Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Político, um adjetivo que se tornou pejorativo

Pode não ter começado com o Faustão, mas falar de político genericamente englobando parlamentares, ministros, secretários e até representantes de empresas públicas ou autarquias beira a má-fé e teve origem naquilo que queria se passar como inteligência e neutralidade no programa de auditório, o Domingão. Hoje é comum este uso com uma inequívoca conotação pejorativa, como se pronunciasse o adjetivo mais desprezível num ser humano.

Talvez resida aí uma das causas da péssima qualificação de muitos dos parlamentares escolhidos nos últimos pleitos, uma vez que esse tipo de grosseria espalhou-se nas editorias de política de muitos órgãos de imprensa deste país, a ponto de designar o momento de desolação que a democracia vive no mundo todo.

Também desse ninho de cobras vive o surto atual do fascismo em várias partes da Europa, do Oriente Médio e até dos Estados Unidos. E não se poderia esperar boa coisa vinda de pobres de espírito fascistizantes, daqui ou de lá. Aqui, a imprensa (a mídia quase como um todo) vive um momento de retração e autodefesa no qual os jornalistas, para se defenderem, atacam o edifício democrático a mando dos patrões, e não apenas de suas opiniões próprias.

Nos momentos de campanha eleitoral, os partidos ditos de oposição colocam um discurso virulento na boca de seus áulicos que vociferam contra todo o arcabouço do regime político como se, de repente, tivessem que lutar pela própria liberdade de imprensa, confundida com liberdade do monopólio dos barões da imprensa.

Quem viver poderá ver

Assim vão surgindo os clichês atuais contra o bolivarianismo do governo petista pelo medo real de uma regulação da mídia e da perda dos privilégios que uma medida dessas – que foi tomada na Venezuela, na Argentina e na Bolívia – traria se aplicada no Brasil. É disso que a visão clara da burguesia patronal da mídia fala quando quer desacreditar qualquer tipo de “políticos” e derruba qualquer credibilidade da população nos “políticos”, como se não precisasse mais deles.

É aí que surge o atoleiro em que esse tipo de imprensa se enfiou com os profissionais: de tanto insuflar o povo contra os “políticos”, o descrédito contamina as instituições, inclusive a própria imprensa. Esse brinquedo com fogo na doença infantil do jornalismo antidemocrático vai acabar queimando o próprio artífice da reinação que no final não vai ter mais as alianças popularescas que demorou a construir.

A mídia não vive apenas das alianças econômicas com os patrocinadores, mas vive também do público, do povo apesar do desprezo que sempre votaram aos leitores e consumidores de jornais, revistas, televisões etc. Se queimarem de vez essas pontes, não poderão mais trafegar pela via democrática e ficarão nas mãos dos pequenos barões fascistas que estão ajudando a aparecer, primeiro com seus minutos de fama e depois com a ousada permanência no poder, no lugar dos “políticos” que tanto desprezam e imitam desesperadamente.

Espero que não, mas quem viver poderá ver. Xô, direita!

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Fausto José de Macedo é jornalista e radialista