Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Depoimentos sobre jornalismo em situações de guerra

O TED Talks Live reuniu nos dias 3 e 4/11, em Nova York, pessoas que vivenciaram vários aspectos de uma guerra com o intuito de refletir sobre o que é necessário para promover a paz. Foram convidados nomes como Simon Sinek, o etnógrafo e autor do best-seller Por Quê? Como Motivar Pessoas e Equipes A Agir; Hector Garcia , psicólogo especializado em tratar transtorno de estresse pós-traumático; a ativista e diretora da Albert Einstein Institution Jamila Raqib; Rajiv Chandrasekaran, o jornalista que cobriu vários conflitos durante os 20 anos que trabalhou no Washington Post ; Samantha Nutt,  fundadora da organização humanitária War Child ; Sebastian Junger,  jornalista e autor dos livros Tormenta (que inspirou o filme Mar em Fúria), Guerra (sobre a experiência de jovens soldados americanos no Afeganistão) e co-diretor do documentário Restrepo (sobre o mesmo tema); entre outros participantes .

As dificuldades do retorno

Sebastian Junger / Foto Ryan Lash

Sebastian Junger / Foto Ryan Lash

Um dos grandes impactos da guerra é um estado de desconexão ou “alienação” ao retornar para casa, nas palavras do jornalista Sebastian Junger. Ele fala com propriedade sobre o tema, pois sofreu síndrome do pânico ao voltar para os EUA após ter acompanhado, de 2007 a 2008, soldados americanos no Afeganistão. Junger alega que o tipo de sociedade para qual retorna um veterano tem um grande impacto na duração dos seus traumas. Para ele, sociedades mais rurais e tribais acolhem melhor quem retorna de um conflito, ao contrário de cidades mais modernas, nas quais veteranos apresentam taxas maiores de depressão e suicídio.

Com base na sua experiência, Junger escreveu o livro Guerra e co-produziu com o fotojornalista britânico Tim Hetherington o filme Restrepo, indicado ao Oscar de melhor documentário em 2011. Após a morte de Hetherington na Líbia enquanto cobria a guerra civil no país, Junger decidiu lançar uma campanha em defesa do aumento de treinamento médico para profissionais de imprensa que atuam como freelancers em zonas de conflito e criou a Reporters Instructed in Saving Colleagues (RISC), organização sem fins lucrativos que promove esses treinamentos. No ano passado, lançou o documentário Korengal, continuação de Restrepo.

Na opinião do psicólogo especializado em tratar transtorno de estresse pós-traumático Hector Garcia, os soldados são treinados a ir para a guerra, mas não recebem nenhum treinamento em relação ao retorno. Ele vem usando a terapia cognitiva e a de exposição para auxiliar veteranos a voltarem a ter uma melhor integração na sociedade.

Iniciativas pacíficas

Jamila Raqib / Foto Ryan Lash

Jamila Raqib / Foto Ryan Lash

Embora o destaque tenha sido para os impactos da guerra, também houve espaço para ações que promovem a paz. Jamila Raquib, diretora executiva da Albert Einstein Institution, por exemplo, falou sobre o uso estratégico de ações não violentas em todo o mundo. Jamila apresentou um estudo que mapeou 198 métodos para ações não violentas – sendo protesto apenas um deles. Um exemplo recente foi o movimento #renunciaya, na Guatemala, que organizou uma greve nacional para exigir a renúncia do presidente Otto Perez Molina e da vice Roxana Baldetti.

Rajiv Chandrasekaran apresentou o trabalho do Team Rubicon, organização que une as experiências e habilidades dos veteranos e das equipes de primeiros socorros para ajudar rapidamente nas catástrofes. Ele alega que a mídia dá uma atenção desproporcional a veteranos que cometem crimes, mas há pouco espaço para aqueles que se dedicam a trabalhos sociais – o percentual de veteranos que se envolvem em ações de voluntariado é 25% maior do que a de não veteranos nos EUA.

Rajiv Chandrasekaran / Foto Ryan Lash

Rajiv Chandrasekaran / Foto Ryan Lash

Segundo Chandrasekaran, 2,6 milhões de americanos foram deslocados para lutar no Afeganistão e Iraque. Ele já cobriu vários conflitos durante os 20 anos que trabalhou no Washington Post. É autor de diversos livros sobre a temática guerra (Little America: The War Within the War for Afghanistan; Imperial Life in the Emerald City: Inside Iraq’s Green Zone e For Love of Country: What Our Veterans Can Teach Us About Citizenship, Heroism and Sacrifice). Atualmente, está criando uma pequena empresa de mídia em Seattle para produzir conteúdo de impacto social de não ficção, alguns em parceria com a Starbucks Coffee Co.

O evento contou ainda com uma apresentação surpresa – literária e musical – do cantor Elvis Costello.

Sobre o TED Talks Live NYC

TED Talks Live / Foto Ryan Lash

TED Talks Live / Foto Ryan Lash

A iniciativa é uma co-produção do TED (organização sem fins lucrativos dedicada a espalhar ideias geralmente em formato de vídeos de até 18 minutos), da emissora pública PBS e dos grupos sem fins lucrativos para promover a mídia independente Corporation for Public Broadcasting (CPB) e Independent Television Service (ITVS). As palestras sobre educação, guerra e paz, e ciência, além das apresentações musicais e teatrais e minidocumentários serão exibidos pela PBS em 2016, em um programa especial com duração de três horas. Veja a programação completa neste link.

* Larriza Thurler é jornalista freelancer, doutoranda em Ciência da Informação e analista em Gestão do Conhecimento

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Debate vincula educação, guerra, paz e ciência