Com o fim da obrigatoriedade do diploma de jornalismo para o exercício da profissão, determinado pelo Supremo Tribunal Federal no dia 17 de junho por oito votos a um, os ministros do STF revogaram a obrigatoriedade do documento, não a polêmica que acompanha o assunto há décadas. Por um lado aprovada pela Associação Nacional de Jornais, a decisão foi criticada por entidades como a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), que consideram inconsistente o argumento do presidente do Supremo, Gilmar Mendes, de que a necessidade do diploma é inconstitucional, pois ‘contraria a liberdade de expressão e do livre pensamento’, consagrada na Carta de 1988.
Pois bem, enquanto no Brasil os órgãos públicos se preocupam com questões que envolvem argumentos como a inconstitucionalidade do diploma e um possível cerceamento da liberdade de expressão, uma censura, esta assustadora, atinge jornalistas iranianos e estrangeiros desde a divulgação do resultado das eleições presidenciais no dia 13 de junho. A vitória de Mahmoud Ahmadinejad sobre o candidato de esquerda Mir-Houssein Mousavi inflamou o país e boa parte do mundo. O presidente declarou-se reeleito e apareceu sorrindo nos canais de TV locais. Seu opositor, derrotado, foi a público e chamou o resultado de ‘farsa’. Então, um grande número de pessoas tomou as ruas para protestar e, como era de se esperar, a polícia do regime teocrático reprimiu as manifestações com violência.
Atenções para a direção errada?
O governo iraniano vem tentando de várias maneiras conter o movimento que toma conta do país. Por isso, além de expulsar, confinar e intimidar jornalistas, tem, por exemplo, manipulado com Photoshop as imagens de passeatas em apoio ao governo, com o intuito de dar a impressão de que são maiores do que são na realidade. Na frente de batalha da internet, os serviços de inteligência iranianos têm difundido contrainformação – felizmente prontamente denunciados pelos ‘rebeldes do Twitter’ – e, principalmente, têm tentado cortar o ar de que o movimento digital se abastece: a banda larga. Assim, no lugar de bloquear sites específicos ou derrubar todo o acesso à rede, a Companhia de Comunicação de Dados do Irã resolveu diminuir o fluxo de dados do país. Censura? Sim, censura à liberdade de expressão, ao livre pensamento.
Em países como o Irã, onde a mulher não tem voz e o episódio da morte de Neda está aí para reforçar esta triste realidade (e para todo mundo ver), onde existe de fato um regime ditatorial, questões envolvendo a imprensa, a liberdade de expressão e o livre pensamento deveriam estar na pauta do dia, todos dos dias. No Brasil, porém, a necessidade é outra. E a preocupação é, ou deveria ser, também outra. Preocupação com o nível de ensino no país, que ainda apresenta altos índices de analfabetismo; com a qualificação do processo de formação de professores; com a qualidade dos ensinos fundamental, médio e superior.
Por isso, fica a pergunta: não estariam aqueles que podem votar e decidir questões cruciais para todos os brasileiros voltando suas atenções para a direção errada?
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Professora de Jornalismo, PUC-Rio, RJ