Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Múltiplos conteúdos ou conteúdos multiplicados?

A internet, com sua infinidade de sites e blogs, costuma parecer um universo com grande quantidade de conteúdo. E, de fato, é. A questão é que, por trás dessa aparente diversidade de informações disponíveis, muitas delas são paráfrases de matérias já publicadas nos portais mais acessados (e de maior credibilidade), ou até mesmo cópias explícitas de conteúdo – o que, inclusive, configura crime de violação de direitos autorais. A Folha de S.Paulo, por exemplo, já adota um mecanismo que proíbe a cópia dos textos de sua página – afinal, quando uma informação pode ser acessada por diversos caminhos, na rede, a quantidade de cliques na fonte originária é dividida com as demais fontes e, então, reduzida, gerando menos receitas publicitárias.

Além disso, cabe ressaltar que, no Brasil, esses portais mais acessados geralmente estão associados aos grandes grupos de comunicação, os quais fazem parte da “velha mídia” descrita por Ken Doctor (2011) no livro Newsonomics, como as páginas da Globo.com, R7, Folha de S.Paulo, Estadão e Veja. “É claro que aqui existe uma enorme ironia. A maior parte do conteúdo de notícias na rede é proveniente da ‘mídia convencional’. Ele está apenas sendo distribuído de outra forma e, com frequência, em sites da rede que não são de propriedade dos jornais” (DOCTOR, 2011: 120). Há também o caso de sites vinculados a provedores de internet, como Terra, UOL e iG, com grande abrangência virtual.

Se considerarmos o que tem acontecido nos Estados Unidos, país que geralmente aponta as tendências do mundo digital, essa situação pode mudar. A “velha mídia” americana parece estar perdendo espaço para as iniciativas digitais. O caso do Huffington Post, pensado exclusivamente para a plataforma digital como um site de notícias e agregador de conteúdo de blogs, é emblemático. Segundo relatório da Nielsen/NetView, baseado em levantamento de setembro de 2013 e já apresentado aqui no Observatório da Imprensa, os americanos passam, em média, mais tempo conectados no Huffington Post (23 minutos) do que nos tradicionais New York Times (18 minutos) e Washington Post (8 minutos). “O novo consumidor quer intervir. Ele vai à informação, não espera que lhe entreguem nada” (DÓRIA, 2009: 190).

Possibilidades e restrições

No cenário das mídias digitais, as possibilidades para os jornalistas são as mais diversas possíveis. Uma ideia bastante enfatizada por Ken Doctor (2011) é a busca pelos nichos, ou seja, segmentos específicos de público, com maior nível de exigência e aprofundamento. Esse pode ser o segredo para um site, blog, página de rede social ou canal de vídeo que queira alcançar as pessoas por meio de um conteúdo diferenciado, de modo a criar seu próprio público em meio a tantas opções disponíveis. Ainda que seja pequeno, esse grupo pode se fidelizar e gerar credibilidade para o profissional.

Contudo, apesar do “oba-oba”, o acesso ao jornalismo digital deve ser levado em consideração. Segundo pesquisa divulgada em 2015 pelo IBGE, com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2013, apenas 49,4% da população brasileira tem acesso à internet. Além disso, quem navega na web nem sempre tem o objetivo de consumir conteúdo informativo.

Cabe destacar, ainda, que o Brasil ainda engatinha nas velocidades de banda larga e de conexões móveis (3G/4G) – a largura de banda é fundamental, por exemplo, para a reprodução de vídeos do YouTube. Conforme estudo da empresa de tecnologia americana Akamai, baseado em dados de 2014, o Brasil tem a 9ª pior velocidade média da internet banda larga do mundo, com 2,9 Mbps, empatando com o Vietnã.

Referências bibliográficas

DOCTOR, Ken. Newsonomics. São Paulo: Cultrix, 2011.

DÓRIA, Pedro. “O futuro é logo ali”. In: RODRIGUES, Carla (org). Jornalismo online: Modos de fazer. Rio de Janeiro: PUC-Rio Sulina, 2009.

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Vítor Hugo dos Santos Anastácio é aluno de Jornalismo da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro