Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A imprensa e o silêncio dos inocentes

No último dia 14/9, no Centro de Ensino Médio 02 de Ceilândia-DF, um jovem foi assassinado com 16 facadas por um colega de classe. Infelizmente, a relação entre violência e escola não é nenhuma novidade para os moradores da região administrativa supracitada nem para a mídia brasiliense. Esta insistentemente perdura e propaga os aspectos sensacionalistas ao lidar com assuntos complexos, como a violência e a juventude de Ceilândia e suas contradições.

Pouco se sabe ou se divulga nos meios de comunicação brasilienses sobre o modo de vida de sua juventude. Associa-se aos jovens periféricos, por exemplo, o vínculo com o rap, movimentos artísticos ou intervenções isoladas. Não há interesse, portanto, de como essas situações mobilizam mudanças concretas na vida dos jovens. A mídia apenas se interessa, usualmente, nos casos de jovens que atingiram sucesso (bom emprego, concurso etc.). Em contrapartida, o interesse dos governantes locais tem se situado no nível estatístico, ou seja, se uma ação diminuir a taxa disto ou daquilo voltada para a criminalidade é um sucesso e torna-se uma prática mimética nas outras regiões.

Acompanhando o desfecho do caso, a mídia brasiliense apenas resgata lembranças de outros casos pontuais de violência nas escolas. Não há debate. Não há discussão. Há ilustração simplificada da complexidade dos acontecimentos, mas nenhuma problematização dos casos. Por exemplo, falar de violência ao tratar da região administrativa de Ceilândia é usual e se configura notícia pronta para a mídia local dominante. Quase um fast food de desgraças da pobreza para degustação de uma parte da população que tenha acesso ao jornal impresso Correio Braziliense.

A relação entre juventude e existência

Ao não banalizar o significado da morte do jovem ceilandense morador da periferia de Brasília, a imprensa da capital federal poderia contribuir para que a fatalidade ocorrida se torne um estímulo à reflexão sobre políticas públicas para a juventude brasiliense, especificamente, nas regiões pobres do Brasil. Uma reflexão que deveria se basear num diálogo com a juventude, e não em enquadramentos pontuais para situações muitas vezes insignificantes para a juventude contemporânea.

Longe de demonizar as instituições que se acreditam responsáveis por transmitirem os valores morais e éticos à juventude brasiliense, os meios de comunicação também tem sua participação ao buscar refletir sobre o silêncio do modo de vida da juventude brasiliense pobre e que vive longe do Congresso Nacional. De uma desgraça, quiçá, surja a esperança do debate aberto e dialógico junto aos jovens e que a mídia possa ser um instrumento provocador e esclarecedor da complexa relação entre juventude e existência.

***

Francisco Neylon de Souza Rodrigues é psicólogo