A dinâmica de investigações e trâmites nos trabalhos do Ministério Público, da Polícia Federal e até das já estereotipadas CPIs causa expectativa em quem acompanha a política nacional. O costume de acompanhar o cenário político é positivo, e até aconselhável para a saúde de uma sociedade politizada. Todavia, há certos riscos na tendência, já cultural, de estabelecer uma dicotomia de bem e mal.
Aos que mantêm tal hábito – e aqui registre-se não apenas a população comum, mas artistas, classificados nos dias de hoje também como intelectuais, imprensa e autoridades – é preciso cautela. Apesar da discrição, em linhas gerais, dos que têm por costume acompanhar as movimentações políticas, aponta-se também outro vício intrínseco e comungado por todos – o modo novela de ver e pensar as coisas.
Para ser coerente com o ambiente, e não incorrer no risco da prolixidade nas palavras, foca-se este artigo apenas na mídia. Em dados momentos, existe uma sujeição da imprensa ao costume de ler toda e qualquer situação a partir de alguns pré-requisitos. Como a de se estabelecer mocinho e bandido, ou mesmo inocentes e culpados.
Em algumas publicações, acentua-se “Fora, Dilma!”, em outras, “Fora, Cunha!”. Entretanto, apega-se a personagens e esfria-se a discussão dos méritos. Atrela-se impeachment de um ao outro, como se fossem dependentes. O que não são. Porém, artigos às vezes os colocam como condicionantes. O que é péssimo, pois traz um ar de revanchismo desnecessário para o julgamento de questões onde precisa verificar apenas se houve a prática, ou não, de crimes passíveis de penalidades.
Todo e qualquer apelo ao “Fora”, ou mesmo o desejo de cassar o mandato de alguém, deve passar pelo filtro da legislação. O que não tem nada ver com cor de partido, legenda, ou carisma dos personagens. Eleger bandidos e mocinhos e estabelecer o bem e o mal em grupos políticos que hoje, em sua maioria, são questionáveis, é querer analisar a política a partir do modo novela.
Descartam-se possibilidades. E se todos forem mocinhos? Ou todos bandidos? A ironia é que a melhor parte para esses noveleiros é ignorada. Esquece-se que se tudo isso realmente for um drama, uma novela, é preciso ressaltar que quem escolhe o elenco é o povo, por meio do voto. Nessa linha, caso julgue que a atuação de um ou outro personagem não esteja a contento, pense bem, vote melhor.
À imprensa cabe retornar à pauta tradicional, em que fatos do dia a dia são apresentados para seu público. Apenas isso. É preciso não confundir o ofício do jornalista, que reporta a informação à população, com as funções de advogado, que pode atacar quanto defender, ou mesmo com a de um juiz, que pode condenar ou absolver.
A simplicidade necessária chega a ser redundante. A política tem que ser vista como política, e não como novela. A imprensa tem que ter a postura que se espera dos que labutam no jornalismo. E a população precisa se portar como um eleitor, com seus direitos e obrigações civis, e não como um telespectador passivo e refém de uma história escrita por outros.
***
Leonardo Rodrigues é jornalista e chargista