Depois de passar uma semana fora, minha sexta-feira começou às 5 horas da manhã com o surpreendente tinido de uma mensagem de texto de minha amiga Alexandra, de Washington. Ele me mandou um link para o primeiro capítulo de Go Set a Watchman, o romance recentemente redescoberto de Harper Lee (tanto o Wall Street Journal quanto o Guardian o haviam publicado durante a noite). Li avidamente o capítulo ali mesmo, no telefone, e gostei especialmente da descrição de Joshua, primo de Jean Louise Finch, que, tendo sido preso por assaltar um diretor da universidade, fazia a pose de um grou, numa perna só, sempre que era citado o nome do homem. É claro que o capítulo me deixou ávida por ler mais. Na sexta-feira à tarde, a principal crítica literária do Times, Michiko Kakutani, publicou a resenha que fez do romance revelando que Atticus Finch é descrito como racista no livro.
Mais relacionado com esta coluna, tenho lido e-mails que os leitores do Times enviaram à ombudsman nos últimos dias.
Eis aqui aquilo que mais preocupou os leitores durante o período em que fiquei fora do batente:
* Uma foto de mulheres palestinas chorando que acompanhava um artigo sobre um adolescente morto por forças israelenses na Cisjordânia. Alguns leitores achavam que a foto suscitava compaixão por alguém que não a merecia. Penina Greenspan escreveu: “A cobertura que vocês fizeram da morte de Muhammad Hani al-Kasba foi enganosa em sua descrição da natureza do incidente. Várias fotografias que seus amigos fizeram circular na internet o descrevem como realmente ele era e vocês as deveriam usar para transmitir apropriadamente seu caráter e suas intenções. Ele era um militante e um terrorista que procurava matar.”
* Uma entrevista do suplemento Times Magazine com Dinesh D’Souza, o comentariata político conservador que pleiteou ser culpado de ter feito contribuições políticas ilegais em 2014 e foi preso. Os leitores entenderam que a entrevista o dignificava, que não questionava a veracidade de suas declarações e permitia que ele tivesse um regresso não merecido para o reino da aprovação pública. Steve Fankuchen escreveu: “Muito raramente, se é que alguma vez, vi comentários online inteiramente negativos sobre um texto e a grande maioria, não simplesmente críticos a D’Souza e ao que a ‘entrevista’ diz, mas ao Times por a ter publicado.”
* Vários aspectos da crise financeira grega. Margaret Hagen queixou-se da linguagem utilizada num texto explicativo: “Dificilmente há uma frase na explicação sem um termo em jargão idiota, sem qualquer valor explicativo para o leitor. Os leitores que entenderem o jargão não irão ler este artigo. Os que não entenderem irão compreender muito pouco depois de ler o artigo devido ao jargão não-explicativo.”
* Vários aspectos da cobertura da campanha presidencial. Russ Miller queixa-se que falta substância à cobertura: “Hoje, aprendi sobre selfies com os candidatos e as pessoas estão tendo dificuldade com o imenso campo republicano. Não li muita coisa sobre as opiniões propriamente ditas dos candidatos. Se vocês fossem minha única fonte de informação, eu não saberia por que Sanders está atraindo multidões, mas saberia que seu cabelo era ainda pior quando ele era mais novo e que uma pessoa de 90 anos diria que ele é velho demais.”
O que queremos é minimizar a manipulação
Os leitores também ficaram curiosos, ou preocupados, com um artigo do site Politico com o título “New York Times tira Cruz da lista de best-sellers”. As vendas do livro A Time for Truth, escrito pelo senador Ted Cruz, candidato presidencial republicano, foram, em grande parte, conseguidas por “compras maciças estratégicas” que não têm um peso significativo na avaliação feita pelo Times do que constitui um best-seller, segundo a porta-voz do jornal, Eileen Murphy.
Irei fuçar para ver as preocupações dos leitores nos próximos dias. Entretanto, agradeço muito àqueles que, com seus comentários ainda antes de minhas férias, forneceram sugestões de livros. Minhas leituras incluíram o romance de Denis Johnson The Name of the World e The People’s Platform: Taking Back Power and Culture in the Digital Age, de Astra Taylor. Posso recomendar ambos com efusão.
Uma atualização: depois que a editora HarperCollins contestou a ideia das compras maciças, leitores me escreveram, na tarde de sexta-feira, pedindo uma explicação. Encaminhei o pedido a Elieen Murphy e ela me escreveu o seguinte:
“Em primeiro lugar, a impressão de que nós manipularíamos a lista dos best-sellers por motivos políticos é simplesmente ridícula. Escritores conservadores vêm constantemente ocupando os primeiros lugares em nosso ranking – Glenn Beck, Bill O’Reilly e, mais recentemente, Ann Coulter são apenas alguns exemplos. Não me posso pronunciar sobre as declarações da HarperCollins – embora, obviamente, eles queiram que seus autores constem da nossa lista – mas fazemos uma análise pormenorizada das vendas a cada semana. Fazemos isso há muito tempo e utilizamos os nossos padrões em todos os sentidos. Confiamos na conclusão que tiramos em relação aos padrões de vendas do livro de Ted Cruz.”
Não vamos discutir os detalhes de como fazemos nossa análise, uma vez que o que queremos é minimizar a possibilidade de que as pessoas possam manipular os números.
E produzimos a nossa metodologia com a lista online.
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Margaret Sullivan é ombudsman do New York Times