O diretor do Instituto Brasil do Woodrow Wilson Center, em Washington, Paulo Sotero, tem em seu escritório fotos dos presidentes Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva com dedicatórias carinhosas dirigidas a ele pelos dois.
Os editores da revista “Carta Capital”, que apoiou as candidaturas e os governos de Lula e Dilma, poderiam ter tido a preocupação de perguntar tanto a ele quanto a ela se concordam com a afirmação de que Sotero “é visto como um detrator do Brasil no exterior”, como afirma reportagem em sua edição de 4 de outubro, assinada por André Barrocal.
Lula e Dilma foram convidados do Instituto Brasil em eventos nos quais ambos puderam expor a plateias de importantes formadores da opinião pública dos EUA o que estavam fazendo no governo, seus projetos para o país e suas visões para o mundo.
O Instituto Brasil, que é dirigido por Sotero desde sua fundação em 2006, se tornou o principal ponto de referência sobre informações qualificadas a respeito do país nos EUA. Qualquer pessoa que consulte o seu website poderá comprovar como são numerosas e rigorosamente apartidárias as promoções da entidade, na forma de eventos (todos abertos a todos os interessados) e publicações.
Ao contrário do que insinua o texto de “Carta Capital”, o trabalho de Sotero e do Instituto Brasil tem sido um promotor importantíssimo do Brasil nos EUA e, por extensão, no mundo.
Afirmações não comprovadas
Seguramente esta é uma opinião que as centenas de pessoas que têm falado em Washington a convite do Instituto, (inclusive dezenas que serviram às administrações de Lula e Rousseff) poderiam ter corroborado para a revista, se ela as tivesse procurado para se certificar das acusações da reportagem baseadas em anônimos “círculos governistas”.
Esses mesmos “círculos governistas” são usados pela reportagem como a origem de outras aleivosias contra Sotero e, desta vez, também contra o ministro da Fazenda, Joaquim Levy. Diz o texto que “em gabinetes governamentais [brasileiros], há gente cismada especialmente com a proximidade” [entre ambos].
Washington é uma cidade pequena, onde os nacionais das centenas de países que ali mantêm diplomatas, jornalistas, funcionários de organizações intergovernamentais acabam se conhecendo e, claro, alguns desenvolvem relação de amizade. Foi provavelmente o que aconteceu entre Sotero e Levy e com suas famílias.
Ressalte-se que Sotero não exerce função de jornalista há quase dez anos. Se ainda estivesse trabalhando para a imprensa, até se poderia alegar (desde que houvesse evidência disso) que sua amizade com o ministro da Fazenda poderia beneficiá-lo injustamente na comparação com os colegas. Mas não é esse o caso.
Partir do fato de que Sotero e Levy são amigos para, sem nenhuma prova, concluir que o diretor do Instituto Brasil exerce influência malévola sobre o ministro é um exercício de imaginação que só poderia estar presente em obra de ficção, nunca de jornalismo.
O máximo de evidência que a reportagem oferece para comprovar sua tese é que “Levy chegou a ser recepcionado por Sotero ainda no aeroporto e manteve com o jornalista conversas longas e reservadas”.
Essa reportagem é exemplo de péssimo jornalismo, que deveria ser usada em salas de aula para mostrar o que não se deve fazer na profissão.
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Carlos Eduardo Lins da Silva é jornalista e membro do Conselho do Instituto Brasil, do Wilson Center.