Leia abaixo a seleção de quinta-feira para a seção Entre Aspas.
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Folha de S. Paulo
Quinta-feira, 13 de agosto de 2009
AGRESSÃO
Folha de S. Paulo
Acusados de torturar jornalistas são condenados
‘Acusados de torturar jornalistas do jornal ‘O Dia’, Odinei Fernandes da Silva, ex-policial civil, e Davi Liberato de Araújo foram condenados a 31 anos de prisão.
O crime contra uma equipe do jornal ‘O Dia’ ocorreu em 14 de maio de 2008. Os jornalistas apuravam o envolvimento de policiais com uma milícia da favela do Batan. Silva e Araújo negaram ligação com a milícia e o crime.’
MÍDIA E POLÍTICA
Clóvis Rossi
Os ‘coronéis’ estão no ar
‘SÃO PAULO – Um dia de 1986, aportei em Fortaleza, etapa de um périplo pelos dez principais Estados para acompanhar as eleições estaduais. A sensação da temporada chamava-se Tasso Jereissati, jovem empresário, dito ‘moderno’, que entrara na política (no PMDB, então) para enfrentar os coronéis, essa praga ‘imexível’ da política tapuia (e não apenas no Nordeste).
Pedi para acompanhar um comício do candidato no interior. Prometeram-me uma carona. De fato, na manhã seguinte, um carro de reportagem apareceu à porta do hotel. Era da principal organização jornalística do Ceará, hegemônica no papel, no rádio e na TV. Perguntei à repórter que viera me apanhar: ‘Vocês são do jornal ou da campanha?’ A moça não titubeou: ‘Dos dois’..
Conto essa historinha porque, no microdetalhe, ela é reveladora de porque é falsa a teoria, assumida até por gente pela qual tenho o maior respeito, de que o jornalismo perdeu capacidade de influenciar a política.
Não perdeu porque nunca teve, se estamos falando da mídia impressa. Não há espaço, aqui e agora, nem para listar os motivos.
Quem poderia de fato influenciar seriam rádio e TV. Mas como, se, a exemplo do que testemunhei ao vivo e a cores no Ceará, jornal, rádio, TV e comitê de campanha eram uma e a mesma coisa?
Nada mudou de 1986 para cá, como dá prova a concessão de uma rádio à família do senador Renan Calheiros no município de Água Branca, interior de Alagoas.
Para o eleitorado da família, a fonte de informação é a rádio da própria família, o que se repete em incontáveis casos de outros ‘coronéis’, do Amapá ao Rio Grande do Sul.
O que significa dizer que os problemas do Senado, da Câmara, da política não se esgotam naqueles prédios de Brasília. Estão no ar, em todo o país.’
Editorial
O vírus se espalha
‘CONFORME o dia e a ocasião, passam do ridículo ao revoltante, e do grave ao pitoresco, as tentativas que se adotam no Senado para neutralizar os efeitos da crise atualmente em curso.
As irregularidades cometidas ao longo dos últimos tempos compõem, por si mesmas, um prontuário suficientemente carregado, obra coletiva de senadores oriundos dos mais variados agrupamentos partidários. Mas o escândalo não se resume a isso.
A utilização da máquina pública em interesse próprio vai extravasando os muros do Senado para atingir a totalidade das instituições republicanas.
O jornal ‘O Estado de S. Paulo’ noticia o andamento de uma operação da Polícia Federal envolvendo a família Sarney. Mobiliza-se então um desembargador, de notórias relações com o clã -e revive-se, em pleno Estado democrático, a censura à imprensa.
Os interesses sarneyzistas se chocam com as atividades da Receita Federal: eis que a secretária do órgão, Lina Vieira, é demitida. Se é difícil encontrar provas concretas da relação entre os dois acontecimentos, tudo se torna mais plausível a partir das declarações de Lina Vieira quanto às pressões que teria recebido para ‘agilizar o caso’.
Assinale-se que a ministra Dilma Rousseff nega a existência de um encontro sigiloso no qual tivesse enunciado qualquer coisa nesse sentido. É a palavra de uma autoridade, nem sempre em pleno domínio das informações sobre seu próprio currículo, contra a de uma funcionária demitida, sem dúvida disposta a queimar as pontes que a vinculavam ao aparelho petista.
Aparelho por aparelho, vê-se a antiga ‘República de Alagoas’ aliada à oligarquia maranhense e a petistas num estado mental que oscila entre a catatonia e o alopramento. As notas monótonas de uma cantilena tradicional -a da ‘governabilidade’- entoam-se em nome dos interesses lulistas a favor do respaldo peemedebista à candidatura Dilma Rousseff.
Nesse contexto, o presidente Lula propõe a concessão de uma emissora de rádio ao filho do senador Renan Calheiros (PMDB-AL). É como se as mais diversas áreas de atuação do poder público se colocassem a serviço das oligarquias de sempre, quanto mais estas se veem desmascaradas em seu comportamento.
Vem, por fim, a nota pitoresca. Depois de manifestantes terem invadido o plenário do Senado, aos gritos de ‘Fora, Sarney’, decidiu-se pela proibição das visitas à Casa. O motivo oficial seria evitar a contaminação pela gripe suína.
Mas o vírus presente no Senado é de outro tipo. Atinge tanto governistas quanto a oposição. O apego do senador Arthur Virgílio ao cargo de líder do PSDB é tão intenso, cabe lembrar, quanto o de seu maior adversário.
Cuidados básicos de higiene, hoje tão em voga, são ignorados na política brasileira -e, se há algum inocente em toda a história, trata-se sem dúvida da simpática categoria dos suínos, que leva a culpa pela gripe, enquanto lodaçais de outro tipo se frequentam com grande espalhafato e gosto.’
TODA MÍDIA
Nelson de Sá
Macedo vs. Marinho
‘Pelo segundo dia, o ‘Jornal Nacional’ atacou diretamente Edir Macedo, voltando a questionar o uso do dinheiro dos fiéis pela Igreja Universal. E pela primeira vez o ‘Jornal da Record’ reagiu, com ataques a Roberto Marinho, que foi presidente das Organizações Globo, e referências ao uso político da rede.
Na escalada do ‘JN’, ‘Ministério Público quer ajuda internacional na investigação contra Edir Macedo por lavagem de dinheiro’. E do ‘JR’, ‘as acusações contra a Universal: os interesses por trás da notícia’.
SARNEY? QUE SARNEY?
Na manchete de ‘O Estado de S. Paulo’, ‘Oposição aceita acordo que preserva Sarney’. E na manchete do site, à noite, ‘Conselho arquiva denúncia contra Virgílio’, dizendo que, ‘após negar acordo, Duque favorece tucano’.
Antes, em reação à notícia do acordo, o blog de Reinaldo Azevedo desabafou contra a oposição que ‘entrega os pontos e acanalha-se’. Chegou a propor, ‘renuncie, Arthur Virgílio’, e a defender, em referência a Sérgio Guerra, ‘espero que o povo que presta não vote mais em nenhum dos protagonistas dessa pantomima’.
VERDE-TUCANO
O ‘Valor’ deu ontem, com eco por toda parte, que Fernando Gabeira ‘conversou com José Serra e FHC’ e, em suma, ‘acertou com o PSDB a candidatura’ a governador. Alfredo Sirkis, também do PV do Rio, disse que Gabeira teria então ‘dois palanques’ presidenciais, de apoio a Serra e Marina Silva, que foi convidada a se candidatar.
Na submanchete do portal G1, depois, Gabeira foi até a casa de Marina e conversou, como declarou à saída, ‘sobre uma possível campanha, sobre as potenciais dificuldades e tudo’. E descartou sair candidato sem o PSDB. ‘Não vou disputar só com um minuto na televisão.’
VERDE-SARNEY
Na home do PV, abaixo da manchete para a ‘refundação programática’ anunciada por Marina, chamada para a defesa de sua candidatura pelo líder do PV na Câmara, Zequinha Sarney, filho de José. ‘Seria garantia de discussão sobre a nova economia de baixo consumo de carbono.’
VERDE-MOTOSSERRA
Ecoou via Reuters, em longo despacho, que o governador e ‘magnata da soja’ Blairo Maggi, depois da ‘moratória da soja’ em Mato Grosso, decidiu estabelecer a ‘moratória da carne’. Não ‘obrigatória’, mas o bastante para a agência britânica dizer que ele agora ‘protege a floresta’.
GOLPE? QUE GOLPE?
Passou quase despercebida, pela cobertura on-line e de televisão, a presença do presidente de Honduras no Brasil, Manuel Zelaya, deposto por um golpe militar há pouco mais de um mês. O UOL deu na home que ele veio buscar apoio da ‘potência’, como descreveu. Destacou também entrevista com especialista da Unicamp que comparou sua derrubada com a de João Goulart, em 1964.
A visita repercutiu mais no exterior, via Associated Press e Xinhua, entre outras agências, postadas nos sites dos principais jornais americanos e chineses.
HOLLYWOOD VS. CHINA
As manchetes on-line de ‘New York Times’ e ‘Wall Street Journal’ saudaram a decisão da Organização Mundial do Comércio, contra a ordem chinesa de ‘forçar os produtores americanos de mídia a se associar a empresas chinesas’
NOVO MUNDO
O jornal ‘China Daily’ passou a publicar, em princípio mensalmente, colunas de Marcos Fava Neves, professor da Esalq, Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz. Ontem, escreveu sob o título ‘A crise, os Brics, as empresas’ que os emergentes ‘já mudaram o mundo’.
QUALQUER COISA
Começou com despacho da AP, anteontem, noticiando que a polícia acusou um âncora de TV da Amazônia, hoje deputado estadual, de encomendar homicídios para conquistar audiência. E rodou mundo, em canais de notícias e jornais do ‘USA Today’ ao ‘Guardian’. O colunista de mídia do ‘Washington Post’, Howard Kurtz, descreveu a acusação e comentou, ‘e eu pensava que os shows americanos fariam qualquer coisa por audiência’.
CLARICE
O ‘NYT’ publicou longa resenha de uma nova biografia da escritora brasileira Clarice Lispector, ela que ‘parece Marlene Dietrich e escreve como Virgina Woolf’’
PARALISAÇÃO
Folha de S. Paulo
TV Cultura entra na Justiça e estuda demissão de grevistas
‘Os radialistas da Fundação Anchieta, que administra a TV e da Rádio Cultura, decidiram ontem manter a greve iniciada na segunda-feira. Em resposta, a fundação decidiu acionar a Justiça para que os funcionários garantam o funcionamento da emissora, sob pena de a greve ser considerada ilegal.
Segundo o presidente da fundação, Paulo Markun, a suspensão da programação poderia justificar demissão e substituição de funcionários.
Com a paralisação, as transmissões foram suspensas da meia-noite às 8h. ‘A televisão está fora do ar? Durante a madrugada, sempre esteve fora do ar’, argumentou Sérgio Ipoldo Guimarães, da coordenação do Sindicatos dos Radialistas de SP.
Os 1.003 radialistas reivindicam o mesmo acordo da categoria no setor privado: 5,83% de aumento mais um abono variável de 35% (sendo o mínimo de R$ 424 e máximo de R$ 1.588). O governo ofereceu reajuste de 6,05%, correspondente ao INPC. Em nota, a fundação afirmou que ‘fará, dentro das condições legais, o necessário para manter o funcionamento dos serviços públicos essenciais prestados pela instituição’.
Markun prevê buraco de R$ 19 milhões nas contas e diz que a situação pioraria com a concessão do abono.’
TELEVISÃO
Daniel Castro
A Globo é contra a mudança
‘A Globo é contra a mudança no calendário do futebol proposta na semana passada pelo presidente Lula a Ricardo Teixeira, da CBF. A ideia, em estudo pela confederação, sincronizaria o Campeonato Brasileiro com os principais torneios europeus a partir de 2011. O Brasileirão iria de agosto a junho.
‘A Globo não deu OK [à mudança]. Nosso ponto de vista é que será ruim para o futebol brasileiro, que sofrerá forte impacto econômico. Se é ruim para o futebol, é ruim para todos os que investem no futebol, inclusive a Globo. Mas estamos 100% abertos ao debate’, diz Marcelo Campos Pinto, diretor da Globo Esportes, empresa que compra direitos.
O executivo afirma que não há atratividade para o futebol de janeiro até meados de março. ‘Tudo no Brasil para do Natal até o Carnaval. Não faz sentido ter atividade no pior momento econômico’. Ele afirma que os europeus param no meio do ano porque lá é verão. ‘Nós poderíamos mudar o calendário se mudássemos as estações’, ironiza.
Para Campos Pinto, o argumento de que a mudança evitará a fuga de jogadores durante o Brasileirão é falho. ‘Só cinco ligas [Espanha, Itália, Inglaterra, Alemanha e França] respeitam a regra de não contratar em janeiro e fevereiro. Esses países compram só 20% dos nossos jogadores. O principal mercado para brasileiro é o Leste Europeu. Os jogadores continuarão saindo de dezembro a fevereiro e de julho a agosto’, sustenta.
Segundo a Globo, a mudança terá o mesmo efeito dos pontos corridos: menos renda aos clubes e queda de audiência.
BOLSA DE APOSTAS
A Record trabalha com dois nomes para substituir Roberto Cabrini à frente do ‘Repórter Record’. Uma ala sonha com César Tralli, da Globo. Outros preferem Vinícius Dônola. E há uma ‘terceira via’: o programa não ter um repórter-âncora, mas um rodízio de repórteres.
ADEUS, DESCANSO
Nas últimas semanas, Douglas Tavolaro, vice-presidente de jornalismo da Record, contava as horas para sair de férias, o que ocorreu na última segunda. Mas, depois de reportagens na Folha, ‘O Globo’ e ‘Jornal Nacional’, sobre a abertura de ação judicial contra líderes da Igreja Universal, por supostas lavagem de dinheiro e formação de quadrilha, as férias foram imediatamente cassadas.
BOLADA 1
A Band se acertou com a Globo e irá transmitir os jogos das quartas-feiras da Liga dos Campeões, principal torneio interclubes da Europa. Os direitos do torneio para TV aberta pertenciam à Record, mas a Globo os tomou neste ano.
BOLADA 2
A Band reestreia na liga no dia 19, com Panathinaikos (Grécia) x Atlético de Madrid. A Globo só exibirá uma semifinal, a final e alguns clássicos.
ARQUIVO DO ROCK
O ex-jogador Walter Casagrande comentará o primeiro episódio de ‘Sábados de Rock’, série de sete reportagens do ‘Jornal Hoje’, adaptadas de ‘Seven Ages of Rock’, da BBC. Estreia neste sábado.’
Mônica Bergamo
Tudo mudou
‘Apesar dos apelos do staff do SBT, Silvio Santos, que sempre mudou a programação da emissora sem maiores avisos, decidiu agora manter tudo como está -pelo menos até dezembro.. ‘Vocês não dizem que TV é hábito?’, perguntou ele recentemente em uma reunião.
TUDO MUDARÁ
Em janeiro, no entanto, os horários de alguns programas podem ser alterados, com o aval de Silvio.
O NOVO DE NOVO
E, ao mesmo tempo em que prepara a estreia de ‘1 contra 100’, o SBT e o publicitário Roberto Justus já avançam no desenho de um novo programa para bater de frente com ‘O Aprendiz’, que ele comandou na Record e que deve agora ser dirigido por João Doria Jr.. Já está decidido que Walter Longo e Claudio Fornes, ex-conselheiros do ‘Aprendiz’, participarão do novo programa, também voltado para negócios, com prêmios milionários e, desta vez, realizado em cenários grandiosos.
SONHO DE VERÃO
‘1 contra 100’ estreia em setembro e termina em dezembro. O outro programa de Justus deve estrear só em março, depois das férias de verão.’
CINEMA
Marcos Augusto Gonçalves
Filme faz retrato afetivo do polemista Paulo Francis
‘Em março de 1987 chegou às mãos de Nelson Hoineff, então diretor de jornalismo da TV Manchete, uma carta remetida por Paulo Francis. Datada do dia 3, cidade de Nova York, trazia notícias tristes. Ao lê-la, em sua mesa de trabalho, Hoineff disfarçou, mas foi às lágrimas. Francis narrava, com detalhes comoventes, a agonia de Alzira, sua gata siamesa.
No documentário ‘Caro Francis’, o texto é lido pela viúva Sonia Nolasco. Ela se emociona e nos leva a experimentar, com uma nota melodramática, a perda de Alzira (que passava ‘o dia enroladinha, quietinha, no canto do sofá do escritório’) como o fim de uma vida familiar -ou a própria morte do jornalista.
‘Entreguei a carta a Sonia e pedi que ela lesse, sem que soubesse do que se tratava’, conta Hoineff, diretor do filme. Ele conheceu o casal em 1978, quando mudou-se para Nova York, com sua então mulher, para fazer um mestrado em comunicações. A pedido de uma amiga, levava um livro para Francis -a quem não conhecia. ‘Na verdade eu não gostava muito do jeito dele, me parecia um cara arrogante’, lembra.
Ao ser avisado da encomenda, o jornalista insistiu para que o casal subisse a seu apartamento. ‘Foi uma surpresa’, conta. ‘Ele nos abriu a porta às oito da noite e às oito e vinte já éramos amigos íntimos.’
A estreita amizade foi mantida ao longo de 19 anos, até que, em 5 de fevereiro de 1997, Paulo Francis morreu, vítima de um ataque do coração.
A ideia de fazer um documentário sobre o amigo veio três ou quatro anos depois da morte, numa conversa com Sonia Nolasco. Hoineff fez um projeto para levantar dinheiro por meio das leis de incentivo, distribuiu para algumas empresas, mas nada aconteceu.
Passaram-se mais alguns anos e a Esso, uma das empresas que recebera o projeto, decidiu desengavetá-lo. Mas o que seria um filme se transformaria num DVD para consumo interno. Apresentado numa edição do Prêmio Esso de Jornalismo, o resultado animou os amigos, que animaram Hoineff a dar um passo adiante e retomar o antigo projeto.
‘Caro Francis’, que já no título anuncia sua afeição pelo personagem, é uma viagem pela vida desta figura que foi, como diz o jornalista Boris Casoy, ‘um fenômeno’ da imprensa brasileira. A figura de Francis é nossa melhor tradução daquele jornalista do século 20, ilustrado e polêmico, que conferiu à profissão um encanto intelectual e boêmio hoje em declínio.
Mas sua singularidade extravasava o tipo: carioca e descendente de alemães, encarnou de maneira ora cômica, ora irascível, ora patética, mas sempre muito inteligente, as contradições de seu país e de sua época.
O filme, do qual não se deve esperar ousadia estilística, nos traz em depoimentos convencionais (com estantes de livros ou quadros atrás) a palavra de amigos e desafetos, além de divertidas performances do jornalista, que criou na TV uma persona pop, imitada por humoristas famosos. ‘A imitação é a mais expressiva forma de lisonja’, diz Francis.
Um pouco de tudo é tratado pelo diretor -do passado trotskista à atuação televisiva, passando pelo crítico de teatro, pelo ‘Pasquim’ e pelo colunista da Folha e do ‘Estado de S.Paulo’. Ali estão a polêmica com o então ombudsman Caio Túlio Costa, as indagações sobre a morte (a possível falha médica, a pressão exercida pelo processo movido contra ele pela Petrobras) e outros tantos episódios, entre os quais a famosa virada ideológica, o momento em que Francis, na declaração de Daniel Piza, uma de suas contrafações, ‘passa pro lado de lá’ (no caso, não teria sido mais apropriado ‘de cá’?).
Um pouco menos de depoimentos e um pouco mais de Francis teria dado mais vivacidade ao documentário -sem data para estreia, mas presente no Festival do Rio, em setembro. Ao final, fica o retrato afetivo do personagem e um estímulo para pensar no tempo e em seus ardis.
Avaliação: bom’
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O Estado de S. Paulo
Quinta-feira, 13 de agosto de 2009
MÍDIA E POLÍTICA
Felipe Recondo
Filho de Renan pode ganhar concessão de rádio em AL
‘Líder da tropa de choque do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e elogiado pelo Planalto por sua disposição em enfrentar a oposição no Congresso, o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) obteve em meio à crise uma concessão de rádio para seu filho, José Renan Calheiros Filho, prefeito de Murici (AL). O presidente Luiz Inácio Lula da Silva encaminhou ao Congresso, na sexta-feira passada, conforme o jornal Folha de S.Paulo, mensagem para beneficiar a empresa JR Radiodifusão com uma concessão para o município de Água Branca, que tem 20 mil habitantes.
Renan Filho é um dos acionistas da JR Radiodifusão, junto com Carlos Ricardo Santa Ritta, assessor de Calheiros, e Ildefonso Tito Uchôa, primo e ex-assessor do senador.
Renan já foi apontado como o real proprietário da empresa, numa sociedade com o ex-senador e empresário João Lyra. O nome da empresa seria uma referência às iniciais dos dois, supostamente os donos do negócio.
A denúncia foi levantada durante a crise que acabou por derrubar Renan da presidência do Senado em 2007. Lyra confirmou a sociedade, em depoimento à Corregedoria do Senado à época. O senador teria pago pela participação na empresa com cheques próprios.
Calheiros depois justificou ter dado dinheiro ao filho para que se tornasse sócio no negócio. O caso gerou uma representação contra o senador no Conselho de Ética. Assim como Sarney, Calheiros se valeu da tropa de choque do PMDB para se livrar das acusações no plenário do Senado.. O relator do caso no Conselho foi o senador Jefferson Péres (PDT-AM), que morreu em maio do ano passado.
A mensagem de Lula precisa ainda ser aprovada pelo Congresso. De acordo com técnicos do Ministério das Comunicações, a crise no Senado não influenciou a decisão do governo em favor do filho de Renan Calheiros. A JR Radiodifusão teria dado o maior preço na disputa por essa concessão de rádio e por isso foi a escolhida.’
Estopim da crise, caso foi revelado pelo ‘Estado’
‘A existência de atos secretos no Senado foi revelada pelo Estado no dia 10 de junho. Entre os beneficiados estavam parentes e aliados políticos do presidente da Casa, José Sarney. O neto, João Fernando Michels Gonçalves Sarney, foi exonerado secretamente. Aliados foram lotados, com boletins sigilosos, no Conselho Editorial, presidido pelo próprio senador. O episódio dos atos secretos abriu uma crise que levou à pressão pela renúncia de Sarney.’
Luciana Nunes Leal e Alberto Komatsu
TV exagera na violência, critica
‘No culto de comemoração pelos 150 anos da Igreja Presbiteriana no Brasil, o presidente Lula reclamou das TVs abertas e fechadas, pelo excesso de violência. Se houvesse aferição de ‘quantos filmes falam de integração familiar, de amor, de paz’, disse Lula, viria à tona que o porcentual ‘é infinitamente menor do que a quantidade de filmes que começam atirando, terminam atirando e no meio matam pessoas que a gente nem consegue entender por quê’.
‘Muito mais graves que os problemas econômicos, sociais, tem um problema crônico que é a degradação da estrutura familiar deste país. Quantos momentos de bons ensinamentos temos na televisão, nacional e importada?’
Ele disse que está na Presidência ‘por obra de Deus’. Ao lado do governador Sérgio Cabral e do prefeito Eduardo Paes, Lula foi saudado pelo reverendo Guilhermino Cunha como ‘eleito pelo povo e abençoado por Deus’..
A bênção final foi dedicada ao vice-presidente José Alencar e à ministra Dilma Rousseff, pela luta contra o câncer. Lula defendeu que os pais deem aos filhos chance de frequentar igrejas, sem distinção de culto. ‘Valeu a pena viver meu cristianismo por algumas horas’, disse, na saída.’
Fausto Macedo
‘Estado’ entra com novo recurso para derrubar censura
‘O advogado Manuel Alceu Affonso Ferreira entrou ontem com mandado de segurança no Tribunal de Justiça (TJ)do Distrito Federal contra ato do desembargador Dácio Vieira, que censurou o jornal O Estado de S. Paulo. O mandado, com pedido liminar, foi distribuído para o desembargador Waldir Leôncio Cordeiro Lopes Júnior, da 2ª Câmara Cível do TJ, que hoje deverá tomar uma decisão..
O mandado de segurança é uma ação que tem por objetivo garantir o reconhecimento judicial de um direito líquido e certo, incontestável, que está sendo violado ou ameaçado por ato manifestamente ilegal ou inconstitucional de uma autoridade.
Manuel Alceu já havia ingressado, na semana passada, com uma primeira medida contra a censura, denominada exceção de suspeição – pediu que Vieira se reconheça suspeito para a causa, diante das suas ligações com a família Sarney. Vieira proibiu o Estado, em 30 de julho, de divulgar dados relativos à Operação Boi Barrica, da Polícia Federal, que envolve Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP).
O desembargador acolheu, em liminar, recurso denominado agravo de instrumento de Fernando contra decisão de primeira instância judicial que rejeitara sua pretensão de calar o Estado. O desembargador tem dez dias para decidir se reconhece sua suspeição, a contar do recebimento do pedido do jornal. O prazo vence no início da próxima semana. Até ontem, ele não havia se manifestado.
O mandado de segurança não prejudica a exceção de suspeição, ou seja, ambas as medidas podem correr paralelamente.
Manuel Alceu argumenta, em 14 páginas, que a censura ‘atropelou a Constituição e faz-se imprescindível o seu desfazimento, de sorte a restabelecer o irrestrito império das liberdades asseguradas pelo Estado Democrático’. O advogado pede concessão do mandado para ‘restaurar a ordem jurídica violada’ e, automaticamente, tornar ineficaz o decreto de Vieira, autorizando o Estado a divulgar os dados que sobre Fernando ‘tiver obtido, ou venha a obter, durante suas apurações jornalísticas’.
Ele pede que seja levantado o segredo de justiça imposto, não só relativamente ao recurso do filho do presidente do Senado, mas também referente aos autos de ação inibitória em curso na 12.ª Vara Cível de Brasília – origem da investida de Fernando contra o Estado.
Manuel Alceu observa que a reportagem que provocou a censura foi publicada na edição de 22 de julho, com os títulos Gravações ligam Sarney a Agaciel e a atos secretos e Gravação liga Sarney a atos secretos. Compara o escândalo dos Sarney ‘às práticas do Brasil Colônia’. ‘Nepotismo abusado, ronceiro, que de ?privado? tão só contém a indecente vontade de debitar ao erário o custo de acomodações familiares.’’
Roberto Almeida
‘Censura tira o Brasil da rota do primeiro mundo’
‘A censura ao Estado, imposta pelo desembargador Dácio Vieira, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, simboliza o ‘deboche’ do Senado, pilar do ‘retrocesso’ das instituições brasileiras, acredita o cientista político e pesquisador Rubens Figueiredo. Segundo ele, a liberdade de imprensa era um dos poucos aspectos que equiparava o Brasil ao primeiro mundo.
Qual o significado político da censura ao Estado?
O Brasil está retrocedendo do ponto de vista institucional. Já tem problemas no campo da desigualdade e, se tinha alguma coisa que o equiparava ao primeiro mundo, era a liberdade de imprensa e as eleições regulares. Esse episódio do Estado mostra um evidente descompasso do que se espera de um País com instituições fortes.
Quem sofre mais com ela?
O problema é da cidadania. Diz respeito diretamente à sociedade que se quer construir. Mas, infelizmente, a opinião pública brasileira é muito frágil, e ficou muito mais frágil nesse período em que vivemos, de um presidente muito popular. Em épocas anteriores, o cerceamento da liberdade imprensa gerava uma reação na opinião pública que derrubava a aprovação do presidente. Hoje isso não acontece mais.
Por que o Senado respondeu timidamente à censura?
O poder de uma maneira geral, e o Senado de maneira particular, vivem em um mundo à parte. Quando aquele deputado disse que estava se lixando para a opinião pública – e nós achamos que aquilo era o fundo do poço -, não era. O Senado mostrou que, além de estar se lixando, é capaz de debochar da opinião pública.
Como o Judiciário se enquadra?
O Judiciário necessita de uma reforma mais profunda. No período Lula o que tem se visto é um certo atrelamento do Judiciário às teses do Executivo. Isso é perigoso porque descompassa o equilíbrio de poder.’
GREVE
Clarissa Oliveira
TV Cultura obtém liminar contra greve
‘A Fundação Padre Anchieta, mantenedora da Rádio e TV Cultura, obteve liminar na Justiça do Trabalho que proíbe grevistas de impedirem, por meio de piquetes, a entrada de funcionários no prédio da emissora. Os radialistas da fundação decidiram entrar em greve na última sexta-feira e estão parados desde segunda-feira.
A liminar concedida ontem estabelece uma multa de R$ 10 mil, caso os manifestantes barrem a entrada dos demais funcionários ao prédio da fundação, que está localizado no bairro da Água Branca, na capital paulista. De acordo com a juíza responsável pela liminar, a decisão teve por base ‘a proteção do direito à posse e livre uso do estabelecimento, assim como do direito de ir e vir de seus empregados e terceiros’.
A fundação diz ter tentado, sem sucesso, todos os recursos para criar uma proposta que satisfaça aos grevistas. A entidade se comprometeu a pagar um reajuste salarial de 6,05% retroativo ao mês de maio, superior aos 5,83% previstos em convenção coletiva da categoria. A proposta deixou de fora um abono de 35% que estava acordado. A fundação argumenta que o abono não foi autorizado pela Comissão de Política Salarial do governo estadual.
‘Nós fizemos tudo o que foi possível na negociação’, afirmou o diretor-presidente da Fundação Padre Anchieta, Paulo Markun.
Os grevistas, entretanto, disseram que só vão considerar válida a liminar quando a receberem de um oficial de Justiça. Ontem à noite, os radialistas disseram ter recebido apenas uma cópia do documento impressa da internet, das mãos do advogado da fundação. Além disso, eles contestam a versão de que teriam impedido os funcionários de entrarem no prédio.
Segundo o diretor coordenador do Sindicato dos Radialistas de São Paulo, Sérgio Ipoldo, que é funcionário da Cultura, instalou-se apenas um varal e cadeiras em frente à entrada, exigindo que os funcionários contornem a área de acesso ou utilizem outro portão. ‘E, nesse trajeto, tentamos fazer um trabalho de convencimento para que não entrem’, justificou o diretor do sindicato.
De acordo com ele, a categoria está disposta a negociar o pagamento do abono, mas espera que a fundação lhe apresente uma proposta que de fato compense o pagamento do benefício.’
AGRESSÃO
Clarissa Thomé
Milicianos condenados a 31 anos por torturar jornalistas
‘Dois milicianos que torturaram e roubaram uma equipe de reportagem do jornal O Dia, em maio de 2008, foram condenados a 31 anos de prisão, ontem, pelo juiz Alexandre Abrahão, da 1ª Vara Criminal de Bangu. O ex-policial civil Odinei Fernandes da Silva e Davi Liberato de Araújo já estavam presos.
Uma repórter, um fotógrafo e um motorista mudaram para a favela do Batan, na zona oeste do Rio, para investigar a atuação da milícia. Eles viviam no local havia uma semana quando foram descobertos pelos criminosos. Os profissionais do jornal foram espancados, torturados e ameaçados de morte. Eles também tiveram celulares e carteiras roubados.’
TELEVISÃO
Keila Jimenez
Quiz estrelado
‘Políticos, escritores, jornalistas, esportistas e artistas serão alvos da nova atração de Roberto Justus no SBT.
Não, o novo contratado de Silvio Santos não fará um quiz com simples mortais, como era o Show do Milhão do patrão. Em Cem Contra Um, formato comprado da holandesa Endemol, Justus vai sabatinar personalidades em geral.
Em cada programa, uma celebridade enfrentará um grupo de pessoas distintas que têm em comum o conhecimento sobre um determinado assunto. Exemplo: o astronauta Marcos Pontes será convidado para enfrentar especialistas em astronomia.
Entre as ideias da produção está a vontade de promover uma disputa entre crianças superdotadas, entre jogadores de futebol, de vôlei e entre especialistas de teledramaturgia.
Cem Contra Um começa a ser gravado no dia 30 e deve estrear no dia 2 de setembro. O prêmio máximo ao vencedor do game é de R$ 1 milhão. Por contrato, Justus terá de fazer o programa por 18 semanas.
No início de 2010, ele deve ganhar outro formato no SBT, nos mesmos moldes de O Aprendiz, da Record.’
Antonio Gonçalves Filho
Cultura exibe filme do ‘Estado’ sobre Euclides na Amazônia
‘Em 13 de dezembro de 1905, o escritor Euclides da Cunha (1866-1909) partiu para o Amazonas como chefe da comissão de Reconhecimento do Alto Purus, que tinha como meta demarcar a fronteira entre o Brasil e o Peru. Foi uma viagem turbulenta. O escritor odiou o clima da Amazônia, entendiou-se com a paisagem e teve um acidente com um dos barcos da expedição. Um ano antes de morrer, ele concluiu seu livro À Margem da História, estudo sobre a Amazônia publicado postumamente, mas não teve tempo de realizar seu grande projeto, o livro Um Paraíso Perdido, que deveria representar para a região o que Os Sertões significou para Canudos. Um século depois, o jornalista Daniel Piza, editor executivo e colunista do Estado, e o fotógrafo Tiago Queiroz resolveram refazer o roteiro de Euclides pelo Purus, desde Sena Madureira até o encontro com o Rio Curanja no território peruano, filmado pela TV Estado e transmitido hoje, às 23h10, pela TV Cultura.
A primeira conclusão de quem vê essa imagens de miséria e abandono das populações ribeirinhas é de que pouca coisa mudou desde que Euclides da Cunha navegou 3 mil quilômetros pelo rio, enfrentando chuvas torrenciais como a equipe do Estado, que lá passou 12 dias tomando banho de água de rio e dormindo em redes ou pousadas rústicas. Parte do projeto multimídia do Grupo Estado, O Ano de Euclides, o documentário Um Paraíso Perdido, que tem direção de Felipe Machado, editor de multimídia do Grupo Estado, justifica a desconfiança euclidiana de que o Brasil urbano virou as costas para os filhos da Amazônia. Se não há mais seringais, associados no passado à exploração escravagista dos seringueiros, hoje existem miseráveis dependendo da caridade pública para sobreviver.
O documentário mostra uma nação de desdentados e desempregados, esfolando tartarugas para matar a fome. Os seringueiros que não escaparam para as favelas das cidades vivem isolados, distantes de um Brasil que se orgulha da riqueza e se mostra indiferente ao destino de índios aculturados e mestiços banidos para a floresta. Euclides já observara, a respeito dos seringueiros cearenses que lá chegavam no século passado, que eles passavam de bravos a mansos – maneira de explicar a apatia diante da condenação perpétua de ser explorado pelos donos dos seringais e enfrentar a paisagem imutável da região. Essa apatia é notável também nos entrevistados. O olhar desses esquecidos é o mesmo que fez Euclides escrever há um século que pareciam seres condenados a um ‘eterno giro de encarcerados numa prisão sem muros.’
Expatriados dentro da própria pátria, como dizia Euclides, os descendentes dos seringueiros convivem com índios que tentam, inutilmente, conservar os traços de sua cultura ancestral – é patética a sequência em que um deles tenta lembrar um cântico ritual. Não poderia existir título mais apropriado para o documentário. É Um Paraíso Perdido mesmo.’
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