– Entende-se porque a grande mídia colocou panos quentes na crise militar esboçada na semana passada. Bem intencionada, não queria adicionar um ingrediente sabidamente explosivo a um conjunto de turbulências que em breve completarão um ano atividade. Mas não cabe à imprensa decidir o que pode ou não ser noticiado. Nas democracias, a função da imprensa é informar, informar sempre, tudo. O grau de desenvolvimento de uma sociedade mede-se por sua transparência e capacidade de acumular e gerar conhecimentos. Esconder os fatos só os torna mais letais. Submetê-los ao escrutínio público é a melhor forma de torná-los inofensivos. Mesmo quando se trata da punição de um general – quatro estrelas.
– Agora é a vez da atriz Taís Araújo, do seriado Mister Brau, da Globo, ser insultada numa rede social de grande visibilidade por uma manada racista. A jovem não se intimida com o achincalhe, nem com o linchamento, encara agressores com muita coragem e faz questão de manter as ofensas, não apagá-las de sua página porque logo estarão soterradas pelas mensagens de solidariedade e repúdio.
– O deputado Eduardo Cunha, presidente da Câmara de Deputados, está prestes a ganhar uma nova alcunha – “aprendiz de feiticeiro”. No início do ano ele imaginava-se invencível e infalível, dono do mundo, certo de que ninguém ousaria desafiá-lo, seja no plenário da Câmara, seja nos bastidores dos palácios, seja nas ruas. Na semana passada, o deputado foi alvo de aguerridas manifestações de mulheres no Rio de Janeiro e em são Paulo, indignadas com a sua iniciativa de dificultar ao máximo qualquer tentativa de aborto legal, garantido pela Constituição. O aprendiz de déspota está sendo contestado pelos pares incomodados com o fato de serem presididos por um contumaz recebedor de propinas e também por correligionários que, enfim, perceberam o desgaste que sua desvairada atuação está causando à imagem das confissões evangélicas. Eduardo Cunha sabe criar co0nfusões mas está longe de saber como sair delas.
– O novo vazamento de dados sigilosos do Vaticano desta vez foi praticado por um monsenhor espanhol, Valejo Balda, associado a uma consultora italiana, Francesca Chaouqui. Ambos já fizeram outras malfeitorias e agora estão presos. Acontece que o sacerdote Balda é membro da poderosa Opus Dei, que no Brasil, tem fortes conexões com as maiores empresas jornalísticas do país. Resultado, quando foi revelada a extensão do escândalo , nem O Globo e nem a Folha mencionaram a ligação do padre acusado com a Opus Dei. Apenas o Estadão, que ofereceu uma modesta cobertura ao caso, teve a independência para revelar a perigosa conexão.
- Notas produzidas pela equipe do Observatório da Imprensa