o critério editorial que decidiu que a iniciativa da Unesco deveria ser a ‘notícia que não estava lá’.
A mais nova produção das famílias Marinho, Mesquita e Frias deveria ser rodada em moderníssima tecnologia de impressão, mesclando esquecimento, desinformação e uma aposta clara na cumplicidade do leitor.
E assim foi feito. Sem roteiro razoável, diálogos sutis ou reviravoltas surpreendentes, o jornalismo nativo deu mais um passo para se afirmar como ‘comédia de erros’, gênero no qual parece operar com mais desenvoltura. Há enormes chances de êxito. A corte costuma pagar bem a seus bobos mais notáveis.
PS: Em sua coluna de sexta-feira, 15/5, o jornalista Merval Pereira tratou do assunto. Atribuiu a premiação ao fato de Lula ter sabido aproveitar a importância relativa que o Brasil, entre outros países emergentes, passou a ter com a crise econômica mundial. Soa como reparo tardio e constrangido.
Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, colunista da Carta Maior e colaborador do Observatório da Imprensa.’
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A esperteza publicitária
‘As tentativas da Anvisa de impedir que bebidas de teor alcoólico mais baixo, como cervejas e vinhos, continuassem a ser veiculadas a qualquer hora do dia nunca vingaram. E uma das razões está no fato das cervejarias patrocinarem as principais transmissões de eventos esportivos no país.
O estádio do Pacaembu foi palco da segunda partida das finais do campeonato paulista deste ano. Com o empate em um a um, o Corinthians
tornou-se campeão, já que vencera o primeiro jogo na Vila Belmiro. O
‘próprio da municipalidade paulistana’, como o estádio era chamado pelo locutores de outras épocas, viveu um dia de festa (apesar das trapalhadas da Federação na hora de premiar os vencedores, causando até um princípio de incêndio).
O Pacaembu, velho de quase 70 anos, a serem completados no ano que vem, deu conta do recado. As reclamações da imprensa se restringiram ao gramado, realmente muito mal cuidado pela atual administração. Sobre o pior, que estava à vista de todos, não se ouviu nenhum pio, por motivos óbvios.
Placas de publicidade, colocadas estrategicamente ao redor do campo para obter os melhores e mais constantes ângulos das câmeras de TV, anunciavam bebidas alcoólicas cuja propaganda pelo rádio e pela televisão é proibida no horário em que o jogo se realizava. Sem nenhum pudor a TV anunciava, ainda que indiretamente, marcas de cachaça e conhaque que, pela lei, só poderiam ser mostradas depois das 21 horas.
As tentativas da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) de impedir que bebidas de teor alcoólico mais baixo, como as cervejas e os vinhos, continuassem a ser veiculadas a qualquer hora do dia nunca vingaram. E uma das razões, sem dúvida, está no fato das cervejarias patrocinarem as principais transmissões de eventos esportivos no país.
Ainda assim, a lei determina que bebidas com mais de 13 graus na escala Guy Loussac (caso da cachaça e do conhaque) só podem ser propagandeadas pela TV e pelo rádio entre as nove da noite e as seis da manhã. Mas na final do Paulistão, lá estavam sendo exibidas sem nenhuma restrição em plena tarde de domingo.
Emissoras, agências de publicidade, anunciantes e concessionários dos espaços publicitários no Pacaembu (e de outros estádios onde a prática se repete) encontraram um belo atalho para burlar a lei. Além de resistirem bravamente a possíveis restrições à propagada diurna de cervejas, conseguiram veicular também nesses horários bebidas de alto teor alcoólico, mostrando toda a sua esperteza. A cada tomada de câmera da pinga que ‘é uma boa idéia’ ou do conhaque ‘macio’, risos de superioridade devem aparecer nas faces dos que operam à margem da lei.
Afinal eles são mesmo muito espertos.
A essa gente não interessa, por exemplo, os resultados de duas pesquisas recentes realizadas aqui e na Europa. A brasileira, apoiada pela Fapesp (Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo) e divulgada pela Fundação Oswaldo Cruz, mostra a diferença de atitude em relação à bebida dos adolescentes que ficam mais ou menos tempo expostos à propaganda desses produtos. Os primeiros consomem álcool em quantidades maiores do que os outros.
Os pesquisadores estudaram o comportamento de estudantes de 14 a 17 anos, da rede pública de ensino de São Bernardo do Campo, diante da exposição de 32 propagandas de cerveja. Entre os adolescentes que já haviam sido expostos previamente a mais mensagens publicitárias, a pesquisa constatou que o consumo de bebidas alcoólicas é de cinco a dez vezes maior. ‘As propagandas que mais chamavam a atenção dos estudantes estavam associadas a sexualidade, humor e futebol’, disse o principal autor do trabalho, Alan Vendrame, pesquisador da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
Na Holanda, cientistas da Universidade de Radboud conduziram um experimento com 80 estudantes universitários do sexo masculino, de idades entre 18 e 29 anos, divididos em quatro grupos. Um deles assistiu ao filme American Pie – A Primeira Vez é Inesquecível, com muitas referências ao consumo de bebidas alcoólicas durante a trama e com propagandas desses produtos nos intervalos. Outro grupo assistiu ao mesmo filme sem nenhuma propaganda. Um terceiro grupo assistiu ao filme 40 Dias e 40 Noites, que tem menos referências a bebidas alcoólicas mas que foi interrompido algumas vezes por comerciais de bebidas. E o quarto assistiu ao mesmo filme, sem intervalos.
Durante a exibição os participantes tinham acesso a uma geladeira com cerveja, pequenas garrafas de vinho e refrigerantes. Aqueles que assistiram ao American Pie serviram-se de 1,5 copos a mais de cerveja ou vinho do que os que assistiram ao 40 Dias e 40 Noites. Os resultados sugerem que o efeito do conteúdo de álcool na TV não só é capaz de aumentar a compra de bebidas alcoólicas, mas pode também estimular o seu consumo imediato.
‘Nosso estudo mostra claramente que exibir bebidas alcoólicas em filmes e propagandas não apenas influi nas atitudes das pessoas e nas regras para bebida na sociedade, mas pode funcionar como uma sugestão que afeta o desejo e o subsequente consumo de bebida’, afirmou o pesquisador Rutger Engels que liderou o estudo. A pesquisa foi publicada na edição de maio-junho de 2009 da revista científica britânica Alcohol and Alcoholism.
As conseqüências desse consumo são mais do que conhecidas: doenças,
atitudes anti-sociais, mortes no trânsito, entre outras. Mas a resposta dos publicitários e dos seus associados é sempre a mesma: a auto regulamentação resolve tudo. Afirmação igualmente desmentida por outra pesquisa conduzida por Alan Vendrame. Ele investigou a violação das regras impostas pelo código de ética do Conar (Conselho Nacional de Auto Regulamentação Publicitária) e constatou que 12 das 16 regras para a publicidade de bebidas alcoólicas são violadas. Entre elas, a que impede a propaganda de utilizar imagens, linguagens ou idéias sugerindo ser o consumo do produto um sinal de maturidade ou que contribua para o êxito profissional, social ou sexual.
A determinação de que os personagens da propaganda não devem ter, nem aparentar ter menos de 25 anos, também não é cumprida. Assim como a que impede o apelo sexual. O pesquisador entrevistou 282 estudantes de 14 a 17 anos de escolas públicas também de São Bernardo dos Campo mas não os mesmos que participaram da outra pesquisa acima mencionada.
São constatações que mostram claramente a necessidade da presença do
Estado nesse tipo de relação. A sua ausência não só permite o
desrespeito às regras de auto regulamentação como dá aos agentes da
propaganda a sensação de total impunidade, levando alguns deles a buscar caminhos tortuosos para burlar o pouco de lei existente. Como no caso das placas publicitárias colocadas nos campos de futebol para serem exibidas pela TV.
Laurindo Lalo Leal Filho, sociólogo e jornalista, é professor de Jornalismo da ECA-USP e da Faculdade Cásper Líbero. É autor, entre outros, de ‘A TV sob controle – A resposta da sociedade ao poder da televisão’ (Summus Editorial).’
ZERO HORA
O ‘Rio Grande’ merece isso!
‘O jornal Zero Hora publicou um editorial sobre a onda de escândalos envolvendo o governo Yeda Crusius (PSDB). O texto coloca no mesmo saco acusados de roubo, desvio de dinheiro público, formação de quadrilha, peculato, falsidade ideológica, corrupção e os denunciantes destes crimes. Raras vezes, a posição editorial do grupo RBS mostrou-se tão desnudada.
O editorial de hoje (12/05/2009) do jornal Zero Hora, de Porto Alegre, merece ser guardado. É um registro importante para alguém que deseje fazer um dia uma história do comportamento editorial da mídia gaúcha. Raras vezes, a posição editorial do grupo RBS, maior empresa de comunicação do Sul do país, mostrou-se tão desnudada. É uma constrangedora exibição de cinismo, ignorância, delírio, mentira, hipocrisia e irresponsabilidade. Intitulado ‘O Rio Grande não merece isso!’, o editorial coloca no mesmo saco acusados de roubo, desvio de dinheiro público, formação de quadrilha, peculato, desvio, falsidade ideológica, corrupção ativa e passiva, entre outros crimes, e os denunciantes. Vamos a ele (o texto em itálico refere-se ao editorial):
‘Os gaúchos vivem um momento triste da história política deste Estado. Como se não bastassem os inevitáveis problemas decorrentes da crise econômica mundial e das armadilhas do clima, lideranças políticas, autoridades e instituições vêm protagonizando um deplorável jogo de acusações, suspeitas e mentiras que só confunde e decepciona a população. Os cidadãos rio-grandenses já não sabem em quem acreditar, tal é o emaranhado de denúncias sem provas, explicações pouco convincentes, gravações misteriosas e desarrazoadas manobras partidárias voltadas unicamente para a conquista do poder. Será tão difícil assim para o Rio Grande e sua gente retomar o caminho da verdade e da dignidade?’
A primeira frase é verdadeira. Uma das únicas em todo o texto. Na segunda frase, já aparecem a ignorância e a irresponsabilidade. Entre as mazelas do Rio Grande figuram as ‘armadilhas do clima’. Como assim, ‘armadilhas’? Para a RBS, o clima é um agente ardiloso que está colocando armadilhas a frente do pobre povo gaúcho? Os fenômenos climáticos atípicos que vem se repetindo com regularidade crescente no Estado (como secas, furacões, enchentes, entre outros) são apresentados como sendo algo completamente dissociado da ação humana. O desmatamento desenfreado, a desertificação, a morte de rios, riachos, lagos e açudes, a destruição de áreas fundamentais para o equilíbrio ambiental – tudo isso é reduzido à categoria de ‘armadilhas’ do clima.
O mesmo parágrafo opera uma lamentável diluição de responsabilidades entre acusadores e acusados. ‘Os cidadãos riograndenses já não sabem em quem acreditar’, diz o texto. Que tal acreditar nas instituições responsáveis por apurar denúncias de roubo de dinheiro público? Que tal, por exemplo, divulgar ampla e didaticamente para a população o resultado das investigações da Polícia Federal e do Ministério Público Federal na Operação Rodin, que denunciou, com fartas provas, a existência de uma quadrilha instalada no aparelho do Estado, operando inclusive com um braço midiático. Nunca é demais lembrar que, logo após o início da Operação Rodin (que desbaratou a ação de uma quadrilha no Detran gaúcho), uma das pautas dos veículos da RBS foi sobre o uso de algemas em ‘homens de bem’.
‘As mais recentes denúncias contra o atual governo do Estado, de uso indevido de recursos de campanha, lançam uma nova carga de suspeições no ventilador da moralidade pública. De um lado, está uma governadora acuada por incessantes ataques de oposicionistas, servidores descontentes com a administração e inimigos políticos velados. De outro, está uma oposição ansiosa para transformar qualquer gota d’água em tsunami, sustentada tanto pelo fogo amigo de quem gravita em torno do poder com interesses subalternos quanto pela munição clandestina de quem deseja conquistá-lo. No meio deste fogo cruzado, estão os cidadãos, os contribuintes, os eleitores deste Estado, cada vez mais desiludidos com a classe política e confusos em relação a seus representantes’.
Para a RBS, a governadora está ‘acuada por ataques de oposicionistas, uma oposição ansiosa e inimigos políticos velados’. A governadora não estaria acuada por investigações de instituições republicanas como a Polícia Federal, o Ministério Público Federal, o Ministério Público de Contas e a Assembléia Legislativa, apenas para citar algumas??? E ‘no meio do povo cruzado’ estaria os ‘cidadãos, contribuintes e eleitores cada vez mais desiludidos com a classe política’. Para a RBS, os cidadãos, contribuintes e eleitores do Rio Grande do Sul não têm qualquer responsabilidade sobre suas escolhas políticas. São eternas vítimas da ‘classe política’ que, supostamente, não é escolhida por eles.
‘Ninguém é convincente neste episódio lamentável: nem os denunciantes, que levantam suspeitas sobre tudo e todos, e não conseguem provar nada; nem o governo, que parece mais preocupado em desqualificar seus acusadores do que em se abrir à transparência exigida pelos cidadãos. E o pior é que as instituições independentes, que poderiam abreviar a angústia da população, mostram-se no mínimo insensíveis. Como justificar, por exemplo, que o Ministério Público Federal, ao qual se atribui a guarda de provas decisivas para o equacionamento do impasse, não venha a público para, pelo menos, esclarecer se elas existem?’
Mais uma vez a operação de diluição entre acusadores e acusados. Esse parágrafo beira a cumplicidade com os acusados de formar quadrilhas para saquear o estado. E as ‘instituições independentes’ são insensíveis por não dizerem o que a RBS quer na hora que ela quer.
‘Cogita-se, agora, da formação de uma CPI na Assembleia Legislativa do Estado para investigar as novas denúncias contra o governo. Com todo respeito a esse instrumento de ação parlamentar, é difícil imaginar que a pretendida comissão não venha a se transformar apenas num palanque eleitoral da disputa política para o pleito do próximo ano. Numa situação normal, se fosse para realmente apurar a verdade, a investigação seria bem-vinda. Mas no atual momento e considerando-se a mesquinhez das posições políticas vigentes, tende a ser uma perda de tempo e um novo fator de descrença da sociedade nos seus representantes, independentemente da sigla partidária que defendem’.
Aqui, o instrumento da CPI é apontado como ‘palanque eleitoral da disputa política’. Memória é bom e não faz mal a ninguém. No dia 27 de abril de 2001, o mesmo jornal Zero Hora publicou um editorial elogiando a CPI da Segurança Pública que estaria ‘cumprindo o seu papel’: ‘bastou uma inspeção feita de surpresa no Instituto Geral de Perícias (IGP), na capital, para que representantes da comissão de inquérito pudessem constatar in loco as graves deficiências materiais e de pessoal desta instituição cujo trabalho é essencial para o combate à criminalidade’, afirmou o editorial.
Na mesma linha, no dia 22 de março de 2001, a então editora de Política de ZH, Rosane de Oliveira, escrevia: ‘O sucateamento da frota da Brigada Militar e da Polícia Civil não é uma abstração criada pelos opositores do governo (Olívio) para justificar a criação de uma CPI (…). O governo do Estado está diante de um problema que exige ação imediata’ . Nestes e em outros textos de opinião publicados na época não há referências ao ‘palanque da oposição’
‘O que não pode é persistir esta situação de irresponsabilidade coletiva, que só faz mal ao Estado. O Rio Grande, por sua tradição política e pela índole de sua gente, não merece tanto constrangimento. Ainda que um parlamentar da terra tenha dito recentemente que está se lixando para a opinião pública, somos nós – os cidadãos comprometidos com o progresso e a justiça – que podemos mudar este estado de coisas, transformando a indignação em protesto, em manifestações públicas, em voto consciente, em repúdio inequívoco às mentiras e falsidades. O Rio Grande exige mais grandeza política de seus representantes políticos’.
A irresponsabilidade que faz mal ao Estado é a da RBS e seus agentes político e midiáticos que não respondem por suas escolhas políticas e editoriais. Há décadas, a RBS defende e integra um esquema de poder político e econômico que anda de mãos dadas com a privatização do Estado, a destruição ambiental e a criminalização dos setores da sociedade que lutam contra isso. Quando os privatizadores do bem público são pegos com a boca na botija questiona-se o uso de algemas e dilui-se acusadores e acusados. Apresentando-se como porta-voz da ‘índole do povo gaúcho’, a RBS oculta seus interesses políticos e empresariais, sonega informações, transforma o clima em um inimigo ardiloso, pisoteia a memória e a consciência histórica do Estado.
Uma última observação: o Rio Grande merece isso sim. Shakespeare colocou na boca de Hamlet: ‘se todos recebessem o que merecessem, ninguém escaparia do chicote’. O Rio Grande do Sul e a população do Estado, apontada miticamente como a ‘mais politizada’ do país, têm o dever de responder por suas escolhas e omissões.
Marco Aurélio Weissheimer é editor-chefe da Carta Maior (correio eletrônico: gamarra@hotmail.com)’
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