Wednesday, 18 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

A rotina das demissões

Em tempos de crise econômica, as empresas ajustam seu modelo de negócios para minorar os prejuízos. Na prática, isso acarreta demissões em todas as áreas, especialmente no setor de comunicação social. O motivo é matemático: na hora da dificuldade, cortam-se funcionários cuja função, supostamente, não produz rendimentos diretos para as finanças. Ainda existe, portanto, a visão retrógrada de que a comunicação gera apenas despesas, não receitas.

Por um lado, a culpa é dos próprios comunicadores. Poucos profissionais atuam na perspectiva da gestão da comunicação, isto é, se tornar um administrador das informações que fluem dentro de uma empresa. Há assessores de imprensa, por exemplo, que trabalham em cima do clipping do dia, somente. Não cruzam dados, não projetam cenários e sequer fazem um balanço semanal/mensal a respeito das notícias do assessorado. Em suma, viram uma engrenagem sem representatividade. Não sabem vender seu produto.

No organograma de uma empresa, ver-se-á a comunicação em local privilegiado, sempre conectada à presidência. Tamanha proximidade deveria valer muito, mas custa aos assessores saber se posicionar. O setor não pode ser considerado um mero acessório. Trata-se de um braço operacional de fundamental importância. Então por qual razão acontecem tantas demissões? Chegaremos lá.

Comunicação estratégica, no contexto das empresas, é um fenômeno relativamente recente. O boom de profissionais especializados no assunto aconteceu com maior evidência somente neste século. O segmento cresceu, mas ainda sofre nos momentos de instabilidade econômica. Nesse sentido, cumpre aos comunicadores demonstrar que seu trabalho, mesmo na crise, não é problema, é solução. Boas iniciativas podem salvar uma instituição da recessão, acredite.

“O público que se dane”

No início do ano, o governo do Rio Grande do Sul anunciou a extinção da Secretaria Estadual de Comunicação (Secom). O objetivo foi reduzir custos. A decisão deixou a imagem do Estado à mercê de incontáveis arranhões escalavrados pela imprensa, que faz seu trabalho de fiscalização. Se a secretaria ainda existisse, a situação poderia ser mais amena. O povo precisa ser convencido das dificuldades para encará-las com menos destempero. Comunicadores são essenciais nessa intermediação.

A extinção da Secretaria é apenas um exemplo de algo recorrente. E há origem nessa postura extrema dos dirigentes. Durante muitos anos, predominou a política de “o público que se dane”, célebre frase proferida pelo magnata das ferrovias norte-americanas William Henry Vanderbilt. O empresário emitiu a pérola quando inquirido por repórteres sobre as reclamações de usuários a respeito da qualidade dos serviços prestados por suas empresas. Entrou para a história cristalizando o modo pelo qual se davam as relações com a imprensa.

De Vanderbilt para os dias atuais, a comunicação ganhou importância estratégica – o público virou a principal riqueza de uma organização. O quadro, portanto, evoluiu significativamente, embora ainda faltem longas jardas para que a área seja alçada ao patamar que merece. Esse convencimento deve vir da interação diária com os dirigentes, sobretudo na produção de números que sedimentem a qualidade do trabalho desempenhado. É responsabilidade da comunidade de comunicadores provar a sua importância, ilustrando que sim, sua função de administração de imagem, assessoria de imprensa, marketing etc., gera receitas, pois sem interação com o interlocutor, uma empresa some do mapa.

Viver apenas dos períodos de bonança? É pouco para os profissionais do segmento. Portanto, está na hora de mudar culturas ultrapassadas.

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Gabriel Bocorny Guidotti é bacharel em Direito e estudante de Jornalismo