A crise dos telejornais está instalada. E agora? Qual o futuro da TV? Pode haver aí uma oportunidade de inverter as profecias indigestas : “aquele foi o melhor dos tempos, foi o pior dos tempos; aquela foi a idade da sabedoria, foi a idade da insensatez; foi a época da crença, foi a época da descrença; foi a estação da Luz, a estação das Trevas; a primavera da esperança, o inverno do desespero…”
E assim segue Dickens, na memorável abertura de Um Conto de Duas Cidades (Estação Liberdade, 2010), em que narra o desmanche da sociedade em plena Revolução Francesa, mas que poderia perfeitamente estar descrevendo o quadro em que nos encontramos hoje, num eventual exercício de reflexão sobre o futuro do jornalismo. É exatamente desta forma:
“… tínhamos tudo diante de nós, tínhamos nada diante de nós, íamos todos direto para o Paraíso, íamos todos direto no sentido contrário”.
Não sabemos se há salvação, se seremos admitidos no céu dos novos tempos ou exilados numa caverna diabólica do passado. Mesmo com o pé enterrado no pântano das incertezas, vamos dizer que é desejável buscar o lado luminoso da força e tentar enxergar a metade cheia do copo, apelando para uma metáfora mais vulgar. Isso não significa ignorar a metade indigesta. Pelo contrário. Significa apenas não ser derrotado pelas más notícias. E logo também vamos a elas. Apatia nessa hora não ajuda ninguém na luta pela sobrevivência cotidiana.
Creio que antes de falar de crise no jornalismo, no futuro da economia das notícias, é imperativo reconhecer que, como na era dickensiana, estamos vivendo um tempo de deslocamento tectônico de conceitos, papéis, relações. Trata-se realmente de uma nova ordem. Não só para a mídia, mas para todos, como sociedade. As disrupções eclodem em cadeia a toda hora, por toda parte: a alimentação está mudando, o relacionamento com o meio ambiente, as relações de trabalho, as relações amorosas, os partidos políticos, os políticos. Não deixa de ser uma boa notícia. Afinal, não estamos sozinhos no esforço para compreender, interagir e sobreviver às avassaladoras mudanças de modo de vida, de mindset, que atravessa todas as dimensões da existência, escora-se em tecnologias de comunicação e se desenrola em cadeia e em escala globais.
Outra boa notícia é que a comunicação em geral e o jornalismo em particular estão vivendo um grande e desafiante momento, com experimentos brotando por toda parte. É tanta tentativa e erro que não é possível que não encontremos uma maneira criativa e out of the box para sobreviver. E é o que tentamos – jornalistas, pessoas da indústria da comunicação, blogueiros, coletivos – fazer a cada dia do novo milênio. Tentar entender, criar, testar, quebrar a cara, tentar de novo.
E é desse lugar de participante e de observadora – que está à frente de um projeto singular de comunicação, o Canal Futura, que dialoga profundamente com as tendências que assomam no horizonte – que talvez possa contribuir com o debate sobre o futuro do jornalismo.
O documentário Levante!, produzido pelo Canal Futura em conjunto com os diretores Suzana Lira e Barney Lankester-Owen é um raio x de um aspecto fundamental da movimentação dessas forças: as tecnologias e como elas impactam manifestações de jovens, mobilizados em torno de diferentes causas, nos quatros cantos do planeta. De “objetos” da notícia, os jovens passam a ser simultaneamente os narradores, os porta-
-vozes dos protestos.
Outra realidade
O documentário revela ainda como o engajamento facilitado pelas redes sociais e por outras estratégias de comunicação transborda das telas para as ruas, revelando um ativismo político e cidadão que contrasta com o estereótipo do jovem plugado e anestesiado diante de um smartphone. Ao mesmo tempo, em todos os lugares, pode haver uma Noor, um Bruno, um John, uma Malala que estão vivendo e transmitindo o que quer que seja para um ou para milhões. Em Levante!, uma garota de 16 anos, do ensino médio, arregimentou meio milhão de seguidores no Facebook em uma semana para seu diário da guerra na Faixa de Gaza.
Os exemplos mostrados no documentário se somam a outras evidências de quanto a mudança de geração está no epicentro das transformações no modo de produzir e consumir as notícias e conteúdos. Um dos estudos mais interessantes, divulgados recentemente pelo Pew Research Center sobre o comportamento dos jovens em relação ao consumo de notícias políticas, mostra, de um lado, o evidente abandono por parte dos millennials (jovens entre 18 e 33 anos) das fontes tradicionais de notícias, optando pelos chamados agregadores de notícias, como o Google e o Facebook, para se informar. O estudo mostra que seis em dez dos jovens da geração do milênio relatam ter obtido as notícias de política por meio do Facebook numa dada semana. De outro lado e justamente na direção contrária, 60% dos baby boomers (geração entre 50 e 69 anos) conectados se informam pela TV local.
Curiosamente, segundo pesquisas da Screen Media e Cassandra Report sobre “o que os millennials querem da TV”, 77% dos 3.044 jovens, pesquisados em dez países, disseram ser importante estar atualizados com as notícias, a maioria com acesso a elas por meio do Facebook. O estudo também revela que essa é uma geração extremamente “visual”, conforme atesta o sucesso entre eles do Instagram e Snapchat.
Não é de admirar a busca quase obsessiva, por parte dos empresários, dos publicitários, dos antropólogos, por conhecer e entender o comportamento e o pensamento da chamada geração do milênio, dos nascidos à luz da nova ordem digital, que até outro dia assistiam a Teletubbies e Vila Sésamo e que estão determinando no presente o que será o futuro de nós, jornalistas, das empresas e da cadeia produtiva que se achava instalada até então. Eles também navegam com desenvoltura invejável pelo mundo da internet, criando um modo diferente de consumir, escolher e assimilar as informações, e também condenando à obsolescência tudo o que nós, os baby boomers, achávamos que sabíamos sobre produção e distribuição de notícias. E, principalmente, sobre o modelo de negócio.
Em uma pesquisa na mesma linha do Pew, a Reuters Institute for the Study of Journalism, da Universidade de Oxford, concluiu que a habilidade das empresas jornalísticas de fazer dinheiro online estava ameaçada por três fatores: “a força dos intermediários, como o Google e as redes sociais, que não desejam compartilhar as receitas; baixo índice de publicidade, sobretudo nos dispositivos móveis; e os
softwares que bloqueiam anúncios. Entre 40% e 47% dos internautas nos Estados Unidos e Reino Unido instalaram tais bloqueadores. Apesar de algumas experiências bem-sucedidas de paywall – tipo de pedágio que cobra o conteúdo, como o caso do New York Times –, ou de assinaturas eletrônicas adotadas por grande parte dos jornais e revistas, o estudo da Reuters “não encontrou nenhuma tendência discernível em direção ao aumento do conteúdo online pago”.
Volume de tráfego
Ainda que os paywalls estejam longe de representar a “bala de prata” que salvará o negócio do jornalismo, vale reconhecer que a implantação desse “pedágio” exige que o conteúdo seja de qualidade insuperável comparado ao que se pode encontrar de graça na rede. Ou seja, para ser sustentável, a operação jornalística na rede pede muito mais qualidade e diferenciação como alternativa ao conteúdo gratuito, cujo sucesso depende de grande volume de tráfego, como é o caso do Buzzfeed ou do Huffington Post.
Um dos dados mais perturbadores e sintomáticos fatos da história do jornalismo recente foi a venda do Washington Post, um jornal respeitado de 140 anos de idade, por um preço bem inferior ao valor obtido pelo Huffington Post, uma iniciativa de jornalismo em tempos de internet e das redes, com menos de uma década de existência. Sem falar do retumbante sucesso do Buzzfeed, ícone dos millennials, que fez sua fama nadando de braçada em outra tendência que define essa geração: a convivência da notícia com o entretenimento. Apoiado nas redes sociais, o Buzzfeed, lançado em 2006, esbanja conteúdos leves, criando listas de todo tipo de coisa, divulgando vídeos e fotos que entretenham o público.
Criado por um dos fundadores do pioneiro Huffington Post, Jonah Pe–retti, o Buzzfeed começou como um projeto de experimentação misturando conteúdo viral que desabrocha nas redes sociais com conteúdo jornalístico e fait divers, por meio de uma plataforma que identifica, recolhe e distribui o que “bomba” nos espaços virtuais de compartilhamento.
Ao informar sobre assuntos variados, de diferentes procedências, o Buzzfeed transgride outro dos tradicionais pilares do jornalismo: a sacrossanta separação entre Igreja (notícias) e Estado (publicidade). No Buzzfeed, segundo um de seus diretores, boa parte da receita provém de conteúdo patrocinado, que é trabalhado criativamente de modo a aumentar sua atratividade para o compartilhamento massivo. Lado a lado e muitas vezes se confundindo com as notícias.
O fato é que, se de um lado postos de trabalho e veículos inteiros fecham vagas e se despedem melancolicamente do mercado, depois de ver seus índices de audiência e suas receitas desabarem, outros surgem ou se reinventam, apostando em velhos negócios repaginados e diversificando a cesta de seus produtos. Um fenômeno recente revela uma tendência curiosa de produção de filmes por parte de tradicionais produtores de notícias, como verificado recentemente com a Newsweek, a CNN e a Condé Nast, e também por parte dos novos protagonistas da mídia, como o Buzzfeed e o Vice. Em diferentes arranjos de produção (em conjunto, por exemplo, com a Fox Filmes, venture capitalists e outros investidores), eles estão se lançando na arena dos longas-metragens, seja pela geração de novas receitas ou novas reputações. E reputação é material valioso na babel de opiniões do mundo virtual.
No Brasil, além da já decana Globo Filmes, tanto a TV Folha, com o lançamento do filme Junho, de João Wainer, sobre as manifestações de 2013, como o Canal Futura, com o filme Armados, um documentário sobre o armamentismo na sociedade brasileira, e brevemente com a versão para cinema do documentário Levante!, assim como a TV Cultura com o Castelo Rá-Tim-Bum, são exemplos dessa diversificação no mercado das notícias e do audiovisual.
O que para muitos é sintoma da crise foi para o grupo Participant Media, do empresário Jeff Skoll, uma oportunidade na contramão das profecias em relação à TV e ao jornalismo/documentários. Antenada no desejo de compartilhamento e de engajamento desses novos públicos e apostando no potencial do mercado da chamada geração do milênio, a Participant Media, produtora de filmes sobre causas, como Lincoln e Inconvenient Truth, lançou há dois anos a Pivot TV, cujos conteúdos em grande parte são produzidos e compartilhados entre milhares de telespectadores.
Todos podem ser produtores
A Pivot é um exemplo de como tirar proveito, por meio de múltiplas plataformas e estratégias, de evidências que poderiam ser entendidas como ameaças ao fazer jornalístico. Antes o que alguns faziam e eram formados na escola de comunicação para fazê–lo, hoje supostamente passou a ser exercido por qualquer pessoa. Todos podem ser produtores, diretores, artistas e contar com algum tipo de palco garantido. Uma geração espontânea de produtores de informação aflorou em escala planetária, insinuando que, definitivamente, cada ser humano do planeta pode desfrutar de seus cinco minutos de fama. Imaginem que somos 7 bilhões de seres humanos, em incontáveis bilhões de telas de todos os dispositivos que ainda se inventarão. Cada homem uma história, uma opinião, uma notícia, circulando livremente e a despeito do desejo de um veículo emissor.
O que pode soar como a debacle da profissão foi adotada pela Pivot, por exemplo, como a matéria-prima riquíssima de sua programação e iluminou o papel fundamental que o jornalismo pode e deve exercer nesses tempos de multiplicação ingovernável dos conteúdos produzidos em diferentes suportes, por pessoas comuns ou incomuns: fazer a curadoria, separar o joio do trigo dessas toneladas de terabytes de informações.
A experiência da Pivot indica a relevância e também o desafio da prática do jornalismo de fontes múltiplas, em que qualquer pessoa com uma conexão de internet, uma página no Facebook e uma conta no Twitter pode ser um gerador de conteúdo. Ou seja, o antigo leitor, ou telespectador, virou o concorrente. A Pivot tomou para si a tarefa de construir qualidade a partir da diversidade. Curadoria pura e dura. Criatividade sempre.
Embora as iniciativas nesse sentido sejam ainda limitadas, aqui no Brasil, a exemplo da Pivot e muito antes dela, o Canal Futura adota há 18 anos estratégias singulares de atuação, que levam em conta alguns dos fenômenos que movimentam o cenário atual da comunicação e da vida em sociedade: a atuação em rede, a colaboração e a distribuição a qualquer hora, em qualquer lugar, por diferentes meios.
Criado em 1997 e contemporâneo da chamada geração do milênio, o Canal Futura é um projeto de comunicação para a transformação social, criado e administrado pela Fundação Roberto Marinho, e mantido por recursos investidos por uma aliança de instituições do terceiro setor, comprometidas com a educação, a agenda social e o desenvolvimento do país.
Voltado ao interesse público, mas mantido pela iniciativa privada, o Futura é um dos raros exemplos de canal educativo, não comercial e não sustentado por estados. E, desde sua concepção, o canal dialoga com elementos-chave desse tempo de rupturas e de novas configurações, como a produção em rede, por meio de diálogos horizontais com diferentes segmentos da sociedade, e a distribuição e a atuação, além da tela da TV, em diferentes ambientes e entre públicos específicos. Descentralizado e ubíquo.
Além de manter 24 horas por dia seu sinal no ar, e seus programas na internet, por meio de uma grade generalista, com foco em educação para a vida cotidiana de jovens, crianças, trabalhadores, professores, o Futura também tem os pés na terra e estende seu impacto por meio de milhares de ações de mobilização social e comunitária. Ou seja, no nosso caso, o que é televisão não se desmancha no ar, mas se converte em material didático que apoia iniciativas que buscam transformar a sociedade. Mais de 3.000 ONGs e instituições de referência nos campos da educação, da saúde, dos direitos humanos e empreendedorismo ajudam a produzir e utilizam os conteúdos do canal em suas ações específicas. Cauda longa e cauda curta, televisão e educação, público e privado, numa mesma proposta.
Segundo o professor José Marques de Melo, catedrático do campo da comunicação, “uma escola sem paredes”. Segundo o professor Eugênio Bucci, acadêmico da Universidade de São Paulo, um projeto social que realiza alguns dos ideais mais altos da instituição da imprensa. “Desde sempre”, lembra Bucci, “a imprensa tem uma função de educação no sentido de que, ao compartilhar a informação, ao permitir que circulem as opiniões e as ideias, ela permite também acesso das pessoas a condições que favoreçam um livre formar de opinião e de vontade (…) Ela educa pelo simples fato de existir, e nós não deveríamos nos esquecer disso.”
Informação de qualidade
Portanto, educação e informação para o Futura são indissociáveis. Mesmo não sendo um canal noticioso, na acepção estrita da palavra, o Futura trabalha com informação, que precisa ser de qualidade e ser tratada por meio de formatos e de estratégias narrativas variadas e atraentes. Ou seja, informação, entretenimento, educação. Edutainment construído por milhares de mãos.
Portanto, viver entre ambiguidades, contradições – entre o público e o privado, o instantâneo e o permanente, o ar e a terra, a educação e a televisão –, é da nossa natureza. E isso cada vez mais representa um ativo importante. Sendo, às vezes, tão singular no que faz e tão exógeno no ambiente da comunicação, que consegue experimentar modelos de produção e de concepção bastante fora dos parâmetros tradicionais.
No DNA do Canal Futura está um hibridismo que, de diferentes modos, já antecipava tendências e o ajudava a se preparar para os desafios gigantescos que a comunicação e o jornalismo estão encarando. Assim como a Pivot e o Vice, que surgiram sintonizados com as expectativas de um público de millennials, o Futura desde sua criação desenhava uma maneira de fazer jornalismo que se alinhava com duas características fundamentais da modernidade: a construção e a distribuição de seu conteúdo pelas redes da sociedade.
Assim, partindo da própria experiência do canal na criação e curadoria de conteúdos produzidos por diferentes atores, como ONGs, universidades, estudantes, produtores, para diferentes programas, há cinco anos o Futura estende essa lógica de produção aos seus três principais títulos jornalísticos (Jornal Futura, Sala de Notícias e Conexão Futura).
Chamado Rede Social e Telejornalismo de Interesse Público, o projeto para a produção de notícias e de programas de atualidades está pautado por dois eixos principais amplos o suficiente para abrigar o conjunto de ações envolvidas no seu desenvolvimento: o eixo narrativo e o eixo da produção em rede. O primeiro compreende a criação de conteúdos de interesse público, que resultem de um investimento na criação de estratégias narrativas originais que melhorem o padrão de qualidade do conteúdo dos programas. Já o segundo endereça outro traço identitário do canal, que é a produção de conteúdo de interesse público que resulta da atuação, do diálogo, em redes colaborativas presenciais e virtuais. O relacionamento com essas redes, sejam elas movimentos sociais, universidades ou parceiros mantenedores, configura-se como ambientes de comunicação mais horizontais, com baixa hierarquização e grande diversidade de expressões (linguísticas, territoriais, de gênero, de opiniões).
Nos últimos anos, esse trabalho, de forte acento digital, de articular, manter e cultivar a interlocução com diferentes segmentos sociais para a produção e seleção de conteúdos exigiu o desenvolvimento de ferramentas e de metodologias para a discussão, o recebimento dos materiais, a finalização, além do mais difícil, a mediação e a curadoria de tantas contribuições em texto, imagem e foto, produzidas por terceiros.
Desde o início estava claro que o investimento na qualidade da equipe deveria ser permanente, acompanhado e avaliado por consultores de grande experiência e reputação. Também já sabíamos que deveríamos ser incansáveis para buscar novos processos produtivos que fossem capazes de abrigar tamanha diversidade de fontes. Todo esse esforço de trabalhar em produtos editoriais a partir de diferentes redes recebeu desde o início o estímulo e parte do financiamento da Fundação Ford, que enxergou no projeto jornalístico do Futura uma semente para inspirar o jornalismo nos tempos de ruptura.
A principal novidade apontada por Bucci numa reflexão sobre o Futura é que “nós estamos falando aqui de uma divisão ou de um compartilhamento da condição discursiva do emissor. Esse modo de compartilhar a condição de emissor compartilha o microfone. E o impressionante é que isso cabe num projeto único, com uma marca identitária fortíssima. O abrir mão do monopólio sobre o discurso não descaracteriza a identidade do projeto do Futura”.
Relevância para a sociedade
Periodicamente a realidade desafia a resiliência dos meios de comunicação, exigindo mudanças, ajustes, reinvenções. Foi assim com o rádio e com o surgimento da televisão. E nessa perspectiva não há por que não acreditar que tanto empresas privadas como as públicas saberão encontrar seu lugar no horizonte da prática jornalística, renovando nas tecnologias, nas narrativas, nos modos de gerir, produzir e distribuir. Pode estar nas mãos de quem quer que seja, de qualquer lugar, a qualquer hora. Mas não pode perder de vista o principal: sua relevância para a sociedade.
Como lembrou recentemente o âncora lendário da TV americana Dan Rather no evento mais badalado pelas tribos digitais, o SXSW (o South by Southwest), em Austin, no Texas, toda notícia é conteúdo mas nem todo conteúdo é notícia. “O conteúdo não é necessariamente notícia e é fácil esquecer isso quando ouvimos como estão se desenvolvendo os gadgets. Há uma tendência de considerar notícia qualquer coisa no Twitter, no Facebook, e isso é perigoso para o jornalismo. É bom enfatizar: nem todos esses sistemas de notícias têm notícias neles.” E para lembrar o que é notícia na visão de Rather: “Notícia é tudo que as pessoas precisam saber e que alguém no poder não quer que elas saibam”. Para o jornalista, ao contrário do que se vê na tendência de misturar entretenimento com informação, não cabe no jornalismo muita leveza. “Se você precisa ser leve no seu jornalismo, você deveria comprar um cachorro.”
Se é ou não da natureza do jornalismo abraçar-se com a diversão, com a leveza, já é outra discussão, tão complexa quanto o que será do futuro do jornalismo. n
***
Lúcia Araújo é jornalista e diretora do Canal Futura.