Na semana passada (25/8) , o premiado jornalista Mauri König esteve em Porto Alegre (RS) para participar do projeto “Em pauta ZH”, iniciativa do jornal Zero Hora que visa a ampliar os debates a respeito do futuro do jornalismo. Recentemente demitido do diário paranaense Gazeta do Povo, impresso onde trabalhava desde 2002, König teria todos os motivos para achincalhar a profissão que escolheu. Nada disso. Eu estive presente e posso afirmar: foi uma aula de otimismo e paixão.
Sempre me surpreendeu a entrega dos jornalistas investigativos, pois eles se colocam em risco para obter uma informação relevante. Quando há dinheiro e poder envolvidos, muitos denunciados ilustram o seu caráter corruptor por meio de ameaças a capacitados profissionais da imprensa. É o caso de König, que teve de se exilar no Peru após reportagem em que desnudava a utilização de recursos públicos, por agentes públicos, para fins particulares.
Bem-humorado, o jornalista ofertou uma visão apaixonada da profissão. “O jornalismo é ‘imorrível’”, brinca, acreditando na sobrevivência dos jornais impressos, plataforma de onde saíram algumas das principais reportagens da história de nosso país. Apesar dos percalços em sua carreira, ele não se arrepende de nada que fez, pois sempre esteve ciente do cumprimento de sua missão, qual seja, ser os olhos e ouvidos dos leitores nos lugares em que eles não podem estar.
Graal do jornalismo
O depoimento de König foi inspirador. Sorte dos estudantes de diferentes universidades do Rio Grande do Sul que, convidados pela Zero Hora, puderam participar. Na carreira de um jornalista, há diferentes formas de produzir conhecimento. A reportagem, entretanto, é o graal da profissão. Trata-se de uma forma de aprofundar um assunto desconhecido – ou pouco conhecido – contando histórias ou denunciando ilicitudes. Inspirar os jovens de hoje a não deixar esse gênero morrer é obrigação, tanto da imprensa quanto da academia.
Reportagem bem feita exige investimento e engajamento. Algumas duram meses, outras perduram durante décadas. O desafio de hoje do jornalismo é, a despeito do constante enxugamento das redações, “ter pernas” para continuar produzindo conteúdo relevante e inédito. Se os veículos de comunicação se debruçarem apenas sobre as notícias do dia, a pauta vai acabar engolindo o trabalho. Microassuntos há aos montes. Grandes matérias são artigos raros.
A demissão de König é devastadora para o segmento, mas acredito que um profissional gabaritado como ele não ficará desempregado durante muito tempo. Ainda assim, a reportagem está em polvorosa em veículos do país. Nunca se produziu tanto e com tanta qualidade. É preciso encontrar formas de manter a audiência ligada e assuntos polêmicos sempre atraem interesse. Polêmicos, mas proeminentes, para deixar claro.
Aos futuros jornalistas, Mauri König deu uma importante lição: acreditar na profissão, independentemente das dificuldades enfrentadas. Se o jornalismo de veículo não traz riqueza, garante outros ganhos, pois grandes reportagens prestam serviços que melhoram a vidas das pessoas. Torço que as empresas de comunicação invistam cada vez mais em conteúdo desse nível. De outro modo, não é o jornalismo que perde. É a sociedade.
* Graal, expressão medieval, que assumiu vários significados ao longo do tempo, mas geralmente é associada a fórmula mágica.
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Gabriel Bocorny Guidotti é bacharel em Direito e estudante de Jornalismo