Friday, 27 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Abertura pós-terremoto começa a se dissipar

A bem-vinda abertura à imprensa que se seguiu ao terremoto que devastou a província chinesa de Sichuan, em 12/5, parece estar com os dias contados. Logo após o desastre, que deixou 70 mil mortos e outros milhares de desabrigados, o governo foi elogiado por sua (incomum) transparência ao permitir a entrada de jornalistas locais e estrangeiros, além de milhares de voluntários, nas áreas atingidas. Um mês após o terremoto, soldados começam a cercar regiões consideradas delicadas e a mídia local enfrenta restrições crescentes de apuração.


Segundo Ran Yunfei, editor de uma revista em Chengdu, capital de Sichuan, o governo não conseguiu, de início, controlar o interesse da imprensa, mas agora ‘está recuperando sua habilidade’ para fazê-lo. ‘A mídia estrangeira ficou muito otimista sobre o governo’, completa ele, lembrando os elogios recebidos pelas autoridades do Partido Comunista nos dias após a tragédia.


Normas


De acordo com jornalistas locais, os órgãos de propaganda do governo chinês listaram diretrizes para a cobertura em zonas atingidas logo após o terremoto, mas apenas nas últimas semanas as regras começaram a ser postas em prática. Por elas, repórteres devem dar destaque aos ‘heróis’ da tragédia, especialmente se forem do governo ou do Partido, e não devem se aproximar da delicada questão das escolas que desabaram.


Postos de controle foram colocados nas estradas que levam a duas cidades onde as escolas caíram, matando centenas de crianças. Na semana passada, centenas de pais realizaram, com a imprensa presente, uma cerimônia pelas crianças que morreram na escola primária de Dujiangyan. Mas depois que diversos pais começaram a protestar contra o governo local, que acusam de construir as escolas com material de baixa qualidade, policiais e forças paramilitares passaram a bloquear o acesso à escola e a proibir que jornalistas filmassem ou fotografassem o local.


Clima pesado


Ainda assim, diversos jornais chineses ainda publicaram páginas inteiras com histórias e fotos das escolas em ruínas, questionando se houve corrupção governamental envolvida em sua construção. O clima, entretanto, está ficando mais pesado entre imprensa e forças de segurança. Na cidade de Wufu, onde a escola local foi o único edifício a desabar, um oficial tentava impedir um jornalista estrangeiro de falar com pais de vítimas. A polícia diz que há um novo regulamento que obriga os repórteres a se registrar no governo local, apesar de já terem credenciais de imprensa concedidas pela província.


Pais na pequena cidade de Xiang, onde o desabamento da escola causou a morte de 400 pessoas, dizem não ter visto notícias sobre sua situação nos jornais ou televisão. ‘Alguns repórteres vieram até aqui, mas foram proibidos de publicar informações’, conta Li Fuliang, cujo filho de 14 anos morreu no desastre. Informações de Lindsay Beck [Reuters, 7/6/08].