Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A construção midiática de significados

Perpassando a já suplantada teoria hipodérmica, que pressupõe que os meios de comunicação têm o poder de impor ao público, sem qualquer resistência, o que pensar, desconsiderando fatores extramídia, chegamos às hipóteses contemporâneas de pesquisa em comunicação: os estudos do agendamento de McCombs e Shaw e o newsmaking, que por sua vez, não tem um autor responsável por seu desenvolvimento.

O que interessa aqui é constatar como e com que intensidade os meios midiáticos exercem influência na construção de significados, nas relações e conversações interpessoais e comportamentos do grande público receptor. Longe de demarcar o receptor das mensagens midiáticas como uma massa homogênea, passiva e isolada tal qual a teoria hipodérmica apregoava, mas reconhecendo o poder a médio e longo prazo, galgado pela mídia, inserindo em nossas preocupações centrais, temáticas até então desconhecidas e, que de outra maneira, não nos teriam tanta relevância e, quiçá, não se tornariam parte de nossa agenda.

Sob a ótica da hipótese do newsmaking que trata do processo de transformação de um fato cotidiano em notícia, os acontecimentos de comoção pública obedecendo aos critérios de noticiabilidade, em especial, concernentes à importância do fato, ao número de pessoas envolvidas e à atualidade, de costume desperta no receptor uma atmosfera de fascínio. É por isso que o público receptor, mesmo residindo em localidades distantes do fato onde se deu a notícia, sem ter o valor-notícia de proximidade, vivendo uma realidade social e cultural diferente, sente-se seduzido e envolvido por aquele cenário e personagens mediatizados.

Quem nunca tendo ido a Londres, por exemplo, não sentiu uma pontinha de vontade de estar presente, sem o simulacro e mediação dos meios de comunicação, no cortejo fúnebre de Lady Di, “a princesa do povo”? A cobertura jornalística acerca do funeral, que contou com dois mil convidados e apresentações do cantor Elton John, transformou a cerimônia fúnebre em um verdadeiro espetáculo do qual éramos persuadidos a participar, no lado de cá de nossas poltronas, quando na verdade, queríamos estar vivenciando o episódio e ouvir o soar dos sinos do palácio de Kensington, deixando a posição de espectadores para testemunhas oculares da história.

Uma agenda individual e social

É fazendo uso de semelhantes recursos de persuasão que os veículos midiáticos, mediante um fluxo contínuo de informações sobre um dado acontecimento, nos despertam o interesse de transportar para dentro da “máquina de Narciso”.

Como cidadãos do mundo e interligados pelo sentimento de solidariedade e pertencimento a uma só humanidade, não restam dúvidas da relevância na noticiabilidade do ataque em Paris nesta sexta-feira (13/11), que deixou um saldo lastimável de 128 mortos. Contudo, será que ao relegar tão repentinamente às tragédias decorrentes da catástrofe ambiental em Mariana, Minas Gerais, aqui pertinho de nós, no nosso país, não estamos sendo engolidos pelas hipóteses do agendamento e newsmaking da mídia? Nossa preocupação, o que pautava nossas conversas era a maior catástrofe ambiental do Brasil e, de súbito, passamos a tão somente discutir o atentado à capital francesa. Nas redes sociais como o Facebook, já tem até a opção de alterar a foto do perfil para as cores da bandeira francesa em solidariedade às vítimas dos ataques terroristas.

Ao que parece, a agenda da mídia continua se configurando como nossa agenda individual e social.

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Ana Karla Farias é jornalista e estudante de Direito